Há vezes em que é até difícil classificar Jair
Bolsonaro e alguns de seus apoiadores.
A perversidade é tamanha que chega a dar a impressão
de que essas criaturas disputam algum tipo de campeonato pra ver quem mais
expressa, ou até concretiza, aquilo que de pior é capaz um ser humano.
Uma das mais recentes indignidades dessa turba é
elogiar o trabalho infantil.
Como se não soubessem que o trabalho infantil expõe
meninas e meninos à violência de brutamontes, que consideram “natural”
escravizar outros seres humanos.
Sim, porque é de escravidão de criancinhas que estamos
a falar.
Recentemente, a Justiça brasileira condenou uma
família a indenizar uma mulher que foi mantida durante 30 anos em situação
análoga à escravidão.
Foi levada para trabalhar na casa daquela família quando tinha apenas 7 anos.
Era Solange, mas foi “rebatizada” como “Karina”,
porque era o nome da marca de laquê que a patroa usava.
No início, até dormia no chão do banheiro. Mas como
adoeceu, acabou transferida para o chão de um quarto.
Ao longo de 30 anos, varreu, lavou, passou, cozinhou,
mas nunca recebeu remuneração.
Nunca estudou: até hoje é analfabeta.
Nunca nem mesmo namorou.
Aliás, não tinha nem mesmo absorventes higiênicos,
quando menstruava.
Uma história de arrepiar...
O pior, porém, é que tal situação nunca foi raridade
entre os meninos e meninas forçados ao trabalho infantil.
Aliás, o drama de Solange, que teve sequestrados os 30
melhores anos de sua vida, é até “menos pior”, digamos assim, do que o de
muitas garotas iguais a ela, que são vítimas, ainda hoje, até de porradas,
torturas e abusos sexuais.
Na minha infância, há 50 anos, lembro que era ainda mais comum pegar garotas como a Solange, “para criar”.
O silêncio da sociedade ajudava a encobrir as histórias
de horror dessas crianças. Várias até morreram, devido às violências que
sofriam. Em 2005, a tortura e assassinato de Marielma chocou o Brasil.
Mas não é “apenas” nas casas de “boas famílias” que as
condições desses meninos e meninas são atrozes.
As humilhações, os maus tratos, o trabalho extenuante,
a falta de acesso à escola, tudo isso se repete em praticamente todas as
atividades para as quais são empurrados.
Em geral, essas crianças realizam trabalhos que muitos
de nós consideram cruéis até para animais de carga.
Mas que os “cidadãos de bem” destes tempos tão
sombrios parecem considerar “normais” e até “dignificantes” para os filhotes do
animal humano.
São meninos e meninas catando toda sorte de imundície em
lixões. Ou lavrando a terra, de sol a sol. Ou enegrecidos de tanta fuligem em
carvoarias. Ou vendendo comida e quinquilharias pelas ruas.
São criancinhas indefesas, privadas de um direito
essencial: o direito de ser criança.
O direito de brincar, sonhar, estudar.
O direito de se preparar para um futuro que não seja o
de escravidão.
O direito de se construir em um adulto capaz de
sorrir, amar e confiar.
É esta a realidade do trabalho infantil, no Brasil e
no mundo.
Não, não nada há de “dignificante” nisso.
Para a maioria esmagadora desses meninos e meninas, o
que existe é uma brutalidade inimaginável até em nossos piores pesadelos.
Não há nada de “glamoroso” em meninas e meninos
violentados e arrastados para as drogas, a prostituição e a criminalidade,
devido ao trabalho nas ruas.
Não, não há nada de “edificante” em um garotinho
franzino, de 12 anos, e já recolhido a uma instituição sócio-educativa, e que
vive a repetir que “enche de porrada” a outros meninos, porque foi isso que
teve de aprender para sobreviver nas ruas, como vi muitos anos atrás (e que
nunca mais me esqueci...).
Não, não há nada de “inspirador” em ver garotinhas e
garotinhos passando fome, doentes, exaustos, adormecendo em meio a trabalhos
que são física e mentalmente incapazes de suportar.
Crianças entregues a patrões que as veem como
subumanas. E como um “livramento” da obrigação de pagar salários e direitos a
empregados adultos.
E se existe, de fato, um sinal dos tempos é este: o
coração duro que nem pedra, de tantos que vivem por aí a se orgulhar de suas
rezas, preces, orações; a se orgulhar das hóstias que devoram e das aleluias
que gritam, mas que não conseguem sentir misericórdia nem mesmo por
criancinhas.
No entanto, nada assim tão espantoso, vindo de quem até
defende psicopatas que davam choques elétricos em grávidas, torturavam crianças
e mandavam enfiar ratos e baratas na vagina de mulheres, durante a ditadura
militar.
E creio que Jesus, ao contemplar tudo isso, deve até
ficar a pensar: definitivamente, quem tem seguidores como esses, não precisa de
um inimigo com Satanás.
FUUUIIIIII!!!!!
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Leia
mais sobre a história de Solange: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/06/30/mulher-ganha-na-justica-direito-a-indenizacao-de-r-1-milhao-de-familia-de-sp-que-a-criou-eu-me-sentia-como-uma-escrava.ghtml
Aqui,
matéria da Exame sobre o crescimento do trabalho infantil no Brasil: https://exame.abril.com.br/brasil/trabalho-infantil-cresce-entre-criancas-de-5-a-9-anos-no-brasil/
Aqui,
uma reportagem antiga, mas imperdível sobre o trabalho de crianças em
carvoarias: http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/trabalho-infantil-em-carvoarias-as-invisiveis-criancas-feitas-de-fuligem/
E
relembre a trágica história de Marielma.
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