quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dois pontos de vista





Foi um debate morno, que não deve ter mudado nadica no rumo das eleições.


Quem estava indeciso, assim permanece. E quem já simpatizava com um candidato, assim permanece também.


Para ajudar o eleitor, a Perereca resolveu ressuscitar duas entrevistas: uma com Simão Jatene, outra, com Ana Júlia Carepa.


Ambas realizadas bem antes das eleições.


Em nada lembram um debate, mas, em ambas as entrevistas, Ana e Jatene deixam transparecer bem mais de Ana e de Jatene.


Aqui você tem Ana Júlia por Ana Júlia:


http://pererecadavizinha.blogspot.com/2009/12/ana-julia-acusa-senadores-e-diz-que.html

E aqui você tem Simão Jatene por Simão Jatene:


http://pererecadavizinha.blogspot.com/2009_06_01_archive.html



FUUUUIIIIIII!!!!!!!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Grande Senhor das Urnas


Um belo gesto, sim senhor, esse das coligações Acelera Pará e Juntos com o Povo, ao desistirem, conjuntamente, de centenas de ações na Justiça Eleitoral.

É, sobretudo, demonstração de bom senso e de civilidade.

E se até nos espanta é porque a política paraense nunca se pautou exatamente por tais características.

Já vimos de tudo neste nosso Pará tão amado e tão sofrido.

Mas alguma coisa está a mudar, sim, nessa nossa forma de fazer política.

E é bem possível que, afinal, tenhamos aprendido a respeitar um pouquinho mais este Grande Senhor das Urnas, que é o eleitor.

E ô sujeito insondável!...

A quatro dias das eleições, as pesquisas (e até as ruas) apontam a vitória de Jatene já no primeiro turno.

Mas quem poderá jurar que será de fato assim?

O eleitor poderá dizer, no domingo: tá bom, vumbora morrer essa parada agora mermo!

Mas também poderá dizer: égua, sumamu, vumbora botar esse pessoal pra se estapear um pouco mais!

E a nós compete, apenas, fazer a vontade do eleitor, qualquer que seja ela.

Porque é em função dele que todos vivemos, afinal.

Para nós que amamos a política, o eleitor é de fato o nosso grande amor: pensamos nele da manhã à noite, a tentar descobrir-lhe os sonhos, as vontades.

E a tentar, sobretudo, não arreliá-lo.

Porque quando ele se arrelia... Lascou-se!...

A quatro dias das eleições penso que o coração de cada um de nós está a bater mais forte.

E a todo momento a gente pensa: mas será que eu me esqueci de alguma coisa?

E mesmo que a gente diga pra gente mesmo que fez tudo o que era possível, sempre fica essa sensação de que era possível, sim, ter feito mais.

Todos nós – tucanos, petistas, peemedebistas – comungamos dessa sensação.

Até porque todos sabemos que, ao fim e ao cabo, não decidimos nada: quem decide, de fato, é o Grande Senhor das Urnas.

E se pudéssemos decidir por ele será que o faríamos?

Será que poríamos fim à beleza dessa disputa para ganhar o coração do eleitor?

A quatro dias das eleições, estamos todos com os nervos à flor da pele, a contar os dias, as horas.

A telefonar aos parentes, aos amigos.

A tentar identificar na reação de cada pessoa, à cada bandeira que tremula, à cada jingle que soa, o que, afinal, nos reservam as urnas neste domingo.

E o eleitor se assemelha, para nós, ao beija-flor que sobrevoa o nosso jardim.

Tanto poderá apreciar as flores que plantamos, só para ele, com todo o cuidado e o carinho do mundo.

Mas também poderá sumir nos ventos para nunca mais voltar.

E viva a Democracia!
E viva o Eleitor!









sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Tapetão transforma STF em assembléia estudantil



Às vezes, é preciso contrariar a opinião pública, para salvar a própria opinião pública.


A frase acima foi proferida pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).


Sábias palavras as do ministro Gilmar Mendes. Mas que, infelizmente, não encontraram eco em boa parte de seus pares. De sorte que, ontem, o Supremo acabou produzindo, talvez, a decisão mais patética de toda a sua história.


Depois de dois dias de julgamento, a maior Corte brasileira de Justiça decidiu adiar (talvez para a semana que vem, ou sabe Deus para quando) a “proclamação do resultado” dessa longa discussão em torno da aplicação da Lei da Ficha Limpa já nas eleições deste ano.


Em outras palavras, decidiu não decidir: a dez dias do pleito manterá “sangrando”, como disse o ministro Marco Aurélio Mello, as candidaturas que se encontram sub judice, já que boa parte do eleitorado tende a não votar em candidatos que se encontram em tal situação.


Cinco ministros votaram a favor da aplicação da Lei da Ficha Limpa já nestas eleições, enquanto outros cinco ministros votaram contra.


Mas por absurdo que pareça, o Supremo não conseguiu resolver esse impasse.


E não por falta de previsão, em seu Regimento Interno, de mecanismos de desempate.


Mas porque aquela Corte, ontem, estava muito mais parecida com uma assembléia estudantil.


A mesma paixão que a gente vê na imprensa e na internet em relação à Lei da Ficha Limpa, arrombou as portas do Supremo.


Com raras e honrosas exceções, aqueles homens e mulheres, que deveriam ser os “guardiões” da Constituição, pareciam muito mais preocupados em salvaguardar a própria imagem perante a “opinião pública”.


Como se a “opinião pública” se restringisse ao que lemos nos jornais e na internet, em vez de ser, em verdade, a razoabilidade que vem das ruas.


O Ibope divulgou que 85% dos brasileiros são a favor da Ficha Limpa – e eu penso que esse número está errado, porque, na verdade, essa aprovação deve beirar os 100%.


Mas experimente perguntar aos “cidadãos comuns”, nas nossas ruas, o que é que eles acham de essa lei retroagir, para punir com a inelegibilidade os políticos que renunciaram ao mandato.


Aliás, nem precisa dessa enquete: a própria quantidade de eleitores que pretendem votar nesses políticos, apesar da Lei da Ficha Limpa, já nos dá tal resposta.


Tanto assim que o que está “sangrando” tais candidaturas não é a Lei da Ficha Limpa em si, mas, o medo do eleitor de “perder” o seu voto.


É grave, muito grave que ministros do Supremo Tribunal Federal prefiram resguardar a própria imagem, em vez da Constituição.


E mais ainda quando se constata que tais ministros se acovardam diante de um fantasma criado pela manipulação e cegueira de meia dúzia de cidadãos que insistem em perverter as opiniões alheias, com o objetivo de impor a todos nós o seu sectarismo. Ou, simplesmente, porque lhes interessa, por conveniências conjunturais, partidárias ou até financeiras, “cassar” determinados políticos.


A Lei da Ficha Limpa é quase uma unanimidade: todos somos a favor, sim, da exigência de probidade aos candidatos a um cargo eletivo.


Então, a questão não passa por aí, por ser contra ou favor da Lei da Ficha Limpa.


