Quis escrever este post no domingo. Mas, infelizmente, minha cabeça ainda fazia ziriguidum, pela bebedeira de sábado. Mas, jamais perderia a oportunidade de debater esse tema tão instigante, que é o limite da ação política, especialmente, para as esquerdas brasileiras.
Lembro-me de que, há uns meses, espantei-me com uma polêmica entre dois pesos-pesados da academia: José Gianotti e Marilena Chauí.
Ela, que é simplesmente brilhante, cometeu um inexplicável deslize: caiu de pau no Gianotti, condenando a defesa que ele teria feito de determinadas práticas políticas.
O problema é que Gianotti não defendera tais práticas – apenas constatara a existência de uma grande zona cinzenta na política, na qual o discurso nem sempre, ou quase nunca, corresponde à prática.
Essa polêmica ficou-me na cabeça, por duas questões. A primeira é a confusão em que incorreu mesmo uma intelectual como a Marilena, em torno da constatação e da defesa de uma determinada coisa.
A segunda, pelo pomo da discórdia em si: a zona cinzenta em que nos movimentamos, os agentes e pacientes – ou, como preferem alguns, os atores – dessa atividade.
Mais do que qualquer atividade, a ação política é “datada”; tem hora e lugar para acontecer.
Nela, a conjuntura não é, apenas, “marcante”, “inspiradora”, mas, determinante.
Não há ação política para trás ou para a frente de um determinado tempo: ela é, exatamente, o que tempo admite que seja.
Daí que só é explicável no contexto em que se dá.
Quer dizer: o chamado “mensalão” seria um escárnio na Suécia. Mas é perfeitamente compreensível no Brasil.
II
Há pouco tempo, fazia pesquisa na Internet e deparei-me com um dado extremamente significativo: apenas uns 26% da população brasileira escapam do analfabetismo funcional – quer dizer, compreendem, minimamente, um texto simples.
E, pelo nível da competência cognitiva mensurada, é de se concluir que, mesmo entre esses 26%, ainda existe um certo quantitativo que deve se agregado à massa daqueles que apenas “intuem” a realidade em que vivem.
Nada assim de tão espantoso, quando analisamos esse resultado à luz da história brasileira, desta sociedade escravocrata que jamais deixamos de ser.
Uma sociedade em que, em pleno Século XXI, grandes latifundiários (e o próprio termo é anacrônico...) consideram uma grande obra humanitária “dar” um prato de comida a um trabalhador; ou abrigá-lo em taperas no meio do mato, que não servem nem para bichos, que, aliás, são tratados com muito mais “cuidado”, dado o valor econômico que possuem.
Um país onde crianças são trazidas do interior, para “servir” em casas de família – e muito boa gente acha isso natural; e em que meninas e meninos são levados a vender o corpo a turistas do mundo inteiro – e muito boa gente do mundo inteiro acha isso perfeitamente natural...
Um país onde a maioria esmagadora da população tem de penar, dias a fio, em postos de saúde miseráveis, para conseguir uma consulta de três minutos e um simples comprimido para a febre.
Onde gerações e gerações são condenadas à pobreza e à miséria, dadas as condições subumanas em que são mantidos bisavós, avós, pais, filhos e netos.
Um país de analfabetos funcionais, que vagam de cidade em cidade, em busca de um pedaço de terra para fazer brotar o milho, o trigo, que irá aplacar a fome de seus filhos.
Um país de desigualdades gigantescas e vergonhosas. Porque, do lado oposto dessa massa de 150 milhões de escravos – sim, porque vive, efetivamente, em condições análogas a dos escravos e, às vezes, até pior – há uma casta com toda sorte de privilégios, cuja pompa e circunstância supera até mesmo às das cortes européias.
Uma casta que está acima do bem e do mal. Que nem sequer vai presa. Ou que, quando vai presa, tem direito até a prisão especial, para que seja mantida à distância dos “verdadeiros criminosos” – mesmo que tenha metido a mão em dinheiro público, em benefício próprio, e que isso tenha resultado na morte de milhares de cidadãos.
III
Este é o Brasil que temos. O Brasil que também elege os políticos que temos.
Porque não adianta imaginar que eles, simplesmente, “caíram do céu” – ou, melhor dizendo, vieram dos confins do inferno.
Todos esses que estão aí, que lograram alcançar um lugar nas prefeituras, nas câmaras municipais, nos governos dos Estados, nas assembléias legislativas, na Câmara dos Deputados, no Senado são a cara do eleitorado, a cara de todos nós.
E as esquerdas, ao atuarem politicamente, têm de levar tudo isso em consideração: a miséria e a despolitização do nosso povo e o poder econômico – e todo o arsenal institucional – de que essa casta dispõe para a manutenção do Poder.
O Brasil não é a Dinamarca, não é a França, não é a Suécia. Aqui, temos dificuldade até de discutir idéias, programas de governo, porque nem “escrever” podemos: temos de levar tudo isso através de programas de rádio e tv, para que o nosso povo consiga entender minimamente aquilo que estamos propondo.
Pior: com o encarecimento das campanhas políticas, há a necessidade, cada vez mais, de verdadeiros “atores globais” e de superproduções, para a pura e simples manipulação mental das massas.
E é neste contexto que se dá a nossa ação. Não no plano ideal, do Brasil que gostaríamos que fosse. Mas, no Brasil que temos, embora que tudo aquilo que façamos seja, justamente, para que, um dia, possamos alcançar esse ideal.
IV
Pela miséria em que vivem, claro está que a dona Maria e o seu José dificilmente terão condições de contribuir, com um mísero tostão, para qualquer projeto político, mesmo que tal projeto objetive a melhoria das vidas deles e do conjunto dos cidadãos.
É claro que um projeto político não padeceria de tamanha incerteza financeira, se tivesse o propósito de manter no poder essa casta que aí está - e que, até mesmo fora da administração do Estado, consegue, através dos partidos que a representam, realizar grandes programas de tv, para compungir o eleitorado.
Essa gente possui dinheiro à farta, porque controla, há séculos, os meios de produção, inclusive os meios de produção da notícia.
Os candidatos deles não precisam andar a vender bonés e brochinhos: inundam um estado inteiro de “santinhos” de PVC, declaram que gastaram na campanha menos de R$ 1 milhão e fica tudo por isso mesmo, porque a Justiça Eleitoral faz de conta que acredita – e por que não acreditaria, afinal, não é mermo?
Neste meio, neste mundo profundamente humano que é a política, todos nós sabemos como isso funciona...
E que não me venha aqui, agora, alguém a querer posar de “virgem dos lábios de mel”.
Todos os que estamos calejados de agir politicamente já vimos coisas que até Deus duvida. E todos – todos! – já fizemos, sim, coisas de que nos envergonhamos, em maior ou menor grau.
