Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu agüento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu agüento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu agüento até os caretas
E suas verdades perfeitas
O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu agüento até os estetas
Eu não julgo a competência
Eu não ligo para etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
Eu compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades
O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto do bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem…
(Adriana Calcanhoto)
Verde
Quem pergunta por mim
Já deve saber
Do riso no fim
De tanto sofrer
Que eu não desisti
Das minhas bandeiras
Caminho, trincheiras, da noite
Eu, que sempre apostei
Na minha paixão
Guardei um país no meu coração
Um foco de luz, seduz a razão
De repente a visão da esperança
Quis esse sonhador
Aprendiz de tanto suor
Ser feliz num gesto de amor
Meu país acendeu a cor
Verde, as matas no olhar, ver de perto
Ver de novo um lugar, ver adiante
Sede de navegar, verdejantes tempos
Mudança dos ventos no meu coração
Verdejantes tempos
Mudança dos ventos no meu coração
(Eduardo Gudin/Costa Netto)
domingo, 29 de abril de 2007
Duas músicas bacanas
sábado, 28 de abril de 2007
Até o fim
A sociedade paraense precisa respirar fundo e fazer uma lição de casa. Que, talvez, se revele extremamente dolorosa. Mas, que precisa ser feita.
Essa história que envolve Chico Ferreira e o provável assassinato dos irmãos do deputado Alessandro Novelino tem de ser apurada até o fim - doa a quem doer!...
Não podemos, simplesmente, nos “resignar” a essas barbaridades. Chega!
Décadas a fio, vimos este estado tomado por uma guerra civil, entre um punhado de latifundiários - com suas milícias, jagunços e inserções no Poder Público – e legiões de miseráveis, sem um palmo de terra para plantar.
Vimos religiosos, advogados, ex-deputados, assassinados não apenas em regiões remotas, mas, até no centro de Belém.
Vimos uma anciã, uma freira, ser morta, friamente.
E como que nos habituamos a essa brutalidade. Como se fosse perfeitamente normal!
Como se bastasse fechar os olhos e sobreviver. Como se viver com medo fosse, ao menos, sobreviver...
Agora, além dessa violência advinda da questão agrária, jamais resolvida em cinco séculos de Brasil; e da violência associada às condições subumanas em que vive a maioria do nosso povo, nos deparamos com outro tipo de violência.
Um crescente tipo de brutalidade, associado aos grupos criminosos organizados. Que parecem rir de nós, com revoltante certeza de impunidade.
Sinceramente, eu, que votei – e fiz campanha – para os tucanos, em 1998 e até no segundo turno de 2002; eu, que os servi ao longo de quase dez anos de minha vida, me sinto vítima de um estelionato político.
O que justifica, a qualquer cidadão, com um mínimo de decência e de consciência da Cidadania; ou a qualquer partido, minimamente comprometido com a sociedade, acoitar uma figura como Chico Ferreira?
E não apenas abrigar uma figura assim, mas, até contribuir para que acumule mais e mais poder?
Porque outros fazem ou fizeram, vou fazer também?
Porque é light, in, moda ser desonesto, vou ser desonesta também?
Mas, por que, cargas d’agua, vou me permitir silenciar diante desse tipo de coisa; compactuar, me acumpliciar, com esse tipo de coisa?
E desde quando existe “meio bandido”?
Sinceramente, não consigo entender o que pensavam os tucanos quando “regaram” a ascensão de Chico Ferreira.
Ou qualquer político, ou qualquer empresário, ou qualquer autoridade ou “mero” cidadão que tenha contribuído para isso.
Falava-se em mudar o estado; em transformar a realidade dos paraenses; em construir um “Novo Pará”. Mas, com Chico Ferreira?
Pera lá! Há um limite ético claríssimo aqui!
E um limite legal, que, aos trancos e barrancos, conseguimos construir, em quase sete mil anos de civilização.
Um limite que já existia até no direito consuetudinário e nas “leis divinas”.
O limite que é o outro, e ainda mais que o outro, a coletividade – e que se tornou absolutamente inescapável na modernidade democrática.
Como podemos pensar em mudar a sociedade, ou até, em radicalizar a democracia, às custas de dinheiro da bandidagem?
Como podemos nos associar a isso?
Como podemos permitir isso?
Por que o sujeito é bem falante, risonho, agradável e quer nos pagar aquela lagosta básica, fingimos ignorar quem é, o que quer, as ligações que tem?
Ao longo da minha formação política, ouvi falar na violência dos oprimidos, dos espoliados, em contraposição à violência que sofrem, no cotidiano, desde que nascem até quando morrem.
Mas, nunca vi – e eu quero que alguém me mostre! – tentativa, ao menos, de justificativa teórica para a violência bandida.
Para a utilização da violência bandida, em qualquer projeto de transformação societária.
O pior de tudo é que, após esses doze anos em que Chico Ferreira foi devidamente “cevado” pelos tucanos – e não apenas por eles, diga-se de passagem – não sabemos a extensão de seus tentáculos.
Não sabemos quem - ou o quê - está por trás dessa figura.
Não sabemos o quanto levou ao Poder Público – ou seja, a cada um de nós.
Não sabemos qual o “projeto” dele – ou de quem está por trás dele – para o Pará, o nosso Pará...O Pará que deixaremos aos nossos filhos e netos...
De quem era ele o embaixador visível e “agradabilíssimo”, afinal?
Imprensa, Ministério Público, Judiciário, polícias, deputados, senadores, partidos políticos, Estado, sociedade, cidadãos – todos – temos de passar isso a limpo.
Dar um basta nisso. Devassar.
Que não reste vírgula desconhecida nessa história macabra.
Com a palavra, a governadora Ana Júlia Carepa, o PT, a Assembléia Legislativa, a secretária de Segurança Pública - cuja origem, aliás, é a SPDDH – a Magistratura, e o procurador geral de Justiça, Geraldo Rocha.
quinta-feira, 26 de abril de 2007
Nunca pretendi fazer deste blog um ring. A não ser que fosse etílico. Aí disputaria com qualquer comentador...
Mas, se vocês querem isso, viajem, questionem. Publico. É o que me é dado fazer.
O único post que rebato é o do primeiro anônimo: jamais publiquei denúncia sem prova.
Posso, até pelo cansaço, ter errado num número. Afinal, passei, sozinha, noites e noites a cruzar pilhas de documentos.
Mas, a essência de uma denúncia, nunca errei.
Até por medo. Não por mim. Mas, pelo prejuízo que causaria ao denunciado. Que, por mínima possibilidade, talvez, fosse inocente...
Acho que é por isso que os promotores públicos, em geral, me respeitam – e eu a eles.
Todos compreendemos a trabalheira que isso tudo dá.
Aliás, aos meus amigos, promotores, digo o seguinte: lamento, profundamente, ter optado pelo jornalismo. Faria muito melhor – e hoje eu sei – se tivesse, como imaginei, em 1985, optado pelo Direito.
Por instinto, continuaria a investigar. Contra todos os santinos, continuaria a investigar...
Como fizeram muitos de vocês, aliás!
E, tal e qual a vocês, pouquíssimo me bastaria!
Porque, o principal, seria essa satisfação indizível de servir à sociedade!
Não, apenas, a quem nos paga.
Mas a quem, nós, de moto próprio, resolvemos servir!
terça-feira, 24 de abril de 2007
I
É estranhíssima essa opção preferencial da imprensa brasileira pelo deputado federal Jader Barbalho. Não que eu o considere espécie de “querubim ungido”. Mas, também, não é o satanás, o “anhanga”, que adoram apregoar os tucanos – muitos, por sinal, auxiliares dele, em passado recente.
Jader tem qualidades singulares, em relação aos demais políticos. Tanto que passa a impressão de que, nessa área, teria sucesso em qualquer época ou lugar do mundo. É um orador brilhante. E possui, acima de tudo, raríssima antevisão, capacidade de prever o jogo – ou, antes, de dar-lhe a configuração que mais o beneficie...
Além disso, a personalidade forte o carisma, levaram-no a conquistar milhares de adeptos, dispostos a atravessar todos os desertos, na companhia dele.
Nunca esquecerei da convenção estadual do PMDB, em 1998, que cobri pela Província do Pará. Nunca vi nada parecido – e creio que foi ali que percebi o significado de Jader para os seus correligionários do PMDB.
