Visita do articulador de Lula
não resolve divisão das oposições
Até que ponto a visita do ministro Tarso Genro altera a articulação das oposições, ao próximo pleito, no estado do Pará? Provavelmente, em nada. PT e PMDB, os dois principais blocos oposicionistas, continuarão separados por um abismo de divergências, que inclui a própria concepção do funcionamento partidário.
Mesmo informalmente, a aliança vai se tornando cada vez mais difícil. E o mais provável é que se confirme a tendência de que Lula tenha dois palanques no Pará, caso Jader resolva sair candidato a governador. A candidatura do deputado Mário Cardoso, ao que parece, tornou-se um pomo da discórdia de dificílima superação.
A posição oficial do PT é clara: Cardoso foi escolhido pré-candidato ao Governo por aclamação, em encontro estadual que reuniu trezentos delegados, de todo o Pará.
É, portanto, decisão massiva e respaldada no Estatuto partidário. Por isso, o alinhavo de outros nomes – Jader ou mesmo Ana Júlia – dependeria de intervenção nacional. De altíssimo custo político e lucro incerto, haja vista a rebeldia das bases petistas, pouco afeitas ao caciquismo que permeia as demais agremiações.
Rasgar o Estatuto
A única possibilidade de recuo admitida pelo PT é no caso da cassação de Jatene, pelo TSE, e eventual ascensão de Maria do Carmo, ao Governo do Estado.
“Se alguém quiser mudar a decisão do partido, que rasgue o estatuto. Até porque, na nossa leitura, o nome do Mário Cardoso é o que reúne as melhores condições para a disputa” – diz um dirigente petista.
Outra fonte adianta que, dificilmente, as bases engolirão o nome de Jader, mesmo para o Senado. Elcione seria bem mais palatável. Mas o PMDB não vê com bons olhos tal articulação. Não quer arriscar Elcione em aventura desgastante. Até porque, se tiver fôlego financeiro, Jader se elege ao Senado com fatia própria do eleitorado, sem necessitar do beneplácito de gregos ou troianos.
Por baixo do pano, mesmo o grupo de Ana Júlia se mostra reticente em enfrentar o blocão que comanda o PT estadual.
Mário Cardoso tem trânsito infinitamente maior nas correntes comandadas de Paulo Rocha, Waldir Ganzer e Zé Geraldo. E também empolga a militância, porque, além de ser um soldado do partido, corporifica o ideal político petista.
Além disso, o próprio grupo da senadora (e ela passou o final de semana viajando com Cardoso, pelo Sul do Pará), sinaliza que Ana só toparia a parada a pedido do próprio Lula - e desde que fossem atendidas determinadas “condições”.
Uma improbabilidade, tendo em vista a forma como isso mexeria na divisão do bolo do poder, entre os segmentos do PT local.
Assim, se Tarso Genro insistir, é possível que Paulo Rocha até chame Ana Júlia para uma conversa de pé de ouvido. Mas, apenas, para constar.
Mesmo porque tanto a senadora, quanto outras lideranças – Waldir Ganzer, por exemplo – foram consultadas, no encontro estadual, acerca da disposição de concorrerem ao Executivo.
Ninguém topou a parada – só Cardoso. E outros nomes, de legendas diversas – Ademir Andrade e até Hildegardo Nunes – também foram cogitados, nas articulações que precederam a decisão.
PMDB tem esperança
Embora Paulo Rocha nunca descarte nada, quando se trata de aglutinar forças para uma batalha que se antevê duríssima, levará, certamente, tudo isso em consideração, no encontro que manterá com Tarso Genro.
No PMDB, no entanto, a expectativa é que Paulo bata o martelo, em prol de candidatura com maior densidade eleitoral. Talvez porque o PMDB, com o seu comando personalista, tenha dificuldade em compreender a lógica vermelha.
“Ninguém tem de pensar em ‘gente’, mas em uma candidatura viável” – diz pessoa bem situada no PMDB, ainda esperançosa na revisão da escolha petista.
A fonte assegura que Jader, embora bem colocado nas pesquisas, não tenta impor o próprio nome e considera politicamente viável uma eventual candidatura de Ana Júlia. O que não aceita é que as oposições partam para a guerra divididas e sem um nome de peso ao Executivo.
“As oposições têm de agir com responsabilidade” – diz a fonte – “O objetivo é tirar o PSDB do Governo: é esse o projeto maior. Então, as pessoas têm de ter juízo. Sozinhas, as oposições perdem. Mas, unidas, ganham a guerra. Aliás, a tendência é que as eleições, no Pará, sejam decididas já no primeiro turno, mesmo com um nome forte das oposições, em função da polarização que deverá ocorrer”.
Difícil é acreditar que tais considerações encontrem eco no PT local. Primeiro pelo parco entusiasmo partidário que Ana Júlia enseja. Segundo, porque Jader, apesar de absolvido em boa parte dos processos a que respondia, continua a ser encarado com enorme desconfiança pelas bases petistas.
Uma eventual intervenção em favor de Jader cindiria o PT. Boa parte acabaria ou anulando o voto ou apoiando o PSOL. Ou até descarregando votos em Almir Gabriel, como já aconteceu em pleito anterior.
No plano nacional, é improvável que o pragmático Lula resolva optar pelo amargo remédio da intervenção, em um estado como o Pará, de baixíssimo peso em sua reeleição.
Por isso, a hipótese mais viável é a do palanque duplo. Com ar refrigerado, para ambos os nomes.
Mas, a grande dúvida é se Jader, o único nome em condições reais de derrotar os tucanos, topará a parada – ou se trocará o duvidoso pelo certo: a reeleição para a Câmara dos Deputados ou a candidatura ao Senado.
Se recuar, porém, o PMDB sairá em frangalhos, na disputa pelas cadeiras da Assembléia Legislativa, além de mirrar ainda mais. E Jader, da mesma forma que Cardoso, é um soldado do partido. Sempre foi, aliás.