Passei a semana atarantada com o trabalho. Mas, também tive tempo de pensar na gafe que cometi em relação à idade mínima para governador – e eu, novamente, agradeço a consideração e delicadeza do deputado Vic Pires Franco, em me chamar a atenção para um erro tão grosseiro.
Pensei muito sobre isso. E acabei chegando à conclusão de que errei na entrada, mas, acertei na saída.
Afinal, a opinião que expressei foi a de que Helder Barbalho não será candidato ao Governo do Estado, em 2010.
Sustento isso, contra todos os prognósticos que estão a ser feitos neste momento. E explico por que.
II
Em primeiro lugar, creio que seria suicídio político uma eventual insistência de Jader, na candidatura de Helder, ao Governo, daqui a dois anos.
O problema é que Helder é um garoto que ainda terá de comer muito feijão, até habilitar-se, de fato, à governança.
Helder patinou na gestão de uma prefeitura – e olhem que não se trata nem da prefeitura da capital, com seus gigantescos problemas, que dizem respeito a uma população três vezes maior que a de Ananindeua.
Helder não fez nem o básico: não foi capaz, por exemplo, de visualizar o mapa político do município, para concentrar investimentos nas áreas mais densamente povoadas.
Não conseguiu eleger outro critério para compor o secretariado, além da simples amizade.
E nem marcou presença, cotidianamente, entre a população, o que nem é assim tão difícil, num município como Ananindeua: bastaria, por exemplo, que tivesse tirado um dia por semana, para percorrer os bairros e ouvir a população, para que não se encontrasse em situação eleitoralmente aflitiva.
Mais grave, ainda, é que faltam ao herdeiro político de Jader noções mais densas de administração pública, digamos assim...
O garoto precisa aprender que não basta o blá-blá-blá, a articulação razoavelmente correta do discurso, do ponto de vista puramente político, formal. Ou o tom de voz idêntico ao do pai.
É preciso rechear a oratória de conhecimento efetivo, demonstrar domínio dos meandros da administração.
Saber, de fato, o que se está a fazer e o que se pretende fazer à frente de um município.
Para apontar o caminho ao restante da “corte” e despertar, nos ouvintes, o amor, o compromisso com a liderança que se está a cultivar.
Mas, tudo isso demanda vontade e gasto de neurônios: é dedicação em aprender.
Demanda grande dose de humildade.
Coisa difícil de fazer brotar no coração de quem nasceu em berço de ouro...
Qualidade, enfim, que só o tempo e as muitíssimas “horas de estrada” são capazes de construir...
III
Se estivéssemos a falar, apenas, da platéia, da massa eleitoral, talvez que até pudéssemos pensar numa prestidigitação básica – aquela manipulação simbólica que a maioria de nós, que trabalha em política, sabe realizar – para fazer de Helder uma opção à governança, em 2010.
Mas, o problema são os lobos; as alcatéias que, desde pequenininhas, aprenderam a não acreditar em Papai Noel... E que têm pleno domínio da informação, especialmente aquela que a manipulação e a grande mídia buscam esconder...
Mesmo tendo um partido de grande porte, o maior do Pará, como é, efetivamente, o PMDB, Helder precisaria do apoio de outro(s) grande(s) partido(s), para chegar ao poder.
E quem o apoiaria? O PT? O PSDB?
Não, é mais inteligente jogar assim: Jader para o Senado, agora que o arquiinimigo ACM vocifera sabe-se lá onde, e que a Veja já tem até parceria dominical com o Diário...
Até porque, em 2010, serão duas vagas para o Senado – as de Flexa e Nery, dois candidatos eleitoralmente fracos.
Nesse caso, Helder seria vice-governador – do PT ou do PSDB.
O PMDB ficaria com uma ampla fatia no Governo, obtendo para Helder, também, uma secretaria de expressão, na qual pudesse crescer política e administrativamente.
Tudo sob os cuidados do pai, com poderes ainda mais amplos, devido à cadeira no Senado Federal.
IV
É claro que há duas outras hipóteses: Helder para o Senado ou para deputado estadual, para ascender à presidência da Assembléia Legislativa.
Mas, ambas me parecem problemáticas.
Não que o herdeiro político de Jader não tenha condições de sair vitorioso.
Para a Assembléia Legislativa, não precisaria nem sair de casa.
Para o Senado, as chances são muito boas, porque teria o fervor da máquina eleitoral que é o PMDB. E, dependendo do acordo político, o apoio de outro grande partido.
Penso, portanto, que o problema não está na viabilidade eleitoral de tais hipóteses.