No salão, lotado, havia uma espécie de eletricidade, de frisson, entre os liderados do velho cacique. E a impressão que ficava – como ele mesmo, aliás, admitiu – era a de que não havia possibilidade de se anunciar, ali, outra coisa que não fosse a candidatura dele ao Governo do Estado.
Também não esqueço a pena, a frustração que senti, ao ler aquela peça de oratória brilhante, que foi o discurso de Jader contra Antonio Carlos Magalhães. Na época, trabalhava na Setran, com os tucanos que ainda seriam, por muitos anos, meus companheiros de lutas e de ideais.
E eu lamentei, de mim para mim, como até hoje lamento, que um talento daquele quilate não estivesse, de fato, a serviço da massa oprimida.
Até porque tais qualidades, ao contrário do que pode imaginar o deputado, não são, simplesmente, inatas. São, em verdade, ganhos coletivos, características que só puderam ser desenvolvidas a partir da acumulação de um conhecimento, que é, sobretudo, societário.
Claro está, portanto, que tenho restrições a ele. Mas, sinceramente, não consigo vê-lo com as tintas tenebrosas pintadas pelos tucanos. Para mim, está, apenas, na média dos políticos brasileiros, em termos de telhado de vidro.
II
Dada essa compreensão é que me causa estranheza, como já disse, essa opção preferencial da imprensa brasileira por Jader Barbalho.
Primeiro porque o Pará, com a sua desimportância nacional – que só o nosso bairrismo tenta dissimular - raramente tem direito a pouco mais que o canto de página do sabão Jacaré.
Segundo porque Jader ainda tem de comer muito feijão para se aproximar, em termos de rolos, aos Sarneys e Magalhães da vida.
E a dúvida que fica é o porquê de merecer tal destaque na imprensa nacional.
Até porque a nossa imprensa não é movida, exatamente, por nobres ideais, elevadíssimos interesses societários.
Na verdade, o pudor dos nossos jornalões, revistas e redes de rádio e tv costuma findar na primeira agência bancária da esquina.
Logo, não são rasgos de candura ou himenoplastias morais a mover a nossa imprensa. Mas, sim, o ganho econômico: a verba de propaganda que se fatura - ou que se faturou e se pretende reconquistar.
Nada de anjos ou demônios, bandidos contra mocinhos, elevados interesses, etc e tal.
Simplesmente, o velho e conhecido jogo político, no seu nível mais rasteiro, como parecem apreciar os tucanos, com a sua conhecida virgindade de beira de cais...
III
Um dos mais estranhos factóides que envolvem Jader Barbalho é aquele filme “Manda Bala”, ou algo assim.
Até hoje, não encontro explicação verossímil, além de politicagem, para o fato de um gringo, que ninguém sabe de que buraco saiu, ter cruzado o oceano para contar a história de um ranário, na desconhecida província paraense.
E logo a história do ranário, que, até onde eu sei, não tem rolo. Mas que parece ter o poder de perder o Norte a um político frio e pragmático, justamente por atingir aqueles a quem ama.
Estranha, portanto, essa história da utilização do ranário, como exemplo da corrupção brasileira.
Será que os Sarneys, os Magalhães, os Malufs, todos mais conhecidos e provenientes de estados bem mais importantes não forneceriam exemplos mais demolidores e, sobretudo, verídicos?
Quanto custou aos paraenses, em termos de verbas de propaganda, tal inserção?
Mas, se tal diretor, tomado de súbito amor pelo Pará e pelo povo paraense, queria mostrar o que sofremos por que, então, não optou pelo antológico Marcelo Gabriel?
Afinal, Almir foi eleito, em 1995, com a bandeira da moralização administrativa. E, no entanto, o honestíssimo Marcelo, filho dele, em companhia do mais que probo Chico Ferreira foram flagrados, pela Polícia Federal, a pilhar o INSS – e justamente o INSS, com os seus velhinhos e aposentadorias parcas.
As empresas ligadas ao honestíssimo Marcelo, como noticiou o Diário do Pará, faturaram cerca de R$ 70 milhões, junto ao Governo do Estado, entre meados de 2000 e setembro do ano passado.
Quer dizer: é bem provável que, ao longo de todo o reinado da esfuziante dupla Almir & Jatene, as empresas do honestíssimo Marcelo e do mais que probo Chico Ferreira tenham levado para casa a mixaria de R$ 100 milhões.
Querem exemplo mais acachapante – e verídico – para o “clássico” Manda Bala?
Mas, se a questão era o Pará, nós, paraenses, ainda poderíamos oferecer “de grátis” ao imaginativo diretor um clássico do surrealismo: o convênio entre a Funtelpa e a Tv Liberal.
A transação, que o MPE, a PGE e o insuspeito deputado Vic Pires Franco classificaram como ilegal, faria a delícia dos intelectuais de todo o mundo.
Por mais que quebrassem a cabeça, não conseguiriam entender como uma empresa privada pode receber R$ 35 milhões do Estado, para usar bens públicos, em benefício próprio, por anos a fio.
E no entanto, apesar do convênio da Funtelpa, da dupla Chico&Marcelo e de tantos outros “fenômenos” – como o Hangar, Centro de Convenções, o mais caro do País; mais caro até que o ultra-moderno Embratel Convention Center, de Curitiba, e isso num estado como Pará, no qual um terço da população sobrevive na indigência – o imaginativo diretor norte-americano, de forma absolutamente desinteressada, optou pelo ranário, que nem falcatrua de verdade é...
Talvez porque em Jader Barbalho tudo cole. Sobretudo, em decorrência da mão aberta dos tucanos, quando se trata de propaganda paga com dinheiro alheio – ou seja, com recursos públicos.
Aliás, foi a partir de tal liberalidade que os tucanos, em parceria com a nossa honestíssima imprensa, conseguiram construir, para gringo ver, essa enternecedora imagem de carmelitas descalças...
IV
Agora, pouco depois do ranário, a imprensa brasileira vem de explorar mais um factóide, dessa feita envolvendo a RBA.
Veja, Globo, Estadão, Folha – não faltou nenhum – manifestam aquela tão conhecida indignação, que todos os leitores atentos já conhecem de longa data, contra o que seria mais um rolo do cacique peemedebista, aliado de Lula.
É engraçado isso. Não apenas Jader, mas, também, Ana Júlia, vêm senso vítimas de um massacre sistemático da nossa honestíssima e indignada imprensa. E longe de mim imaginar que isso se trate de campanha orquestrada...
Apenas, acho engraçado porque testemunhei – ninguém me disse! – o silêncio desolador dessa honestíssima imprensa, diante do nepotismo desenfreado do ex-governador Simão Jatene, que parecia imaginar o Estado como mera extensão da bucólica Inhangapi.
Lembro que investiguei a história dos mais de 20 parentes de Jatene, aboletados no Governo, assim como as mumunhas do sobrinho dele, Eduardo Salles.
Mandei matéria para todos os grandes veículos de comunicação do País: Folha, Estadão, o Globo, Rede Globo, JB, Isto É, Época. Um repórter da Veja, aliás, chegou a vir ao meu apartamento, para pegar o CD contendo as centenas de documentos que comprovavam essas nomeações e até o aluguel de um imóvel, ao Estado, pelo Eduardo.
Mais: a documentação mostrava a ascensão salarial dos parentes de Jatene, a partir de 2003. E todos, saliente-se, eram documentos inquestionáveis: cópias de diários oficiais, de certidões cartorárias, devidamente seladas, e da Junta Comercial do Pará.
Até hoje, espero, devidamente sentada, a publicação desse material. Fiz telefonemas, recebi telefonemas – e nada. E olhem que tentei vender esse material quando a cruzada anti-nepotismo se encontrava no auge.
Uma revista até preparava matéria sobre o nepotismo, focando a Região Norte. Tinham até encontrado um “Rei do Nepotismo”, em estado vizinho. No entanto, o dito cujo não era páreo para o nosso Jatene. Ofereci meu material. A matéria nunca mais que saiu. Por que será?
Mas, longe de mim imaginar que essa omissão da nossa proba imprensa possa ser creditada aos R$ 40 milhões da propaganda dos governos tucanos.