E quem reduz toda essa discussão a uma questão de ser contra ou a favor da Lei da Ficha Limpa ou é muito burro, ou é sectário, ou mal intencionado. Ou, quem sabe, as três coisas juntas.


O que se discute são as conseqüências, para o Estado Democrático de Direito, da maneira como se está a tentar aplicar a Lei da Ficha Limpa.


E quem questiona isso, como brilhantemente resumiu o ministro Gilmar Mendes, está é a tentar resguardar a própria possibilidade de opinião pública.


Está é a se expor nessa arena desgraçada desse grande circo romano, por perceber o perigo que esse rombo constitucional representa para todos nós.


Em outras palavras: os “mocinhos” dessa fita, ao contrário do que alguns imaginam, somos nós.


Nenhuma lei pode punir, hoje, agora, um sujeito por alguma coisa que ele fez no passado, quando aquilo que ele fez no passado não era considerado um crime.


Essa é uma questão fundamental para todos nós, porque nos resguarda, nos protege, da possibilidade de amanhã algum governo, ou algum “candidato” a ditador, usar desse tipo de coisa para nos perseguir, cassar os direitos políticos e até nos atirar na prisão.


Exagero? Não, infelizmente, não. Porque quando a gente permite um rombo desses no Estado de Direito, até o absurdo pode virar realidade.


Tão nocivo para a Democracia é o fato de se introduzirem mudanças, a qualquer tempo, no processo eleitoral.


Ou seja, o fato de não se respeitar a antecedência de um ano para as leis eleitorais.


Aliás, esse tipo de mudança – a qualquer hora, a qualquer dia – no processo eleitoral era muito comum na ditadura militar, como bem lembrou, ontem, um dos ministros do STF.


E por quê?


Porque assim você pode impedir que a oposição obtenha, por exemplo, maioria no Congresso ou nas assembléias legislativas, ou até que um líder carismático das oposições consiga se eleger.


Quer dizer: tanto a retroação legal, quanto a aplicação da Lei da Ficha Limpa sem respeitar essa anterioridade de um ano no processo eleitoral, traz prejuízos inimagináveis à Democracia e pode até facilitar, ou dar um “ar de legalidade”, ao autoritarismo.


E eu pergunto: será que o destino, hoje, de uns 100 ou 200 políticos vale isso?


Ora, o que se quer é que a Lei da Ficha Limpa produza seus efeitos só a partir das eleições de 2012 – quer dizer, daqui a mais ou menos 700 dias.


E será que por causa de 100 ou 200 políticos e em apenas 700 dias, nós vamos conseguir revolucionar a moralidade administrativa deste país?


Pensem, caramba!


Por que não esperar esses 700 dias, que passam num tapa, e impedir tais rombos no Estado de Direito?


Ninguém está dizendo para que a Lei da Ficha Limpa não seja aplicada, mas, apenas, para que seja aplicada sem espancar a Constituição.


Olhem, sinceramente: fiquei muito, muito preocupada com esse “julgamento-que-não-houve” do Supremo.


Fazia tempo que não me sentia tão angustiada, justamente por perceber que é quase uma luta inglória tentar alertar as pessoas acerca de tais perigos, porque, em sua boa vontade, a maioria dos formadores de opinião acaba é sendo manipulada por essa meia dúzia de sectários que, por seus interesses inconfessáveis, a tudo distorcem.


É quase como gritar com uma parede. E extremamente cansativo, por tão óbvios que parecem os perigos de tais precedentes.


As pessoas têm de compreender que a Lei da Ficha Limpa não é uma varinha mágica.


Ajuda, sim, mas, infelizmente, não resolve.


A mudança que tanto ansiamos, para a moralização da política brasileira, não acontecerá por Lei ou decreto, mas, por uma transformação cultural.


Uma transformação que começa bem lá atrás, na infância, quando, por exemplo, você manda o seu filho devolver o apontador ou a caneta que ele trouxe pra casa, e que não lhe pertence.


Ou quando você devolve o troco a mais que o caixa do supermercado lhe deu. Ou quando você simplesmente não joga lixo na rua, ou respeita os sinais de trânsito.


É uma transformação que passa pela compreensão da distância que existe entre o público e o privado, e da prevalência do primeiro sobre o segundo.


E que passa, ainda, pela intolerância a qualquer tipo de desonestidade no plano pessoal – e eu estou a falar de você mesmo.


É a negação radical dessa cultura do “jeitinho brasileiro”.


É a consciência de que somos parte de uma coletividade que fez de nós o que somos e que pode, sim, recuar ou avançar através de um simples gesto ou de uma inação da nossa parte.


E se tudo isso pudesse ser resolvido com uma simples Lei ou decreto, que bom que seria, né mermo?


Foi grande o esforço da sociedade brasileira para chegarmos até aqui.


Não foram poucos os que morreram nesse caminho.


E eu só espero é que a gente consiga ter sempre presente todo esse esforço.


Em vez de simplesmente nos deixarmos levar pelos interesses inconfessáveis de alguns.


Essa é uma hora crucial para a Democracia brasileira.


Não se deixe enganar, não.


Estamos a viver um momento que pode representar um grande avanço - ou um grande retrocesso.


E o que a gente não pode permitir é que os interesses eleitoreiros de alguns nos transformem em simples massa de manobra, em mera escada, para que eles possam atingir seus objetivos, mesmo que seja à custa dessa Democracia ainda tão frágil, que suamos tanto para conquistar.


FUUUUIIIIIIII!!!!!!!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

PT quer ganhar no tapetão




'Todo mundo devia ser ensinado desde pequenininho: é muito feio querer ganhar no tapetão'.


Há poucos dias, senti-me ultrajada por um discurso infeliz do presidente Luís Inácio Lula da Silva: ele praticamente ameaçou de represálias os paraenses, se não votarmos na candidata dele.


E eu fiquei a pensar, cá com os meus botões: mas desde quando um cidadão, por mais alto que seja o cargo que ocupe, tem o direito de ameaçar outros cidadãos, a tentar quase que nos “assaltar” por causa de um voto?


Desde quando alguém pode tentar me empurrar uma candidata que eu não quero?


Desde quando um povo inteiro pode ser penalizado, simplesmente por não se curvar à vontade de um governante?


E desde quando nós, os paraenses, já nos curvamos à vontade de alguém?


Fiquei chocada com o discurso de Lula. Afinal de contas, todas as vezes que ele vem ao Pará é muito bem recebido pela nossa gente.


Então, não dá pra entender como é que alguém que é tratado dessa forma pelos paraenses, se põe, de repente, a nos ameaçar.


E também fiquei pensando: e de que, afinal, pode nos ameaçar o Lula, se a nós, os paraenses, sempre restaram, apenas, as migalhas do desenvolvimento brasileiro e o roubo descarado das nossas riquezas.


Todos os paraenses, naturais ou por adoção, sabemos da luta heróica que travamos para que todo o nosso povo tenha acesso a uma vida melhor.


