sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Alô, alô, povo do Pará!


 

Não deixe de ler a matéria abaixo publicada pelo jornal O Estado de São Paulo, que retirei do portal UOL. É sobre a situação da pandemia de covid-19 na cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas, que fica aqui ao lado do Pará.

Nela, o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz-Amazônia, diz que “Manaus está perdida” e defende até o envio de uma missão internacional para aquela cidade.

Em Manaus, as mortes por covid-19, só nos primeiros dias deste mês de janeiro, já se aproximam de toda a quantidade registrada entre agosto e dezembro do ano passado.

Só nos primeiros 20 dias de janeiro, foram 945 mortes confirmadas, contra as 1.308 registradas entre agosto e dezembro.

Entre os dias 13 e 19 deste mês, 27 pessoas morreram da doença em casa, em média, por dia. Sufocadas. Sem assistência médica.

Essa mutação do coronavírus que apareceu em Manaus é mais contagiosa, mais veloz e está matando até pessoas mais jovens. Ou seja: os nossos filhos...

Então, tenha medo, sim. Tenha muito medo!

Porque assim você vai pensar duas vezes antes de ficar se aglomerando por aí, ou flanando pela rua sem necessidade.

Pare de se fazer de leso!

Pare de acreditar nesse mentiroso do Bolsonaro!

É mais cômodo, mais reconfortante, acreditar nas mentiras dele, não é?

É mais tranquilizador achar que nada nos acontecerá, que tem tratamento pra essa doença e que ela até “mata muito pouco”.

Mas o que é “muito pouco” pra ti, mano? O teu pai? A tua mãe? O teu filho?

A verdade que a gente precisa encarar é que NÃO TEM TRATAMENTO PRECOCE PRA ESSA DOENÇA!

Isso tudo é mentira desse presidente irresponsável e incompetente. 

Não tem benzedura nem reza forte que te proteja, mano. Não tem “remédio milagroso”.   

Só o que ajuda a evitar essa doença é não se aglomerar, não ficar em lugar junto com muita gente.

É manter distância de 2 metros das outras pessoas.

É lavar muito bem as mãos com água e sabão, várias vezes por dia, ou usar álcool em gel.

É não pegar no rosto com as mãos sujas.

É, principalmente, USAR MÁSCARA, mano, tapando bem o nariz e a boca.

Uma boa máscara, tapando bem o nariz e a boca, e principalmente se tu ficares a 2 metros de distância dos outros, te protege quase 100 por cento, mano. Principalmente, se todo mundo estiver usando.

Para com esse negócio de que usar máscara ou se proteger “é coisa de maricas".

Tu não tens certeza de que és homem? Tens de ficar provando que és homem? Mas que diabo de "macheza" é essa tua, então?

Na verdade, mano, NÃO usar máscara é coisa de gente egoísta, gente que não pensa nos outros, gente que não tem consideração nem pela própria família, nem pelos próprios amigos.

Tu queres te matar? Te mata! Não vou te impedir, a vida é tua! Mas depois te entendas lá com Deus, né? Porque Ele vai te perguntar o que foi que fizeste da vida que ELE te deu.

Agora, tu NÃO tens o direito de colocar em risco a vida das outras pessoas.

Tu NÃO tens o direito de condenar os teus pais ou os teus filhos à essa doença e à morte horrível que ela provoca: o sujeito morre sufocando e sozinho!

Morre sem poder nem segurar na mão de quem tanto amou. Morre sem poder receber um beijo ou um abraço de sua mulher, de seu marido, de seus filhos, de seus pais.

Então, deixa de ser egoísta e te protege, mano.

E já vou logo te avisando pra não vires com lári-lári pra cima de mim.

Porque nem é contigo que estou preocupada.

O que me preocupa são as pessoas que esse teu egoísmo ainda vai acabar matando.

FUUUUIIIIII!!!!

 ......

