quarta-feira, 30 de junho de 2021

Robotizados, criminosos e fascistas: o exército bolsonarista que poderá pegar em armas no ano que vem.




O Brasil conseguirá sair da situação em que se encontra sem derramamento de sangue?

É uma pergunta angustiante, mas sobre a qual já não podemos deixar de refletir.

A CPI do Genocídio, as investigações da imprensa e os processos judiciais em andamento apontam para uma vasta teia de quadrilhas, articulada por Bolsonaro e os seus três filhos mais velhos.

As suspeitas envolvem uma diversidade criminosa nunca vista no Brasil a orbitar em torno de uma única família, e muito menos de um presidente da República.

A crueldade e a rapacidade são tamanhas que há fortes indícios até de que a população brasileira ficou sem vacinas, em plena pandemia, para que algumas dessas quadrilhas e a família do presidente pudessem lucrar bilhões de reais com as suas negociatas.

Bolsonaro, seus filhos e essas quadrilhas sabem que o que os aguarda é a cadeia e a perda de seus bens, caso a Democracia retorne aos eixos.

Ao mesmo tempo, veem minguar o apoio da população, e o cerco que vai se apertando em torno deles, nas ruas, na CPI e no Judiciário.

Tudo isso está a deixá-los encurralados.

Para eles, as próximas eleições estão se transformando em um jogo de “vida ou morte”, o que os torna especialmente perigosos.

Exatamente como acontece com um rato acuado.

Além disso, Bolsonaro lidera uma seita cujos integrantes estão armados.

A uns ele tratou de facilitar o acesso às armas.

A outros cooptou nas fileiras do Exército e das polícias militares e civis.

Isso demonstra que ele não pretende entregar o poder, caso perca as eleições do ano que vem, coisa que até agora tudo indica que acontecerá.

Mesmo assim, não creio na vitória de uma tentativa golpista.

As Forças Armadas não estão “fechadas com Bolsonaro”, como alguns parecem imaginar.

A demissão dos comandantes das três Armas mostrou que existe, sim, uma divisão significativa entre os militares.

Aliada a esse episódio, a não punição de Pazzuelo provavelmente ligou o alarme de boa parte dos comandantes militares, sobre o perigo do bolsonarismo para o próprio controle dos quarteis.

Além disso, até onde li, a adesão das polícias ao bolsonarismo, embora expressiva, não é majoritária, levando a crer que a massa de bons policiais (e eles são muitos) não embarcará nessa aventura.

Acrescente-se a isso as circunstâncias externas.

Em boa parte do mundo, a Democracia trava uma luta bastante complicada contra o fascismo.

E o Brasil é um país de importância estratégica, sob vários aspectos.

Há as nossas enormes riquezas florestais e minerais, com impactos até sobre o clima global, e há a nossa histórica influência nos rumos de toda a América do Sul, entre outros fatores.

Assim, é bem possível que uma tentativa de golpe bolsonarista desencadeie forte reação dos Estados Unidos, da Europa e de várias nações latino-americanas, como até já disse em postagem anterior.

Vale lembrar que Bolsonaro tem a merecida imagem mundial de fascista, genocida, corrupto, imprevisível e inadministrável.

E bem mais do que qualquer questão humanitária, são essas duas últimas características dele que inviabilizam qualquer composição externa, especialmente, se detentor de um poder totalitário.

Bolsonaro não é “apenas” um psicopata, um perverso.

Ele é, também, um lunático, um sujeito totalmente desequilibrado, coisa que o transforma em uma bomba ambulante, sempre prestes a explodir.

É claro que essa impossibilidade de negociação com ele não significa, necessariamente, um apoio externo às esquerdas.

E sim que os países mais desenvolvidos tendem a preferir um governante com algum verniz democrático e, sobretudo, administrável.

Também não acredito que cheguemos a uma guerra civil, embora já tenha acreditado em um processo nesse sentido, desencadeado com o golpe de 2016.

No entanto, é possível, sim, que tenhamos confrontos armados pelas ruas.

De um lado, fanáticos bolsonaristas e religiosos, além de milicianos e outros grupos criminosos.