Porque isso é até da própria condição da ação política: fazer o que é preciso, em meio às condições que a realidade nos apresenta.
No Brasil – e esse é um fato – as esquerdas jamais teriam chegado ao poder sem a montagem de um esquema financeiro.
E, de igual forma, não há como manter o poder conquistado, sem a necessária fonte de financiamento.
Também não teriam conquistado o poder – e não conseguirão manter esse poder – sem um leque de alianças. Um leque, como já bem definiu alguém, a contemplar, necessariamente, a “massa atrasada”.
Foi assim com os tucanos, está sendo assim com o PT.
E, ao longo de ambas as construções – das alianças políticas e da sustentação financeira – temos tido de aprender a olhar menos ingenuamente aquilo que pensamos para a sociedade e para a própria arte da política.
Aos trancos e barrancos, vamos aprendendo a separar o ideal que cultivamos, das exigências, muito, muito concretas, do cotidiano.
É um aprendizado doloroso, pois, que, muitas vezes, nos levará a justificar meios complexos, para alcançar o fim que ansiamos.
Então, o que precisamos discutir, em verdade, são os limites em que nos movimentaremos.
A necessidade ética, frente ao concreto, à conjuntura.
E, mais que isso: não apenas a nossa própria necessidade ética, aquilo que nos faz sentir orgulho de nós mesmos.
Mas, a ética possível frente não apenas aquilo que está posto, às regras do jogo político. Mas, à necessidade de melhorar e já, efetivamente, as condições de vida dessa massa de escravos que queremos representar e que não pode ficar à espera da nossa capacidade de sujar as lindas e delicadas mãozinhas, quando necessário.
O que é preciso discutir, portanto, não é, simplesmente, “a minha satisfação comigo mesmo”. O epitáfio bacaninha que mandaremos escrever nas nossas sepulturas, as biografias que deixaremos aos nossos filhos e netos.
Mas, a capacidade de agir, dentro das condições que nos são dadas neste tempo, neste contexto, nesta conjuntura, em favor daqueles que acreditam e que precisam de nós, mesmo que o nosso epitáfio e a nossa biografia já não fiquem tão bacaninhas assim...
E esse será o assunto do próximo post, que vou dedicar a dois grandes portentos da esquerda brasileira: José Dirceu e Paulo Rocha.
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Mensaleiros2
domingo, 26 de agosto de 2007
Mensaleiros I
Leitores, os posts abaixo são, apenas, racionalização. Porque, amanhã, quando estiver sóbria, pretendo como que “cometer” (?) um post, em favor dos chamados “mensaleiros”.
E mais uma vez vão cair de pau em cima de mim.
Que se há de fazer, não é mermo?
Mas, é preciso ousar.
Senão, este país de escravocratas nunca mais que anda.
É preciso, sim, meter a mãozinha límpida e delicada na merda, de vez em quando, para acabar com essa guerra civil, que só tende a se agravar.
Escreverei a favor dos que foram antecipadamente linchados, pelos vetustos senhores do STF – aliás, deveria haver um único cidadão com a capacidade de investigar a compatibilidade entre os ganhos de tais senhores e os bens que possuem, pois não?
Afinal, não há quem tenha a coragem de investigar os senhores da Justiça, com os seus contratos de aluguéis, empréstimos a perder de vista e toda sorte de situações absurdas de “cala aqui ou abre a boca acolá”, não é mermo?
Mas, quem se espantaria?
Afinal, tais senhores não passam de fidedignos representantes dos áureos tempos da Casa Grande e Senzala, não é mermo?
Têm as grandes empresas e os grandes latifundiários a defendê-los, bem como esse arremedo de Justiça que existe no Brasil.
Que pune, com sei lá quantos anos de prisão, quem subtrai um shampoo vagabundo a algum comerciante. Mas, que deixa à solta quem rouba milhões em dinheiro público, como se dinheiro público fosse coisa de menor importância.
Neste país safado que os nossos avós, pais e nós mesmos produzimos, em que, para combater a bandidagem, é preciso descer ao nível da bandidagem...
Porque, quem vive nas baixadas das nossas cidades, nem mesmo tem dinheiro para comer, quanto mais para contribuir com um projeto político.
E sem dinheiro, pragmaticamente, não se concretiza projeto algum.
Mas, vou deixar isso para amanhã. Porém, com certeza, não vou deixar sozinho quem ousou fazer o que é preciso.
Já apresentei a minha admiração, uma vez, ao Zé Dirceu. Vou apresentá-la, também, ao Paulo Rocha, que, até onde eu sei, não possui rigorosamente nada em bens materiais – e todos os políticos paraenses sabem muito bem disso.
Até porque muitos ajudaram, quando ele teve necessidade de se operar e nem dinheiro para isso tinha, não é mermo?
Vou deixar isso para amanhã.
Mas, com certeza, vou pra cima.
Porque é preciso combater a patifaria dos senhores do STF, que, contra tudo o que ensina até o básico do Direito, somente para fazer bonito diante da imprensa de rapina ou, talvez, para fazer jus ao que receberam, resolveram condenar a priori, como que a ressuscitar os tribunais do Santo Ofício...
Juiz não tem que se manifestar sobre processo, principalmente quando não o conhece, mesmo que assim o exijam a Veja e a Rede Globo.
Juiz tem de ter um mínimo de compostura. Não divaga e diz “preciosidades” mancheteiras. Escreve, sentencia, a partir de um convencimento inarredável que as provas proporcionam.
Juiz não “acha” nada. Porque, simplesmente, não tem de “achar” nada. Cumpre a Lei e faz cumprir a Lei.
Juiz algum - e muito menos um desembargador ou um ministro - pode se pretender um astro a la George Clooney.
Tem de saber manter a dignidade, a compostura, o compromisso com a Justiça, apesar da galera na arquibancada, que fica lá com o polegar pra baixo, porque o Imperador apontou o polegar pra baixo.
Tem de respeitar, ao menos, a toga que lhe foi dada a usar.
Como cidadã, senti nojo, quando li acerca daquela condenação antecipada dos senhores ministros do STF.
Pareceram-me um aglomerado de Torquemadas.
E eu senti vontade, sinceramente, de mandá-los de volta ao Mobral.
Skank de novo!
É Uma Partida De Futebol
Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?