Aliás, jamais me passaria pela cabeça pensar que os bem intencionados Globo, Estadão, Folha, Veja trocaram o silêncio complacente, por cadernos e mais cadernos, páginas e mais páginas, anúncios e mais anúncios custeados com dinheiro público, pelos tucanos paraenses.
Eu, jamais, seria capaz de dizer tal coisa. Até porque imaginar isso significaria comparar a nossa imprensa a verdadeiros sepulcros caiados: belíssimos por fora, mas repletos de toda a sorte de imundície...
Ou, pior que isso, imaginar que os nossos jornalões, revistas e redes de Tv se assemelham às meninas alegres do Beiradão do Jarí...
E no entanto, até hoje, permaneço sem explicação convincente para essa omissão, talvez causada por um jornalista neófito.
Sei, apenas, que Ana Júlia foi massacrada por uma cabeleireira; Jader, pelo ranário.
E que, no entanto, os eduardos salles da vida seguem serelepes, lindos, cevados e soltos, talvez à espera da restauração da lambança...
V
Não tenho procuração para defender Jader Barbalho e nem pretendo fazê-lo. Até porque ele sabe se defender sozinho e tem muito mais poder para isso.
No entanto, creio que devia este post a todos os companheiros do PMDB e do PT, que suaram as camisas, nas últimas eleições.
Afinal, lembro de, à certa altura, ter escrito sobre o palanque paraguaio dos tucanos e a honestidade de R$ 1,99 que vendiam à sociedade.
Nem conheço Jader direito, a não ser de entrevistas. Mas conheço, muitíssimo bem, cada um de vocês. Por isso, não poderia, simplesmente, silenciar quando nos encontramos debaixo de bala.
Orgulho-me de cada companheiro, ao lado do qual lutei. E se me fosse dado escolher, novamente escolheria esse timaço, mesmo que esperando a derrota, como, aliás, todos esperávamos.
Construímos, juntos, a última vitória eleitoral. Com as nossas qualidades e defeitos e contra os milhões da propaganda, conseguimos mostrar ao eleitor que, afinal, não éramos os bandidos.
E de uma coisa tenho certeza: podemos não ser nenhuma Brastemp, mas faremos um governo bem melhor do que aqueles que nos antecederam.
Porque, ao contrário deles, da arrogância deles, temos a humildade de reconhecer que somos, apenas, cidadãos tentando acertar.
Guardei este post por vários dias. Até porque, ao escrevê-lo, tinha plena consciência das críticas que receberia. Não importa. O importante, de fato, é que estamos juntos. E que já era tempo de cortar o cordão.
Então, que os corretíssimos tucanos – que sempre imploraram pelo apoio de todos nós, aliás – atirem a primeira pedra. Ou, melhor dizendo, que esses publicanos de araque vão cantar em outra freguesia.
E já que é assim, voltarei, ainda nesta semana, para falar, especificamente, sobre a reportagem de Veja. Chega de demonstrarmos medo diante dessa quitanda mal dissimulada que é a Veja.
Querem vir pra cima? Vamos pra cima!
Quantas páginas eles estão dispostos a gastar conosco? Mas, nós, temos um jornal inteiro – e páginas e páginas que podem ser reproduzidas em todos os jornais do mundo. É tudo questão de articulação. Que o diga a própria Veja.
Vamos lá. Vamos ver quanto foi a bufunfa que lhe pagarem e se isso justificativa o risco. Qualquer que seja. Não temos nada a perder, diante dela. Por isso, recuar, jamais!
segunda-feira, 23 de abril de 2007
A Fênix
A Fênix
Que incrível poder, esse, de renascer!... De ver além da pedrinha, da mão ruim do baralho. O poder de Estar, apesar da corrente. O poder de Ser aquilo que se quer!
Que venham as cinzas, a sombra! Que venha o inverno, o sol escaldante. O sol!
Para além do deserto, muito além do deserto, a música me levará!
A música, que é o meu amor!
Sem ela, simplesmente, não vivo. Porque não há por que viver!
E eu meu deixo levar nas suas asas breves. Como sempre me deixei, afinal.
E o mundo será, sempre, a eterna aprendizagem! De música!
O mundo é feito de música!...
Let's start at the very beginning
A very good place to start
When you read you begin with A-B-C
When you sing you begin with do-re-mi
Do-re-mi, do-re-mi
The first three notes just happen to be
Do-re-mi, do-re-mi
[Maria:]
Do-re-mi-fa-so-la-ti
[spoken]
Let's see if I can make it easy
Doe, a deer, a female deer
Ray, a drop of golden sun
Me, a name I call myself
Far, a long, long way to run
Sew, a needle pulling thread
La, a note to follow Sew
Tea, a drink with jam and bread
That will bring us back to Do (oh-oh-oh)
[Maria and Children:]
[Repeat above verse twice]
[Maria:]
Do-re-mi-fa-so-la-ti-do
So-do!
[Maria: (spoken)]
Now children, do-re-mi-fa-so and so on
are only the tools we use to build a song.
Once you have these notes in your heads,
you can sing a million different tunes by mixing them
up.
Like this.
So Do La Fa Mi Do Re
[spoken]
Can you do that?
[Children:]
So Do La Fa Mi Do Re
[Maria:]
So Do La Ti Do Re Do
[Children:]
So Do La Ti Do Re Do
[Maria:]
[spoken]
Now, put it all together.
[Maria and Children:]
So Do La Fa Mi Do Re, So Do La Ti Do Re Do
[Maria:]
[spoken]
Good!
[Brigitta:]
[spoken]
But it doesn't mean anything.
[Maria:]
[spoken]
So we put in words. One word for every note. Like
this.
When you know the notes to sing
You can sing most anything
[spoken]
Together!
[Maria and Children:]
When you know the notes to sing
You can sing most anything
Doe, a deer, a female deer
Ray, a drop of golden sun
Me, a name I call myself
Far, a long, long way to run
Sew, a needle pulling thread
La, a note to follow Sew
Tea, a drink with jam and bread
That will bring us back to Do
Do Re Mi Fa So La Ti Do
Do Ti La So Fa Mi Re
[Children:]
Do Mi Mi
Mi So So
Re Fa Fa
La Ti Ti
[Repeat above verse 4x as Maria sings]
[Maria:]
When you know the notes to sing
You can sing most anything
[Maria and Children:]
Doe, a deer, a female deer
Ray, a drop of golden sun
Me, a name I call myself
Far, a long, long way to run
Sew, a needle pulling thread
La, a note to follow Sew
Tea, a drink with jam and bread
That will bring us back to
[Maria:]
[Children:]
Do . . . So Do
Re . . . La Fa
Mi . . . Mi Do
Fa . . . Re
So . . . So Do
La . . . La Fa
Ti . . . La So Fa Mi Re
Ti Do - oh - oh Ti Do -- So Do
(A Noviça Rebelde (trilha Sonora) - Do-Re-Mi
Richard Rodgers & Oscar Hammerstein II)
divagando, divagando...
Já não há mistérios no mundo, minha filha!...
Nem na ciência, nem na filosofia.
Nem nos chocolates que eu te punha a devorar...
Os deuses se foram!...
E nos deixaram a imensidão
(sempre além, sempre além...).
E o vazio da alma, que se concebe única.
Todos os dias meus olhos vasculham o horizonte, em busca de Deus.
Todos os dias a pele de meu corpo como que desaparece.
E os sentidos, em carne viva,
Procuram, em cada canto, o próprio significado...
Todos os dias, tudo se repete, como extensão de mim.
Todos os dias, o todo sou eu.
Mas o mundo é!...Muito além de mim!...
E eu me pergunto se não serei, apenas,
A impressão de um dia que não viveu.
A imagem de luz a vagar entre as estrelas,
A refletir-se nas folhas, na areia, no mar...
Mas imagem, tão somente, imagem...
Como coisa que se agarra à vida:
O sonho, o desejo, a potência...
E mesmo a dor se esconde de mim,
Como coisa que se oculta nas profundezas,
A suspirar...
E eu me descubro um mistério, em busca de mistérios que já não existem!...
Meu coração reduzido a uma fórmula, para que o mundo se torne exato!...
Descobri que a vida que explodia em meus olhos
Não passava de física, química, biologia...