E eu não vejo, sinceramente, que grande ajuda nos tenha dado o Governo Federal, ao longo dessa caminhada.


Dinheiro, quase não há. E esse pessoal do resto do Brasil só se lembra da gente quando acontece alguma desgraça – e mesmo assim por causa do escândalo provocado no resto do mundo.


E agora, não bastasse tudo isso, ainda nos vem o presidente Lula, a quem sempre tratamos com todo o carinho do mundo, a tentar nos ameaçar para que a gente vote na candidata dele – que só é candidata dele porque ele não vive aqui.


E eu confesso que fiquei muito decepcionada, porque nunca esperei do Lula um gesto tão covarde. Nunca pensei que o Lula fosse capaz de ameaçar pessoas tão pobres, tão desprotegidas quanto ele já foi um dia.


Sempre defendi o Lula, porque o Lula que conheci era um sujeito corajoso, que enfrentava os patrões e os militares, naquelas greves extraordinárias dos metalúrgicos.


E agora eu vejo o Lula, só porque é presidente, a ameaçar o seu José e a dona Maria, que não têm nem como se defender dele.


E eu fiquei a pensar, cá com os meus botões: égua, sumanu, o Poder rrrealmente faz um mal danado ao coração das pessoas.


Na verdade, isso é uma tremenda vergonha pra um partido como o PT, que “diz-que” defende os pobres.


E pra coroar essa vergonha, ainda vem o PT a espalhar na imprensa e na blogosfera que o procurador da República, Roberto Gurgel, vai querer cassar o Jatene por causa da Lei da Ficha Limpa.


E quando eu li isso, manos, juro que fiquei besta.


Mas vão cassar o Jatene como, se o Jatene não é condenado em nada?


Desde quando alguém pode chegar e simplesmente “grampear” um cidadão honrado?


E desde quando um promotor ou um procurador de Justiça pode virar um simples menino de recados do PT?


Mas cadê o Conselho Nacional do Ministério Público? Cadê os promotores e procuradores de Justiça deste País, cujo trabalho está sendo humilhado por esse tipo de comportamento?


No fundo, vocês sabem como é que é mesmo o nome disso? É desespero. E além de desespero, falta de compromisso com a Democracia.


O PT fala tanto em povo, mas não respeita a vontade popular.


Aliás, o PT não respeita nem mesmo o povo, porque, da mesma forma que a ditadura militar, o PT também acha que o povo não sabe votar – ou que só sabe votar se votar em petista.


O PT já viu que não tem jeito: o povo quer é Jatene. O povo pode até votar na Dilma, mas quer mais é o Jatene para governador.


E aí os petistas viram bicho, nessa coisa lamentável que eles têm, de tentar obrigar todo mundo a pensar igual a eles.


Os petistas estão aí, sentados na máquina e no dinheiro – e mesmo assim não conseguem convencer o nosso povo.


Tiveram quatro anos pra cativar a população e quase três meses de campanha, com muito mais dinheiro, com muito mais tempo de TV e com muito mais cabos eleitorais do que todos os outros partidos.


Mas assim mesmo não conseguiram dobrar o nosso povo. E é por isso que agora ficam querendo apelar pro tapetão.


Como o terrorismo do Lula não deu certo, agora os petistas deixam cair a máscara e tentam apelar pro simples golpismo.


E é o caso de se perguntar: até onde o PT está disposto a descer pela simples manutenção do poder?


Mas a vontade da população vai, sim, prevalecer.


Não passamos o que passamos na luta contra a ditadura, pra acabar nos curvando diante de aprendizes de ditadores.


Em 3 de outubro, vai dar Jatene na cabeça, vai dar Jatene de primeira – e o PT vai ter, sim, de abaixar a cabeça, diante da vontade Soberana do povo do Pará.


O PT vai ter, sim, de abaixar a cabeça diante da Lei, diante da Constituição, diante da Democracia, diante do Estado de Direito que ainda impera neste país.


O PT vai ter de se curvar diante do Pará; o PT vai ter de respeitar o povo do Pará.


É o povo do Pará quem vai dizer ao PT: chega!


E é o povo do Pará quem vai dizer a cada petista: ulha, sumanu, que é muito feio tentar ganhar eleição no tapetão!



FUUUUIIIIIII!!!!!!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

DS derrota Ana Júlia e o PT






Se de fato se concretizar, a derrota da petista Ana Júlia Carepa será a mais acachapante de que se tem notícia na história recente do Pará.


E será uma derrota tão complicada que poderá até arrastar para o fundo do poço boa parte do PT paraense, aí incluídas algumas de suas mais expressivas lideranças, como é o caso do deputado federal Paulo Rocha.


Avisos não faltaram à governadora, mas ela preferiu manter a sua fidelidade canina à Democracia Socialista (DS), talvez a corrente mais arrogante, autoritária e enlouquecida que já apareceu no cenário político paraense, desde sempre repleto de correntes arrogantes, autoritárias e enlouquecidas.


É possível que a DS só encontre paralelo na antiga Força Socialista.


Mas se Edmilson Rodrigues conseguiu, ao fim e ao cabo, manter algum respeito entre os petistas e antigos aliados, Ana Júlia nem isso conseguirá.


Será um triste ocaso para a carreira política da primeira mulher a governar o Pará. Uma carreira, sim, brilhante. Afinal, Ana é uma liderança forjada nas urnas e no movimento sindical.


A passagem de Ana Júlia pelo governo revelou-se, desde o começo, uma sucessão de erros e de grandes lições para todas as lideranças políticas paraenses, e até para os que simplesmente amamos a política.


A primeira é a impossibilidade de um partido, por mais democrático que seja, governar através de uma corrente minoritária e sectária.


Não adianta: o partido pode bater na mesa, como o PT fez várias vezes ao longo desses quatro anos, mas a corrente, por deter a caneta, sempre se julgará “Soberana”.


E talvez o que o PT precise é debater o porquê de as suas mais importantes conquistas no Pará, o Governo do Estado e a Prefeitura de Belém, terem acontecido através de correntes minoritárias e sectárias.


A segunda lição é a distância que existe entre a teoria e a prática política.


O sujeito pode ter lido e relido o Capital; pode ser doutor pela melhor universidade do mundo, mas, se não tiver vivência de política partidária cometerá desatinos que nem um analfabeto cometeria. Até porque, presume-se, o analfabeto teria o básico: humildade. Para não dizer bom senso.


Foram os doutores da DS que conduziram Ana e o PT paraense a essa situação aflitiva em que se encontram.


Desde o começo, esses senhores se comportaram como se possuíssem algum mandato popular; como se fossem eles os eleitos – e não Ana Júlia e o PT.


Tomaram conta do Palácio dos Despachos, dos cargos, do mando.


Por sua arrogância, provocaram toda sorte de conflitos com aqueles que não se curvaram à sua imbecilidade.


Por sua hipocrisia – como se fossem uma ilha de santidade num mar de corruptos – acabaram por afastar todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a vitória de Ana Júlia, em 2006.