Mas, no fato de que ambas não resolvem a baixa capacidade política e administrativa de Helder – uma falha que precisa ser sanada, para que possa, um dia, chegar a governador.
É certo que o Senado é uma escola extraordinária.
Mas, pegar um garoto que patina numa prefeitura e jogá-lo no Senado seria o mesmo que pegar um aluno do jardim da infância e mandá-lo para a universidade.
Os riscos seriam demasiado grandes, devido aos “zolhões” da imprensa nacional e dos inimigos locais.
E é provável que nem o monitoramento constante e atento de uma raposa política como Jader, conseguisse evitar um tombo, talvez fatal, para a carreira do garoto.
Além disso, o Barbalho-mor não é eterno – e, certamente, sabe disso...
Por isso, precisa que o herdeiro aprenda a caminhar com as próprias pernas. Embora que num ambiente razoavelmente seguro.
V
Vou, então, partir da hipótese que me parece a mais inteligente, entre aquelas que consigo visualizar: Helder para vice-governador, em 2010.
Nesse caso, com quem seria a aliança do PMDB? Muito provavelmente com o PSDB.
Ora, alguém pode perguntar: mas, se a idéia é fazer de Helder, futuramente, o governador, não seria mais razoável a aliança com o PT, vez que, em 2014, Ana não poderá mais ser candidata ao Governo, o que, em tese, facilitaria a ascensão do vice?
A pergunta-argumento seria razoável, de fato, se Ana não pertencesse ao PT.
Pois, como disse, certa vez, Hélio Gueiros, essa outra raposa política, o problema é que o PT não faz (cumpre) acordo nem com ele mesmo.
Podemos até imaginar, ainda que remotamente, que os petistas cedessem a vice ao PMDB e, além disso, não o fizessem comer o pão que o diabo amassou.
Mas, certamente, quando chegasse em 2014, ele seria afastado da disputa, por alguma tendência insurreta – e o PT as possui em profusão.
Até porque as bases petistas só fazem campanha – e, às vezes, até nesse caso, a contragosto – para outro petista.
Com o PSDB, as chances são um pouco melhores.
Valéria, por exemplo, apesar de ser do PFL, foi amplamente digerida pelos tucanos – e eu tive a oportunidade de ver tucanos históricos gritando, empolgados, o nome dela, na convenção do PSDB, em 2006.
Agora mesmo, há um amplo contingente tucano, ansioso por apoiá-la para a Prefeitura de Belém.
E que só não o fará se Jatene for candidato a prefeito – o que é improvável, dada a enormidade de parentes aboletados na administração Dudu...
Mais importante que tudo isso, porém, é o agora. A premência de garantir a reeleição de Helder.
Isso porque a vitória de Helder, em Ananindeua – e conseqüentemente, o seu futuro político – dependem muito mais do PSDB do que do PT.
Se Jatene conseguir, ainda que por vias transversas, neutralizar o fator Pioneiro, a eleição de Helder estará garantida.
E o garoto terá dois anos, para se redimir dos “pecados” cometidos, nos primeiros quatro anos, naquela prefeitura.
Já se o fator Pioneiro continuar em cena, mesmo o apoio do PT não será suficiente para devolver o sono aos Barbalho.
Haverá, talvez, uma guerra cruenta, de resultados imprevisíveis. Mas, com prognósticos iniciais amplamente favoráveis a Pioneiro.
Lembro que, em entrevista recente, Flexa Ribeiro me disse algo precioso: “as alianças começam agora”.
É verdade: a definição do quadro de 2010 está a se desenhar diante dos nossos olhos, nas municipais.
Se Jatene neutralizar Pioneiro – é claro que, também, com a ajudinha do esforço gigantesco que está sendo feito por Jader – a estrada estará aberta, e mais que isso até asfaltada, para uma aliança tucano-peemedebista, daqui a dois anos.
Mais ainda com a incapacidade dos petistas em “ver”, de fato, o jogo político, para além das questiúnculas; para além das comezinhas disputas de poder entre as suas várias tendências – e até no interior de tais tendências.
O resto é buscar as necessárias fontes de financiamento, longe das esferas federal e estadual, ambas controladas pelo PT...
E o fato é que, concretizada tal dobradinha, ela será virtualmente imbatível.
Com dinheiro em caixa e os dois grandes grupos de comunicação da terrinha como aliados, tucanos e peemedebistas só perderão essa guerra se cometerem algum erro crasso - tipo enforcar a própria mãe em praça pública.
Coisa que, sinceramente, não vejo nem Jader nem Jatene a fazer...
E agora me desculpem, que eu vou me encachaçar em paz.
FUUUIIII!!!!!