terça-feira, 28 de junho de 2022

Não, minion, essa dor não vai passar...




Sabe, minion, você pode acabar com todos os gays e feministas do mundo.

Mas nada disso mudará um centímetro da sua vida.

Você continuará mergulhado nessa amargura infinita.

Você continuará se arrastando por esses dias longos e sem sentido, dolorosamente iguais.

O problema é que você resolveu procurar a culpa pela sua dor no lugar errado.

Ou melhor: você resolveu se esconder em um mundo de fantasias e enchê-lo de espantalhos, para ter a quem culpar.

É cômodo, não é?, dizer que não conseguimos o “reconhecimento” a que temos direito, por culpa daquela feminista ou daquele gay.

É fácil, não é?, gritar por aí que o passado é que era bom, porque, hoje em dia, os gays e as mulheres já não sabem “o seu lugar”.

É bom, não é minion?, viver de certa forma a vida dessas pessoas: andar sempre a vigiá-las, saber o que dizem, o que fazem, o que pensam.

E até xingá-las, ofendê-las, feri-las, vê-las também a sentir dor...

Enquanto bem lá no fundo da alma, lá onde ninguém enxerga, a gente tenta sufocar toda a admiração que sente por elas.

Ah, quem dera se pudéssemos trocar de lugar com elas!...

Quem dera se pudéssemos ser aquela mulher independente, que não dá satisfações a ninguém, e que ainda por cima tem todo aquele corpão!...

Quem dera, se pudéssemos ser aquele gay tão de bem com a vida, que apesar de todos os preconceitos é tão admirado e feliz!...

Quem dera, se pudéssemos ser aquelas princesas e príncipes encantados, que lutam contra dragões, bruxas e encantamentos, e realizam todos os sonhos do mundo!

Quem dera se, num passe de mágica, pudéssemos deixar de ser quem realmente somos: velhos, tristes, desiludidos e com todo esse pavor de olhar para dentro de nós!...

Onde foi que nos perdemos de nós mesmos, minion?...

Quando foi que decidimos nos conformar com esse vazio; com essa vida que não tem nada a ver com a vida que imaginamos para nós?...

Lembra, minion, quando você era jovem e sonhava em ser um grande engenheiro, médico, advogado, artista, empresário?

Ou até uma esposa e mãe extraordinária, ao lado de um marido amoroso, que fizesse você se sentir a mais maravilhosa mulher do mundo?

Lembra que você passava horas imaginando como seria a sua vida? 

O orgulho dos seus pais, da sua mulher, do seu marido, dos seus filhos.

As homenagens que receberia, a aprovação e a admiração dos seus vizinhos e amigos, por tudo aquilo que você conseguiu conquistar.

Lembra quando você encontrou aquele amor de novela?

Lembra que você passava horas imaginando como seria quando estivessem velhinhos, cercados de netos, os cabelos branquinhos, mas com os olhos ainda a refletir todo aquele sentimento, tão vasto quanto o mar?

Mas e hoje, minion?

Cadê as homenagens que você achou que receberia?

Cadê a admiração dos seus filhos?

Cadê os seus amigos, minion?

Cadê aquele amor tão imenso que você sentiu, e que também sentiram por você?

Não, você não vai encontrar respostas na vida dos gays e das feministas, que você tanto gosta de espiar.

Eles não têm nada a ver com essa coisa horrível em que a sua vida se transformou.

Eles não têm nada a ver com toda essa amargura e com todo esse ódio que tomaram conta de você.

Eles são apenas os espantalhos que você arranjou, para não ter de encarar a raiva que sente de você mesmo e dessa sua vida sem sentido.

Não, minion, não há como fazer o mundo voltar ao passado.

Não há como fazer desaparecer um casamento infeliz, um trabalho que a gente odeia, as derrotas ou as perdas que sofremos ao longo da vida.

Tudo isso ficará em nós para sempre, com as marcas que deixaram em nosso coração.

E se a gente quiser recomeçar, é o hoje, o presente, que tem de ser o ponto de partida.

E toda essa nova jornada, em busca daquilo que a gente quer, acontecerá no mundo real, e não nesse mundo de fantasias em que você se fechou.

Porque não há reza, oração, "meditação quântica", “Ratanabá” ou palavra mágica que faça a realidade desaparecer.

E mesmo que você insista em sonhar para sempre, a realidade ao seu redor e esse vazio em seu peito continuarão exatamente iguais.

Sabe, minion, vou lhe contar um segredo: o mundo sempre foi o mesmo, nas cavernas, na Idade Média, ou no Século 21.

