quarta-feira, 30 de julho de 2008

Os traficantes



Das fotos e dos jornalistas



Pessoal:




Sinceramente, que aqui onde me encontro não dá nem para me meter em polêmicas.



A internet daqui é tão forreca que uma postagem que fiz de madrugada, só foi publicada no final da manhã seguinte – mais valia sinal de fumaça, né mermo?



Mas, abri meu e-mail e dei com um e-mail do site Comunique-se, acerca de um pedido da ANJ e de um tal de CPJ (Comitê de Proteção aos Jornalistas), às autoridades brasileiras, para que os jornalistas possamos trabalhar.



Caramba, companheiros (e olhem que já sou registrada, visse?...) que corporativismo enlouquecido, que falta de visão!...



Faz-se um escândalo danado porque uns cinco ou seis fotógrafos foram obrigados a zerar suas máquinas, devido às ordens de traficantes, num morro do Rio de Janeiro.



Faz-se um escândalo danado – e até se institui um prêmio – devido a um jornalista, Tim Lopes, barbaramente assassinado por traficantes.



Quer dizer, só o que escandaliza é quando essa violência atinge os jornalistas, é?



O que tem de escandalizar, de fato, companheiros, é essa barbárie, é essa servidão forçada a que são submetidos milhares, milhões de cidadãos, por esses marginais.



É a audácia daqueles que, por possuírem uma arma, acham que podem fazer desmoronar o Estado, a Justiça, a Democracia, o Estado de direitos.



O jornalista, nesta história toda, é um grãozinho de areia.



Grave, gravíssima, é a falta de acesso à Cidadania desses milhares, milhões de cidadãos favelados.



Grave, gravíssimo, é que um indivíduo, a comandar outros tantos indivíduos de sua laia, acredite que, por ter em mãos granadas, escopetas, fuzis, bazucas, possa, impunemente, fazer valer os seus ditames criminosos, em face dos interesses da sociedade.



Quem eles pensam que são? Uns Lampiões piorados, é? Pois, que se lhes dê, então, uma belíssima dosagem de Angico...



E o que me incomoda é esse corporativismo cego, doido.



Quer dizer: não pode apagar a foto de um fotógrafo, né?, ou impedir a visita de um candidato, né?



Mas pode, sem mais escândalos, submeter populações inteiras, cotidianamente, a esse Estado de Terror?



Companheiros, o que me interessa não são as fotos – embora que eu morra a defender que sejam, democraticamente, permitidas, né mermo?



O que me interessa – e essa é, de fato, a notícia, a “manchete” – é a que ponto de desgoverno, de “anomia” se chegou nos morros do Rio de Janeiro e em tantos outros locais deste Brasil, em função desse governo paralelo, virtualmente arquitetado pelos traficantes de drogas.



É essa a notícia. Porque é isso que é importante, de fato, à sociedade que nos fez jornalistas.



Com esse rame-rame, essas questiúnculas em torno das fotos apagadas, estamos perdendo a oportunidade de mostrar, de documentar, por depoimentos ou matérias, a que ponto chegou a fragmentação do Estado brasileiro, neste momento específico, em decorrência do tráfico de drogas.



O que me interessa é o cotidiano de medo, de terror, de absoluta falta de direitos em que vivem os moradores desses locais.



Como é que almoçam? Como é que jantam? Como é que sobrevivem? Como é que se fecham em casa e a que horas se fecham em casa? O que podem e o que é que não podem fazer, devido ao poder exercido por essa bandidagem? O que pedem? A quem rezam nessas horas?...



É disso que a sociedade precisa saber.



É isso que vai fazer com que as pessoas tirem o bundão gordo do sofá em que assistem às novelas da Globo, para que exigir do Estado aquilo que lhe compete fazer.



Ou seja: restabelecer um mínimo de democracia nesses guetos.



Porque é aí que está a raiz de toda essa polêmica: a inexistência de democracia nesses locais, que vivem submetidos ao poder de hordas, em pleno século XXI.