Leia a matéria citada, que retirei do portal UOL:

 

'Manaus está perdida', diz pesquisador que pede envio de missão internacional”

(Redação, O Estado de S.Paulo

São Paulo

21/01/2021 18h58)

 

Diante do colapso do sistema de saúde por causa da segunda onda de coronavírus em Manaus, o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz-Amazônia, defendeu, em alerta divulgado nesta quinta-feira, 21, o envio urgente de uma missão de observadores internacionais, por não ser "mais possível confiar nos diferentes níveis de gestão que estão à frente da epidemia". No comunicado, com o título "Manaus está perdida e a covid-19 explodiu", o pesquisador também pede a decretação imediata de lockdown para evitar mais mortes na cidade.

Ainda em dezembro, Orellana havia previsto que, sem medidas mais restritivas, Manaus viveria um novo boom da covid que resultaria no salto do número de óbitos. Agora, após ter os alertas negados e ver a tragédia se confirmar, com registro até de pacientes mortos por falta de oxigênio hospitalar, o epidemiologista diz que a condução da crise sanitária está "entrando para a história recente das pandemias como uma das mais dramáticas experiências sanitárias e humanitárias já documentadas".

"Minha previsão, de que o mês de janeiro seria o 'mês das lamentações e do luto', está mais do que confirmada e, por mais desumano e monstruoso que pareça, em Manaus, capital mundial da covid-19, não há qualquer sinal de 'lockdown'", escreveu. "Isto parece ser parte de um projeto que muitos insistem em não enxergar e, neste caso, Manaus é o laboratório a céu aberto, onde todo tipo de negligência e barbaridade é possível, sem punição e qualquer ameaça à hegemonia dos responsáveis."

Orellana também destaca que as 945 mortes confirmadas, só nos 20 primeiros dias de janeiro, já se aproximam de todos os óbitos somados entre agosto a dezembro, quando 1.308 pessoas morreram por covid. Os dados foram compilados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), o órgão oficial.

Ainda de acordo com informações compiladas pelos cientistas, Manaus tem registrado média diária de 27 mortes em casa, entre os dias 13 e 19. "Dezenas de pessoas que foram a óbito em casa sufocadas sem assistência médica, que ficaram à deriva ao sabor do maior mercado paralelo de oxigênio medicinal para uso domiciliar", relatou. "Boa parte pode ter acabado sufocada e ocasionado danos psicológicos irreversíveis em familiares e entes queridos."

Para enfrentar a situação, Orella afirma não ser "mais aceitável que se acredite na descabida tese da imunidade de rebanho" ou "em tratamentos inexistentes". Também explica que, embora a campanha de vacinação tenha começado, "seus efeitos só poderão ser sentidos daqui a alguns meses, o que significa que, no curto prazo, precisamos de medidas em caráter tempestivo e emergencial".

Para isso, diz o cientista, é preciso "um severo 'lockdown' em Manaus, com ao menos 21 dias de duração, ou veremos esta tragédia se aprofundar ainda mais". Outra medida, defende, é a fiscalização externa. "Precisamos urgentemente de observadores internacionais independentes ligados à Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e à Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos (CNUDH), pois não é mais possível confiar nos diferentes níveis de gestão que estão à frente da epidemia em Manaus."

Leia o restante aqui:

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2021/01/21/manaus-esta-perdida-diz-pesquisador-que-pede-envio-de-missao-internacional.htm?fbclid=IwAR0vQKgksOKrKYVY1FmyegsW_y7urULstZNcRhS26ewZG2djf0nBRxNNd1c

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Um alerta a Helder e Edmilson: coloquem os pés no chão e usem o coração e a comunicação. Corram, rapazes, corram!


 

As notícias que chegam das equipes médicas de Manaus são alarmantes: essa nova cepa do coronavírus parece ter maior capacidade de contágio e maior velocidade de manifestação dos sintomas, além de estar matando, também, pessoas mais jovens (ou seja, os nossos filhos...). 

Nas cidades paraenses às proximidades da fronteira com o estado do Amazonas, já estamos, aparentemente, assistindo o estrago que essa mutação pode causar. 

É verdade: há as dificuldades geográficas e as históricas deficiências da rede pública de saúde, naqueles municípios. E é possível, também, que tenha havido falta de planejamento de algumas prefeituras, a ponto de chegar-se à falta de oxigênio. Mas penso que esse nem é o momento de se procurar tais responsabilidades. 