E mesmo o Verbo, que tanto significava,
Tornou-se a caixa, o papel...
Não, não me restou nem a essência, nem a existência do inconcebível!...
Tudo é rio.
A fluir, a fluir, a fluir...
Belém, 23 de abril de 2007.
domingo, 22 de abril de 2007
Capítulo I
Levanta, mija, bebe água. Conta carneirinhos; 1, 2, 3, 4, 5 ...Olha o relógio - 6 da manhã. Mais um dia, mais cansaço (de quê?...).
Abre uma carteira de cigarros – a terceira da noite. Levanta, espia à janela. Silêncio... Uma sombra caminha pelas ruas... cheiro de café... (será que o boteco já abriu?...). Desce a escada.
O boteco está cheio. Senta ao balcão, pede uma cerveja, duas, três. Um homem engole um café. Não sente o cheiro, nem o gosto. Apenas o engole (por vezes, esqueço de ter-me olhado ao espelho e acredito na própria inexistência. Mas inexistir já é condição. Assim como o nada...).
Ganha a rua em passos trôpegos (qual a sensação do não ser?...). Uma mulher esquiva-se dos carros, um filho agarrado aos braços. Um homem arruma, na calçada, pinturas de santos. Um menino sujo e faminto morde um pedaço de pão.
No monumento da praça, o beato nu grita e gargalha:
_Multiplicai-vos, multiplicai-vos, porque é só o que vos resta. Vossos filhos herdarão a terra, a esterilidade da terra, até que se apague o último cigarro!...
Dez horas. O sol expulsa a neblina. Cai na sarjeta (me sucedo a cada dia, no rearranjo de minhas células. Por que tenho a sensação de que não passo de um feto morto?...)
Levanta, retorna ao quarto. Deita novamente. Tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac (os dias não serão meras palavras...) Tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac (foi só ontem que percebi essas sombras em teu rosto. Ontem, quando tuas mãos passeavam em minhas coxas e o teu hálito era mais quente que de costume...) Tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac (matei-te a golpes de canivete, cortei-te a língua e fiquei a mastigá-la lentamente. E o teu sabor é de bicho no cio...) Tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac (vi uma barata num canto, quieta, parada, fugindo da morte. Se tivesse deuses, teria rezado...) Tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac (a vida não é começo, nem fim. A vida é um beco...) Tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac (o fim é um estalar de dedos...) Tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac (uma navalha que rebrilha na noite...) Tac.
_Mariana...Mariana!
_O quê?
_Tá cheirando a queimado!
_O feijão!!!...
Tira a tampa, mete a colher, troca de panela, coloca mais água.
_Parece que se puser uma cebola com casca tira o cheiro... sei lá!...
_Que diabo ta acontecendo contigo? Em que estavas pensando?
_Em nada, Fernando...Só me distraí...É que não dormi direito...
_De novo?!!! Por que não procuras um médico? Eu já te disse que isso não é normal!...Ninguém pode passar noites e noites sem dormir, Mariana!...O que é que ta havendo contigo?
_Não é nada, eu já não disse? Eu só ando meio preocupada com as meninas. A Lucinha e essa adolescência horrível, que nunca mais que acaba...A Luísa, que não estuda...E tem, também, o trabalho, que anda pesado...Tô cansada, estressada, é só!...
_É...Se te fechas em copas, o que é que eu posso fazer?...
_Eu não to me fechando em copas, porra nenhuma! Tu é que tens essa mania irritante de ficar fazendo tempestade em copo d’agua! Se não durmo, é porque to doente...Se sonho, é porque tô ficando doida...De vez em quando, Fernando, só de vez em quando, será que não podias viver tua própria vida e deixar a minha vida em paz?
_É engraçado!...Às vezes, eu tenho a sensação de que pensas que eu sou burro!...Não existe a tua vida ou a minha vida, nem três, nem quatro!... O que existe, Mariana, é a nossa vida, a nossa!... Que tu estás fazendo o favor de jogar fora, com essa tua mania de te fechares em ti mesma!...Por que não te abres comigo? Por que não me dizes o que estavas pensando? Como é que eu posso te entender, se não falas comigo?
_(Até parece que ele entenderia! Ou que, ao menos, faria o mínimo esforço para entender!...)
_Eu preciso ir embora...Já tô atrasado...Quando eu voltar, à noite, a gente conversa...
_Se voltares, não é? Se não arranjares outra lambaia pra dormir!...
_Eu nunca mais fiz isso, Mariana!...
_Nunca mais!...Que grande consolo, não é mesmo? Como se pudesses ter feito!...
_Eu já te disse uma vez: a tua agressividade, não me atinge mais! Doía no começo, há muitos anos, te lembras? Agora, já não faz a mínima diferença!...Simplesmente, não me atinge!...
_Ok, Batfino: as tuas balas não me atingem, porque as minhas asas são duas couraças de aço!...ah, ah, ah!...
_Definitivamente, eu não tenho tempo pra isso!...Fica aí com o teu ódio e a tua frustração!...Ah, e não precisas botar nenhuma cebola nessa porcaria!...Tô sem tempo, meu amor! Não venho almoçar!... Fui!
Capítulo II
Em 1.920, Anajás era um vilarejo perdido na imensidão do Marajó. Possuía menos de mil habitantes e uma rua principal, que começava e acabava no rio. Em uma das margens era, também, o rio. Na outra, um amontoado de cabanas de barro socado, cobertas de palha.
O clima, quente e úmido, favorecia a proliferação de insetos, que disputavam, com esquálidos seres humanos, cada palmo de território.
Mês a mês, aportava o regatão, cheio de quinquilharias: tecidos e perfumes baratos, carne salgada, pão bolorento. O pagamento era em mercadorias – bolotas de seringa, madeira, peles de animais silvestres - revendidas pelos olhos da cara, em Manaus e Belém.
À época, era preciso uma boa dose de coragem para vencer a incerteza daqueles rios, que mais pareciam mar; os milhares de sons da floresta, dominada por anhangás; as estranhas febres que surgiam de repente e que matavam mais depressa ainda.
E foi por tanta desolação que causou espanto, quando, em 03 de fevereiro daquele ano de Nosso Senhor, os anajaenses viram desembarcar aquele homem alto, louro, de claríssimos olhos azuis. As malas e a sacaria anunciavam que viera para ficar. Os modos educados e o português repleto de palavras incompreensíveis lhe valeram o apelido de “dotô”.
Waldomiro Brunswick tinha, então, 27 anos a esquecer. O pai, um ex-padre holandês migrado para o Maranhão, morrera, meses antes, à mesa de um boteco de São Luís, após consumir litro e meio de cachaça. Em 35 anos de exílio forçado, casara com uma maranhense, fizera seis filhos, comprara milhares de hectares, dezena de armarinhos, mas nunca conseguira habituar-se àquela terra selvagem, tão distante da sua Amsterdã.
Dia após dia, legara aos filhos, além de polpuda herança, uma história de dor: socos, tapas, surras de cinto, de corda, de cipó; a lembrança dos gritos desesperados da mãe, que vinham do quarto ao lado.
Com o corpo moído pelas constantes sovas, as noites mal dormidas e o trabalho de sol a sol no roçado, só a muito custo Waldomiro concluíra o Colegial. Ficou-lhe a frustração de não fazer faculdade; de não conseguir tornar-se, de fato, um doutor. Lia tudo o que lhe caía nas mãos – jornais, revistas, romances, História, Filosofia. Amava, sobretudo, Platão. E acreditava, piamente, que o conhecimento conduz ao caminho do bem...
Capítulo III
_ Bastiana, ô Bastiana! (Ô minina danada, meu Deus! Pareci inté que tem u bichu nu côrpu!). Bastianaaaa!
A mãe olha ao redor e nada da garota. O rosto vermelho de raiva, enche os pulmões:
_ Diabu! Cão do infernu! Ti apegu pêlus cabelus i ti deixu ruxinha, ruxinha...
A menina sai da mata em disparada. O rosto moreno coberto de suor.
_ A sinhora chamô?
_ Ondi é qui ti ametesti, praga du infernu?
_Tava fazendu necessidadi...
_ Tu tá pensandu qui su truxa? Tu ti assumisti desdi u aumuçu. Tu tava era ti arrebulandu com aquelis mulequis du sir Zé. Uuulha qui si ti apegu prênha...