Sempre cheio de ameaças, perigos, proibições, desaprovações, e forças que a gente não consegue controlar.

E o que faz a diferença é o quanto a gente luta para conseguir o que realmente quer.

É isso que faz com que cada uma das nossas conquistas tenha um sabor sem igual.

É isso o que nos torna tão especiais aos olhos de nós mesmos.

É isso o que faz com que nos respeitemos, em vez de vivermos à espera do reconhecimento ou da aprovação dos outros.

Não há outra saída, minion.

Ou você enfrenta a realidade e luta pelo que deseja, ou continuará se arrastando com toda essa dor.

Liberte-se dessas mentiras do WhatsApp: são elas que estão lhe impedindo de enxergar a realidade e se livrar de toda essa amargura.

Acorde, minion!

Tenha coragem, acredite em você!

Lute, minion, lute pela sua felicidade, antes que seja tarde demais.

FUUUIIIII!!!!!

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Bolsonaro prepara armadilha para o povo brasileiro: queda dos preços dos combustíveis à custa do ICMS vai gerar buraco bilionário nas contas dos estados e municípios. Saúde e Educação serão prejudicadas: só o Fundeb perderá R$ 19 bilhões. Manobra eleitoreira não evitará novos aumentos: verdadeiros culpados da alta dos combustíveis são o PPI da Petrobras e a desvalorização do real. Lucro da Petrobras aumentou 3.718%. Entre 2016 e o ano passado, inflação foi de 17,7%, mas gasolina subiu 73%, e o gás, 192%, nas refinarias. Em 2021, acionistas da Petrobras lucraram R$ 101 bilhões. Buraco nas contas dos estados e municípios terá de ser tapado com dinheiro de impostos e vai explodir no colo do próximo presidente.




Bolsonaro e o Centrão preparam uma armadilha para o povo brasileiro: a redução dos preços dos combustíveis à custa da diminuição do ICMS, o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, que é a principal fonte de recursos dos estados e municípios.

Tudo para tentar melhorar a situação eleitoral do atual presidente da República, já que todas as pesquisas indicam que ele será derrotado pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, talvez já no primeiro turno das eleições, em 2 de outubro.

A artimanha custará caro à população, principalmente a mais pobre: a súbita perda do dinheiro do ICMS provocará um rombo bilionário nos orçamentos dos estados e municípios, já a partir deste ano.

Com isso, haverá menos dinheiro para a Saúde, a Educação e a Segurança, por exemplo, que irão piorar ainda mais.

Só o Fundeb, que é o fundo que financia a educação básica das escolas públicas, poderá perder mais de R$ 19 bilhões.

Mas, com a artimanha, Bolsonaro e o Centrão esperam conseguir uma diminuição dos combustíveis até as eleições, para convencer os eleitores de que a culpa da alta de preços é dos governadores e do ICMS.

Depois das eleições, seja o que o diabo quiser.

O problema é que essa manobra eleitoreira tem tudo para não funcionar, além de criar uma bomba que explodirá no colo do próximo presidente.

Economistas fizeram as contas e descobriram que a redução do ICMS dos combustíveis para 17%, como querem Bolsonaro e o Centrão, diminuirá o preço da gasolina em uns poucos centavos (veja adiante).

Além disso, mesmo que se cortem todos os impostos dos combustíveis, a tendência é que eles continuem a subir.

Isso porque Bolsonaro se recusa a mexer nos verdadeiros culpados pelo problema: o Preço de Paridade Internacional (PPI) e a política de desvalorização do real.

O PPI foi adotado pela Petrobras em outubro de 2016, pelo então presidente da República, Michel Temer, pouco depois do golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff.

Com o PPI, a Petrobras passou a reajustar os preços dos combustíveis, nas suas refinarias aqui no Brasil, de acordo com o preço do petróleo no mercado internacional, onde o comércio é feito em dólares.

Assim, sempre que os preços sobem lá fora, sobem também aqui.

A coisa toda piorou com a política econômica de Bolsonaro, que levou à forte desvalorização do real em relação ao dólar.

Um fato que beneficia, por exemplo, os milionários do agronegócio, que estão entre os principais apoiadores do presidente, e passaram a exportar mais, já que os seus produtos ficaram mais baratos para outros países.

O resultado é que se vê: alta dos combustíveis, aumento da inflação, empobrecimento da população.

E tudo isso apesar de o Brasil ser um grande produtor mundial de petróleo; de os custos de produção da Petrobras terem até caído; e de ela ser uma empresa estatal, que deveria ter uma finalidade social, como sempre ocorreu desde a sua criação, em 1953.