Do outro, as forças armadas e policiais leais à Constituição.

Se assim for, viveremos momentos infernais e teremos, inclusive, de resguardar as nossas principais lideranças políticas, e até jurídicas, já que muitas delas poderão se tornar alvos desses grupos.

É bom lembrar o que disse Bolsonaro, em uma entrevista: na visão dele, o grande erro do golpe militar foi não ter matado os oposicionistas, em vez de “apenas” torturá-los.

Além disso, os fanáticos que ele comanda possuem uma visão totalmente distorcida do que são a Liberdade e a Democracia, e sofreram uma lavagem cerebral que os sequestrou para uma espécie de realidade paralela.

Eles acreditam, sinceramente, que estão em uma cruzada do Bem contra o Mal.

Eles acreditam, de fato, que não somos exatamente humanos.

Experimentam um adestramento psicológico semelhante ao de um soldado treinado para uma guerra: o outro é desumanizado, para quebrar os controles morais, e até biológicos, que impedem você de matá-lo.

Não é à toa, aliás, que as redes de fake news e lavagem cerebral do fascismo, no Brasil e nos Estados Unidos, por exemplo, buscam associar os oposicionistas à pedofilia: somos todos transformados em monstros, e eles, em guardiões de crianças indefesas.

Além dessa massa robotizada, temos os milicianos e outros grupos criminosos: grileiros, madeireiros ilegais, entre outros, que veem no bolsonarismo a chance de consolidar os seus “empreendimentos”.

Temos, ainda, aqueles que não são nem robotizados nem criminosos assumidos, mas “apenas” racistas, homofóbicos e misóginos, que sonham com o patriarcado e para os quais gays e mulheres independentes são “abominações”, que, se não puderem ser “curadas”, são passíveis de eliminação.

Agem em nome da “raça”, da “família” e da “religião” e são os fascistas propriamente ditos.

Juntos, esses três grupos formam um exército de preconceito, ignorância, ódio, manipulação e puro e simples banditismo, que desembocou em um quadro explosivo, que tende a se agravar durante e após as próximas eleições.

Até porque não estamos a falar em meia dúzia de pessoas.

No ano passado, o eleitorado brasileiro foi de quase 150 milhões de cidadãos.

Nas pesquisas, Bolsonaro ainda possui cerca de 20% de intenções de votos, o que significa 30 milhões de eleitores.

Mesmo que os fascistas propriamente ditos representem apenas 1% desse total, só aí teremos 300 mil pessoas, muitas delas armadas.

Quantas estarão dispostas a pegar em armas é que são elas.

Mas às que resolverem fazer isso deverão se juntar os milicianos e outros grupos criminosos (todos com armas e dinheiro em caixa), além de uma parcela dos robotizados. 

Diante de uma situação dessas, é possível que o Congresso, as Forças Armadas e o Judiciário acabem por buscar uma “solução negociada”, para evitar maiores “danos”.

Mas tenho minhas dúvidas se, mesmo isso, conseguirá deter muitos desses terroristas.

Afinal, para muitos eles, trata-se da oportunidade única de transformar o Brasil na imagem e semelhança daquilo em que acreditam, ou em um campo ainda mais fértil para o seu banditismo.

Eles sabem que dificilmente conseguirão voltar ao poder.

E, para eles, a Liberdade alheia, a Democracia e a própria vida dos outros não valem coisa alguma.

Penso que é urgente estratificar o mais corretamente possível essa massa de 30 milhões do eleitorado de Bolsonaro.

Além de incrementar as tentativas de diálogo com os robotizados, o único grupo que poderemos, quem sabe, reduzir.

Temos de disseminar entre nós o conhecimento sobre o funcionamento de seitas e lavagem cerebral; desenvolver estratégias de comunicação e de combate às redes de fake news.

Se conseguirmos alcançar os robotizados, que, presumo, sejam a maioria, talvez possamos realmente diminuir, ou até impedir, os “danos” que poderão ocorrer no ano que vem.

“Danos”, que, afinal, são vidas humanas.

FUUIIIII!!!!

terça-feira, 22 de junho de 2021

Um monstro furioso à solta no Brasil.