A menina ergueu o queixo.
_ Si a sinhôra quizé, lhi alevu inté lá, pra modu di vê u cocô..
O tapa zuniu. Sebastiana balançou a cabeça meio zonza.
_ Ti alevanta mais é e vai inté a mêrciaria du sir Zé e mi traiz uma saca di feijãu.
Sebastiana pôs-se a andar por uma picada, sem olhar para a mãe. Não queria que lhe visse as lágrimas, nem a revolta estampada nos olhos. (Pur tudu i pur nada mi assenta a mão na cara. Mi bati qui nem cachôrru!...).
Havia vezes que sentia pela mãe um ódio crescente, semelhante às pancadas que levava, dia após dia, semana após semana. Queria partir daquela mãe (rúim quinem bichu!...) e daquele fim de mundo. Queria conhecer a Belém de que tanto ouvira falar, pelos filhos de seu Zé e os donos dos regatões.
Sebastiana, morena forte e bela, os homens enchiam de presentes. Os donos dos regatões davam-lhe tecidos, perfumes; os filhos de seu Zé roubavam carne seca, para agradá-la.
Por mais simples e soltos que fossem os vestidos, não conseguiam esconder o fulgor daqueles 15 anos; aquele corpo carnudo, em cujas proporções a natureza se pusera a cismar...
Indiazinha braba! Brigava com os moleques de igual para igual, chamando-lhes toda a sorte de nomes e assentando-lhes pontapés. A força parecia fluir do fundo da alma. Também atirava melhor que a maioria dos homens, que, por isso, lhe guardavam respeito.
Respeito, também, lhe guardava o pai que, havia dois anos, tentara estuprá-la. Sebastiana acordou com o peso daquele homem enorme, com cheiro forte a cachaça. Assentou-lhe uma joelhada entre as pernas, correu para a cozinha, pegou num facão e disse, a voz pausada:
_ Si u sinhô dé mais um passu lhi arrancu as tripa di fora. Lhi arretalhu tudinhu, tudinhu feitu um pôrcu.
Capítulo IV
_ Sir Zé!
_ O que queres, ó miúda?
_ A mãi mandô pidi uma saca di feijãu.
_ Ô raios! Mas isto assim não pode ser! Pois, já lá vão dois meses que a senhora sua mãe prometeu pagar-me e ainda não lhe vi um tostão! Isto assim está muito mal, muito mal! Pois diga a senhora dona Benigna que ou paga-me o que deve ou daqui não verá nem mais dedal de mel coado.
_ U senhô divia era dizê mas issu pra ela, purque eu num tenhu nada qui vê cum isso. Mas pareci inté qui u sinhô tem medu dela...
_ Ô miúda, bem se vê que és mesmo muito atrevida! Pois, onde é que já se viu falar-me desse jeito? Pois, só estou a dizer que isto cá anda muito mal! Tenho pela senhora sua mãe a maior das considerações, mas isso assim não pode ser! Pois, a mim, quem é que me fia? Quem é que há de dar-me um bocado de pão? Não estou cá para arreliar-me desse jeito! Qualquer dia, vou-me mais é para Lisboa.... Mas onde é que já se viu? Por acaso fiz algum mal a Deus?
_ Ulha, sir Zé, si u sinhô num quisé fiá, tudu bem. Mas dispuis quem vai vim aqui é a mãi, qui anda reivosa, reivosa puru sinhô andá fiandu cachaça pru papai. Aí ela vai lhi dizê tuda sorti di disaforu, qui nem da última veiz....
_ Pois estás é muito enganada, ó rapariga, se pensas que tenho medo a senhora dona Benigna. Só não lhe dei uns tapas bem assentes, naquele dia, porque lá não sou homem de bater em mulher! Anda! Vê se te avias, mais é! Tens ali atrás o feijão! Leva o que quiseres! Tanto se me dá, pois isto cá anda muito mal, muito mal!
Sebastiana correu até os fundos da casa e estava quase acabando de encher um saco grande de sarrapilheira, quando, ao olhar através da porta, deu com aquele homem em frente ao balcão (diabu! Qui pareci inté Jesus Cristu!).
Um turbilhão de sensações esquisitas tomou-lhe o peito: medo, angústia, desassossego, uma espécie de torpor. Imaginou-se a remar no meio de um grande rio, o azul do céu faiscando nos olhos de Waldomiro, que, agora, também olhava para ela e, lentamente, ia se aproximando.
_ A senhorita precisa de ajuda?
_Num careci não...
_Mas a saca é muito pesada! Se quiser, ajudo a levar.
_Já dissi qui num careci! Possu inté parecê piquena, mais si duvidá, moçu, aguento inté mas pesu qui u sinhô...
Apanhou a saca, que devia ter uns 20 quilos, e colocou-a nas costas. Waldomiro ficou a olhar aquele corpo miúdo, vergado pela saca imensa, a sumir no horizonte. E a deixar para trás um cheiro forte a patchouli...
sábado, 14 de abril de 2007
Leiam até o fim!
I
A disputa interna do PT faz parte do mais genuíno jogo democrático. E só causa tanto alvoroço porque, no Brasil – e especialmente no Norte e Nordeste – os partidos políticos, em geral, se assemelham mais a “currais” do que, propriamente, a partidos políticos.
De um modo geral, as nossas agremiações partidárias são meras extensões do quintal de um “coronel”. O “iluminado” quer, pode e manda. E os demais, prontamente, obedecem.
Quem, no meio político, já não ouviu aquela frase odiosa: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”? Dita como se fosse espécie de oráculo, mas, que é, na verdade, pieguice autoritária, que já não encontra guarida nem na esfera privada.
Mas, nas nossas estruturas partidárias, altamente hierarquizadas, uns são mais cidadãos que outros. O que significa dizer que não são democráticas, mas, sim, oligárquicas.
Essa lógica, porém, não cabe na cabeça de um petista – e nem poderia, até pela própria história partidária.
O PT nasceu dos movimentos sociais. Foi “construído” – para usar um jargão muito apreciado pelos “companheiros” – a partir de um punhado de lideranças. E para tais lideranças, bem como para seus liderados - igualmente politizados, diga-se de passagem - não apenas as lutas são coletivas. Mas, principalmente, as decisões.
Por isso, para que um petista se comprometa, de fato, com uma batalha, é preciso que se compreenda partícipe dela. E isso significa manifestar, livremente, no âmbito interno, aquilo que pensa. E lutar por aquilo que considera justo, com todas as armas que o jogo democrático disponibiliza aos cidadãos – aí incluído o rabo de arraia e o aliciamento de quem vive doido para ser aliciado...
O PT não é um ajuntamento de santos – nenhum partido é. E, à semelhança de todas as agremiações, quer, sim, o poder. Até porque, se não quisesse, nem partido seria, uma vez que a disputa pelo poder faz parte da essência dessas agremiações.
É, como já se disse tantas vezes, o que mais se aproxima, de fato, de um partido político, no Brasil. É tão partido, que consegue permanecer impermeável ao domínio de um coronel, mesmo nas regiões mais pobres e menos politizadas do País.
E isso, diga-se de passagem, é o oposto do que acontece no partido-irmão, o PSDB, que, apesar de construir vários pólos de poder, internamente, no resto do país, parece haver se rendido, nas regiões mais atrasadas, ao coronelismo que deveria combater.
II
E aqui gostaria de deixar bem claro uma coisa, que já repisei em vários posts: não sou petista e nem cultivo pelo PT grandes simpatias. Em bom tucanês, considero até, como direi, “pitorescas”, algumas de suas práticas.
Não estou, portanto, a elogiar os petistas. Mas a constatar a forma como se organizam.
Convivo muito bem com os petistas, porque compreendo - e respeito - a forma como pensam. Mas já critiquei – até impiedosamente, diga-se de passagem – a mundivisão estreita que cultivam e as práticas decorrentes.
Não concordo, por exemplo, com o messianismo petista, essa mania de dividir o mundo em claro e escuro – e eles, é claro, como espécie de latifundiários da claridade do universo - sem que consigam enxergar o cinza imenso por trás dessas duas grandes regiões.