O PPI e a desvalorização do real trazem lucros impressionantes para os acionistas da Petrobras.

O maior desses acionistas é o próprio Governo Federal, comandado por Bolsonaro.

É ele que indica o presidente da empresa e poderia, se quisesse, até acabar com o PPI (https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2022/05/12/bolsonaro-poder-petrobras.htm).

No entanto, ele não fez e nem fará isso, já que entre os acionistas da Petrobras também estão milionários e bilionários, do Brasil e do exterior.


Acionistas da Petrobras lucraram R$ 101 bilhões, em 2021


No ano passado, enquanto a população brasileira sofria com a alta dos combustíveis, a Petrobras anunciava um lucro de R$ 106 bilhões, o maior de sua história.

Desse total, R$ 101 bilhões foram entregues aos seus acionistas Aqui: https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/petrobras-eleva-pagamento-de-dividendos-a-acionistas-em-2021-total-passa-de-r-101-bilhoes/ 

E aqui: https://www.brasildefato.com.br/2022/05/06/bancos-aplaudem-e-petrobras-reafirma-compromisso-com-gasolina-cara-e-lucro-alto 

Já no primeiro trimestre deste ano, o lucro líquido da empresa bateu novo recorde: R$ 44,5 bilhões.

Um lucro 3.718% superior ao registrado no primeiro trimestre do ano passado.

As suas receitas líquidas com a venda de óleo diesel cresceram 54,5%; com a venda de gasolina, 75,3%; com o gás de cozinha, 23%; com querosene de aviação, 122,3%, também em relação ao primeiro trimestre de 2021.

Os dividendos que ela distribuiu os acionistas foram de R$ 48,5 bilhões (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/05/petrobras-lucra-r-445-bi-e-anuncia-r-485-bi-em-dividendos.shtml ).

Veja o Relatório de Desempenho da empresa: https://drive.google.com/file/d/1qFOOAQdAUrMxi3KsfNFyF1OFl5CUEbLL/view?usp=sharing

“O foco da Petrobrás hoje é gerar e distribuir valor, principalmente para acionistas privados. Mais de 45% são investidores estrangeiros, com ações da Petrobrás nas bolsas de São Paulo e de Nova Iorque”, diz Deyvid Bacelar, coordenador geral da FUP, a Federação Única dos Petroleiros.

“Os gestores da empresa socializam os investimentos e privatizam os lucros. Quem paga os dividendos para os grandes fundos de investimentos nacionais e internacionais é o povo brasileiro” (https://www.cut.org.br/noticias/petrobras-registra-novo-superlucro-e-acionistas-vao-embolsar-mais-r-48-bilhoes-0291).

Segundo Nota Técnica do DIEESE, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, a gasolina subiu 73,3%, nas refinarias da Petrobras; o diesel subiu 54,8%, e o gás de cozinha, 192%, entre outubro de 2016, quando ela adotou o PPI, e 2 de março do ano passado.

No mesmo período, a inflação foi de apenas 17,7%.

Mais: em 2019, o Brasil se tornou o 10º produtor mundial de petróleo e o seu parque de refino era o 9º do mundo.

Para completar, o custo de produção, nas refinarias da Petrobrás, caiu 31%, entre 2016 e 2020.

Leia a íntegra da Nota: https://drive.google.com/file/d/1BVXZW-tshB5UzdlymIcsnST9hXk2pYA0/view?usp=sharing


Bolsonaro recorre ao Centrão e ataca cofres estaduais


Mas para não mexer nos lucros bilionários da Petrobras, Bolsonaro resolveu atacar os cofres estaduais e municipais.

No último 25 de maio, com o apoio do Centrão, ele conseguiu que a Câmara dos Deputados aprovasse um projeto de lei limitando em 17% o ICMS dos combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transportes coletivos.

Agora, o projeto se encontra no Senado Federal, onde deverá ser votado na próxima segunda-feira (13/06), e a tendência é que seja aprovado também.

O problema é que a redução do ICMS vai provocar uma queda de preços muito pequena e temporária.

Segundo o Instituto Combustível Legal e analistas ouvidos pela rede de TV CNN, a maior queda do litro da gasolina será de R$ 1,15, no estado do Rio do Janeiro.

As outras maiores reduções ocorrerão nos estados de Minas Gerais (R$ 0,94), Piauí (R$ 0,91), Rio Grande do Sul (R$ 0,86) e Goiás (R$ 0,85). Em São Paulo, ela será de apenas 48 centavos (https://www.cnnbrasil.com.br/business/teto-do-icms-reducao-na-gasolina-pode-chegar-a-r-115-por-litro-dizem-economistas/).