Se houvesse ali democracia, tenham certeza, companheiros, nenhum jornalista seria impedido de ali entrar e trabalhar.



No máximo, seria xingado, por um ou outro descontente – mas isso, também, é democrático...



O problema é nos projetarmos como os únicos ofendidos.



Quando, na verdade, as ofendidas, em tudo isso, são a sociedade e a democracia brasileiras.




FUUUIIIIIII!!!!!!!!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Os tambores




Até domingo!





Na próxima sexta-feira, finalmente, estarei de volta a Belém.



Bem mais centrada e em paz comigo mesma, talvez...



Mas, certamente, solta no mundo, como gosto de estar. Para abrir caminho no braço, como sempre fiz.



Nesta campanha, recebi inúmeras propostas de trabalho, bem mais do que esperava, por sinal.



E eu agradeço a todos os candidatos e às equipes de comunicação deles, que me ofereceram oportunidades tão bacanas.



Certamente, qualquer delas me permitiria fechar, com “chave de ouro”, esse tipo de participação na política, visto que, como já disse aqui, essa foi a minha última campanha.



Sou grata a todos. E sinto não ter podido atender a qualquer de vocês, que depositaram tamanha confiança no meu trabalho.



Agradeço, especialmente, ao Orly Bezerra, ao Mário Cardoso e a alguns amigos do PMDB.



Ao primeiro, por ter me concedido a honra de trabalhar com ele, inegavelmente, o melhor marqueteiro político do Pará, e que até me deixou muitíssimo lisonjeada com as seguidas demonstrações de respeito e confiança, ao ponto de querer me transformar em espécie de “olhos” dele...



Nunca vou me esquecer disso, viste, lorde Balloon?



Nem das vezes em que nos enfrentamos, tão acaloradamente (e tome-lhe bicuda!...), nem desta vez em que, afinal, nos encontramos...



Também agradeço ao Mário Cardoso, meu eterno candidato do coração...



Nesta eleição, como já disse aqui, apoio Valéria. E vou com Valéria até o fim, sem qualquer outro interesse, a não ser a melhoria das condições de vida dessa Belém que tanto amo.



Mas, tenho por Mário um carinho e uma admiração imensas.



Tenho orgulho de ter sido assessora dele. Um cidadão honesto, competente, inteligente, democrático, batalhador.



Um petista da melhor estirpe, que me quis como assessora dele, apesar de saber que eu era – como ainda sou – uma tucana amarelíssima...



E só espero é poder pegar o Mário, um dia, fora dessa correria de eleição.



Porque, tenho certeza, com um tempo maior para trabalharmos o Mário, esse extraordinário homem público não será, apenas, prefeito de Belém. Será, na verdade, é governador do Pará...



Também agradeço a alguns amigos do PMDB, que se lembraram, igualmente, de mim.



Não cito seus nomes, para não lhes trazer eventuais problemas, né mermo? Mas, fico até emocionada pela lembrança que tiveram...



No entanto, apesar de tudo, a minha decisão é me fixar, me concentrar, na Região Metropolitana.



Pensei, pensei... Me debati; me estapeei...Chorei... E até chorei a grana que vou perder e de que tanto necessito, né mermo?



Afinal, como também já disse aqui, não possuo qualquer rendimento fixo, assessoria, “asponice”, ou, ao menos, um palmo de terra no cemitério.



Mesmo assim, a minha decisão é jogar solta, na Região Metropolitana, fazendo aquilo que mais amo: reportagem.



Porque é isso o que me manda fazer o coração...



Se isso incomodará alguém, problema desse alguém. Afinal, a vida flui, apesar de todos nós.



Creio que nem preciso tocar os tambores de guerra, né mermo? Que esses, de há muito, já soaram... E só nos cabia, em verdade, a espera do tempo propício...



Tenho consciência de que enfrentarei uma parada duríssima em termos financeiros; não importa, hei-de sobreviver!...