O momento é de tentar evitar a tragédia que essa nova cepa poderá causar na Região Metropolitana de Belém, com os seus mais de 2,5 milhões de habitantes, a metade a sobreviver em favelas. 

O momento é, principalmente, de botar os pés do chão: vocês estão sós, rapazes.  

Não esperem por ajuda do Governo Federal. Ele só aparecerá, com as suas tropas minions, para atrapalhar o mais possível o combate à essa doença e para jogar esses doentes e mortos no costado de vocês. 

Do ponto de vista desse psicopata que é Bolsonaro, nós, paraenses e amazônidas em geral, somos meros obstáculos a serem removidos, para a espoliação mais rápida e impune das nossas riquezas. 

Em Manaus, salvo engano, essa nova cepa triplicou a necessidade de oxigênio, mesmo em relação ao pico da primeira onda de covid-19.

Isso significa que mesmo levando em conta a possível irresponsabilidade do minion que governa o Amazonas, há uma dificuldade real de planejamento, diante de um quadro desses.

Então, além de ampliação de leitos de UTI, equipes médicas e oxigênio, vocês precisam investir, ainda mais, nas únicas medidas preventivas que conhecemos: uso de máscaras, higienização, isolamento e distanciamentos sociais.

Vocês precisam de uma política mais agressiva de comunicação, para tentar se contrapor ao peso dessa autoridade nefasta do Bolsonaro. Vocês precisam de sentimento, emoção. Vocês precisam mirar os corações.

Vão às emissoras de rádio e tv e façam apelos dramáticos sobre o perigo dessa nova cepa e a necessidade da população se proteger. Lembrem para ela a situação de Manaus, que está em todos os noticiários.

Chamem as agências de propaganda, para que elas peguem depoimentos de pessoas que estiveram entubadas e de familiares de pessoas que morreram (e também de pessoas que ficaram com sequelas), para veicular nas rádios, tvs, redes sociais, rádios comunitárias, onde for possível.

Coloquem também os médicos para contar o que viveram nas UPAs e hospitais, na primeira onda de covid, e para que orientem a população sobre os cuidados que precisa ter.

Coloquem sistemas de som em locais públicos, como as feiras, para veiculação desses depoimentos e orientações.

Chamem os supermercados, os shoppings, bancos, lotéricas e outros locais de grande circulação de pessoas, para que eles ajudem a veicular esse material, nos sistemas de som que possuem.

Ensinem e reensinem, numa linguagem bem simples, que máscara se usa cobrindo o nariz e a boca e que usar máscara de outra forma, ou até não usar, não faz de alguém um sujeito corajoso, mas um egoísta que está expondo as outras pessoas a essa doença. Tem de carimbar, com comerciais de tv, como se fez com o Sujismundo.

Repisem a necessidade de se manter a dois metros das outras pessoas, explicando tim-tim por tim-tim, até com animações, por que é que isso é necessário.

E expliquem novamente, e quantas vezes for preciso, que as pessoas não devem ficar flanando pelas ruas sem necessidade, e muito menos se aglomerando.

Apertem as igrejas e os empresários em geral: digam claramente que eles vão fechar, que haverá um novo lockdown, se não apertarem a fiscalização nos templos e estabelecimentos deles.

Coloquem a polícia e a guarda municipal nas ruas e multem quem quer que seja que for pego descumprindo as medidas preventivas: desde o cidadão que anda por aí sem máscara, achando que tem o “direito” de brincar com a vida alheia, até o empresário que faz vista grossa a aglomerações e à falta de máscara, no seu estabelecimento.

Articulem com a polícia, a sociedade e as instituições que couberem para processar por crimes contra a saúde pública e banir das redes sociais os minions que forem pegos distribuindo fake news sobre a covid-19.

Usem os agentes comunitários de saúde, equipes de saúde, o que for, para irem às casas das pessoas, condomínios, igrejas, academias de ginástica, salões de beleza, barbearias, comércios, ônibus, pontos de táxis e mototáxis, para orientar as pessoas.