O próprio autor do projeto, o deputado federal Danilo Forte, do partido União Brasil, disse à imprensa que estima uma queda de 9% a 12%, no preço da gasolina, e de 11% no preço da energia.

Mas isso, é claro, se as empresas baixarem seus preços nos mesmos percentuais, coisa em que ninguém acredita.

Até porque os governadores congelaram o ICMS, em novembro do ano passado, e mesmo assim os preços dos combustíveis continuaram subindo.

Assim, os bilhões de reais de arrecadação que os estados e municípios já perderam com esse congelamento, e que deveriam ter beneficiado toda a população, acabaram, aparentemente, nas mãos de uns poucos.

“O ICMS sobre o óleo diesel está congelado desde novembro do ano passado, quando o combustível estava custando R$ 4,90, e hoje já está R$ 7,00. Essa diferença foi para o bolso de quem? O consumidor se beneficiou? Claro que não”, disse o governador da Bahia, Rui Costa, no último dia 8, durante reunião entre os governadores e senadores (https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/06/08/combustiveis-governadores-resistem-ao-plp-18-e-negociacoes-sobre-icms-continuam).

Além disso, basta um novo aumento de preços, nas refinarias da Petrobras, em decorrência do PPI e da desvalorização do real, para que os combustíveis voltem a subir.


Perda do Fundeb pode chegar a R$ 19 bilhões


Mas o pior é que a súbita redução do ICMS para 17% será devastadora para os estados e municípios, e para a população em geral.

A perda de recursos, para os estados e municípios, poderá ser de até R$ 83,5 bilhões por ano, diz o Comsefaz, o Comitê Nacional de Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal (https://comsefaz.org.br/novo/index.php/2022/05/26/camara-aprova-projeto-devastador-para-as-financas-de-estados-e-municipios/).

Se isso ocorrer, alerta a ONG “Todos Pela Educação”, o Fundeb, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, perderá até R$ 19,2 bilhões, ainda neste ano.

Com isso, os municípios que mais dependem do Fundeb poderão enfrentar dificuldades para tocar obras em andamento, operacionalizar o transporte escolar, e até mesmo para “honrar” os salários dos trabalhadores da Educação.

“Comparativamente, R$ 19 bilhões é mais do que a União destinou para a complementação da União ao Fundeb em 2021 e é praticamente cinco vezes o valor do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para 2022”, diz a nota da ONG (https://drive.google.com/file/d/10yW5quDRKVFJlvb5Txv7OJvdlNGiEXSm/view?usp=sharing).

No Pará, a previsão é que os 144 municípios amarguem uma redução de quase R$ 1,2 bilhão de ICMS, até 2024, segundo um levantamento da CNM, a Confederação Nacional dos Municípios (https://drive.google.com/file/d/1ianzEYzHCPp_brcN-z4Q4nRsPK5KBEBL/view?usp=sharing).

No Governo do Estado, o cálculo é de uma perda de até R$ 1,760 bilhão, em seis meses, e de R$ 2,759 bilhões, em um ano, o que levará à redução de recursos da Saúde e da Educação, e também dos repasses a outros poderes, como o Judiciário e a Defensoria Pública, com impactos nos serviços à população mais vulnerável.

Segundo um documento publicado há poucos dias pela Fecombustíveis, a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes, hoje a menor alíquota de ICMS da gasolina tipo C é de 23%, no estado do Mato Grosso.

Acre, Amapá, Amazonas, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina e São Paulo cobram 25%.

Rondônia cobra 26%; Espírito Santo e Distrito Federal, 27%.

Bahia e Pará, 28%

Alagoas, Ceará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins, 29%

Goiás e Mato Grosso do Sul, 30%; e o Maranhão, 30,5%.

Minas Gerais e Piauí, 31%

A maior alíquota, de 34%, é cobrada pelo estado do Rio de Janeiro, onde é esperada a única queda de preços acima de 1 real por litro, apenas em se tratando de ICMS (https://drive.google.com/file/d/1F1NvI99gRjPSJ4fbwkfvKM4_LoQWfWcz/view?usp=sharing).


Governo Federal tem R$ 4,8 trilhões. Todos os estados, somados, R$ 1,120 trilhão


São os municípios que cuidam de praças, iluminação pública, limpeza das ruas, ensino básico, UPAs, prontos socorros.

Já os governos estaduais tratam do saneamento, fornecimento de água, segurança pública, atendimento hospitalar, ensino médio e até universitário, construção e manutenção de estradas estaduais, por exemplo.