Por sua sede de poder, “devoraram” até os integrantes da própria DS que enxergaram a iminência do desastre.


E, o que é até sintomático: foram também eles, que tanto posavam de “imaculados”, a comandar as transações que resultaram nos piores escândalos do governo petista.


No entanto, por mais simpatia que se tenha pela minha xará, não há como inocentá-la de tudo isso.


Afinal, ela possuía, sim, o poder para afastar esses senhores. Não o fez, apesar de todos os avisos que recebeu. Resta-lhe, agora, apenas arcar – e se possível com alguma dignidade – com o ônus de suas decisões.


É claro que nesses dez dias de campanha muita coisa pode acontecer.


Mas, a cada dia que passa, parece mais improvável que Ana Júlia consiga vencer estas eleições.


Ana conseguiu reunir ao seu redor alguns dos maiores partidos paraenses: PP, PR, PTB, PDT e por aí vai.


E por essa ampla aliança e poderio de que dispõe, conseguiu convencer da certeza de sua reeleição até algumas das maiores raposas políticas estaduais.


E mesmo os partidos e raposas, como é o caso de Jader Barbalho e do PMDB, que não se alinharam com Ana, preferiram não lhe fazer uma oposição cerrada, devido ao poder de fogo que ela conseguiu arregimentar – e que aconselhava, sim, a manter a porta entreaberta a uma eventual negociação.


Fosse um Jader ou um Jatene no comando desses exércitos, e com as máquinas estadual, federal e de várias prefeituras ao seu favor, é muito provável que essa parada acabasse, de fato, ainda no primeiro turno.


Mas Ana vai perder para ela mesma e para a DS.


Não, não é a rejeição, que é apenas decorrência, sintoma, e não a causa.


(Ademais, depois da reeleição de Duciomar Costa, rejeição, no Pará, tornou-se quase que anúncio de vitória...)


Na verdade, Ana Júlia derrotará Ana Júlia, pela incapacidade de governar para todos, em vez de apenas para um grupelho sedento de poder.


E a DS derrotará Ana Júlia porque, para a DS, só importa mesmo é a própria DS.


Taí o candidato da DS, que deve se eleger apesar da terra arrasada que deixará para trás, que não me deixa mentir.


FUUUUUIIIIII!!!!!!!


Zaratustra da Silva I



Nunca escrevera uma linha, mas era considerado o maior intelectual de seu tempo.


Alguns havia, inclusive, a considerá-lo o maior pensador desde Tales de Mileto.


Cada “caatinga verbal” que produzia era repetida com ares de lição por todos os letrados daquela província.


Que, a bem da verdade, eram poucos. E esses poucos, nem tão letrados assim...


É verdade também, caro leitor, que há certo exagero em afirmar que Zaratustra da Silva nada escreveu.


Nos arquivos públicos, contam-se dois tomos de sua autoria, “As Angústias do Pensamento em Branco”, um diário da adolescência que seus inimigos trataram de reproduzir.


De sorte que o pensamento de Zaratustra, graças à dedicação daqueles que o detestavam, acabaria introduzido nos salões da posteridade...


Era o típico intelectual “bafejado pelas musas”.


Olhos perdidos no além do além, percorria praças e mercados a distribuir estonteantes lições de maiêutica.


E adorava citar-se.


_ Então, eu disse para ela: a Política, minha senhora, é a mais humana das artes humanamente forjadas!


E se havia alguns que, como já visto, não o suportavam, o fato é que Zaratustra, ao repetir-se, acabava extasiado com a própria genialidade.


_Vejam só que formidável caatinga verbal: a mais humana das artes humanamente forjadas! – ficava a repetir, de si para si.


Era músico e arquiteto pela necessidade de extravasar a esfuziante criatividade.


E embora as más línguas afirmassem que de Arquitetura não entendia lhufas, o fato é que a Província do Nunca Mais estava repleta de monumentos de sua autoria, a embasbacar todos os visitantes.


Tal decorria do pitoresco sistema político daquela terra: o Servilismo Genético-Compulsivo.


A Plebe servia aos Mais ou Menos a Favor, que serviam aos Belos e Bons, que serviam a El Rey.


E aos prepostos de El Rey. E aos parentes de El Rey. E aos contraparentes de El Rey. E aos amigos de El Rey. E a qualquer coisa, enfim, que denotasse realeza.


Assim, Zaratustra acabou bafejado por toda sorte de cunhas: além de destacado integrante dos Belos e Bons, era parente de um contraparente de uma amante de El Rey.


Além disso, sempre que necessário, “molhava o pé da planta”, como se diz vulgarmente hoje em dia.


Eis que na Província do Nunca Mais, molhar o pé, e até a inteireza da planta, era espécie de atavismo.


Coffé Break


A essas alturas, o distinto leitor deve estar a se perguntar acerca da veracidade desta narrativa, por imaginar a impossibilidade de uma província tão corrupta e servil.


No entanto, esta narrativa é baseada em antiqüíssimos documentos, adquiridos por frades dominicanos junto a mercadores florentinos, no século XV, e ainda hoje mantidos a sete chaves na biblioteca secreta do Vaticano.


Tais documentos narram a destruição do Paiz de Los Devedores por uma sucessão de cataclismos, semelhantes às pragas do Egito, mas com interessantes inovações da tecnologia divina.


Os gafanhotos, por exemplo, foram substituídos por levas e levas de políticos corruptos, que devoravam até a alma de velhos, mulheres e criancinhas.


Com isso, sobreveio a Grande Fome, o que levou esses políticos a devorarem uns aos outros.


Por fim, uma enorme cloaca se ergueu do ventre da Terra e empurrou o Paiz de Los Devedores para uma moderna fossa séptica, inventada por Satanás.


Segundo um monge copista que teve acesso a esses documentos, a destruição do Paiz de Los Devedores é a única decisão consensual entre o diabo e a Divindade de que há comprovação.


Mas, talvez por andarem entretidos com as festividades que se seguiram à destruição daquela terra, Deus e Satanás se esqueceram da Província do Nunca Mais, que acabou por se transformar numa espécie de Galápagos social.


Conta-se que, após mil anos de isolamento, Hobbes e Maquiavel visitaram aquela terra.


E em ambos os casos, como se sabe, a fé na Humanidade acabou irremediavelmente abalada...

Capítulo I

“Abelius é o povo no poder” – era o slogan disseminado nos lares e bordéis da Província do Nunca Mais.


Corria o ano de 502 Antes de Nosso Senhor.


O Paiz de Los Devedores se preparava para eleger os governadores provinciais e a eleição, como não poderia deixar de ser, estava polarizada entre os dois partidos existentes: o “Belos e Bons” e o “Mais ou Menos a Favor”.


Obviamente, o sensível leitor deve estar a se perguntar: e a Plebe? E a Plebe?


Ora, caro leitor, como já disse alguém a Plebe é internacional.


E se não tem país, logicamente, não tem partido, como sabiamente decretara El Rey.