De há muito superei esse tatibitati que separa seres humanos em anjos e demônios: para mim são, simplesmente, pessoas, gente de carne e osso, com as suas circunstâncias e motivações.
Partido não é religião. Quem procura isso, em política, deveria é fundar uma igreja neopentecostal.
Também divirjo do PT na utilização de práticas arcaicas da política e no que isso significa, em termos de contradição, com a democracia interna que cultivam e que dizem querer massificar. Querem esgotar o debate, a partir da livre manifestação de todas as correntes e politizar as massas, para que sejam, de fato, senhoras do próprio destino.
Mas não têm qualquer pudor em estimular, externamente, o culto à personalidade, ao “paizinho dos pobres”, por exemplo, ou em utilizar estratégias de propaganda que nada mais são do que pura e simples manipulação mental. Ou seja, o oposto da pedagogia dos oprimidos.
O problema é que os petistas se imaginam detentores de uma “sabedoria”, uma compreensão da realidade que o público externo não é capaz de alcançar. E têm, também, profunda incapacidade de estabelecer, claramente, até onde se pode ir pela conquista e manutenção do poder. Dessas duas nuances, advêm duas crises existenciais recorrentes do petismo.
A primeira é a dificuldade em estabelecer alianças e, em as estabelecendo, dividir o bolo com as demais agremiações, após a conquista do poder. É bem verdade que o poder tem ensinado muito ao PT, nestes dez anos. Muitos petistas já compreendem a importância do respeito ao outro e do cumprimento dos acordos partidários, para a convivência democrática. Mas a maioria continua sem conseguir demonstrar, ao menos, um mínimo de pragmatismo. E segue enclausurada no “Santo dos Santos” que insiste em cultivar.
A segunda é a hipocrisia diante das práticas necessárias à acumulação de recursos, para a conquista e manutenção do poder. É claro que há limites. Mas nem o PT, nem o PSDB, os gêmeos de esquerda que conseguiram chegar ao poder, fizeram a lição de casa como deveriam. Aliás, já escrevi anteriormente sobre isso: o PSDB, pelo menos no Pará, foi vergonhosamente reprovado. E ao PT, infelizmente, parece faltar coragem para encarar uma questão ética tão importante para o conjunto da esquerda.
E no entanto, o oposto disso, a simples recusa diante de qualquer prática menos mal cheirosa, digamos assim, no sentido dessa acumulação de recursos, é não apenas ingenuidade, mas condenação antecipada à derrota – e não apenas desses partidos e das esquerdas, mas de todo o projeto de sociedade que defendemos.
Destino de santo é martírio. E se é assim em qualquer lugar do mundo, mais ainda, num país historicamente escravista como o Brasil. Daí que não dá para encarnar tamanha “pureza”. Nem para atirar simplesmente às feras quem se dispôs a fazer o que era necessário...
O território da política é o profano. Apesar das semelhanças com a religião, a política é atividade laica. O PSDB conseguiu compreender isso. Mas a maioria do PT, infelizmente, ainda permanece, em termos dessa compreensão, na anterioridade das revoluções burguesas.
III
Para a compreensão da lógica do PT é preciso não perder de vista dois outros dados importantíssimos. O partido teve origem não apenas nos movimentos sociais. Sua outra raiz importante é a intelectualidade. E esses quadros, postos a serviço das massas, ajudaram na multiplicação do conhecimento, na politização das bases.
O outro fator é que, nesses movimentos sociais da base do petismo, os que assumiram maior preponderância foram o sindicalismo urbano e o campesinato. E, só posteriormente, o sindicalismo burocrático. Esse último, teve imensa importância na conquista do poder.
Mas os dois primeiros é que foram determinantes, de fato, juntamente com a intelectualidade, para moldar o encanto radical da democracia interna petista.
Dessa junção entre quem possuía o conhecimento teórico necessário à compreensão da realidade, com aqueles que possuíam a vivência cotidiana da opressão, nasceu a pulverização do poder no âmago do partido.
O respeito e a admiração recíproca de quem descobre no outro a parte que lhe faz falta. A compreensão de que é possível e preciso transformar a realidade. A certeza, por vezes dogmática, de que o caminho que se imagina é o melhor a seguir. A compreensão de que Cidadania ou é por inteiro ou não é Cidadania. O amor, por vezes até ingênuo, à democracia proletária, como espécie de paraíso terrestre.
Com tal história, portanto, não deveria espantar que as correntes petistas vivam entre tapas e beijos: o PT, em verdade, é movido à paixão. Paixão pelo outro, que se sabe indispensável à completude. Paixão por um ideal societário, que, infelizmente, será apenas e tão somente, sempre, um ideal... Paixão pelo que se acredita poder significar, individualmente, na “construção” desse “alvorecer” coletivo.
Nada assim tão diferente do que vemos nas religiões: a relação entre a criatura e o criador; entre o devoto e o redentor; entre o “salvador” e a missão para a qual imagina ter nascido. Interessante, por permitir, ao contrário da religião, que as divergências possam fruir. Complexo, em termos da práxis política.
Queridinhos: de novo, vou tomar uma. “Adepois” retorno. Bjs.
PS. Há uma coisa importante que pensei e que não pode ficar para depois. Cês sabem como é que se resolve a gestão das verbas de publicidade? É assim: a tentação – e aí se inclui da porrada ao aliciamento – se resolve com a despersonalização. Tem que acabar com esse negócio de um único gestor das contas de publicidade. Os valores e objetivos envolvidos não admitem isso.
As verbas de publicidade e de propaganda do Governo do Estado têm de ser geridas por um conselho.
Então, teremos, um representante do Governo ( ou representantes), mas, também, representantes da sociedade (SPDDH, CPT, Cimi, sei lá) e do Ministério Público, o xerife, o delegado.
E vai funcionar assim: O Governo publica os objetivos da comunicação: campanhas da Sespa, para a prevenção de doenças; campanhas de sei lá quem, para isso e para aquilo. E – e isso é muito importante – campanhas educativas de massa, não previstas nos objetos específicos dessas instituições.
Como, por exemplo, campanhas educativas do ponto de vista político – por que não? O MPE tem uma cartilha belíssima sobre o que é e que como funciona – e isso é Cidadania, é política. Mas que deveria chegar – e não chega, por falta de recursos - a cada residência dos milhões de paraenses.
Então, que as empresas e instituições trabalhem projetos de comunicação importantes, de fato, do ponto de vista da sociedade.
E como dividir o bolo? Rigorosa aplicação da mídia técnica. O jornal que circula mais, recebe mais; assim como a TV, a rádio, o site, o blog. São empresas ou empreendimentos privados. Que se lancem ao mar, portanto. Mas, o Estado-Cidadão não tem por que custear isso. Tem é que se aproveitar disso. Em benefício da coletividade.
Esse tipo de tratamento das verbas de publicidade e propaganda – que têm de ser perfeitamente definidas e divididas; ou seja, que é publicidade? Que é propaganda? – acabaria com a obrigatoriedade política dos governos, incentivaria a independência dos veículos de comunicação, geraria a produção pedagógica em favor das massas, permitiria aos cidadãos um poder de interferência extraordinário sobre um dinheiro que é de todos, afinal.
Façamos com que essa dinheirama não sirva, apenas, a uma proposta política; que seja de todos. Mas, “companheiros”, não esqueçam, é preciso amarrar isso em Lei, no imutável.
E, agora, definitivamente, vou ouvir o Skank, meu mais recente encantamento...
quarta-feira, 4 de abril de 2007
Mexendo em vespeiro
Essa questão dos controladores de vôo é extremamente complexa. Por maior que seja a tentação de apoiarmos os brothers, uma coisa é certa: eles têm armas nas mãos. Tão destruidoras como uma bomba, diga-se de passagem.
E é isso o que o PT precisa aprender: há categorias e categorias. Em algumas, é preciso, mesmo, o zelo militar. Aquela coisa de que eu posso estar com gripe, febre, diarréia, mas tenho um dever a cumprir. Que é matar ou permitir que as gentes vivam.
Se há deficiências, que se corrijam. Mas as pessoas que lidam com isso, têm, sim, de ter uma disciplina a toda prova.
Se eu, jornalista, faltar, amanhã, ao trabalho, ninguém morre por isso. No máximo, levaremos um furo. O que quer dizer, em outras palavras, que alguém (um outro jornal) falou sobre o que o jornal em que trabalho deveria ter falado.