E, ao final deste ano - que, tenham certeza, ainda trará grandes e inesquecíveis surpresas, um “grand finale”, digamos assim... - vejamos o que vale, de fato, cada qual...




FUUUIIIIII!!!!!!




Carmina Burana

(Fortuna)




O Fortuna

Velut luna

Semper statu variabilis,




Semper crescis

Aut decrescis;

Vita detestabilis

Nunc obdurat

Et tunc curat

Ludo mentis aciem,

Egestatem,

Potestatem

Dissolvit ut glaciem.




Sors immanis

Et inanis,

Rota tu volubilis,

Status malus,

Vana salus

Semper dissolubilis,

Obumbrata

Et velata

Michi quoque niteris;

Nunc per ludum

Dorsum nudum

Fero tui sceleris.




Sors salutis

Et virtutis

Michi nunc contraria,

Est affectus

Et defectus

Semper in angaria.

Hac in hora

Sine mora

Corde pulsum tangite;

Quod per sortem

Sternit fortem,

Mecum omnes plangite!




(Carl Orff)

sábado, 19 de julho de 2008

Despedida

Pensando, pensando...




Lá vou eu sumir de novo, caro leitor, a passar mais um tempo distante daqui.




Novamente, seremos interrompidos.




E, infelizmente, só disponho de quatro minutos para me expressar.




Pois, que como viajarei de madrugada, preciso, infelizmente, dormir.




Para caminhar, entre as nuvens, no espaço e na vida...




Tão distante de mim, como está cada um de si mesmo...




Ah, a hora da partida!...




Aquela em que arredamos os móveis da porta...




Os móveis com que obstruímos as portas.




Naquele doce tempo em que ainda havia móveis e portas!...



Como se só quiséssemos da vida essa doce ilusão de perenidade!...




Quem levará as estantes?




Os livros, as prateleiras, os bibelôs?...




Quem levará as lembranças – sim, que essas, em qualquer partilha, são o mais importante!...




A quem ficará o vazio, a sensação de insignificância?...



E quem herdará os risos, as mãos-sempre- dadas, o sorvete que se dividiu?...




O abraço, o beijo, a esperança furtiva, desse tão furtivo coração?!!!...




Como repartiremos o que foi comum?




O dito, o não-dito, o mais que dito... O projetado... O que se queria e o que não queria... E, por vezes, a ilusão que a gente teve de engolir...




Quem redescobrirá o amanhã?




E a quem restará a sensação de uma nau à deriva, aquela que apenas busca agarrar-se a qualquer porto?...




Quem se irá como se nunca tivesse chegado?...




E quem ficará como se estivesse ali – à espera... tão somente, à espera...



Como repartiremos os filhos que não tivemos? E os nossos castelos de areia?...




E as ondas e o mar e as estrelas, que nos fizeram partícipes do infinito!... – um do outro... Sim, um do outro!...




Talvez, que digamos, afinal: levarás o castelo; e eu, a estrelas de que foi concebido!...




Para que em ambas as mãos reste, tão somente, o nada...




O nada...




O nada que sempre fomos e seremos nós!...




Um do outro...




Sim, um do outro!...







FUUUIIIIIII!!!!







Lama Nas Ruas


Deixa
Desagüar a tempestade
Inundar a cidade
Porque arde um sol dentro de nós

Queixas,
Sabes bem que não temos
E seremos serenos
Sentiremos prazer no tom da nossa voz

Veja
O olhar de quem ama
Não reflete um drama, não
É a expressão mais sincera, sim

Vim pra provar que o amor, quando é puro
Desperta e alerta o mortal
Aí é que o bem vence o mal
Deixa a chuva cair, que o bom tempo há de vir

Quando o amor decidir mudar o visual
Trazendo a paz no sol
Que importa se o tempo lá fora vai mal
Que importa?