Cabe, quem sabe, até mesmo uma campanha do tipo “Não faça de Belém uma nova Manaus”, exibindo imagens do desespero de médicos e pacientes, diante da falta de leitos e de oxigênio.

Não imaginem que essa batalha da comunicação está perdida e que ela não tem um papel fundamental para conter essa doença.

A questão é de linguagem e agressividade: linguagem o mais simples possível e mirando, sobretudo, o emocional; agressividade, em termos de microgrupos sociais e de saturação da Região Metropolitana.

Sei que é difícil se contrapor a um populista alucinado como o Bolsonaro, e que ainda por cima usa os aparelhos do Estado, para tentar que todo mundo fique quieto, enquanto assassina o povo brasileiro.

Mas não desistam, rapazes. Vocês também possuem uma grande capacidade de mobilização social.

Usem esse poder.

A hora é agora.

FUUUIIII!!!!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Meditações sobre o universo mítico dos minions


 


Vai se tornando cada vez mais corriqueiro afirmar que bolsominions e trumpminions são "criaturas malignas”.

É claro que é reconfortante imaginar que apenas “monstros” se acumpliciam de genocídios.

Uma discussão que nem é nova, aliás: após a Segunda Guerra Mundial foram várias as pesquisas para compreender a participação ou passividade de tanta gente no Holocausto.

A figura do “monstro” ou do “ente maligno” é básica no reducionismo maniqueísta e uma velha conhecida da Antropologia.

É uma simplificação perigosa, especialmente diante desse fenômeno de massas que estamos a vivenciar: uma espécie de síndrome mitológica, que, no futuro, a Ciência terá de recorrer a várias áreas do Conhecimento, para “diagnosticar”.

Minions não são entes “malignos”, “demoníacos”: são seres humanos que perderam a capacidade de distinguir entre a fantasia e a realidade.

Não, não são psicóticos; é bem mais complexo do que isso.

Naqueles que preferem argumentar, em vez de apenas xingar, é possível perceber um fio condutor lógico, uma não-fragmentação do raciocínio, que lhes permite até exibir um comportamento dito “normal”.

O problema é que essa lógica é baseada em um universo mitológico; no “território do sagrado” em que se encontram aprisionados e onde tudo é possível, especialmente o que sabemos absurdo.

Recentemente, uma bolsominion famosa passou nove dias internada e quase, quase teve de ser entubada, devido a problemas respiratórios causados pela covid-19. Mas, ao deixar o hospital, disse que teve apenas sintomas “médios”, porque havia tomado ivermectina.

Perceberam? Há uma lógica, uma tentativa de racionalização, só que para explicar uma coisa que nunca existiu. Os sintomas dela não foram “médios”: ela quase foi entubada! E ivermectina, um medicamento contra vermes, não tem qualquer eficácia contra a covid-19.

A mesma lógica calcada na mitificação pôde ser vista no “Acampamento dos 300”, em Brasília; e naquele “cavaleiro templário”, convocando manifestações dos bolsominions, há alguns meses.  

No entanto, ainda mais delirante talvez tenha sido a postura dos Trumpminions que invadiram o Congresso norte-americano.

Muitos deles até tiraram fotos e espalharam nas redes sociais, como se não estivessem fazendo nada de mais, ou como se estivessem até a realizar “um feito heroico”.

Só que as mesmíssimas fotos já levaram à demissão de vários deles e servem de provas às várias acusações criminais que enfrentam e que poderão lhes custar vários anos de cadeia.

Mesmo assim, eles parecem seguir sem entender a dimensão do que fizeram (leia essa interessante matéria do El País sobre os “patriotas” que invadiram o Capitólio: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-01-18/os-patriotas-que-invadiram-o-congresso-dos-estados-unidos.html).

Em verdade, é como se essas pessoas tivessem sido abduzidas por um universo paralelo, inacessível a qualquer argumento calcado na realidade, mesmo diante de grandes traumas emocionais.

Há algumas semanas, um amigo me disse uma coisa, que me fez pensar sobre isso: “essas pessoas têm saudades de um passado que, na verdade, nunca existiu”.