Bem fizeram os burgueses que nunca se arvoraram a esses internacionalismos – eram pilantras, ladrões, carniceiros longe de seus lares, mas, dedicados pais de famílias, cidadãos exemplares, no interior de suas fronteiras.


Espancavam, estupravam, escravizavam, matavam mulheres e criancinhas, mas tudo nos estritos limites legais.


Aliás, quem sabe não é a Burguesia, entre todas as classes sociais, a compreender visceralmente a dubiedade do espírito humano?


Mas onde eu estava mesmo?... Ah, sim, nas eleições!...


Pois muito bem. Apesar de tratar-se de um reles desentendimento familiar, a acirrada campanha dava um ar verossímil às eleições provinciais.


No entanto, devido à agitação da Plebe, El Rey baixara, naquele ano, três Normas Inexpugnáveis.


A primeira dizia que tudo é ilusão (“quem sabe obra de um sonho ou de um gênio maligno?...”).


A segunda que, tendo em vista a primeira, tudo é relativo – em especial as matemáticas.


A terceira que, devido às anteriores, a Verdade só pode ser alcançada pelo Ser Pensante - ou seja, El Rey.


Assim, “reduzidos a sua insignificância, o mais e o menos dependem da visão do Soberano”.


Um raciocínio irretocável, diga-se de passagem, a inspirar futuros impérios...


Porém, os integrantes do “Mais ou Menos a Favor”, Abelius entre eles, lutavam bravamente para ganhar as eleições, até para evitar que o Paiz de Los Devedores acabasse nas mãos de um aventureiro qualquer.


É que a Plebe, sabe-se lá por que, adquirira o péssimo hábito de invadir as terras senhoriais.


Seus líderes afirmavam que passava fome, que não tinha onde morar, que via seus filhos morrerem à míngua, etc.


Mas o leitor há de convir que nada disso é desculpa para um comportamento tão incivilizado.


Assim, vez por outra El Rey mandava empalar em praça pública os baderneiros que agitavam a Plebe.


Mas nem isso conseguia deter a fúria daquela gentalha ensandecida.


De sorte que, como proclamou Abelius, era preciso dar pão ao povo, antes que começasse a exigir brioches...


Os Mais ou Menos a Favor contavam ganhar as eleições com a ajuda da Plebe, que, apesar de não ter partido, tinha direito de voto – o Regime de Quase-Cidadania, magnanimamente concedido por El Rey.


Por isso, os Mais ou Menos a Favor prometiam mundos e fundos àquela casta rude e ignorante.


Garantiam à Plebe encantadoras vivendas, em jardins onde cantam sabiás.


Prometiam trabalhar noite e dia enquanto existisse um plebeu com hambre.


Asseguravam a construção de avançadas escolas para os filhos de “los descamisados”, nas quais a repetência seria virtualmente impossível.


Daí que alguns historiadores insistam em afirmar que foram os Mais ou Menos a Favor, e não os tiranos gregos, os verdadeiros pais da Demagogia…


Graças a esse lári-lári e ao carisma de suas lideranças, os Mais ou Menos a Favor obtiveram expressivas vitórias em todas as províncias.


Ganharam, mas, devido às Normas Inexpugnáveis, não levaram.


A exceção foi a Província do Nunca Mais.


Primeiro porque Abelius conseguiu até o apoio do governador provincial, numa grande frente em favor da “Liberdade, Fraternidade e Igualdade”.


Segundo porque a Província do Nunca Mais era tão longe e desimportante, mas tão longe e desimportante, que quando El Rey se deu conta Abelius já governava aquela terra há mais de dois ano.


Mas aí sobreveio a destruição do Paiz de Los Devedores.


E Abelius acabou por se transformar no avatar de El Rey.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Perereca debaixo de bala

Tenho recebido tantas chibatadas nas costas, devido às minhas últimas postagens, especialmente àquelas relativas a Jader Barbalho, que já estou até pensando em pedir ao deputado um pacote de sal...
Não, sem brincadeira, eu acho interessantíssima a revolta de alguns comentaristas, simplesmente por alguém expressar uma opinião diferente da deles.
Pro pessoal da Ana, o Jatene é um bandido que tem de ser espancado e pendurado num poste.
Pro pessoal do Jatene, é a Ana que é uma bandida que tem de ser espancada e pendurada num poste.
E para ambos – a depender, é claro, das conveniências – o Barbalhão tem mais é de ser queimado vivo...
E eu estava até a dizer, há pouco, a um comentarista: sabe qual é o problema? É que a nossa Democracia é tão recente que a gente vive a imaginá-la como uma via de mão única: é o meu pensamento, o meu direito de expressão.
E, no entanto, a Democracia é uma via de mão dupla.
E o meu direito e o seu direito estão de tal forma imbricados, que um simplesmente não existe sem o outro.
A internet e a blogosfera trouxeram alguns fenômenos interessantes.
Um deles é essa ampla possibilidade de participação em debates, até no anonimato.
Outra é a forma como as pessoas se comportam no anonimato da blogosfera, a escrever coisas que, certamente, não ousam repetir nem nos grupos que integram.
É como um prazer secreto, às escondidas, e só possível porque a virtualidade das nossas relações permite despir por completo a humanidade do antagonista – o que não aconteceria se estivéssemos a apenas alguns centímetros.
É o clássico antropológico: “mim Tarzan, you Chita”. E tanto mais instigante porque manifesto por formadores de opinião.
A Perereca da Vizinha nunca foi um blog pacífico: nunca recebi exatamente flores de alguns comentaristas deste espaço.
Até porque a essa característica comportamental da blogosfera, vem se juntar a paixão provocada pela matéria-prima deste blog: o debate político e as reportagens investigativas.
E claro está que, tanto nesses debates quanto nas reportagens investigativas, se agrado aos gregos, desagrado aos troianos.
Não sei se é por isso que a Perereca é um blog tão longevo – since 2006! – , apesar dos constantes “despirocamentos” desta blogueira.
Só sei é que me sinto profundamente gratificada por ter conseguido construir, junto com vocês, um dos espaços jornalísticos mais democráticos da blogosfera paraense, já que aqui a porrada é socializada: apanham tucanos, petistas, peemedebistas, pefelistas e quantos mais aparecerem.
E todos, apesar disso, freqüentam este blog e acreditam naquilo que aqui é publicado.
E vou dizer uma coisa do fundo do coração: é sempre uma honra ter cada um de vocês aqui na Perereca, mesmo que seja para vocês me encherem de porrada, como está a acontecer agora.
Investigar e debater questões fundamentais à coletividade é um dever básico de todo e qualquer jornalista.
Jornalista não pode viver de elogios, nem pode ser simplesmente o sujeito simpático.
Jornalista tem de ser o sujeito que instiga. O espírito de porco que joga luz sobre aquilo que alguns teimam em esconder.
Espero que, ao término desta eleição, eu consiga arranjar maneira de me sustentar e a este blog, para continuar a fazer o jornalismo que vocês esperam e merecem.
O jornalismo que revela – mesmo que até de forma dolorosa, como já aconteceu em algumas das reportagens que fiz.
Penso que isso é extremamente importante para que a gente saiba o que está de fato a acontecer, apesar de toda a propaganda do partido que eventualmente se encontre no poder: PT, PSDB, PMDB e por aí vai.
O resto é “ofício de consideração ao senhor diretor”, relógio de ponto, livro de atas – jamais jornalismo.
Porque Jornalismo até pode ser História. Mas é, sobretudo, Democracia.
FUUUUIIIIIII!!!!!!!


