Pefelistas e peemedebistas parecem, afinal, ter descoberto a roda.
Unidos, poderão de fato bagunçar o jogo e, quem sabe, até retomar o Governo do Estado.
Não lembro se escrevi sobre isso, ou se evitei escrever sobre isso, justamente pelo calafrio que me provoca.
Mas, essa dobradinha, se concretizada, poderá sim colocar em risco a manutenção do Governo do Estado nas mãos de tucanos e petistas.
Creio que não preciso falar sobre a miséria e a pobreza do nosso povo.
Quem escapa da primeira classificação, quase sempre cai na segunda.
Os segmentos com melhores condições de vida e nível educacional formam uma ínfima parcela.
A “massa crítica”, os chamados formadores de opinião e que estão engajados na política, quase cabe no bolso.
Daí que propostas assistencialistas, como as de peemedebistas e pefelistas, encontrem aqui um amplo campo para vicejar.
Na verdade, o que pode ser considerado exceção, excepcionalidade, é a conquista de poder pelos tucanos, em 1995.
Que ocorreu numa conjuntura bem diferente daquela que temos hoje: uma verdadeira crise institucional, desencadeada pelo “fator” Carlos Santos, após três anos de Jader.
Além disso, na esteira de um leque de alianças, que agora, certamente, não existirá.
Juntos, peemedebistas e pefelistas possuem um arsenal formidável.
Tempo de TV, prefeituras, vereadores, militância.
Uma figura carismática como Valéria, cujo apelo ao arquétipo da “Grande Mãe” pode simplesmente explodir, na esteira de uma boa estratégia de marketing.
Um líder carismático como Jader, com uma capacidade estratégica que chega a meter medo, devido à “clarividência” que possui.
Ambos, ainda, com comandos centralizados, o que faz com que seus exércitos marchem na direção determinada, sem defecções, “punhetas intelectuais”, reuniões intermináveis ou crises existenciais.
As “linhas de abastecimento” para a guerra virão não apenas do que já estocaram, mas, também, dos inúmeros empresários de mentalidade medieval que temos no Pará e em vários pontos do País.
Será que alguém é tão ingênuo a ponto de duvidar disso?
Mesmo na capital temos um prefeito que foi talhado nesses moldes assistencialistas.
E, sintomaticamente, ao segundo turno das eleições da capital, da cidade mais desenvolvida deste estado, seu opositor não era alguém de esquerda, mas uma liderança do mesmíssimo espectro político.
II
De quem partiu o aceno para esse “casamento” doloroso?
Não sei.
Ambos, Jader e Vic, são suficientemente inteligentes para projetar algo assim.
E o que me admira, na verdade, não é nem que estejam dispostos a se unir. Mas que tenham demorado tanto tempo para somar dois mais dois.
É claro que há muitas barreiras a essa união.
Uma das principais – e ele, certamente, não gostará do que vou dizer – é a instabilidade do Vic, sobejamente conhecida em todo o meio político.
Mas, se ele recuar e deixar que Valéria permaneça à frente das negociações esse obstáculo poderá ser facilmente ultrapassado.
Hábil, macia, inteligente, estável Valéria é, de fato, a “alma política” do casal.
Apesar do ideário pefelê e de ter permanecido apenas quatro anos numa posição de destaque na monarquia tucana, ela conseguiu conquistar mais corações entre essas aves ariscas do que o complicadíssimo Jatene, que foi governador e já escrevinhava a cartilha do PSDB até antes de Almir.
Nunca me esqueço do frisson que provocou na convenção do PSDB, em 2006, quando apareceu no palco: militantes tucanos se esgoelavam, gritando o nome dela.
E, ainda hoje, admiráveis quadros técnicos que perfilaram com os tucanos permanecem ao redor de Valéria.
Mais: ela tem, ainda, aquela espécie de ímã que permite arrastar multidões – vi isso em Capanema.
Em suma: é um problemão quando se está do lado oposto...
III
Outra barreira, talvez maior, é essa luta encarniçada entre os dois maiores grupos de comunicação do estado.
Um ligado diretamente aos peemedebistas. Outro, sem ligação direta, mas, certamente, simpático aos Pires Franco.
Do lado do PMDB é mais fácil prever a reação: na hora em que Jader der a ordem, toda a história recente será reescrita...
Mas, como reagirão os Maiorana, sem comando centralizado e com várias cabeças para dar piteco em tudo?
Os irmãos terão pragmatismo suficiente para superar o ódio a Jader e perceber o que podem ganhar mais adiante?
Até que ponto a máquina e as verbas de publicidade conseguirão mantê-los onde estão?
Até que ponto a simples expectativa de retorno à fartura de verbas que tiveram os levará a apoiar Jatene?