Se há
Tanta lama nas ruas
E o céu
É deserto e sem brilho de luar

Se o clarão da luz
Do teu olhar vem me guiar
Conduz meus passos
Por onde quer que eu vá


Veja
O olhar de quem ama
Não reflete um drama, não
É a expressão mais sincera, sim

Vim pra provar que o amor, quando é puro
Desperta e alerta o mortal
Aí é que o bem vence o mal
Deixa a chuva cair, que o bom tempo há de vir

Quando o amor decidir mudar o visual
Trazendo a paz no sol
Que importa se o tempo lá fora vai mal
Que importa?

Se há
Tanta lama nas ruas
E o céu
É deserto e sem brilho de luar

Se o clarão da luz
Do teu olhar vem me guiar
Conduz meus passos
Por onde quer que eu vá (se há)

Se há
Tanta lama nas ruas
E o céu
É deserto e sem brilho de luar

Se o clarão da luz
Do teu olhar vem me guiar
Conduz meus passos
Por onde quer que eu vá.

(Almir Guineto/Zeca Pagodinho)




E depois de muito buscar, encontrei um hino - meu, mermo!...


Vai Vadiar




Eu quis te dar
Um grande amor
Mas você não
Se acostumou
À vida de um lar
O que você quer é vadiar...


Vai Vadiar! Vai vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
(Vai Vadiar!)
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!


(Eu quis te dar!)
Eu quis te dar
Um grande amor
Mas você não
Se acostumou
À vida de um lar
O que você quer é vadiar...


Vai Vadiar! Vai vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
(Vai Vadiar!)
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!


Agora!
Não precisa se preocupar
Se passares da hora
Eu não vou mais te buscar
Não vou mais pedir
Nem tão pouco implorar
Você tem a mania
De ir prá orgia
Só quer vadiar
Você vai prá folia
Se entrar numa fria
Não vem me culpar
Vai Vadiar!...


Vai Vadiar! Vai vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
(Vai Vadiar!)
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!


Quem gosta da orgia
Da noite pro dia
Não pode mudar
Vive outra fantasia
Não vai se acostumar
Eu errei quando tentei
Lhe dar um lar
Você gosta do sereno
E meu mundo é pequeno
Prá lhe segurar
Vai procurar alegria
Fazer moradia na luz do luar
Vai Vadiar!...


Vai Vadiar! Vai vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
(Vai Vadiar!)
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!


(Eu quis te dar!)
Eu quis te dar
Um grande amor
Mas você não
Se acostumou
À vida de um lar
O que você quer é vadiar...


Vai Vadiar! Vai vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
(Vai Vadiar!)
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!


Agora!
Não precisa se preocupar
Se passares da hora
Eu não vou mais te buscar
Não vou mais pedir
Nem tão pouco implorar
Você tem a mania
De ir prá orgia
Só quer vadiar
Você vai prá folia
Se entrar numa fria
Não vem me culpar
Vai Vadiar!...


Vai Vadiar! Vai vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
(Vai Vadiar!)
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!


Quem gosta da orgia
Da noite pro dia
Não pode mudar
Vive outra fantasia
Não vai se acostumar
Eu errei quando tentei
Lhe dar um lar
Você gosta do sereno
E meu mundo é pequeno
Prá lhe segurar
Vai procurar alegria
Fazer moradia na luz do luar
Vai Vadiar!...


Vai Vadiar! Vai vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
(Vai Vadiar!)
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!


(Vai Vadiar!)
Vai Vadiar! Vai vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!
Vai Vadiar! Vai vadiar!
Vai Vadiar! Vai Vadiar!


(Zeca Pagodinho)

terça-feira, 15 de julho de 2008

capitu

Capitu



Capitu não é enigmática: é uma heroína, um herói nacional.



Não é que seja dissimulada: é, simplesmente, a nossa tradução, aquela que não queremos permitir, nem nos permitir, traduzir.


Não é que Machado tenha criado um mistério, uma esfinge.


Machado, simplesmente, com a sua extraordinária ironia, recriou, como também faria, bem depois, Mário de Andrade, a maneira de ser de todos nós.