 

 

 

Não, esta postagem não é sobre Lázaro, o psicopata assassino que precisa ser encontrado e colocado em uma prisão de segurança máxima até o fim da vida, ou até que a ciência encontre um tratamento para ele.

O monstro a que me refiro é outro.

Igualmente psicopata, igualmente assassino, mas, estranhamente, idolatrado por aqueles que vivem a repetir que “bandido bom é bandido morto”. E até por muitos que se dizem “cristãos”.

Estou a falar, é claro, de Jair Bolsonaro.

Afinal, se há alguém, além de Lázaro e de outros torturadores sanguinários, que também se enquadra na condição de um monstro furioso é o atual presidente da República.

É difícil encontrar um termo para classificar Bolsonaro de forma menos deselegante, ou até um paralelo no mundo animal, para o seu comportamento.

Não há como chamá-lo de pessoa e de nada que remeta aos seres humanos, já que lhe falta uma característica básica da nossa espécie: a empatia, a capacidade de sentir a dor do outro.

No reino animal, no qual há várias práticas “cruéis”, uma das piores é a de certas espécies de vespas que depositam seus ovos dentro de aranhas, para que sejam comidas vivas pelas larvas.

Só que vespas não têm noção de crueldade e nem sabem a diferença entre o bem e o mal.

Já Bolsonaro tem noção de tudo isso, sim.

Ele sabe que há milhares de pessoas morrendo de covid, em todo o Brasil, e que muitos dos que sobreviveram carregam problemas de saúde, talvez para o resto da vida.

Ele sabe que milhões de brasileiros choram a morte de pessoas que tanto amavam e das quais não puderam nem ao menos se despedir.

Ele sabe que há muitos filhos que crescerão sem o amor de suas mães, porque elas morreram de covid pouco depois de dar à luz.

Ele sabe que há mães e pais que sofreram a pior dor que se pode sentir neste mundo: a morte de um filho.

No entanto, ele não está nem aí.

Ele é incapaz de derramar ao menos uma lágrima, diante dessa tragédia.

Ele, que se diz “defensor da família” e que enche a boca para falar em Deus, é incapaz de dizer ao menos uma palavra de conforto às milhares de famílias devastadas, destruídas por essa doença.

É só “E daí?”, “Lamento, quer que faça o quê?”, “Todos vamos morrer um dia!”, “Deixem de frescura e mimimi! Vão ficar chorando até quando?”

É só gargalhada, passeios, churrascadas e até piadinha sobre a covid, como se o sofrimento de milhões de brasileiros não significasse nada.

É só aglomeração, guerra contra as vacinas e as máscaras, para que essa doença se espalhe mais e mais.

Pouco lhe importa se isso já nos custou, e ainda custará, milhares e milhares de vidas: homens, mulheres, idosos, jovens, crianças. Bebezinhos indefesos que acabaram de nascer.

Só o que importa à essa aberração é o próprio umbigo: é a sua sede de poder e o prazer que parece sentir no sofrimento dos outros.

Tudo o que ele quer é se reeleger – e já está até fazendo campanha para isso, com dinheiro público, aliás.

Bolsonaro quer é continuar agredindo, ameaçando, humilhando, principalmente mulheres, já que não passa de um covarde asqueroso.

Quer é continuar mandando e desmandando no Brasil, para que possa cometer toda sorte de crimes, à luz do dia e impunemente.

Nunca na História deste país tivemos um presidente da República sob suspeita de tamanha diversidade criminosa.

Há fortes indícios de que ele e os seus três filhos mais velhos estão envolvidos com milícias, homicídios, lavagem de dinheiro, corrupção, roubo de dinheiro público através de “rachadinhas”, fake news, atentados à Democracia.

Há suspeitas de que a família Bolsonaro estaria também dando cobertura a outras quadrilhas, para o desvio de bilhões de reais distribuídos ao Centrão, para o tráfico internacional de madeira e até para bandidos travestidos de empresários que lucraram horrores com a doença e a morte do nosso povo.