Um presente pra vocês!








quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Um grande cidadão: Luís Inácio Lula da Silva

Recebi um e-mail sobre essa discussão entre o Lúcio Flávio Pinto e o Itajaí Albuquerque, do Flanar.
Penso que Itajaí foi vítima de um anônimo mal intencionado, que realizou uma montagem com trechos do artigo do Lúcio.
Daí que, no lugar do Itajaí, eu já teria recuado, porque, sinceramente, querer enxergar higienismo racial, nazismo, no que o Lúcio está a dizer acerca do Lula simplesmente não faz sentido.
Creio que o Lúcio não merece esse tipo de comentário: é um intelectual brilhante, um jornalista combativo que está aí, fumado, por defender a liberdade de imprensa, num estado em que isso praticamente inexiste.
Por isso, quero me solidarizar com o Lúcio.
Mas também quero dizer que divirjo dele.
Li e reli o artigo do Lúcio. Matutei, matutei e, sinceramente, não consigo enxergar o Lula como um ditador.
Aliás, creio que até já escrevi aqui sobre isso: graças a Deus que o Lula tem, sim, um enorme apreço pela Democracia.
Porque outro no lugar dele, com 80% de aprovação popular, nem pensaria duas vezes para tratorar a Constituição e impor um terceiro mandato – e quem é que conseguiria impedi-lo?
Não creio que Lula possa ser “acusado” por sua enorme popularidade, a maior de um político brasileiro da história recente, nem possa ser considerado “culpado” pelo fato de a oposição se encontrar “esmigalhada”, digamos assim.
E também não acho que essa situação dramática da oposição se deva ao simples “adesismo”.
Penso que a explicação para o fenômeno Luís Inácio Lula da Silva – e até para a situação em que se encontra a oposição – deve ser buscada na extraordinária capacidade que ele possui de se comunicar com as massas populares.
Lula teve a luminosidade de perceber que existe enorme distância entre inteligência e Educação formal.
Ele sabe que essa nossa população “inculta” é muito mais inteligente do que a maioria das nossas elites imagina.
Lula sabe que se você tiver a humildade de adequar o seu vocabulário a esse universo restrito da nossa população, em termos de palavras, ela vai entender perfeitamente o que você está a dizer. Ela vai raciocinar em cima disso e vai compreender a opressão em que vive.
Além disso, a enorme inteligência de Lula também lhe permitiu como que dissecar a alma popular; os anseios, os sonhos, as esperanças, de quem vive lá embaixo, como ele um dia viveu.
E aí eu tiro o chapéu para o Lula, porque um sujeito com essa inteligência, com esse domínio da linguagem popular, com essa capacidade de entender a “alma” da nossa população, poderia era estar ganhando tubos de dinheiro.
Fazia um “ejazinho”, uma universidade fuleira de três ou quatro anos e em pouco tempo estaria mais rico e famoso do que o Duda Mendonça.
Mas Lula preferiu usar esse enorme talento em favor do Brasil. Ao contrário de muita gente, não se esqueceu de onde veio. E faz tudo para arrancar da miséria essa massa de brasileiros que vivem como ele, um dia, já viveu.
Daí que também não acho que a questão do Lula seja simplesmente de “poder”.
Poder ele teria até mais facilmente se trilhasse esse caminho que referi.
E sem um décimo das humilhações que já enfrentou. Afinal de contas, Lula já foi tachado de tudo: burro, bêbado, ignorante, ladrão. E até o acidente horroroso que sofreu, e que lhe custou um dedo da mão, já serviu para piadinhas de mau gosto.
E eu vejo é Lula como um grande Cidadão, ao qual o Brasil deve muito, sim, assim como deve ao grande Fernando Henrique Cardoso.
E é claro que vejo defeitos no Lula e no PT.
E o principal, a meu ver, é essa mania de querer aparelhar o Estado, além dessa arrogância de querer se colocar como “criador do Universo”.
Mas nem essa mania lamentável, nem essa coisa abominável do “nunca antes” anulam o que o PT tem feito pelo Brasil. Assim como os muitos erros dos tucanos também não anulam o que o PSDB já fez, faz e ainda fará por este país.
Pelo contrário: apesar até mesmo dessas histórias escabrosas de caixa dois, nas quais se enrolaram tanto o PT quanto o PSDB, tucanos e petistas estabeleceram, sim, um marco, uma virada social, na história do Brasil.
Também na minha opinião, a culpa pela situação aflitiva em que se encontram os tucanos, a nível nacional, deve ser buscada nos próprios tucanos – e não no Lula e no PT.
Além do domínio da linguagem popular e do profundo conhecimento da alma popular, Lula também possui uma enorme capacidade adaptativa.
E isso não é demérito, não é defeito. É, antes, uma qualidade: a capacidade de entender as circunstâncias e continuar a jogar, apesar delas; a dialogar com todas as forças em conflito, para tentar manter o rumo de um projeto no qual se acredita.
Mas o que foi que fizeram os tucanos diante desse animal político extraordinário chamado Luís Inácio Lula da Silva?
Longe de “aderir” ou de “imitar”, não tiveram é a humildade de tentar aprender com esse grande doutor em comunicação de massa.
Não tentaram traduzir programa de governo em linguagem acessível. Não conseguiram nem mesmo abandonar o blazer e o salto alto, para apostar na inserção no movimento popular.
Como que aceitaram pacificamente o PT como “dono” dos movimentos sociais, preferindo apostar, apenas, na manipulação dos grandes veículos de comunicação.
Taí o resultado. A maioria da nossa população vê o PSDB como um “estranho”, um “extraterrestre”, e não consegue entender o que ele diz.
E eu tenho esperança é que essa experiência do Jatene “nos braços do povo” consiga levar o PSDB a refletir acerca disto: que partido não é feito só de técnico e de doutor; é feito de massa, é feito pela dona Maria e pelo seu José.
Por tudo isso é que também não acho que a popularidade do Lula assente apenas em políticas assistencialistas.
E nem acho políticas assistencialistas de todo condenáveis num país miserável como o Brasil.
Acho que a Bolsa Família vira Bolsa Esmola quando ela se torna perene.
Mas não há como arrancar da miséria essa massa excluída de brasileiros se você não arranjar uma ajuda, por seis meses, um ano, um ano e meio, para que o sujeito que está lá fumado possa se qualificar e se inserir no mercado de trabalho.
Tem de proteger, tem de ajudar; dar bolsa, qualificação, crédito, estabelecer cota, sim.
Não dá pra deixar o sujeito simplesmente morrer de fome enquanto a gente espera a revolução. E não dá para imaginar que essas pessoas vão conseguir escapar dessa segregação econômica sem um empurrão – e um empurrão bacana.
Também não acho que a nossa Democracia está à beira de um naufrágio.
Pelo contrário: vejo é o avanço da Democracia, pelo fato de milhões de brasileiros estarem conquistando o acesso à Cidadania.
Há questões complicadas como essa aplicação retroativa da Lei da Ficha Limpa e até esses constantes bate-bocas do Lula com o Ministério Público e o Judiciário.
Acho que o Lula extrapola ao bater boca com promotor, com procurador, porque as instituições têm mais é de funcionar. E ele tem, sim, de dar o exemplo de respeito às instituições.
Mas fora esses “esperneios” públicos do Lula, não vejo o que ele tenha feito de tão antidemocrático para ser chamado de ditador.
Tá errado ele usar a máquina? Tá sim. Mas eu não me arriscaria a dizer que ele foi o sujeito que mais usou a máquina.
E se as instituições não o punem como deveriam, também não dá pra dizer que a culpa é só dele: a culpa é, também, da lassidão das nossas instituições, que estão aí, pagas com o nosso dinheirinho, justamente para colocar ordem nesse mafuá.
Para mim, o que não se pode é projetar no Lula e no PT esse comportamento ditatorial – aí, sim, ditatorial – da Democracia Socialista (DS).
Não dá para confundir o PT com a DS. E o grande problema dos petistas paraenses foi terem chegado ao Poder através dessa corrente minoritária e complicada, capitaneada por “doutores” que não entendem patavina de política, e que acham que podem “prender e arrebentar” quem não pensa igual a eles.
O próprio PT sofreu que nem sovaco de aleijado nas mãos da DS. E tenho certeza de que muitos petistas, que arriscaram a própria vida na luta pela redemocratização, não concordam com o fechamento da Rádio Tabajara.
Então, isso não é uma coisa do PT: é coisa de uma corrente minoritária e ditatorial, que não tem condições de governar, porque não tem compromisso com a Democracia - e não entende patavina de política.
Quanto a essa questão da suposta violação do sigilo bancário da filha e do genro de Serra, por uma questão ética, só vou me manifestar depois da campanha.
Vou deixar aqui parte do artigo do Lúcio e o comentário do Itajaí, bem como os links para a íntegra de ambos, para que vocês se inteirem dessa discussão e possam formar opinião.