A bandeira no estádio é um estandarte
A flâmula pendurada na parede do quarto
O distintivo na camisa do uniforme
Que coisa linda é uma partida de futebol
Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime
Posso chorar, se ele não ganhar
Mas se ele ganha, não adianta
Não há garganta que não pare de berrar
A chuteira veste o pé descalço
O tapete da realeza é verde
Olhando para bola eu vejo o sol
Está rolando agora, é uma partida de futebol
O meio-campo é lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque
O centroavante, o mais importante
Que emocionante, é uma partida de futebol
O meu goleiro é um homem de elástico
Os dois zagueiros tem a chave do cadeado
Os laterais fecham a defesa
Mas que beleza é uma partida de futebol
Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?
O meio-campo é lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque
O centroavante, o mais importante,
Que emocionante uma partida de futebol !
(Subiu rapaziada)
Utêrêrêrê, utêrêrêrê, utêrêrêrê, utêrêrêrê
(Samuel Rosa e Nando Reis)
Esmola
Uma esmola pelo amor de Deus
Uma esmola, meu, por caridade
Uma esmola pro ceguinho, pro menino
Em toda esquina, tem gente só pedindo
Uma esmola pro desempregado
Uma esmolinha pro preto pobre doente
Uma esmola pro que resta do Brasil
Pro mendigo, pro indigente
Ele que pede, eu que dou, ele só pede
O ano é mil, novecentos e noventa e tal
Eu tô cansado de dar esmola
Qualquer lugar que eu passe é isso agora
Uma esmola pelo amor de Deus
Uma esmola, meu, por caridade
Uma esmola pro ceguinho, pro menino
Em toda esquina, tem gente só pedindo
Uma esmola pro desempregado
Uma esmolinha pro preto pobre doente
Uma esmola pro que resta do Brasil
Pro mendigo, pro indigente
Eu tô cansado, meu bom, de dar esmola
Essa quota miserável da avareza
Se o país não for pra cada um
Pode estar certo
Não vai ser pra nenhum
Não vai não, não vai não, não vai não, não vai não
Não vai não, não vai não, não vai não
No hospital, no restaurante,
No sinal, no Morumbi
No Mário Filho, no Mineirão
Menino me vê, ja começa a pedir
Me dá, me dá, me dá um dinheiro aí
Mas menino me vê, ja começa a pedir
Me dá, me dá, me dá um dinheiro aí
Uma esmola pelo amor de Deus
Uma esmola, meu, por caridade
Uma esmola pro ceguinho, pro menino
Em toda esquina, tem gente só pedindo.
(Samuel Rosa E Chico Amaral)
Pacato Cidadão
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção
Não foi à toa, não
C\'est fini la utopia, mas a guerra todo dia
Dia a dia não
E tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo à luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora à luz do sol
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção
Não foi à toa, não
C\'est fini la utopia, mas a guerra todo dia
Dia a dia não
E tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo à luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora à luz do sol
Pra que tanta TV, tanto tempo pra perder
Qualquer coisa que se queira saber querer
Tudo bem, dissipação de vez em quando é bão
Misturar o brasileiro com alemão
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção
Não foi à toa, não
C\'est fini la utopia, mas a guerra todo dia
Dia a dia não
E tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo à luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora à luz do sol
Pra que tanta sujeira nas ruas e nos rios
Qualquer coisa que se suje tem que limpar
Se você não gosta dele, diga logo a verdade
Sem perder a cabeça, perder a amizade
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção
Não foi à toa, não
C\'est fini la utopia, mas a guerra todo dia
Dia a dia não
E tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo à luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora à luz do sol
Consertar o rádio e o casamento é
Corre a felicidade no asfalto cinzento
Se abolir a escravidão do caboclo brasileiro
Numa mão educação, na outra dinheiro
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização.
(Samuel Rosa e Chico Amaral)
Saideira
Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
Quem é de beijo, beija
Quem é de luta, capoeira
Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
Tem homem que vira macaco
E mulher que vira freira
Comandante! Capitão! Tio! Brother! Camarada !
Chefia! Amigão!
Desce mais uma rodada
Comandante! Capitão! Tio! Brother! Camarada!
Chefia! Amigão!
Desce mais uma rodada
Desce mais
Desce mais
Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
Tem bandeira que recolhe
Tem bandeira que hasteia
Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
É tomando uma gelada
Que se cura a bebedeira
Comandante! Capitão! Tio! Brother! Camarada!
Chefia! Amigão!
Desce mais uma rodada
Comandante! Capitão! Tio! Brother ! Camarada !
Chefia! Amigão!
Desce mais uma rodada
Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
Quem é de beijo, beija
Quem é de luta, capoeira
Tem um lugar diferente
Lá depois da saideira
Tem homem que vira macaco
E mulher que vira freira
Comandante! Capitão! Tio! Brother! Camarada!
Chefia! Amigão!
Desce mais uma rodada
Comandante! Capitão! Tio! Brother! Camarada!
Chefia! Amigão!
Desce mais uma rodada
(Rodrigo F. Leão / Samuel Rosa)
Três Lados
Escutei alguém abrir os portões
Encontrei no coração multidões
Meu desejo e meu destino brigaram como irmãos
E a manhã semeará outros grãos
Você estava longe, então
Por que voltou
Seus olhos de verão
Que não vão entender?
E quanto a mim, te quero, sim
Vem dizer que você não sabe
E quanto a mim, não é o fim
Nem há razão pra que um dia acabe
Cada um terá razões ou arpões
Dediquei-me às suas contradições, fissões, confusões
Meu desejo e seu bom senso, raivosos feito cães
E a manhã nos proverá outros pães
Os deuses vendem quando dão
Melhor saber
Seus olhos de verão
Que não vão nem lembrar
E quanto a mim, te quero, sim
Vem dizer que você não sabe
E quanto a mim, não é o fim
Nem há razão pra que um dia acabe
Somos dois contra a parede e tudo tem três lados
E a noite arremessará outros dados
Os deuses vendem quando dão
Melhor saber
Seus olhos de verão
Que não vão nem lembrar
E quanto a mim, te quero, sim
Vem dizer que você não sabe
E quanto a mim, não é o fim
Nem há razão pra que um dia acabe
(Samuel Rosa / Chico Amaral)
sábado, 25 de agosto de 2007
Infantil
A Casa
Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada.
Ninguém podia entrar nela não
Porque na casa não tinha chão.
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede.
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali.
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos bobos, número zero!
(Toquinho e Vinícius de Moraes)
O Carimbador Maluco
Cinco, quatro, três, dois...
Parem, esperem aí...
Onde é que vocês pensam que vão??...
Plunct, Plact, Zummm
Não vai a lugar nenhum
Plunct, Plact, Zummm
Não vai a lugar nenhum
Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado, rotulado se quiser voar!!