Quando que poderíamos imaginar que, em pleno Século 21, uma Nação como o Brasil estaria entregue à uma família como essa, que, se comprovadas todas as acusações, é a maior e mais perigosa organização criminosa que já vimos neste país?

No último sábado, o Brasil ultrapassou, oficialmente, a marca de meio milhão de mortos por covid-19.

É quase a população de Ananindeua, que tem 535 mil habitantes e é a segunda cidade mais populosa do Pará.

É como se quase toda a população de Ananindeua tivesse morrido em apenas 15 meses, a um ritmo superior a mil mortos por dia.

No entanto, as estimativas são de que o número real de mortos por covid, no Brasil, seja ainda maior, já que haveria uma subnotificação de 30 por cento.

Em outras palavras: é possível que já tenhamos, na verdade, cerca de 650 mil mortos, fora as pessoas que morreram poucos meses depois de deixar os hospitais, devido a problemas de saúde causados pela covid.

Se permanecermos na média de duas mil mortes diárias e nada for feito, teremos, provavelmente, mais 360 mil mortos até o final deste ano.

Só se acelerarmos a vacinação e convencermos as pessoas a usarem máscaras, adotarem medidas de higienização e o isolamento e distanciamento sociais é que conseguiremos salvar muitas dessas vidas.

Não, não há outra saída: é preciso tirar esse monstro enfurecido do poder.

Porque enquanto Bolsonaro for presidente, ele continuará fazendo de tudo para que as pessoas se contaminem.

Não há CPI, multas, STF que consigam detê-lo, como ele sempre fez questão de deixar bem claro, aliás.

Em sua mente perturbada, em seu caráter cínico, frio e autoritário, a Lei só se aplica aos outros.

Tudo gira em torno da “liberdade” dele, como se ela lhe desse o direito de atentar contra a Saúde, a Liberdade e a Vida de milhões de brasileiros.

Como se, em nome da “liberdade”, um ladrão, um assassino, pudesse invadir a minha casa, para me roubar e matar impunemente.  

Se para Bolsonaro a presidência se tornou uma espécie de salvo conduto para a sua contumaz delinquência, para nós tirá-lo do poder virou uma questão de sanidade mental e até de sobrevivência: não podemos mais permanecer expostos à roleta-russa que é essa doença.

Não podemos mais ter as nossas vidas e os nossos sonhos como que “suspensos”, até que essa besta-fera morra ou renuncie.

Nós e nossos pais, avós, filhos, irmãos, amigos não merecemos isso.

E nem podemos nos “resignar” a isso por medo da fúria desse monstro e daqueles que o sustentam no poder, devido ao ódio que sentem do mundo e deles mesmos.

Bolsonaro tem de ser afastado da presidência o quanto antes; não dá para esperar pelas eleições do ano que vem.

Temos de pressionar cada vez mais nas ruas e no Congresso pelo impeachment dele.

E também para que enfrente o destino que deve ter todo e qualquer psicopata assassino: uma prisão de segurança máxima, até o fim de seus dias.

FUUUUIIIII!!!!!

terça-feira, 15 de junho de 2021

Os ataques a Belém: a quem interessa a destruição da cidade? A lavagem de dinheiro por organizações criminosas, a corrupção e a sonegação fiscal têm alguma relação com as manobras para permitir a construção de mais e mais edifícios e “atacarejos”, até mesmo na orla da capital? No Pará, onde até boi avoa, eis que surge uma nova dupla sertaneja, para a desgraceira da população: Maurinho&Pirão.


 

Em setembro de 2013, após a Operação Efeito Dominó, que estourou o Parazão e prendeu 70 pessoas ligadas ao Jogo do Bicho, o Ministério Público do Pará (MP-PA) revelou uma suspeita inquietante: chefões da jogatina teriam adquirido, através de laranjas, uma grande quantidade de imóveis, em prédios de Belém.

A utilização do mercado imobiliário para a lavagem de dinheiro não é novidade.

Em 1999, a CPI do Narcotráfico, realizada pela Câmara dos Deputados, mostrou que a compra de imóveis, em vários estados, era um dos principais expedientes de organizações criminosas, para “branquear” o dinheiro sujo.

