Só agora, às 2 da manhã, começo a colocar a cabeça em ordem, para digerir esse turbilhão e afastar o sentimento de irrealidade.
Creio que todos nos sentimos assim: vencedores e vencidos.
Nós, porque sabedores da dificuldade de chegarmos lá, contra a máquina rica e azeitada. Eles, por confiarem em demasia no peso dessa mesma máquina.
Mas, para além dessa vitória improvável, pesa nos ombros, também, a responsabilidade que essa conquista nos traz.
As dificuldades que teremos de enfrentar, para melhorar, de fato, as condições de vida do nosso povo, num país e numa região tão desiguais.
Tomara que consigamos construir essas melhorias, na velocidade que o nosso povo espera, precisa e merece.
Que sejamos, de fato, a tão sonhada mudança da realidade paraense, especialmente, para a dona Maria e o seu José.
Não há como negar, porém, o ponto mais positivo dessa vitória: a alternância.
Na democracia, poder algum pode estender-se por décadas, sob pena de viciar comportamentos e corromper as instituições.
A alternância e o respeito às oposições são componentes essenciais à democracia. E esta é, sem sombra de dúvida, uma das maiores conquistas da humanidade, nestes quase sete mil anos de civilização.
Precisamos avançar – não regredir. Precisamos tornar a democracia, de fato, massiva, inclusiva, digna desse nome.
Mas, em nome disso, não podemos eliminar-lhe elementos essenciais, como a tolerância e a renovação. Porque, sem isso, ela não será nada além de um grande circo romano.
É claro que estou feliz (e ponha feliz nisso!) com a vitória da Ana Júlia. Como disse, mais cedo, a um amigo, estamos, todos, de parabéns.
Esta foi, de fato, uma vitória coletiva, como reconheceu a própria governadora eleita. A vitória de uma equipe que jogou no estádio do adversário, contra o juiz, os bandeirinhas, os comentaristas e um time poderosíssimo.
Mas que encontrou, na camaradagem de seus integrantes e no carinho das arquibancadas, a força e a fé para seguir em frente.
Que equipe maravilhosa, essa, que conseguimos construir! E que conquista extraordinária, essa, que, pingando de suor, conseguimos alcançar!
Que, no entanto, só não me deixa mais feliz porque tenho muitos e bons amigos entre os tucanos. E eu imagino como eles devem estar se sentindo: exatamente como eu me sentiria, se estivesse a falar não da vitória, mas da derrota.
Todos apostamos alto nestas eleições. Vencedores e vencidos, demos a cara à tapa; o pescoço à guilhotina. Neste pleito acirradíssimo, nenhum de nós pôde colocar-se à margem, fingindo neutralidade. Todos fomos à luta. E é claro que a vitória traz, também, um certo alívio: afinal, seríamos levas e levas ao cadafalso...
No entanto, mesmo estando ao lado dos vencedores – e tendo feito aqui preciosos companheiros - não posso esquecer de quem sou.
Trabalhei vários anos com os tucanos, por acreditar no projeto tucano e por ter um coração amarelinho.
Fiz, também, entre os tucanos, alguns dos melhores amigos que jamais sonhei conquistar ao longo da vida.
Por isso, não posso deixar de apresentar a minha solidariedade aos vencidos.
E de manifestar a esperança de que o governo de Ana Júlia seja, de fato, um governo pacificador.
Por não querer ver sofrer pessoas a quem amo. Mas, também, porque acredito visceralmente na democracia.
Mas, principalmente, porque não perco de vista que a política é feita por gente de carne e osso; por pessoas iguaizinhas a mim. Com os mesmos sonhos e esperanças. Pessoas que amam e são amadas...
E agora, me dêem licença, que preciso bebemorar em paz.
Parabéns, camaradas, companheiros, queridinhos! Vocês não imaginam o orgulho que sinto por ter lutado ao lado de cada um de vocês!
Vejam só: as lágrimas, finalmente, estão começando a escorrer...