Pra lua, a taxa é alta
Pro sol, identidade,
Mas já pro seu foguete viajar pelo universo
É preciso o meu carimbo dando, sim sim sim
O seu Plunct, Plact, Zummm
Não vai a lugar nenhum
Plunct, Plact, Zummm
Não vai a lugar nenhum
Mas ora, vejam só, já estou gostando de vocês
Aventura como esta eu nunca experimentei
O que eu queria mesmo era ir com vocês
Mas já que eu não posso, boa viagem!
E até outra vez!!
Agora, o Plunct, Plact, Zummm
Pode partir sem problema algum
O Plunct, Plact, Zummm
Pode partir sem problema algum
Boa viagem!
(Raul Seixas)
Lindo Balão Azul
Eu vivo sempre no mundo da lua.
Porque sou um cientista
O meu papo é futurista
É lunático
Eu vivo sempre no mundo da lua
Tenho alma de artista
Sou um gênio sonhador
E romântica
Eu vivo sempre no mundo da lua
Porque sou aventureiro
Desde o meu primeiro passo
Pro infinito
Eu vivo sempre no mundo da lua
Porque sou inteligente
Se você quer vir com a gente
Venha que será um barato
Pegar carona nessa cauda de cometa
Ver a Via-Láctea, estrada tão bonita
Brincar de esconde-esconde numa nebulosa
Voltar para casa nosso lindo Balão azul
(Guilherme Arantes)
O Caderno
Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco até o be-a-bá.
Em todos os desenhos coloridos vou estar.
A casa, a montanha, duas nuvens no céu.
E um sol a sorrir no papel
Sou eu que vou ser seu colega,
Seus problemas ajudar a resolver.
Sofrer também nas provas bimestrais junto a você.
Serei sempre seu confidente fiel,
Se seu pranto molhar meu papel.
Sou eu que vou ser seu amigo,
Vou lhe dar abrigo, se você quiser,
Quando surgirem em seus primeiros raios de mulher.
A vida se abrirá num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel.
O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado, se lhe dá prazer.
A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer?
Só peço a você um favor, se puder:
Não me esqueça num canto qualquer!
(Chico Buarque)
O Pato
Lá vem o pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o pato
Para ver o que é que há
O pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo
Comeu um pedaço
De genipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela
(Vinicius de Moraes)
Aula de Piano
Depois do almoço na sala vazia
A mãe subia pra se recostar
E no passado que a sala escondia
A menininha ficava a esperar
O professor de piano chegava
E começava uma nova lição
E a menininha, tão bonitinha
Enchia a casa feito um clarim
Abria o peito, mandava brasa
E solfejava assim:
Ai, ai, ai
Lá, sol, fá, mi, ré
Tira a mão daí
Dó, dó, ré, dó, si
Aqui não dá pé
Mi, mi, fá, mi, ré
E a agora o sol, fá
Pra lição acabar
Diz o refrão quem não chora não mama
Veio o sucesso e a consagração
E finalmente deitaram na fama
Tendo atingido a total perfeição
Nunca se viu tanta variedade
A quatro mãos em concertos de amor
Mas na verdade, tinham saudades
De quando ele era seu professor
E quando ela menina e bela
Abria o berrador
Ai, ai, ai
Lá, sol, fá, mi, ré
Tira a mão daí
Dó, dó, ré, dó, si
Aqui não dá pé
Mi, mi, fá, mi, ré
E a agora o sol, fá
Pra lição acabar
(As Frenéticas)
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Divagando (de novo)
Sempre tive com o jornalismo uma relação de amor e ódio.
Amor pela notícia e pela possibilidade de intervenção social que ela proporciona.
Ódio, raiva, pelas limitações com que nos deparamos, todo santo dia.
Seja pelos desvãos econômicos que a informação e a notícia percorrem. Seja pela forma como é encarado o jornalista, por si mesmo e pelos mais proeminentes atores sociais.
O jornalista, em geral, é visto, apenas, como o operário, melhor dizendo, o contínuo da cadeia da informação.
É o sujeito que é mandado à esquina para apanhar um documento, ou, simplesmente, para pagar uma conta.
O cidadão mal pago e que em nada interfere.
Até porque não tem a mínima idéia da importância daquilo que faz.
Até porque é facilmente manipulável e substituível.
Até porque não possui instrumental teórico que lhe permita essa intervenção.
Ao jornalista não competiria pensar o impacto social da informação que recolhe.
Muito menos, a maneira como recorta, compõe e arremata a notícia, à luz da própria ideologia e da ideologia do patronato.
O jornalista seria, assim, um mero reprodutor, contador de histórias. Mas, um contador desqualificado.
Sem a capacidade de conectar tais histórias às histórias que à rodeiam - e àquelas que a antecederam e, principalmente, às outras que dela advirão.
Os poetas gregos também contavam histórias. Acerca da criação do mundo e de cada coisa que existe no mundo. Nos diziam como nascia uma flor, uma árvore, ou até o destino, os azares, de uma determinada família.
Eram, por assim dizer, os “guardiões da cosmogonia” (acho que é esse o termo, já nem recordo).
Mas, esses “fatos” primordiais nunca eram inocentes: vinham carregados de lições, de significados, de força exemplar. Cuja importância pedagógica os gregos foram os primeiros a intuir.
É engraçado voltar os olhos ao passado, há quase três décadas, e perceber que essa concepção acerca do papel do jornalista permanece exatamente a mesma.
Permanecemos apoliticamente incorretos. Permanecemos encantados com os círculos do Poder.
Sem perceber, claramente, a conexão genética entre informação e Poder. Mas, contraditoriamente, a fazer do Poder que a informação proporciona a própria razão de ser de estarmos nessa profissão.
Jornalistas deveriam ser obrigados a ler. E não somente Machado de Assis – até porque, por trás da literatura produzida por Machado, existe todo um arsenal teórico.
Um conceber-se e um conceber que vão muito além daquilo que as fórmulas romanescas nos permitem compreender.
Mas, sobretudo, jornalistas deveriam ser obrigados a pensar.
Os cursos de comunicação – no nível que acontecessem – deveriam ser verdadeiras arenas de permanente e impiedosa instigação.
O aluno deveria entrar razoavelmente são. Mas deveria sair irrecuperavelmente neurótico, a descobrir, por toda parte, os muros e os grilhões socialmente existentes.
E, mais que isso, os significados, a gênese, os propósitos desses muros e grilhões.
Cursos de Comunicação deveriam ensinar, ao menos, o que é o Estado.
Não, não como o cabide de empregos em que alguns, eventualmente, se penduram, por conta de necessidades de sobrevivência e porque imaginam que o Estado serve, justamente, para isso.
Mas, como o mais poderoso instrumento de intermediação social que já conseguimos conceber.
Que não se confunde, absolutamente, com a sociedade, porque muito posterior a ela. Mas, que é um dos elementos definidores daquilo a que chamamos Civilização, a qual, muito além dos meros agrupamentos sociais, tem permitido avançar na conquista de direitos individuais e coletivos.