A sociedade brasileira é capituniana – capitulina? Macunaímica, digamos, assim...


Não, não na capacidade de devorar culturas e arrotá-las num único significado, que a isso demasiado simplificou o grande Mário de Andrade.


Mas, na capacidade de esconder, de dissimular, com “olhos de ressaca”, os próprios males...


De lançar-se sempre à cata de algum bode expiatório, para eximir-se de olhar-se. Como fazem Bentinho e Capitu, quando miram o retrato de Escobar...


Capitu jamais iria numa reta a algum lugar, diz Bentinho, num insight.


Arrumaria bote à frente de bote, ponte à frente de ponte, tudo perfeitamente conectado, para chegar a...


Que extraordinário Machado de Assis!


Não é que um homem apaixonado e demasiado ciumento ou a mulher amada, que talvez nem queira ser amada assim, possessoriamente, sejam, afinal, os protagonistas desse grande romance.


Não é que o “causo” tenha de ser visto com desconfiança, devido ao interesse de convencer – e de convencer-se – do narrador.


Nem é que sejamos, todos, assim, aritméticos ou desaritméticos, diante do amor, que invade o peito.


Pense isso quem quiser, quem quiser projetar-se naquele triângulo inconfessável, pois, que inconfessáveis são todos os triângulos...


Capitu é um ensinamento. É a escola, lá longe, distante e interminável, que faz crescer, de fato, Bentinho.


Capitu é a leveza do brasileiro, que vocifera, enquanto urde, trama; enquanto se recompõe.


Enquanto esconde, entre as palavras, o silêncio que revela.


Capitu não trai, nem deixa de trair; é, simplesmente, Capitu.


Quer um filho? Toma-o!... Haverá de ter, por quaisquer que sejam os meios...


Capitus somos todos nós, todo santo dia.


E Casmurro é a impossibilidade de compreensão de Capitu...



E eu vou dormir porque já enchi demais o saco de vocês, assim como vocês já encheram demais o meu saco, também.


E eu juro que não fumei!...


Mas, deixo uma risada básica pros doutores em Letras da UFPa e da APL...ah, ah, ah, ah...




FUUUIIIIIII!!!!

jeitinho

E já que falei do “jeitinho brasileiro”...




Jeitinho Brasileiro



(Olha o jeitinho brasileiro aí, gente!)


Pra gostar
Bom é o jeitinho brasileiro
Assim entre o sofrido e o catimbeiro,
Feito Ary numa Aquarela
- Mentira há de ser sinceramente,
Topada também toca pra frente -
Gostar, mas de qual delas?

Viver!...
Viver com a pulga atrás da orelha
- Quanto mais coçar, sorrir.
Sambar, ô, ô
Sambar com um prego no sapato pra peteca não cair.
Viver; reviver.
Ver na saudade uma vizinha - Ioiô no quintal! -
Folga pro meu lado, mas canto a marchinha
De um antigo carnaval.


(Vizinhas!...)

Vizinhas, Ioiô morena, irmã da loura Iaiá...
O meu irmão noivou da Iaiá, feliz.
Mas viu na morena, calor de pão, sumo de limão,
Frescor de buritis
E água de riacho rente aos pés,
Um zonzo de zumbido das abelhas, mel dos méis...
Se Iaiá saía, Ioiô vizinha se despia, à flor do quintal!
Meu irmão penava, mas cantarolava
Pra manter sua moral:

Lourinha, lourinha, dos olhos claros de cristal,
Quanto tempo, ao invés da moreninha, serás a rainha
Do meu carnaval.
Lourinha, morena, rainhas do meu carnaval,
Qualquer dia, Iaiá e Ioiô vizinhas vão reinar
Juntinhas lá no meu quintal.

Braguinha, Braguinha,
Braguinha, não me leve a mal
Eu não esqueço a loura e a moreninha,
Pago a tua parte em Direito Autoral.

(João Bosco/Aldir Blanc)

sábado, 12 de julho de 2008

Dantas






Uma voz isolada



I



Não queria me meter nessa polêmica.