Ou a possibilidade da candidatura de Valéria ao Governo os levaria a aceitar nacos nem tão significativos, mas ainda assim expressivos desse bolo, dadas as maiores probabilidades de realização?
Penso que é realmente muito difícil que joguem do mesmo lado, até porque isso exigiria a mentalidade empresarial moderna, arejada, que não possuem: em ambos, Liberal e Diário, o que impera é o capitalismo selvagem - a busca, simplesmente, da destruição da concorrência.
Mas, em política, nada é impossível. Ademais, apesar das agatanhadas, ambos já repartem as verbas de publicidade, sob a batuta do PT.
IV
Além da afinidade ideológica, outros fatores contribuem para essa aliança: a maior facilidade na montagem da chapa às majoritárias, que seria negociada pragmaticamente, levando em conta, apenas, as possibilidades de vitória; e o trânsito que possuem Jader e Valéria entre outras lideranças partidárias igualmente conservadoras.
Ora, nem Jader nem Valéria estão preocupados em emancipar, mas, em “amparar” as massas populares.
Ambos defendem a propriedade privada da terra, e não a utilização social, coletiva, da terra.
Ambos, enfim, querem apenas manter, com um remendo aqui ou acolá, a divisão social que temos hoje.
Porque vêem o mundo, a sociedade, as pessoas pela mesmíssima lente.
Daí que não terão de se estapear em torno dos caminhos a seguir para a transformação da sociedade – esse, o pomo da discórdia entre tucanos e petistas.
E assim, não terão maiores dificuldades na montagem de uma chapa: colocarão em cima da mesa as pesquisas, a melhor estratégia para a vitória e o perfil mais adequado a essa estratégia. Pragmaticamente, sem dores de parto.
Em agindo assim, conseguirão, também, atrair outras forças, igualmente conservadoras.
Os próprios integrantes do PP, que hoje estão no governo, dificilmente trocariam os doces braços de Jader e Valéria pelas malinagens de tucanos e petistas...
E, como eles, várias e importantes lideranças, de outros partidos fariam a mesma opção - eis que neste estado atrasado, transbordante de latifundiários e “barões da borracha”, a maioria das lideranças vê o mundo da mesmíssima maneira que pefelistas e peemedebistas...
V
Infelizmente, são enormes as chances de que uma chapa dessas seja bem sucedida.
Além de aglutinar as forças conservadoras, até porque bem menos autoritários e arrogantes, pefelistas e peemedebistas também possuem um discurso fácil, capaz de hipnotizar as massas populares.
Não lhes prometerão um mundo irrealizável, para quem não tem, hoje, sequer um prato de comida. Mas, uma turbinada assistência social, essa sim factível aos olhos da massa desamparada.
Falarão, também, a linguagem do poder forte – que, se a nós provoca arrepios, ao seu José e à dona Maria, que vivem atazanados pela insegurança deles e de seus filhos, soará como resposta divina às muitas orações que já fizeram.
E a culpa por esse retrocesso político terá de ser dividida irmãmente entre o PT e o PSDB.
Porque transformaram um ao outro no principal inimigo.
Porque imaginaram que essa “massa atrasada” não teria nem fôlego, nem capacidade para se rearticular.
Iguais na arrogância e no autoritarismo, tucanos e petistas confundiram vanguarda com inteligência, conservadorismo com burrice.
Quando, na verdade, são apenas formas diferentes de enxergar o mundo, com as quais se pode concordar ou discordar.
Mas que, rigorosamente, não torna ninguém nem mais, nem menos brilhante; nem melhor, nem pior, do ponto de vista meramente pessoal.
Tucanos e petistas cometeram, enfim, um erro brutal: acreditaram, apesar de vivermos numa democracia, que essas forças “estavam mortas” ou que poderiam ser mantidas, indefinidamente, a reboque, no cabresto.
Ao mesmo tempo em que dividiam esse “Exército de Brancaleone”, que deseja, de fato, mudanças radicais na sociedade.
Lembro que Lula, já por duas vezes, comemorou o fato de as próximas eleições presidenciais terem como candidatos fortes apenas lideranças de esquerda.
O que significa dizer que qualquer que seja o resultado, Dilma ou Serra, e apesar das críticas que tenhamos uns aos outros, o Brasil continuará a buscar a eliminação desse enorme fosso que separa ricos e pobres.
Continuará a buscar a construção da Cidadania e da Democracia verdadeiras, que não se resumem ao voto ou a um documento de identificação - e muito menos a um prato de comida.
Quem sabe, daqui a 50 anos - que é o tempo que as coisas que acontecem no Brasil levam para chegar ao Pará – os tucanos e os petistas paraenses compreendam, enfim, o significado das sábias palavras do companheiro Lula.
FUUUUIIIIIIII!!!!!!!