Cursos de Comunicação deveriam ser capazes até de reciclar o Marxismo: de apresentar o mundo como ele é, ou seja, como essa luta – aparentemente perpétua - entre explorados e explorados. Mas com um Estado que, para além dos usos que dele se fez, vale por aquilo que representa em potência.
Quer dizer: como alguma coisa da qual todos podemos nos apropriar, para que não permaneça nas mãos de uns poucos, a servir, tão somente, os propósitos de uns poucos, porque é da própria condição da “coisa” o uso coletivo e não, meramente, individual.
Como ferramenta de controle social que é - e precisará sempre ser, até que encontremos melhor fórmula, não é mesmo?
Mas que pode ser democratizado, para servir à coletividade, impondo limites que obedeçam ao pensamento prevalente de uma época, mas que respeitem – e até incentivem – o pensamento minoritário.
Porque é da essência do Estado que seja assim. Não os rudimentos a serviço do chefe de bando ou do senhor feudal. Mas, como o aparato, feito de leis, de tribunais e de polícias, socialmente acreditado, porque reprime a todos, a serviço de todos.
Cursos de Comunicação deveriam ser capazes, enfim, de forjar uma visão crítica do mundo e do papel que nós, jornalistas, nele desempenhamos. A lembrar o papel que desempenharam os grandes jornalistas – desde os autores da arte rupestre, passando por Maquiavel, Galileu, Giordano Bruno, Danton, Marx, Lênin, Gramsci – que souberam, digamos assim, até mimetizar o fato, a informação, para transformar o mundo em que viveram.
Não vi isso no curso de Comunicação da UFPa, quando ingressei nele, em 1985, e do qual fui jubilada. Não tenho visto isso, ao longo da minha vida, nos egressos de todos os cursos de Comunicação.
Até porque essa visão crítica – se existe – não pode morrer no bloco do “Eu sozinho”: tem de estar presente em cada texto que se produz.
Sujeito que foi linchado, não foi linchado porque essa “demanda” caiu do céu.
Há, aí, um mundo de fatores a explorar. O mais visível é a ausência do Estado, a garantir o direito inalienável à segurança e a todos os direitos dele decorrentes. Como, por exemplo, o direito de ir e vir. Ou de passear pelas ruas sem uma arma no bolso pronto a matar ou morrer – quer dizer, o direito à paz de espírito e – por que não – à Cidadania.
Mas, há dois fatores de fundo. O primeiro é a miséria. O segundo, o uso que é feito do dinheiro público, que deveria servir, justamente, para reduzir, ou até erradicar, essa miséria.
Então, a ausência do Estado, em verdade, acaba sendo, apenas, a conseqüência, o sintoma de males bem maiores.
Quer dizer, a desigualdade e o uso do dinheiro público – quer se considere a corrupção, o desvio, quer se considere a opção política dos investimentos públicos.
O que é preciso entender é que o que mata e o que morre são vítimas da mesma problemática. Não há anjos, nem demônios. Mas, seres humanos e as suas circunstâncias.
Cansei de divagar. Volto depois de encher mais a cara. FUUUUIIIIII!
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Assume, Barata, assume!
(Ou: Cada um dá o que tem e come o que gosta!...)
A Perereca, depois de trozentas grades, arresolveu ajudar o “jornalista” Augusto Barata: vai lançar a campanha “Assume, Barata, assume!...”.
Vejam só, leitores: trata-se de uma iniciativa humanitária! Daquelas que amerece até um “We are the world”!...
Afinal, vocês já pensaram na aflição do Baratão, a vida inteira aprisionado numa gaveta, a se debater com a própria sexualidade?
Sinceramente, que já nem aconsigo dormir: passo as noites a me desfazer em lágrimas, compungida...
Todo mundo assumindo, até fazendo paradão - e só o Barata sem conseguir liberar o roscofe... Vocês têm de convir que é de partir o coração!...
Daí que, do alto dessa minha vastíssima experiência, arresolvi aconselhar o coitado. Não aconsigo evitar, leitores! Faz parte dessa minha índole boníssima!...
A primeira coisa que tens de saber, Baratão, é que essa história de que dói à beça é tudo lári-lári!... Vai por mim!...
Só aprecisas é relaxar. E pedir pro teu parceirão pra ter muito, muito cuidadinho...
Ah, e apede pra ele caprichar nas preliminares!... Especialmente, naquelas cafungadas bem másculas no teu cangote. Vais subir pelas paredes, mano!... Hum!..
É claro que não apodes esquecer a camisinha e o KY. Por favor, não cai nessa do cuspão!... Isso pode até ser bacana no Querelle. Mas, o Fassbinder era o Fassbinder, sabe como é que é...
E não podes ficar tão empolgado, a ponto de jogares o roscofe no pisão...
Tens um blog pra cuidar, maninho!... E precisas ter um certo cuidado com as preguinhas, em especial a Zizi...
Como vai ser a tua primeira vez, também arrecomendo que evites um homão adubado, sabe como é, um daqueles parrudões, que a gente tem vontade de morder desde os dedinhos dos pés... (E, cá entre nós, a gente sabe que já sentiste isso, né, Baratão?...).
Pra primeira experiência, maninho, asserve, assim, como direi, um sujeito mediano.
Mas que funcione, mano. Porque se for uma pica paraguaia como a tua, vais acabar mais rebelado do que nunca.
Porque não vai haver o que alevante o bicho – nem guindaste... E aí vais continuar vociferando contra tudo e todos, pensando que a gente é que tem culpa de continuares assim, “vilgem, vilgem”...
Ah, sim, maninho, tem uma coisa very, very importante!
Mulher tem de manter uma certa compostura, né mermo? Aliás, tu sempre insistes nisso no teu blog, que nem o teu guru, o Clô...
Daí que quando o sujeito estiver, assim, resfolegando no teu cangote, tens de fazer, como direi, um certo “cu doce”...
Não vai logo te abrindo todo, mano, mesmo que estejas doidinho pra assoltares a franga – ops, o roscofe!
Afinal, ele apode até pensar que já deste pra todo mundo. E que coisa horrível é mulher que dá, né, Baratão? Especialmente, as filhas da puta, que dão pra todo mundo, menos pra ti, né mermo?
Por isso, maninho, assossega o facho e adeixa o teu macho pedir e resfolegar. E só quando vires que ele está bem doidão é que apoderás dizer: vai, bem, mete, benhêee!...
Tenho certeza, Baratão, que se fizeres tudinho conforme te aconselhei, vais ficar outro!
Primeiro, porque vais acabar com esse horror, esse ódio – melhor dizendo, essa inveja que tens das mulheres.