Pois é: é a "terra sem males", o paraíso perdido de grande parte das mitologias.

Salvo engano, ainda no começo do século passado, a nossa expectativa de vida era de apenas 30 anos, 40 anos. A fome, a falta de saneamento, de remédios, vacinas e informação matavam crianças e adultos que nem moscas, muito mais do que hoje.

Até quase o final do século 19, mesmo em uma cidade como o Rio de Janeiro, as pessoas almoçavam às 8 da manhã, jantavam às 14 e ceavam às 17. E por quê? Porque não havia nem luz elétrica! Daí que era preciso aproveitar a luz natural, para todas as tarefas e necessidades.

Ainda no século 19, começo do século 20, as extrações dentárias eram realizadas à sangue frio. E não apenas as extrações dentárias: amputações também. No máximo, você tomava uma bebidinha e rezava para desmaiar bem rápido.

Mulheres morriam de “febre puerperal”, na Europa, porque os médicos nem mesmo lavavam as mãos antes de realizar um parto, mesmo que tivessem acabado de realizar autópsias: era a ignorância acerca da relação entre mãos sujas e a transmissão de doenças.

Os casamentos duravam toda a vida, não por causa de um amor de “almas gêmeas” à la Inês de Castro e Dom Pedro, o Cru, mas porque o casamento era uma “prisão perpétua”. E, principalmente as mulheres, tinham de ir até o fim da vida com aquele parceiro, mesmo debaixo de toda sorte de violências, sofrimento e amargura. Isso quando não terminavam internadas em hospícios, porque os maridos queriam se livrar delas.

Até o século 18, antes das revoluções burguesas, nem se falava em Cidadania, como a entendemos hoje: massiva, com um conjunto de direitos e deveres que se estende à toda a população, e não a apenas alguns. Liberdade de imprensa, de informação, de expressão, nada disso existia. Por qualquer motivo, você podia ser submetido à toda sorte de castigos humilhantes e até à tortura. Podia ser jogado na cadeia e esquecido lá, sem julgamento e sem crime algum.

Da pedofilia e de outras violências contra crianças e adolescentes também nem se ouvia falar, embora elas fossem abusadas por anos a fio. Mas como eram consideradas simples pertences de seus pais, tudo ficava quase sempre entre as quatro paredes do lar.

As ruas das grandes cidades fediam a fezes e urina. As pessoas tinham de andar se desviando não só do excremento de animais, mas também de fezes humanas.

E as pessoas também fediam e tinham um hálito pútrido. Tinham cicatrizes pelo rosto, causadas pela sífilis. E muitas vezes eram obrigadas até a raspar o cabelo, por causa da piolhada.

Comer carne como a gente comia, até antes do Bolsonaro? Mas quando! Na maioria das vezes, era apenas um sopão ou uma babugem de milho ou trigo bolorento, “passeado” de ratos.

E quanto mais a gente recua no tempo, pior fica. Então, imaginem como devia ser a vida no Paleolítico, hoje tão exaltado...

Mesmo assim, os minions suspiram por um retorno ao passado.

Simples ignorância de que o passado é infinitamente mais fedorento, imundo, violento, repleto de fome e de doenças do que este mundo de hoje?

Não. Até porque, se fosse assim, bastaria ofertar-lhes livros de História.

O problema é que os minions não conseguem enxergar o mundo como ele foi ou é.

O mundo deles, passado e presente, é a ficção dos filmes, novelas, séries, jogos, e das correntes de WhatsApp, e das teorias conspiratórias, e de uma memória ultrasseletiva, ou até também calcada no que nunca existiu.

Para nós, o xis do problema é como arrancar esses milhões, bilhões de seres humanos desse universo mítico.

Como já disse várias vezes, essa questão não tem nada a ver com economia, direitos trabalhistas, patriotismo – não em se tratando da massa.

A questão central é de costumes; é moral. E até, como não poderia deixar de ser em se tratando do macaco humano, territorial.

É a incapacidade de se adaptar a um mundo em veloz transformação, que parece se desfazer e refazer em questão de meses, anos, e para o qual não há, aparentemente, um ponto de segurança, a salvaguardar o “seu” território.