Mas, cá com os meus botões, ando a pensar que o presidente do STF, Gilmar Mendes, tem, de fato, razão.


Lembro que, no episódio daquela criança arrastada por um carro em movimento, eu salientava justamente isto: a dificuldade de se ir contra a turba, de contrariar o circo romano, com a sua insaciável sede de sangue...


E eu, que compreendo muitíssimo bem o significado disso, tenho até medo de entrar em debates assim...


Por sorte ou azar, não conheço nem Gilmar Mendes, nem Daniel Dantas.


Sou, como vocês, uma fumadíssima cidadã, cansada de ver os meus suadíssimos impostos escoarem pelos ralos da corrupção.


Esse dinheirinho de imposto, para muitos tão forreca, mas que dá para pagar o aluguel da minha casa, a garantir, ao menos, um teto para a minha filha.


Quer dizer: compreendo muitíssimo bem a revolta de todos.


Até porque, exatamente como vocês, também conheço a situação dos milhões de brasileiros que nem acesso têm à Cidadania. Que morrem de fome e de doenças medievais. Esses milhões de brasileiros que sobrevivem que nem bicho.


É certo, também, que não possuo os altíssimos conhecimentos jurídicos que muitas das pessoas indignadas desse debate, parecem possuir.


Tenho comigo, apenas, esse bom senso básico de cada dia, que é uma dádiva que Deus nos deu.


Sou, apenas, por outras palavras, uma cidadã orgulhosa dessa extraordinária condição de cidadã.



II



Ao que já li, Daniel Dantas é mermo um cidadão complicado...


Um intelecto brilhante, uma inteligência rara, mas, que nenhum de nós gostaria de ter como vizinho...


Porque é um cidadão que só pensa em si mesmo. Que não está nem aí para esta sociedade que o fez cidadão.


Mesmo nadando em dinheiro, se “sentir vontade”, rouba; se “achar bacana”, mata. É espécie de genocida, que incensa o dinheiro e o poder, como tantos que existem por aí.


O problema, queridinhos, é que suamos tanto para construir esse ente chamado “Cidadão”, essa coisa chamada de Democracia, essa coisa chamada “sociedade de direitos”, que me parece, como direi, complexo, rifar tudo isso por causa desse “sociopata aparente”, desse tal de Daniel Dantas.


Lembro que estava em Canaã dos Carajás, num hotel, meio que isolada do mundo, quando estourou aquele caso da menina Isabella Nardoni.


E lembro que apesar de indignada, como todos vocês, com aquela violência, fiquei a pensar: mas, que diabos? Vão decretar a prisão preventiva desses dois para que o processo corra mais rápido? Foi isso mermo o que ouvi, no noticiário da Globo, com o repórter achando tudo isso bacana?


Quer dizer, dois cidadãos serão mantidos presos por causa do emperramento do Judiciário, por causa da incompetência do Estado, foi isso mermo o que ouvi?


Passou-se. Mergulhei no trabalho. O caso arrefeceu.


Mas, até hoje, aquilo ficou martelando na minha cabeça: vamos prender o cidadão, para que o Estado funcione, cumpra o dever para o qual, aliás, é regiamente pago.


A que ponto chegamos neste país, né mermo?, maninhos, nós, os formadores de opinião...


Andamos tão revoltados com a corrupção e com a injustiça que achamos muito natural pegar dois cidadãos e jogá-los no fundo de uma prisão infecta, simplesmente, porque “achamos” que são culpados...


E se, afinal, contra tudo o que vem sendo divulgado, constatar-se que são inocentes?


Quem pagará o que sofreram? – se é que existe alguma coisa, neste ou no outro mundo, que possa pagar...




III



No caso em tela, o do cidadão Daniel Dantas, parece-me que acontece coisa semelhante: vamos mantê-lo preso para que deponha; para pressioná-lo a dizer o que achamos (e esperamos) que venha a dizer...