Afinal, nunca terás uma “perseguida” – a não ser que te operes. Mas, bem que apodes arresolver essa tua problemática através do roscofe...
Dá, maninho! Li-be-ra! Isso não é problema algum! Ta todo mundo dando. Vais levar pra sepultura, é?
Sem essa de vergonha, mano! Vergonha é nem dar e nem comer, ou seja, o jeito que vives hoje...
Tenho certeza de que - depois de liberares o roscofe - vais acabar com essa mania de ficares patrulhando quem come quem...
Vais, afinal, experimentar essa coisa maravilhosa que é um orgasmo. E daqueles bem suadinhos...
Por fim, quero deixar, apenas, uma explicação aos leitores da Perereca.
Num apensem - gentalha! - que, só por causa dessa aula de grátis de liberação do roscofe, que eu sou “dessas” que andam por aí...
Mamãe é testemunha de que continuo quase tão casta como vim ao mundo...
Tudo o que escrevi foi, assim, por ouvir dizer...
sábado, 18 de agosto de 2007
Tangos
Uma Sessão de Tango!
La Cumparsita
¡Si supieras
que aún dentro de mi alma
conservo aquel cariño
que tuve para ti...!
¡Quien sabe, si supieras
que nunca te he olvidado...!
Volviendo a tu pasado
te acordarás de mí...
Los amigos ya no vienen
ni siquiera a visitarme;
nadie quiere consolarme
en mi aflicción...
desde el día que te fuiste
siento angustias en mi pecho...
¡Decí, percanta, qué has hecho
de mi pobre corazón...!
Sin embargo
yo siempre te recuerdo
con el cariño santo
que tuve para ti;
y estás dentro de mi alma,
pedazo de mi vida,
en la ilusión querida
que nunca olvidaré.
Al cotorro abandonado
ya ni el sol de la mañana
asoma por la ventana
como cuando estabas vos...
Y aquel perrito compañero
que por tu ausencia no comía
al verme solo, el otro día
también me dejó.
(Pascual Contursi y Enrique Pedro Maroni/
Mano a Mano
Rechiflao en mi tristeza,
hoy te evoco y veo que has sido
en mi pobre vida paria
sólo una buena mujer;
tu presencia de bacana
puso calor a mi nido,
fuiste buena y consecuente
y yo sé que me has querido
como no quisiste a nadie,
como no podrás querer.
Se dio el juego de remanye
cuando vos, pobre percanta,
gambeteabas la pobreza
en la casa de pensión;
hoy sos toda una bacana,
la vida te ríe y canta,
los morlacos del otario
los jugás a la marchanta,
como juega el gato maula
con el mísero ratón.
Hoy tenés el mate lleno
de infelices ilusiones,
te engrupieron los otarios,
las amigas, el gavión;
la milonga entre magnates
con sus locas tentaciones,
donde triunfan y claudican
milongueras pretensiones,
se te ha entrao muy adentro
en el pobre corazón.
Nada debo agradecerte
mano a mano hemos quedao,
no me importa lo que has hecho,
lo que hacés, nilo que harás;
los favores recibidos
creo habértelos pagado,
y si alguna deuda chica
sin querer se me ha olvidao,
en la cuenta del otario
que tenés, se la cargás.
Mientras tanto que tus triunfos,
pobres triunfos pasajeros,
sean una larga fila
de riquezas y placer,
que el bacán que te acamala
tenga pesos duraderos,
que te abrás en las paradas
con cafishios milongueros,
y que digan los muchachos:
"el una buena mujer".
Y mañana, cuando seas
descolado mueble viejo
y no tengas esperanzas
en el pobre corazón,
si precisás una ayuda,
si te hace falta un consejo,
acordate de este amigo
que ha de jugarse el pellejo
pa’ ayudarte en lo que pueda
cuando llegue la ocasión.
(Celedonio Flores/Gardel y Razzano)
visitem: elportaldeltango.com
domingo, 12 de agosto de 2007
Sonho
Sonhaste em demasia a vida inteira.
Ainda hoje, vives a sonhar...
Como se não houvesse porta.
E os muros diante de ti é que fossem a ilusão...
Ainda hoje, insistes no que não deves...
Como quem se aprisionasse num aeroporto congestionado.
Demasiadas gentes, demasiados aviões,
Cadeiras desconfortáveis.
Gente a queixar-se por todo lado!
E tu a espiares a tudo com os olhos do coração!...
E ficas confusa ao descobrires no espelho
As rugas, os cabelos que branqueiam...
Contra toda a vida que há em ti!...
Vês a roda... Inda hoje é a roda!...
O jogo da amarelinha, o bosque interdito.
As frutas que buscavas no pomar...
As cachoeiras que erguias nas ondas da imaginação!...
Os barcos que se acendiam no horizonte.
O mar que adormecia nos braços dos céus!...
Lembras como eram o desejo e a saudade?
Ainda és capaz de encontrar a vida nos campos enregelados?
As flores nos galhos desfolhados, que mirram e se acinzentam?
A alma em cada pedra... em cada grãozinho de pó?
Ainda és capaz de amar?
E alguma vez foste capaz de amar!...
Não como o poeta que busca a rima certa,
O sentimento que se estende a todos os corações.
O que se diz, o que se escreve, o que se mostra.
Mas, como um peito amordaçado na escuridão!
Um barco acorrentado no porto! Os desertos distantes de Deus!...
Como o que espera. Sim, como o que espera.
Muito além de toda a impossibilidade!
Por que não vais ao cinema?
Por que não te permites sonhar nos sonhos alheios?
Por que tudo em ti há de querer mais e sempre mais?
O Além, o Infinito, a Eternidade, o Absoluto...
Como a criança que constrói castelos, jardins, cidades inteiras de sonho...
E que ao vê-las concretizadas, destrói tudo.
Para erguer, de novo, castelos, cidades, jardins...
Por que te aprazem tanto as promessas?
Por que só desejas, só queres - só te importa!...
O amor que te foge - que te escapa!...
Como os sonhos que sonhaste
No peito... No cheiro... Na palma de outra mão...
Belém, 11 de agosto de 2007.
Tom
Esta em você
O que o amor gerou
Ele vai nascer, e há de ser sem dor
Ah! Eu hei de ver
Você ninar e ele dormir
Hei de vê-lo andar
Falar, sorrir
Ah! Eu hei de ver
Você ninar e ele dormir
Hei de vê-lo andar
Falar, cantar, sorrir
E então quando ele crescer
Vai ter que ser homem de bem
Vou ensina-lo a viver
Onde ninguém é de ninguém
Vai ter que amar a liberdade
Só vai cantar em Tom Maior
Vai ter a felicidade de
Ver um Brasil melhor
(Martinho da Vila)
Para o Baratão
Baratão:
Acho muito bacana o novo tom que estás a dar ao teu blog. Estás a ter mais cuidado com as afirmações que fazes. E isso é muito legal.