Se sou engenheira e faltei à apresentação de um projeto, ao me debruçar sobre ele, terei a chance de corrigir isso.
Se sou advogada, mesmo que perdendo um prazo, imaginarei mil maneiras de corrigir isso – e em qualquer caso isso não significará, quase certamente, a vida, concretamente, de um único cidadão.
Mas os controladores de vôo, se quiserem, provocarão, amanhã, não meros atrasos nos aeroportos, mas um desastre de grandes proporções.
Temos de parar de encarar os militares como inimigos potenciais. Tivemos vinte anos de ditadura. Mas, acabou, passou. E essa geração de militares que está aí é tão ou mais esclarecida que qualquer de nós.
Viram, como nós, civis, os estragos provocados pelo autoritarismo. E, graças a Deus, têm bem menos a chorar que o Chile ou a Argentina.
Mas, até pela ideologia, pela formação da caserna, têm uma disciplina de que nós, civis, ficamos aquém. E que é, sim, necessária em situações de crise, ou, que Deus nos livre, de uma guerra.
Porque numa guerra – e os militares sabem disso – só sobrevive quem consegue habituar o estômago ao capim. Se não há um único inseto – altamente protéico, por sinal – para abastecer o corpo, que o mato faça as vezes, afinal...
Quem tem armas nas mãos, não pode ser deixado à solta. Isso é um perigo demasiado grande para os cidadãos desarmados.
Sujeito desses tem, sim, de aprender a bater continência.
E se não aprendeu, me desculpem brothers, ou que vá embora ou que a prisão administrativa lhe sirva de lição, afinal.
Aqui, o que existe não é a chibata nas costas de um marinheiro. É um sujeito que, com um único botão, pode determinar a segurança – ou não – de centenas de cidadãos.
Pé ante pé
A Perereca, esfuziante de serotonina (meu antidepressivo é bacana, viu AF?), está ouvindo um CD maravilhoso: “Skank, MTV ao vivo”, em Ouro Preto. E pensa, como animal político que é: que coisa linda é... uma partida política!...
É Uma Partida De Futebol
Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?
A bandeira no estádio é um estandarte
A flâmula pendurada na parede do quarto
O distintivo na camisa do uniforme
Que coisa linda é uma partida de futebol
Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime
Posso chorar, se ele não ganhar
Mas se ele ganha, não adianta
Não há garganta que não pare de berrar
A chuteira veste o pé descalço
O tapete da realeza é verde
Olhando para bola eu vejo o sol
Está rolando agora, é uma partida de futebol
O meio-campo é lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque
O centroavante, o mais importante
Que emocionante, é uma partida de futebol
O meu goleiro é um homem de elástico
Os dois zagueiros tem a chave do cadeado
Os laterais fecham a defesa
Mas que beleza é uma partida de futebol
Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?
O meio-campo é lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque
O centroavante, o mais importante,
Que emocionante uma partida de futebol !
(Subiu rapaziada)
Utêrêrêrê, utêrêrêrê, utêrêrêrê, utêrêrêrê
(Samuel Rosa e Nando Reis)
Esmola
Uma esmola pelo amor de Deus
Uma esmola, meu, por caridade
Uma esmola pro ceguinho, pro menino
Em toda esquina, tem gente só pedindo
Uma esmola pro desempregado
Uma esmolinha pro preto pobre doente
Uma esmola pro que resta do Brasil
Pro mendigo, pro indigente
Ele que pede, eu que dou, ele só pede
O ano é mil, novecentos e noventa e tal
Eu tô cansado de dar esmola
Qualquer lugar que eu passe é isso agora
Uma esmola pelo amor de Deus
Uma esmola, meu, por caridade
Uma esmola pro ceguinho, pro menino
Em toda esquina, tem gente só pedindo
Uma esmola pro desempregado
Uma esmolinha pro preto pobre doente
Uma esmola pro que resta do Brasil
Pro mendigo, pro indigente
Eu tô cansado, meu bom, de dar esmola
Essa quota miserável da avareza
Se o país não for pra cada um
Pode estar certo
Não vai ser pra nenhum
Não vai não, não vai não, não vai não, não vai não
Não vai não, não vai não, não vai não
No hospital, no restaurante,
No sinal, no Morumbi
No Mário Filho, no Mineirão
Menino me vê, ja começa a pedir
Me dá, me dá, me dá um dinheiro aí
Mas menino me vê, ja começa a pedir
Me dá, me dá, me dá um dinheiro aí
Uma esmola pelo amor de Deus
Uma esmola, meu, por caridade
Uma esmola pro ceguinho, pro menino
Em toda esquina, tem gente só pedindo.
(Samuel Rosa E Chico Amaral)
Pacato Cidadão
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção
Não foi à toa, não
C\'est fini la utopia, mas a guerra todo dia
Dia a dia não
E tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo à luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora à luz do sol
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção
Não foi à toa, não
C\'est fini la utopia, mas a guerra todo dia
Dia a dia não
E tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo à luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora à luz do sol
Pra que tanta TV, tanto tempo pra perder
Qualquer coisa que se queira saber querer
Tudo bem, dissipação de vez em quando é bão
Misturar o brasileiro com alemão
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção
Não foi à toa, não
C\'est fini la utopia, mas a guerra todo dia
Dia a dia não
E tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo à luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora à luz do sol
Pra que tanta sujeira nas ruas e nos rios
Qualquer coisa que se suje tem que limpar
Se você não gosta dele, diga logo a verdade
Sem perder a cabeça, perder a amizade
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção
Não foi à toa, não
C\'est fini la utopia, mas a guerra todo dia
Dia a dia não
E tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo à luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora à luz do sol
Consertar o rádio e o casamento é
Corre a felicidade no asfalto cinzento
Se abolir a escravidão do caboclo brasileiro
Numa mão educação, na outra dinheiro
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização.
(Samuel Rosa e Chico Amaral)
Saideira
Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
Quem é de beijo, beija
Quem é de luta, capoeira
Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
Tem homem que vira macaco
E mulher que vira freira
Comandante! Capitão! Tio! Brother! Camarada !
Chefia! Amigão!
Desce mais uma rodada
Comandante! Capitão! Tio! Brother! Camarada!
Chefia! Amigão!
Desce mais uma rodada
Desce mais
Desce mais
Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
Tem bandeira que recolhe
Tem bandeira que hasteia
Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
É tomando uma gelada
Que se cura a bebedeira
Comandante! Capitão! Tio! Brother! Camarada!
Chefia! Amigão!
Desce mais uma rodada
Comandante! Capitão! Tio! Brother ! Camarada !
Chefia! Amigão!
Desce mais uma rodada
Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
Quem é de beijo, beija
Quem é de luta, capoeira
Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
Tem homem que vira macaco
E mulher que vira freira
Comandante! Capitão! Tio! Brother! Camarada!
Chefia! Amigão!
Desce mais uma rodada
Comandante! Capitão! Tio! Brother! Camarada!
Chefia! Amigão!
Desce mais uma rodada
(Rodrigo F. Leão / Samuel Rosa)
Três Lados
Escutei alguém abrir os portões
Encontrei no coração multidões
Meu desejo e meu destino brigaram como irmãos
E a manhã semeará outros grãos
Você estava longe, então
Por que voltou
Seus olhos de verão
Que não vão entender?
E quanto a mim, te quero, sim
Vem dizer que você não sabe
E quanto a mim, não é o fim
Nem há razão pra que um dia acabe
Cada um terá razões ou arpões
Dediquei-me às suas contradições, fissões, confusões
Meu desejo e seu bom senso, raivosos feito cães
E a manhã nos proverá outros pães
Os deuses vendem quando dão
Melhor saber
Seus olhos de verão
Que não vão nem lembrar
E quanto a mim, te quero, sim
Vem dizer que você não sabe
E quanto a mim, não é o fim
Nem há razão pra que um dia acabe
Somos dois contra a parede e tudo tem três lados
E a noite arremessará outros dados
Os deuses vendem quando dão
Melhor saber
Seus olhos de verão
Que não vão nem lembrar
E quanto a mim, te quero, sim
Vem dizer que você não sabe
E quanto a mim, não é o fim
Nem há razão pra que um dia acabe
(Samuel Rosa / Chico Amaral)
domingo, 1 de abril de 2007
Divagando
I
Se o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmar o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acerca da perda de mandato de quem trocou de partido, haverá uma mexida sem precedentes nos tabuleiros políticos municipais – e às vésperas das eleições de 2008.