Segundo uma estimativa bem mais recente do Grupo de Ação Financeira Internacional contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (GATI/FATF), imóveis representam cerca de 30 por cento dos ativos retomados de organizações criminosas (https://www.folhadelondrina.com.br/imobiliaria-e-cia/lavagem-de-dinheiro-como-combate-la-na-atividade-imobiliaria-2999963e.html).       

O mercado imobiliário é atraente ao crime, organizado ou não, porque, além de um investimento seguro, permite “lavar” grandes somas de dinheiro em cada operação, dizem especialistas.

Não se sabe se o MP-PA seguiu essa linha investigativa, ao descobrir indícios de lavagem de dinheiro, através de imóveis, pelos barões do Jogo do Bicho.

Se não o fez, deveria.

Porque as atividades do narcotráfico e das milícias, por exemplo, cresceram assustadoramente em Belém, nas últimas décadas, ao mesmo tempo em que também cresceu a especulação imobiliária.

É preciso saber até que ponto a construção dessa enorme quantidade de edifícios de luxo, em uma cidade pobre como Belém, está ou não relacionada com as atividades de grupos criminosos.

E, ainda, com a sonegação fiscal, por grandes empresas e donos de grandes fortunas.

É preciso seguir o dinheiro injetado no setor imobiliário, para que se saiba se atividades ilícitas estão ou não a impulsionar os seguidos ataques contra Belém, objetivando permitir a construção de mais e mais paredões de vidro e cimento, que transformam o cotidiano da nossa população em um verdadeiro inferno na Terra.

O mais recente desses ataques é o Projeto de Lei (PL) 01/2020, que avança sobre áreas de preservação ambiental e de recuperação paisagística da cidade.

Ele permite que grandes grupos empresariais construam monstruosos “atacarejos” e depósitos de mercadorias até mesmo nas orlas dos distritos administrativos do Guamá e da Sacramenta.

Um desastre para a população, sob vários aspectos: o trânsito, que ficará ainda mais infernal, além de mais barulho, poluição, possível sumiço do resto de vegetação dessas áreas e mais obstáculos à visão das águas.

Isso sem falar na expulsão das famílias mais pobres, sabe-se lá para onde, em decorrência da especulação imobiliária.

Mas, é claro, os “atacarejos” serão apenas os primeiros a arrombar a porteira, nesse sonho antigo dos mais ricos de “privatizar”, cada vez mais, até a visão dos nossos rios.

Depois dos “atacarejos” virão hotéis, edifícios e diferentes estabelecimentos comerciais.

Virá, também, o aumento da pressão sobre o centro histórico, para destruir o pouco que resta do magnífico patrimônio arquitetônico desta cidade.

O PL 01/2020 é tão vergonhoso que foi aprovado pela Câmara Municipal de Belém, no final do ano passado, a bem dizer, às escondidas: em apenas 10 minutos e encafuado entre 85 projetos de lei.

Não houve discussão com a sociedade, como determina a legislação. Não houve debate nem mesmo no plenário. Foi vapt-vupt, no vai de embute.

Quem apresentou o desprojeto foi o então presidente da Câmara, Mauro Freitas, do PSDB.

O mesmo que, em 2017, tentou transformar essa aberração dos sons automotivos em patrimônio cultural de Belém.

O PL 01/2020 acabou vetado pelo ex-prefeito Zenaldo Coutinho, que, aliás, é do mesmo partido de Mauro Freitas.

Os vários projetos absurdos desse vereador sempre foram criticados pelo MDB, que hoje, no entanto, cerra fileiras com ele, através do atual presidente da Câmara, Zeca Pirão, para derrubar o veto de Zenaldo.

A desculpa de Maurinho&Pirão, quase uma nova dupla sertaneja, é a “modernização” da cidade, para gerar empregos e atrair turistas.

Tudo papo-furado, um tremendo lári-lári.

Quem mais cria empregos são os micros e pequenos empresários: quase 70% dos empregos gerados em todo o Brasil, segundo o Sebrae.

Ou seja: o perfil empresarial daqueles que podem realmente garantir trabalho ao nosso povo é muito diferente daqueles empresários que a dupla Maurinho&Pirão quer beneficiar.