Relevo o fato de continuares a me chamar de “Cascão”. Foi até bom, aliás. Já vi uns homões se aproximando de mim, só pra sentir o meu cheirinho gostoséssimo. Achei foi bom...O que é que eu posso fazer?
Não tenho raiva, ódio de ti. Não quero esse tipo de sentimento no meu coração.
Creio que podes vir a ser um bom jornalista – já apostaste em mim, também, não sei se te lembras.
Precisas é te conduzir como agora. Maneirar. Embora ainda precises parar com essa história de ficares futricando a vida alheia...
Parabéns pelo novo estilo. Gostei. Vou virar tua fã.
sábado, 11 de agosto de 2007
Nove
Como tudo na vida, o importante é aquela conhecidíssima prova dos nove.
A gente arretira os nove, só pra ver como é que fica, não é mermo?...
Todos os trens têm começo e têm fim. E a gente tem é de saber em qual estação descer.
Há 27 anos, quando comecei no Jornalismo, alguns dos maiores jornalistas dessa terra já apostavam em mim. Contra outros que, agora, se encontram em cima.
Mas, eu sempre fiz questão de decepcionar os apostadores. Porque há jogos que não faço.
Por exemplo, o jogo da subserviência, do acachapamento, do rastejamento, dessa coisa nojenta de estar sempre pronto a dizer: “Sim, Senhor”.
Dessa coisa melosa diante do “dono”, como o cachorrinho que se contenta com qualquer osso bichado...
O bicho que se sabe um bicho inservível. E que, por isso mesmo, tem de se abaixar impossivelmente...
Quis me retirar para Algodoal, para um paraíso só meu – e ainda não desisti dessa idéia. Quero isso. Preciso disso. Aliás, como bem sabem uns poucos, já estava até com a mochila “apreparada”...
Mas, talvez, tenha de fazer um bocadinho mais, com essa capacidade incomum de destruição que Deus me deu, não é mermo?
Joguemos.
E pensar que tudo o que eu queria era ver o mar...
É a vida.
É o preço da vida...
Cabaret
Dolores Sierra
Dolores Sierra
Vive em Barcelona na beira do cais
Não tem castanhola
E faz companhia a quem lhe der mais
Nasceu em Salamanca
Seu pai um lavrador, veio a maioridade
Pois quem nasce na roça
Tem sempre a ilusão de viver na cidade
Sua mãe chorou
No dia em que ela partiu
Pra conhecer Dom Pedrito
Que prometeu e não cumpriu
Com frio e com sede
Só na sarjeta
Sorriu para um homem
E ganhou a primeira peseta
O navio apitou
Paguei a despesa, história se encerra
Adeus Barcelona, Adeus
Adeus Dolores Sierra
(Wilson Batista e Jorge de Castro)
O Último Blues
Essa menina que você seduz
E um dia depois
Sem mais nem mais, esquece
Ela, no fundo, é uma atriz
Quando beija a sua boca
E nada acontece
Essa menina que você seduz
Agora é uma atriz
Saída de outra peça
Chamada "Doces Ardis..."
Quando beija a sua boca
Ela começa a fraquejar
Por onde anda a sua mão
Você só quer se aproveitar
E ela delira
Rodopiando no salão
Os dois parecem um casal
Mas é mentira
Essa menina pode ir pro Japão
Na vida real
Você é que enlouquece
Apaga a última luz
E nos cantos do seu quarto
A figura dela fosforesce
Ao som do último blues
Na Rádio Cabeça
Se puder esqueça
A menina que você seduz
(Chico Buarque)
Ai, se eles me pegam agora!
Ai, se mamãe me pega agora de anágua e de combinação
Será que ela me leva embora ou não
Será que vai ficar sentida, será que vai me dar razão
Chorar sua vida vivida em vão
Será que faz mil caras feias, será que vai passar carão
Será que calça as minhas meias e sai deslizando pelo salão
Eu quero que mamãe me veja pintando a boca em coração
Será que vai morrer de inveja ou não
Ai, se papai me pega agora abrindo o último botão
Será que ele me leva embora ou não
Será que fica enfurecido será que vai me dar razão
Chorar o seu tempo vivido em vão
Será que ele me trata à tapa e me sapeca um pescoção
Ou abre um cabaré na Lapa e aí me contrata como atração
Será que me põe de castigo será que ele me estende a mão
Será que o pai dança comigo ou não
(Chico Buarque)
terça-feira, 7 de agosto de 2007
Pra cima!
Vossas Excelências!
Graças a Deus, nunca aprendi o caminho da farmácia onde vendia esse tal de medo.
Para mim, medo, mermo, só de não viver. E de deixar-me estar, silente, diante de patifaria com dinheiro público.
Assim, reafirmo tudo o que disse no post anterior, acerca do criminoso Duciomar Costa.
E acrescento: os cidadãos de Belém têm de se conscientizar de que o alvo é a Câmara Municipal.
É aos senhores vereadores, é às Vossas Excelências que temos de pressionar, para afastar esse larápio.
Até porque, ano que vem, tem eleição. E eu duvido que essas Vossas Senhoras não prefiram, em primeiro lugar, resguardar as próprias cabeças.
Se me perguntassem como fazer isso, eu diria: é preciso colocar povo, na frente e dentro da Câmara Municipal.
E apresentar pedido em cima de pedido de CPI, acerca dos crimes dessa quadrilha - o que não é difícil de fundamentar, especialmente na área da Saúde, tendo em vista a voracidade dessa ratalhada.
E filmar, ostensivamente, cada pronunciamento de cada uma das Vossas Excelências que se atrevam a defender esse criminoso. (Sim, porque as Vossas Excelências têm de prestar contas, à população, do mandato que receberam...).
E espalhar esse material nos redutos de cada uma dessas Vossas Excelências, cirurgicamente. O que não é nada difícil – basta ter o mapa das últimas eleições municipais.
E espalhar esse material, preferencialmente, através de carros-som e de tvs ou telões - bem pouco, através de panfletos, com linguagem mastigada. Não apenas para que a população possa compreender melhor. Mas até para tornar quase impossível o desmentido dessas Vossas Excelências...
Também recomendaria acionar o Ministério Público e a polícia, até com a criação de um disk-denúncia, para que possamos saber se alguma dessas Vossas Excelências está a receber dinheiro ou favores desse criminoso. E isso tem de ser divulgado em cada reduto, cirurgicamente.