No Brasil, informa o vereador Raimundo Castro, presidente da secção paraense da Federação Brasileira das Câmaras Municipais, há 60 mil vereadores. Se a degola atingir, apenas, 10% desse universo – e a previsão é de um estrago bem maior – só aí seriam 6 mil. Quer dizer, quase que uma “nova eleição”.
No Pará, isso significaria substituir, por suplentes fiéis, numa estimativa por baixo, de 20% a 30% dos 1.360 vereadores – ou de 270 a 400 deles.
Na Câmara de Belém, a maior do estado, a mexida atingiria quase 40% dos 35 vereadores. Mas há municípios do interior onde ultrapassaria mais da metade.
“Essa será, de fato, a verdadeira dança das cadeiras” – brinca o advogado Inocêncio Mártires, especialista em direito eleitoral, um dos melhores do estado.
A aposta de Inocêncio é que o Supremo Tribunal Federal (STF), a mais alta corte do país, confirme a manifestação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E ela, como se sabe, é no sentido de que perde o mandato quem deixa o partido pelo qual se elegeu.
Daí que a questão central é: quem perde e quem ganha com alteração dessa magnitude, às vésperas das eleições de 2008? Ou, seja, na largada para a grande corrida de 2010?
Sim, porque o que está em jogo não é a simples posse de prefeituras e câmaras municipais. Mas o significado delas na estruturação dos partidos, para a conquista das posições estratégicas de 2010: as assembléias legislativas, os governos dos estados, o Congresso Nacional, a Presidência da República.]
Com poderes e verbas extraordinárias, esses gigantes abstratos são fundamentais para irrigar, mover, modificar, o cotidiano que se realiza, de fato, nos municípios. Trata-se, portanto, de relação de dupla troca.
E o que se discute é o maremoto que pode atingir em breve – e pode, mesmo - a configuração ideológica da base desse sistema, às portas da renovação.
II
Ninguém que pretenda, de fato, a modernização política brasileira pode ser contra a fidelidade partidária. Afinal, como lembra o articulador político do governo, Charles Alcântara, ela fortalece os partidos e tende a elevar o patamar das negociações. Despersonaliza, institucionaliza. Ou seja, conduz o diálogo para o tão sonhado nível da discussão programática.
Porque a fidelidade partidária, como aponta o cientista político Cláudio Lago, acirra a disputa de poder no âmago das agremiações. Espécie de repetição da cosmogonia grega, estimula a “matar” o velho devorador, para que possa reinar, afinal, a juventude devorada. Ou, mais modernamente: sai o “paizinho”. Entra em cena a articulação societária.
Mas é claro que, como pondera o deputado federal Gerson Peres, é preciso equilibrar fidelidade partidária e convicções individuais.
Vai que o PP decida ser favorável ao aborto? Eu sou favorável ao aborto. Mas, alguém imagina o Gerson Peres defendendo isso e até votando a favor disso?
Para mim, a posição de Gerson é retrógrada, não leva em conta a realidade brasileira, de milhões de mulheres pobres que morrem, todos os dias, em decorrência de abortos clandestinos. Mais que isso: não leva em conta que o corpo pertence a mulher e não pode, de forma alguma, ser considerado propriedade social. Não somos, em suma, um simples útero, de utilização coletiva.
Mas Gerson tem todo o direito de pensar do jeito que pensa. E, se nos dispuséssemos a debater, ele teria, certamente, argumentos tão ou mais fortes que os meus. E é preciso respeitar isto: a defesa dos próprios ideais.
Daí que sou obrigada a concordar com Gerson neste ponto: há que considerar as vírgulas da fidelidade partidária. Porque os partidos têm obrigações programáticas com os partidários. Quer dizer: a fidelização não pode representar simples mudança de lugar da banca de negociações. E muito menos o esmagamento das minorias – e quantas vírgulas cabem no que chamamos minorias, não é?
III
Óbvio, também, que o STF não tem de olhar para os lados, a considerar os interesses de persas, atenienses e espartanos, a cada vez que interpreta a Lei. Se o fizer, deixará de calças curtas o conjunto dos cidadãos. Porque, numa espécie de túnel do tempo, nos levará de volta ao direito consuetudinário.
Mas, se o STF confirmar a manifestação do TSE, é provável que tenhamos uma crise política de graves proporções, de Norte a Sul do país.
Afinal, a degola não se assemelha à protagonizada pela Revolução Francesa. Os grupos ora atingidos, de um lado e de outro, guardam fortes relações com os grupos econômicos que formam opinião no país.
Não está descartada, aliás, uma crise interpoderes. Com o Congresso aprovando um casuísmo básico, para acuar o Judiciário. E com ministros e magistrados, apesar da lagosta e do champagne, mas com aquilo roxo, afirmando que “dura lex sed lex”. Tudo coroado pelo “assembleísmo” executivo do PT...
IV
E voltamos à pergunta que, aliás, motivou este post: quem ganha e quem perde com essas alterações, se elas se concretizarem?
O único fato indiscutível é que boa parte das câmaras municipais tornará à configuração original de 2004, em termos de capacidade das legendas.
Todo o poder aos partidos? Em termos. Político é, essencialmente, ladino. Expert em sapateado de catita. Mistura de Frank Sinatra, Gene Kelly e Fred Astaire, com charme a George Clooney – numa visão bem feminina, digamos assim...Em termos de Ver o Peso, é capaz de tratar do piolho à unha encravada...
E nem poderia ser diferente, pelo menos neste país tão desigual chamado Brasil.
Imaginem a dona Maria ou o seu José procurando um político e derramando um mundo de queixas.
E ele, sinceramente, dizendo o seguinte: “O seu problema, minha senhora, decorre da configuração da sociedade brasileira, que é historicamente escravista”.
“A senhora e o seu José sofrem porque temos uma elite devoradora” – prosseguiria – “Uma elite patrimonialista.Por exemplo, emprega 300 parentes incompetentes, que nem o inferno quer - com verbas públicas, diga-se de passagem – que dariam para contratar médicos, com salários bem melhores, para atender a senhora e o seu José”.
“O pior é o preconceito dessa elite, minha senhora – prosseguiria - “Para essa elite, a senhora e o seu José não significam nada. Se vocês não têm casa, comida, saúde, educação, é porque merecem viver assim. Descendem dos índios. São preguiçosos e só querem beber. Exemplo: a Cabanagem”.
E acrescentaria: “A nossa luta é coletiva, minha senhora. Queremos mudar isso, não apenas para a senhora e o seu José, mas para o conjunto de marias e josés deste imenso Pará”.
De tal discurso, dona Maria e o seu José reteriam, apenas, os 300 e a preguiça – que é nossa. E que coisa maravilhosa é a preguiça!
E votariam no político que, sem mais delongas, lhes “doasse” o pão para saciar a fome...
V
Sinceramente, trabalhei demais na sexta e no sábado. Estou esgotada. Preciso desligar. Encher a cara. Até para conseguir trabalhar neste domingo.
Entrevistei muita gente. Inclusive o Charles, o Gerson, o Giovanni, o Claudinho, que não aproveitei na matéria de domingo. E que preciso usar no jornal, na segunda, até para que eles não me estrangulem...
Mas, essa questão da fidelidade partidária, a nível municipal, é tentadora, para essas incursões de pensamento.
Vou encher a cara. Mas, recomendo, a quem me lê, pensar sobre isso.
Resultado dos eleitos, em 2004, para vereadores: PSDB: 240; PMDB 192; PT 139; PTB 133; PP 120; PL 102; PFL 99; PDT 87; PSB 59; PV 48; PPS 44;PSC 41; PRP 17; PSL 11. O resto é nanico, abaixo de 10.
Pensem. Eu quero mais é sonhar... FUUUUIIIIIIIIIII!!!!!!!!!
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Adorei a frase do Bial: “Prego, quando se destaca, leva martelada”.
Pensei: “Que venha a caixa de ferramentas!”.