E mermo que depoimentos, “confissões”, em circunstâncias extenuantes, não tenham esse valor que o nosso ideário judaico-cristão gosta de imaginar...


Ou, pior ainda, vamos mantê-lo preso para que experimente, ao menos que por uma noite, o inferno, embora que melhorado, das prisões brasileiras.


Vamos nos vingar dessa empáfia, desse nariz empinado que parece imaginar-se acima da Lei!...


Afinal, temos milhares, milhões de pretos, pobres e desprotegidos a superlotar as nossas prisões!... Então, que esse Barão, que esse rico, experimente isso, também!...


Mas que raciocínio tortuoso esse!...


Em primeiro lugar, quem foi que disse que a Lei nasceu para ser um mero instrumento de vingança social ou pessoal?


Uma coisa que pudéssemos usar para “restituir” a dor, a mágoa, a raiva realmente sentida, ou até uns meros recalques cotidianos?


Se é apenas para isso que se presta a Lei no moderno Estado de direitos, então, porque não voltarmos à lei de talião?


Aliás, sairia até mais barato queimarmos, enforcarmos, cortarmos as mãos, arrancarmos um olho em praça pública, ali mesmo, na efervescência da multidão, ao invés de mantermos toda essa arquitetura de direitos...


Mas, e se depois descobríssemos que enforcamos, queimamos, apedrejamos, cortamos a mão, arrancamos um olho ao inocente?


Que seria, desgraçadamente, de nós?




IV


Reportagem investigativa é uma coisa complicada e perigosa.


A gente vai ao limite da Democracia e da Justiça.


E é por isso que já ando até querendo deixar disso e ir fazer umas matérias bacanas, do cheiro-cheiroso do Ver-o-Peso.


Nós, os repórteres investigativos, como que conduzimos o sujeito, o cidadão à arena...


Embora que, muitas vezes, até fiquemos insistindo em chamar de indícios o que são, em verdade, provas...


Ou, como me disse, certa vez, um indignado técnico do TCU: “Vocês ficam desqualificando o trabalho da gente, chamando isso de indícios... Mas, isso são provas!... Provas!”


Obviamente, compreendi a indignação dele. Mas, continuei a bater apenas o suficiente, para acionar a Justiça.


Não é bacana aleijar. Bacana é levantar a ponta do véu e permitir o direito de defesa, até o veredicto final...


Mas, isso nem é chamado a essa história...




V




Para mim, o que ocorre no caso desses cidadãos ricos, que são super-expostos com braceletes prateados, é uma inversão de raciocínio.


Ora, pensamos, se tantos milhões de brasileiros pobres passam por isso, por que é que eles não deveriam passar?


Mas, na verdade, o correto seria pensarmos o seguinte: nenhum cidadão inocente pode passar por isso.


Quer dizer, não é simplesmente arrastando os muitos ricos pela lama em que chafurda, há 500 anos, a sociedade brasileira, que vamos, afinal, resolver os nossos problemas existenciais.


Mas, sim, ao garantir que nenhum cidadão, por mais pobre que seja, possa ser exposto a um espetáculo tão deprimente.


E a impressão que me fica, nesse negócio dos “ricos algemados”, é a de duas coisas.


Primeiro a de simplesmente purgarmos, através disso, a nossa inércia diante do desrespeito a que são submetidos, todo santo dia, milhares de cidadãos - e nós mesmos - por sua simples condição social.


Trata-se de coisa meio que psicanalítica: por um momento, nós, os classe média, nós, os intelectuais, nós, os formadores de opinião, nos sentimos como que quites com o mundo, por tudo o que, “sabujisticamente”, suportamos. Afinal, o rico algemado é o chefe imediato, o vizinho, o dono do apartamento, o patrão...


É como se aqueles “belos braceletes”, nem que fosse por um momento, nos redimissem da inércia em relação às nossas próprias vidas e às vidas de tantos milhões...


Em suma, diria alguém: trata-se de mera euforia catártica...