Pois, que cada uma das Vossas Excelências tem de sentir a espada da Justiça e da comunidade rente ao próprio pescoço...
Também recomendaria levar a cada bairro a foto daquela mãe – que, agora, estão dizendo que é a tia... – segurando a criança morta nos braços. Para que as outras mães vejam o que lhes pode acontecer, caso esse facínora continue na Prefeitura.
Recomendaria o envio de e-mails e de abaixo-assinados às Vossas Excelências, reivindicando o afastamento desse criminoso.
Recomendaria, enfim, um grande movimento em favor da vida.
Chega de ficarmos esperando pelos jornalões, pelas redes de rádio e tv, que recebem dinheiro desse criminoso.
Estamos falando de Belém, e não do Pará inteiro. E mesmo numa cidade grande, é possível, sim, fazer um grande movimento social, apesar dos grandes meios de comunicação. Um movimento que, vindo de baixo, arrombe as portas dos meios de comunicação.
É apelar a bocas de ferro, carros-som, panfletos, cartazes, adesivos, entidades e, principalmente, ao boca-a-boca, ao trabalho de formiguinha.
É dividir Belém em setores, e setores por equipes. É colocar gente nas ruas – e levar gente para a frente e para dentro da Câmara Municipal.
É não dar um minuto de paz a essas Vossas Excelências.
Da mesma forma que não têm paz os milhares de cidadãos que vivem à mingua, devido aos crimes dessa quadrilha que tomou conta da Prefeitura de Belém.
domingo, 5 de agosto de 2007
Até Quando?
Primeiro foi um homem, um pai de família, que morreu, literalmente, diante das câmeras de Tv. Agora, uma criança, nos braços da mãe.
E eu fico pensando, cá com os meus botões: o que é que falta para que os senhores vereadores, para que as Vossas Excelências, afastem da Prefeitura de Belém esse criminoso chamado Duciomar Costa.
Em tese, as Vossas Excelências são pagas para fiscalizar, controlar, os atos do Executivo municipal. Em tese, as Vossas Excelências não deveriam se locupletar, se acachapar, se acumpliciar.
Em tese, as Vossas Excelências deveriam ser as primeiras a se levantar contra essa quadrilha que tomou conta da Prefeitura de Belém. Essa quadrilha que está, literalmente, a matar o nosso povo.
Lugar de criminoso, de bandido travestido de político, não é na Prefeitura - é na cadeia! E isso as Vossas Excelências sabem muitíssimo bem.
Mas, ao que parece, as Vossas Excelências não estão nem aí para a população de Belém, especialmente a mais pobre, que só “vale” alguma coisa na hora da eleição...
Ao que parece, as Vossas Excelências querem, apenas, garantir o próprio status, os subsídios, o poder, nem que seja sobre os cadáveres de pais de família e de criancinhas indefesas.
E eu fico pensando o que foi que conduziu, afinal, cada uma dessas Vossas Excelências à carreira política.
Uma carreira nobre que significa, essencialmente, o compromisso de se colocar, de viver, de estar a serviço da comunidade.
Porque eu olho para o ideal político e para essas Vossas Excelências, que estão aí, acachapadas, comprometidas até a raiz dos cabelos com esse criminoso, e não consigo encontrar um mínimo de semelhança; um ponto de toque, sequer. É como se essas Vossas Excelências e o ideal político estivessem separados por milênios de distância.
Não sei, sinceramente, como pessoas, seres humanos, cidadãos, com um mínimo de poder nas mãos, podem silenciar, se acomodar, diante da morte cotidiana de outros cidadãos, de outros seres humanos, “por causas desconhecidas”, em nossos postos de saúde.
Até porque as causas, longe de serem “desconhecidas”, são, em verdade, bem conhecidas de todos.
As causas são os desvios de dinheiro público, para as bolsas e as carteiras de alguns.
A causa é a roubalheira, a safadeza que toma conta da Prefeitura de Belém, enquanto as Vossas Excelências fazem cara de paisagem.
Tivemos, neste ano, uma epidemia de dengue, que atingiu milhares, e até matou, com os seus dolorosos sintomas.
Vimos explodir em nossas casas, nos jornais, nas Tvs, nas rádios as conseqüências da voracidade dessa quadrilha, dessa ratalhada.
Todos vimos isso – em Batista Campos ou no Guamá. E todos sabemos muito bem porque foi que isso aconteceu. Até porque a ação da quadrilha de Duciomar Costa não é mais segredo para ninguém.
Mas as Vossas Excelências preferem agir como os soldados e oficiais alemães, que assistiam, todos os dias, com indiferença, à partida de vagões apinhados de judeus, para os campos de concentração.
Com o agravante de que essas Vossas Excelências detêm poder, de fato, para afastar esse prefeito corrupto.
Com o agravante de que essas Vossas Excelências vivem num regime democrático e não sob um Estado nazista.
Poucas vezes, mesmo em 27 anos de jornalismo, vi uma cena tão dolorosa, como a daquela mãe, com o filho morto nos braços.
O horror, o desespero, a levar até à descrença naquilo que acabou de acontecer.
A vontade de continuar a seguir com a criancinha nos braços, como se ela estivesse, simplesmente, a dormir...
Fico imaginando o que terá sentido aquela mãe. A dor que carregará todos os dias, até o fim da vida, profundamente, no coração.
Fico pensando até que ponto não somos, todos, responsáveis por essa tragédia, por essa dor.
E fico pensando em quantas outras criancinhas não morrem, todo santo dia, nos braços de mães paupérrimas, em nossos postos de saúde.
Mulheres que entram, nos postos de saúde, com um filho querido nos braços. E que saem de lá a carregar um cadáver.
E eu fico pensando como é possível que essas Vossas Excelências ainda consigam dormir, placidamente, diante de uma coisa como essa.
Logo as Vossas Excelências, que se dizem tão cristãs, tão religiosas e que, muitas vezes, não perdem um culto ou uma missa.
Mas que são as mesmíssimas Vossas Excelências que silenciam diante dessa matança covarde. A matança que ceifa a vida de criancinhas e que choca, atordoa, a qualquer pessoa com um mínimo de Humanidade.
E eu me pergunto até quando essas Vossas Excelências consentirão na permanência do criminoso Duciomar Costa, na Prefeitura de Belém.
Até quando, nós, cidadãos, também nos acomodaremos diante dos crimes praticados por essa quadrilha hedionda.
Quantas crianças ainda terão de morrer, nos braços das mães?
A quantos outros inocentes, esse sociopata ceifará a vida impunemente?
A quantas outras mães será infligida essa dor terrível de ver morrer um filhinho nos braços?
Até quando, Vossas Excelências? Até quando?
Cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
(Gilberto Gil/Chico Buarque)