Mesmo assim, é o Governo Federal quem abocanha a maioria dos impostos recolhidos da população.

Só para este ano, o orçamento do Governo Federal supera R$ 4,8 trilhões.

Já os orçamentos de todos os 27 estados e Distrito Federal somam cerca de R$ 1,120 trilhão.

A disparidade de recursos obriga a que os estados recorram ao Governo Federal, sempre que enfrentam graves dificuldades financeiras.

E o que se comenta, nos bastidores políticos, é que um dos objetivos dessa redução do ICMS é fazer com que os governadores tenham de recorrer a Bolsonaro, que assim poderia tentar negociar o apoio deles à sua reeleição.

Afinal, como disse à CNN o economista Alexandre Schwartsman, tudo o que os estados poderão fazer para compensar tais perdas é “basicamente, sentar na sarjeta e chorar”.

Segundo Schwartsman, as perdas de ICMS praticamente eliminarão o superávit dos estados, gerando uma situação “absolutamente devastadora”.

Além disso, não resolverão a alta dos combustíveis, “que não tem rigorosamente nada a ver com o ICMS”.

Para ele, tudo o que se vai conseguir com essa redução tributária é “ferrar” as contas dos estados e “provocar um desastre, e um desastre que não será daqui a 5 anos, mas que nos espera já no ano que vem” (https://www.youtube.com/watch?v=cgcb2hsc0hM).


Uma bomba para o próximo presidente


Um dos grandes problemas dessa perda de recursos é que ela ocorrerá no meio do ano e distante da elaboração do próximo PPA, o Plano Plurianual.

Por força de Lei, o Poder Público tem de obedecer a um planejamento de seus gastos.

Um dos principais instrumentos desse planejamento é o PPA, que define os objetivos para os próximos quatro anos, e como é que eles serão alcançados.

O PPA traz até mesmo uma estimativa, ano a ano, do crescimento da arrecadação e das despesas.

E é com base nesse plano que os estados e municípios fazem os seus orçamentos anuais: eles pegam a estimativa dos recursos que terão para aquele ano e distribuem pelos diversos setores, programas e ações em que deverão ser gastos.

A redução do ICMS, no meio de um ano e distante do próximo PPA, pega esse bonde andando e o obriga a desacelerar, ou até mesmo a parar.

Até porque grande parte dos orçamentos dos estados e municípios são feitos de recursos que não podem ser tirados daqui e colocados ali, como a gente faz em casa.

Há as chamadas “verbas carimbadas”, que têm de ser gastas em um determinado setor, como é o caso do dinheiro do Fundeb.

Outro tanto se destina a pagamentos que não dá para dar calote. E, às vezes, nem para adiar.

É o caso dos salários dos servidores públicos e do pagamento dos fornecedores de materiais para os hospitais, por exemplo.

É o caso das dívidas milionárias que os estados e municípios já possuem, e que, se não pagarem, acabarão em uma espécie de SPC/Serasa federal, ficando sem empréstimos para as obras que estão realizando, ou que pretendem realizar, já que estão previstas no PPA.

Assim, a súbita perda de recursos pode obrigar a cortes do “custeio”, que são as despesas para o funcionamento da máquina pública: luz, água, combustíveis, materiais para os postos de saúde, por exemplo.

Pode obrigar até mesmo a demissões.

Pode obrigar, ainda, ao corte dos investimentos: em geral, obras de construção civil, que aquecem a economia e geram milhares de empregos.

Ainda pior, porém, é se nem esses cortes resolverem o problema e a redução do ICMS provocar, como diz Schwartsman, a “eliminação do superávit” dos estados.

Porque isso significa que vários deles se tornarão deficitários, ou ainda mais deficitários.

Em outras palavras: os estados e municípios que já possuem menos dinheiro do que as despesas que têm, ou seja, que são deficitários, poderão acabar em situação desesperadora.

Já os estados e municípios que têm mais dinheiro do que aquilo que gastam, poderão acabar deficitários.

Os rombos nos orçamentos, de Norte a Sul do Brasil, obrigarão o Governo Federal a arranjar dinheiro público, dinheiro de impostos, para repassar aos estados e municípios, que, sem isso, não terão como pagar as suas contas.

Só que há um problema: o Governo Federal também já é deficitário. E se resolver “imprimir dinheiro”, acabará alimentando a inflação.

É uma bomba impressionante, que vai explodir no colo do próximo presidente da República.

E tudo para não mexer nos lucros bilionários dos acionistas da Petrobras, e ainda "fazer média" junto ao eleitor.