Em segundo lugar, essa “euforia braceletária” ajuda a esconder outra culpa bem mais profunda em nós.


Por que é que existem, no Brasil, tantos daniéis Dantas?


Por que é que eles estão ali, ricos, belos e indomáveis, em sua sanha de poder?


Quantas vezes, em nosso cotidiano, não incensamos isso, essa coisa do “jeitinho brasileiro”, essa coisa da “lei do mais forte”, essa coisa da “esperteza”?


Quantas vezes não ajudamos, por nossas crenças, a formar novos e novos daniéis Dantas?


Quantas vezes deixamos de devolver o troco que nos foi dado a mais, pelo rapaz ou pela moça, que imaginamos, por isso, burro?


Ao invés de chegarmos e dizermos aquele cidadão, que, por alguma razão, talvez estivesse meio que “despassarado”: “você me deu dinheiro a mais!”.


Quantas vezes já não pisamos no pescoço da própria mãe, apenas para subir socialmente, “porque não sou burro de não aproveitar essa chance”?


Quantas vezes esse raciocínio já não esteve presente em cada brasileiro?


Quantas vezes já não parimos um Daniel Dantas?




VI



Mas, este post não pretende se apoiar em qualquer falácia, em um apelo básico à piedade, digamos assim.


Quer ser uma coisa lógica.


E coisa lógica é que o cidadão Daniel Dantas, apesar de tudo o que eu penso dele, do que eu imagino dele – que rouba, quando sente vontade; que mata, quando quer; que estuprou a menininha que morava ali embaixo – em verdade, não oferece um perigo objetivo à sociedade.


Até prova em contrário, nunca matou nem estuprou ninguém.


Também, que eu saiba, nem dirige bêbado, nem sai por aí dando porrada nos outros.


E o meu conceito dele, de genocida, tenho de admitir, é meramente subjetivo; uma crença derivada das minhas convicções acerca do uso do dinheiro público.


Mais que isso: assim como os Nardoni, Daniel Dantas não pode ser mantido preso apenas para que o Estado, a Justiça, funcione a contento.


Se a polícia não colheu provas suficientes e as provas destrutíveis que ficaram são tantas que podem até interferir no resultado do julgamento, a culpa é da polícia, não do cidadão Daniel Dantas.


Se ele não fala, apesar de todos os grampos; se, apesar de todas as investigações, não se consegue estabelecer a ligação objetiva dele a um grupo criminoso, a culpa é da polícia, não do cidadão Daniel Dantas.


Se ele oferece dinheiro, propina, suborno a um delegado ou investigador e o agente público aceita, a culpa é da polícia, do Estado, não, apenas, do cidadão Daniel Dantas.


É corruptor? É sim. E tem de pagar por isso, se – e se – tal for provado.


Mas, isso não exime nem mesmo a simples “tentação” dos cidadãos, dos agentes públicos, pagos – e muito bem pagos, para a maioria dos brasileiros.


Se eles se sentem tentados, apesar do que ganham, apesar dos sistemas de controle da sociedade e do Estado que deveriam existir, a culpa continua sendo deles e da sociedade – e não do cidadão Daniel Dantas.


Daniel Dantas não é “O” grande Satã da sociedade brasileira.


Mesmo que fosse, teria de ser respeitado em direitos básicos, como são até mesmo os traficantes, que obrigam o Estado a gastar milhões para os regenerar.


E eu, pragmaticamente, os fritaria na cadeira elétrica, assim como fritaria a todos os Dantas da vida, caso não dessem nem sinal de regeneração.


Porque, assim como não defendo, também não estou para sustentar, indefinidamente, bandido.


Pragmaticamente, faria isso, assim como estou a falar a vocês dos direitos que todos eles têm e que precisamos respeitar.


Não defendo bandido. Mas, defendo, sim, o direito de defesa.


E o direito de os cidadãos, por piores que nos pareçam, não serem simplesmente penalizados pela incompetência do Estado.



FUUUUIIIIII!!!!