“Lula, o bom ditador


Lúcio Flávio Pinto


Lula merece fazer Dilma Roussef sua sucessora. O brasileiro está satisfeito com o seu governo. Mas o resultado que se anunciará será bom para o país? É o Brasil verdadeiro que sairá ganhando desta eleição? Ou o futuro é ameaçador?
Da presunção à convicção do absoluto: é este o passo da democracia ao fascismo. É o passo em que o Brasil está. A direção foi dada por Luiz Inácio Lula da Silva. Como todos sabem, Lula pouco ou quase nada lê. Seu aprendizado sempre foi na prática, empírico e pragmático. Mas foi um aprendizado profundo. Sobreviveu à condição de imigrante nordestino em São Paulo, ao peleguismo sindical, à corrupção política, à tutela intelectual, aos adversários e aos inimigos
Inteligente, perspicaz, audacioso e pertinaz, aprendeu o máximo que sua tão vasta experiência lhe possibilitou. É o mais preparado dos políticos brasileiros de todos os tempos, o único que fez a escola da vida para a carreira política. Durante duas décadas não teve mandato (renunciou ao que conquistou, de deputado federal; na sua versão, por não conseguir conviver com os 300 picaretas do parlamento; na verdade, por não conseguir dividir o poder), não precisou garantir a própria sobrevivência e da família, foi tendo cada vez mais tudo “do bom e do melhor”. Circulou pelo Brasil inteiro e pelo mundo.
Pôde se dedicar integralmente a cinco campanhas eleitorais para presidente da república. Perdeu três (sua sorte é tão imensa que perdeu as três primeiras: não saberia o que fazer então com os mandatos em disputa) e ganhou duas, ambas na hora certa. Nenhum político brasileiro tem cartel semelhante – nem provavelmente terá. A estrela de Lula é de primeira grandeza. Combinada com seus instintos, sua inteligência e sua identificação com o povo, resultou numa biografia realmente notável.
Contradição ambulante, conforme a auto-definição, é um ser que se modifica e se adapta ao ambiente quando o cenário ainda está em mutação, graças à sua incrível capacidade de antever o momento imediatamente seguinte ao vigente, Lula é aquilo que, abusando do jargão, se passou a chamar de “força da natureza”. É uma esplêndida culminação de instintos vitais. Mas sem a menor condição de autoconhecimento, de reflexão e de análise. Uma vocação inocente de ditador, com a melhor das aparências, sem consciência de culpa.
A expressão “nunca antes” é contumaz no seu discurso porque ele só consegue reconstituir os fatos dos quais participou, a história que vivenciou – e sempre através da sua ótica, impermeável à interferência externa, sobretudo à crítica. Tudo mais que exigir esforço cognitivo, pesquisa documental ou checagem factual escapa aos seus domínios. Ele se considera marco demarcatório da história do Brasil porque tem a si como eixo de tudo, o que não é de espantar nem pode legitimar críticas: é só isso o que Luiz Inácio Lula da Silva vê.
A dificuldade para criticá-lo com honestidade, sem preconceitos, está na circunstância de que nunca mesmo nenhum político foi tão popular quanto ele – nem tão poderoso. A oposição foi varrida do mundo real no Brasil. Não agora, de súbito, embora só agora tenha chegado ao fundo do poço, numa extinção melancólica e vil. Ela começou a desaparecer quando se deixou alcançar pela osmose. Todos viraram Lulas, imitações dele, suas sombras, suas marionetes.
O Brasil sofre os efeitos de um antiintelectualismo sem igual, sutil e corrosivo, imperceptível e devastador. Se o símbolo dos instintos vitais deu certo como nunca antes, por que pensar? Por que contestar? Por que contrapor? Por que, até mesmo, dialogar? É aderir e copiar.
Ali estava a fórmula do sucesso, simples e ao alcance de todos, já que permitiu ao apedeuta se tornar ídolo internacional, subir além do alcance de estadistas de várias partes do mundo, que lhe estenderam enormes tapetes vermelhos, fazer e acontecer – e, ao fim e ao cabo, como gostam de dizer os portugueses, símbolos do que é básico e elementar, tudo resultar em mais dividendos para o mago das circunstâncias.
O povo está feliz e votaria de novo em Lula se a constituição admitisse três eleições seguidas para presidente da república. Se Dilma passou dos 50%, tendo começado quase no nada (o “nonada” de Guimarães Rosa), Lula passaria dos 80%. Colocaria no chinelo o Jânio Quadros de exatamente meio século atrás, na eleição dos 5.6 milhões de votos de 1960 contra 3,8 milhões do marechal Lott.
O “poste eleitoral” de 2009 se tornou sucesso retumbante em 2010. Mas não só por causa do carisma e da popularidade de Lula. Também pelo uso mais abusivo da máquina pública de que se tem notícia em 80 anos de eleição no Brasil, a partir da revolução de 1930. Lula transformou as leis em potocas, ampliando para a cena nacional a chacota paroquial do caudilho paraense Magalhães Barata. Zombou das normas e dos seus aplicadores. Pisou sobre os papéis sagrados que rasgou. Fez de si um absoluto. O passado evaporou, como se fora antediluviano. Dele, todos perderam a memória, num Alzheimer coletivo, com dezenas de milhões de enfermos.
Não, Lula não é o pai da pátria (logo, Dilma não lhe pode ser a mãe putativa). Antes dele, centenas de cidadãos conceberam, colocaram em prática e administraram um plano de combate à inflação (e, a rigor, de criação da nova moeda brasileira, feita para durar) do qual só se tem algo comparável naquele que Hjalmar Schacht pôs em prática na Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial e faria o país renascer (infelizmente, para resultar em Adolf Hitler). Uma façanha que honra a cultura brasileira no mundo.
Ninguém que tenha nascido depois do Plano Real pode ter idéia do que era a deterioração dos valores econômicos no Brasil, a crueldade da anarquia inflacionária, sobretudo para os que vivem da renda (ou da venda da força) do seu trabalho. Acostumados a uma moeda forte (embora cambialmente enviesada), são levados a crer (ou mesmo partem da premissa) que sempre foi assim, que a estabilidade atual não deve ser creditada a ninguém nem é penhor de alguém. No entanto, ela tem uma origem datada e nomes que a personificam. Foi o grande legado de Fernando Henrique Cardoso.
Lula e o PT, que equiparavam o Plano Real ao Plano Collor e ao Cruzado de Sarney como manobras oportunistas e eleitoreiras, que não foram capazes de ver com isenção a criatura e segui-la com acuidade, hoje se beneficiam dessa grande aventura intelectual, que mobilizou talentos de várias pessoas excepcionais e o discernimento do seu comandante, quando ministro da fazenda de Itamar Franco e, depois, como presidente. Se tivesse chegado ao poder em 1989 ou em 1994, Lula e o PT não conseguiriam dar ao Brasil a moeda que hoje ele tem e a estabilidade de que usufrui.
É claro que os tucanos do príncipe dos sociólogos acumularam a partir daí desastres e vilanias, das privatizações (umas que não deviam ter sido feitas, outras que jamais podiam ser feitas pelos valores praticados) à imoralidade da reeleição, passando por uma visão elitista e predadora da administração pública, e uma incapacidade congênita de porosidade social. Os tucanos criaram as políticas compensatórias, mas não as abriram aos deserdados. Apenas as toleraram porque a primeira dama, a maior de todas, Ruth Cardoso, as patrocinou.
O grande lance de Lula foi exatamente dar densidade às criações sociais que os tucanos lançaram como decoração, como aplique nas suas fantasias empavonadas. Cinquenta milhões de brasileiros são clientes desse benefício, que, como o próprio nome diz, é compensatório, remediador, paliativo. Não projeta essas pessoas, não lhes dá condições para o futuro, não as tornam espinhas dorsais do progresso brasileiro. A lamentável situação da educação, da saúde e da segurança é uma advertência de que não se trata, ao contrário do que diz o catecismo, de desenvolvimento sustentável.
Os brasileiros estão felizes, compram como nunca, constroem como nunca, andam sobre quatro (ou duas) rodas como nunca, têm imóveis como nunca. Papai Lula abriu-lhes o cofre, mas abriu-lhes uma estreita passagem apenas de um lado do erário. Do outro lado, há larga avenida para banqueiros e empresários, para investidores da bolsa, para tomadores dos papéis oficiais, que lucram – como nunca, nem sob FHC, seu par – em bilhões e bilhões de reais, para companheiros e aderentes, para a “nova classe” trabalhadora, reprodução da “velha classe” elitista e não sua contrafação, como devia – e se dizia – ser”.