É o território “do outro” como permanente “ameaça” às suas regras, convicções, lugar na sociedade, e até à uma conformação (em vários sentidos), que os anos trataram de solidificar.

É o medo de ser e de se movimentar nesse “novo e tenebroso mundo”, pela amplitude de escolhas que proporciona.

É o recurso à religião e à família, como freios derradeiros à aventura (e, também, vontade e responsabilidade) que é a liberdade.

Esse fenômeno atinge países ricos e pobres; homens, mulheres, gays; negros, brancos, amarelos; gente das mais variadas idades, crenças, escolaridade: há desde o analfabeto ou semianalfabeto, até o sujeito com pós-graduação. Por incrível que pareça, há até mesmo cientistas.

E precisamos entendê-lo sob essa ótica subjetiva, para que possamos desenvolver um método e uma linguagem para alcançar essas pessoas.

O problema não são Trump, Bolsonaro e tantos outros: o problema é essa massa que os guindou à liderança, e que sempre buscará líderes semelhantes, se não fizermos alguma coisa, ou se continuarmos a insistir em explicações fáceis e maniqueístas, ou até a ignorá-la.

A questão não é de “nós” contra “eles”: temos é de progredir juntos, e o mundo conosco.

Não há mais espaço para isolamentos, “bolhas”, individualismo: todos dependemos uns dos outros, como bem demonstra essa pandemia. E se não evoluirmos no mesmo compasso, harmonicamente, o que nos espera é a extinção da espécie humana. Seja pela guerra, seja pela destruição ambiental. Seja por algum vírus emergente dessa destruição.

Penso, inclusive, que precisaríamos de uma ampla pesquisa, nos moldes de uma investigação epidemiológica, porque não há dúvidas de que estamos diante de um fenômeno de massas que não reflui, só se intensifica (como vemos agora com essa história de QAnon e, também, com uma exaltação à “masculinidade” que inclui até o incentivo ao rapto e estupro de mulheres, mesmo nos EUA).

É lavagem cerebral? Excesso de exposição a meios audiovisuais? Alguma prática meditativa? Algum agrotóxico?

Parece risível, mas são muitas as hipóteses que precisam ser investigadas, para que a gente consiga entender o porquê de tanta gente diversa, ao mesmo tempo e em vários cantos do Planeta, estar a ser atingida por essa síndrome.

Não estamos em um princípio de milênio, quando os pavores apocalípticos costumam aflorar.

Aquilo que chamamos de fake news também não é um fenômeno recente: notícias falsas e fabricadas em massa serviram desde às revoluções às perseguições inquisitoriais, sem falar nas guerras, nas quais sempre desempenharam um papel estratégico, para confundir os inimigos e elevar a moral das próprias tropas.

Além disso, a velocidade de transformação do mundo assusta a todos, não apenas aos minions: em verdade, todos estamos inseguros e angustiados com o que vem por aí.

Então, por que é que só eles foram aprisionados nessa mitificação?

Muitos deles tiveram experiências semelhantes às nossas.

Muitos são pessoas que conhecemos há anos, e até nossos parentes.

Muitos são afáveis, gentis, solidários, que você até diria incapazes de fazer mal a uma mosca.

Como, então, acabaram capturados nesse universo fantasioso, cuja moral vai se tornando cada vez mais violenta e pervertida, sem que nem isso consigam enxergar?

E o que mais assusta é que estamos diante de um enredamento poderosíssimo.

Ora, uma das forças mais poderosas, em qualquer ser vivo, é o instinto de sobrevivência, só suplantado, em geral, por situações dramáticas, como em caso de preservação da espécie e, principalmente, dos próprios genes.

No entanto, diante dessa pandemia, os minions adotam um comportamento autodestrutivo, quase suicida: não querem se proteger, de jeito nenhum, e recusam até mesmo uma vacina.

Há uns meses, aliás, quando Trump começou a cair nas pesquisas, especulava-se que parte dessa queda se devia à morte de muitos Trumpminions, por covid-19.

Vejam: não estou a falar do Trump e do Bolsonaro, do entorno deles e dos interesses por trás desse genocídio.

Também não estou a falar do cidadão comum, que, levado pela força da autoridade, acaba acreditando naquilo que Trump e Bolsonaro dizem.

Estou a falar dessa massa minion, que, no Brasil, é de cerca de 30% do eleitorado, e que não consegue enxergar que também está a ser conduzida ao matadouro, junto com seus pais, avós, filhos, irmãos, amigos.

É um comportamento tipicamente sectário, mas em proporções como nunca vimos.

É claro que para isso colaboram, de forma extraordinária, as novas tecnologias de comunicação e informação.

Mas nem elas são suficientes para explicar, sozinhas, o porquê de especificamente essas pessoas estarem a ser atingidas dessa forma.

FUUUIIIII!!!!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O ataque ao Congresso dos EUA: a luta das forças democráticas é internacional!

 


O vice-presidente Hamilton Mourão disse que não vai comentar a invasão do Congresso dos EUA, porque se trata de uma “questão interna” daquele país.

Mourão mente. E o faz, sem trocadilho, para vacinar o Brasil contra o que ele imagina que pode vir por aí, após a posse do Biden.

A luta que hoje travamos vai muito além de nacionalidades e de sistemas econômicos.

É uma luta pela Democracia, e até pela própria Civilização.

Por isso, o que ocorreu no Congresso norte-americano diz respeito, sim, a cada ser humano comprometido com tais conquistas, em cada cidade, em cada país, em cada continente.

É verdade: não foram os ETs que cercaram e invadiram o Congresso dos EUA, como em filmes de ficção científica.

Mas foi quase isso.

Foram milhares de pessoas que vivem em uma realidade paralela; que perambulam pelo mundo feito zumbis do patriarcado.

Infelizmente, muito boa gente ainda não entendeu isto: essa luta transcende, imensamente, as diferenças entre liberais, socialistas, comunistas e todas as colorações democráticas, à esquerda e à direita.

É uma luta pela sobrevivência mesma, e em todo o mundo, de todas as conquistas das sociedades humanas, em milhares de anos de processo civilizatório.

Não tenho ilusões de que Biden será um “revolucionário”, ou de que não defenderá, com unhas e dentes, os interesses econômicos dos EUA, inclusive no Brasil.

Mas espero, sim, que ele e os manos norte-americanos compreendam que estamos em uma guerra sem fronteiras contra um inimigo comum.

O pior inimigo já enfrentado pelo Ocidente, e até por grande parcela do Oriente, devido ao poder de manipulação mental que possui, através de suas redes de notícias falsas e da disseminação do medo, uma das forças mais poderosas e destrutivas do nosso inconsciente.

São Hordas da Intolerância, que pretendem a destruição de todos aqueles que sejam diferentes: dos costumes ao pensamento.

Se vencerem, mulheres voltarão a ser meras propriedades familiares. Gays serão trancados em prisões e hospícios. Negros nascerão e viverão para a escravidão. E os pobres não terão roubados “apenas” os direitos trabalhistas, mas até os direitos políticos.

Se vencerem, com as ferramentas de controle individual e coletivo hoje existentes, mergulharemos em uma Idade das Trevas bem mais difícil de superar.

O ataque ao Congresso dos EUA, país que é visto como o coração da Democracia, dá a medida do que enfrentaremos até que consigamos vencer esse exército obscurantista, inclusive, no Brasil.

O problema não é o Trump, o Bolsonaro, o Malafaia, mas os milhões, bilhões, de zumbis do Patriarcado que se identificam com eles.

Ou porque realmente pensam como eles, ou porque foram tão manipulados que também passaram a pensar assim.

Esse ataque não foi “apenas” contra o Congresso dos EUA e contra a eleição do Biden: foi um ataque a todas as forças civilizatórias e democráticas do Planeta e à vitória mais significativa que obtivemos até aqui.

E não há como vencermos essa luta sem uma profunda solidariedade internacional a cada um dos nossos companheiros, ainda que eles não representem o nosso ideal de sociedade.

FUUUIIII!!!!