O restante do artigo do Lúcio está aqui:
http://blogdoestado.blogspot.com/2010/09/lula-o-bom-ditador.html

E aqui está o comentário do Itajaí e, depois, o link para lá:


“Em comentário à postagem As Fúrias Tropicais, pediram-me opinião sobre o seguinte texto: Lula é aquilo que, abusando do jargão, se passou a chamar de “força da natureza”. É uma esplêndida culminação de instintos vitais. Mas sem a menor condição de autoconhecimento, de reflexão e de análise. Sua maior malignidade está em se infiltrar sem ser percebido. E, mesmo sendo impossível, passar a ser aceito como normal.
Eu não sei exatamente a procedência do texto, mas qualquer que seja a origem dele é de pouca importância para responder o que me foi solicitado. De cara observamos que o parágrafo apresentado exemplifica um viés ideológico do autor (a), ao apresentar uma visão estereotipada do presidente Lula. Chamam a atenção os elementos textuais que tem correspondência com às idéias dos higienistas raciais que contaminaram vergonhosamente a ciência desde os meados século XIX e levaram aos desvios éticos da eugenia no século XX. Os termos "força da natureza" e "culminação de instintos vitais", "malignidade", "infiltrar", "normal" remetem com força à linguagem própria dessas disciplinas que deram sustentáculo ao nacional-socialismo alemão e seus conhecidos crimes contra a Humanidade.
Para clarificar melhor o conteúdo narrativo do texto, cito Roso e colaboradores*, que descrevem de forma aguda a fisiologia do estereótipo: estereotipar faz parte da manutenção da ordem social e simbólica, estabelecendo uma fronteira entre o “normal” e o “desviante”, o “normal” e o “patológico”, o “aceitável” e o “inaceitável”, o que “pertence” e o que “não pertence”, o “nós” e o “eles”. Estereotipar reduz, essencializa, naturaliza e conserta as ‘diferenças’, excluindo ou expelindo tudo aquilo que não se enquadra, tudo aquilo que é diferente.
Podemos contextualizar os elementos dessa explicação no exemplo a seguir, extraído de "Minha Luta" (Mein Kampf), opera omnia de Adolf Hitler: As qualidades intelectuais do judeu formaram-se no decorrer de milênios, Ele passa hoje por "inteligente" e o foi sempre até um certo ponto. Somente, sua compreensão não é o produto de evolução própria, mas de pura imitação.
Minha opinião, portanto, quanto ao parágrafo que me foi solicitado comentar, é a constatação do quanto a paixão política pode levar as pessoas ao exercício das mais baixas inspirações ideológicas.

*Cultura e Ideologia: A Mídia Revelando Estereótipos Raciais de Gênero. Psicologia & Sociedade; 14 (2): 74-94; jul./dez.2002 .
http://blogflanar.blogspot.com/2010/09/um-curioso-exemplo-de-higienismo-na.html

http://blogflanar.blogspot.com/2010/09/pontos-e-contrapontos.html