E mais: no balaio daqueles que criam os restantes 30% dos empregos, estão, também, as empresas de médio porte.

Quer dizer: se a gente espremer esse balaio, é provável que os grandes empresários, que adoram mamar nos cofres públicos, criem quase nada de postos de trabalho.

E quanto ao “incentivo” ao turismo?

Outra conversa mole pra boi dormir!

Até parece, né?, que a gringalhada vem a Belém para conhecer “atacarejos” e esses edifícios horrorosos.

Quem vem a Belém quer é ver o Círio de Nazaré e o nosso Ver-o-Peso.

Quer é conhecer as nossas ruas estreitas e a belíssima arquitetura de outrora.

Quer é sentir os cheiros e os sabores das nossas frutas e comidas exóticas, as nossas ervas, os nossos perfumes, e até ouvir a poesia e os falares do nosso povo.

Quer ver o rio, sim, mas não do alto de um edifício tosco.

Quer é sentar-se próximo das águas, e até navegar por elas, vendo uma dança de carimbó, comendo um peixe no tucupi, e até conversando com os nossos caboclos.

E espaços pra isso (bares, restaurantes, hotéis) já existem em profusão em Belém, incluindo a Estação das Docas.

E se os gringos quiserem conhecer a orla do Guamá, da Condor, da Marancangalha, por que é que tem de ser só em hotel e restaurante de rico?

Por que é que a nossa classe média e a população mais pobre não podem atender esses turistas?

Acaso os vereadores de Belém têm vergonha do nosso povo?

Acaso o nosso povo só serve para elegê-los e garantir os seus salários parrudos?

É possível que o problema da dupla Maurinho&Pirão seja o seu padrão brega de qualidade.

Os dois devem achar que chiques são esses edifícios modernosos, cada um mais horrendo do que o outro.

E que a gringalhada que vem aqui, em geral bem mais culta do que eles (o que, por sinal, não é nada difícil) adora é ver esse desmatamento e essa desgraceira arquitetônica de cimento e vidro, bem no coração da Amazônia.

É possível, sim, que não passem de dois sem-noção, como todos os vereadores que apoiam essa bomba de projeto, ilegal, elitista e destruidor.

Mas também é possível que os nossos excelentíssimos tenham interesses outros nessa parada.

E cabe ao Ministério Público e à polícia investigarem tudo isso com rigor.

A começar pelos grupos que mais estão ganhando com essa especulação imobiliária e que, certamente, têm todo o interesse nessas constantes tentativas de agressão à nossa cidade.

É preciso cruzar os dados dos cartórios e da Receita Federal e quebrar os sigilos bancários e fiscais de todos os envolvidos, porque é só assim que essa selvageria acabará.

Lamento, profundamente, ver o MDB de braços dados com os tucanos e até com os bolsominions, na defesa desse desprojeto.

Mas a própria postura do Zenaldo e dos vereadores do PT e do PSOL, que foram muito firmes no combate a essa agressão ao povo de Belém, deixa bem clara uma verdade, que tem de estar no coração de cada um de nós: Belém está acima, infinitamente acima, de todo e qualquer partido.

Belém guarda em seu peito as nossas melhores lembranças: os nossos avós, os nossos pais, a nossa infância e juventude.

Crescemos à sombra de suas mangueiras, embalados por seus ritmos e lendas, embriagados pelo seu cheiro de patchouli.

Quem de nós não sente um aperto no peito, quando tem de se afastar daqui?

Das nossas chuvas, casarões, revoadas de passarinhos, Círio de Nazaré.

Do nosso açaí, tacacá, maniçoba, farinha d’água.

De toda essa morenice, de toda essa caboclice, que é, afinal, o melhor em nós.

Belém está impregnada em nossa alma: ela ajudou a formar a nossa identidade, esse povo maravilhoso que somos.

E nós precisamos defendê-la, para que os nossos netos possam dizer, um dia, o mesmo que dizemos hoje: é nesta cidade que moram as minhas melhores lembranças.

Foi ela que me viu nascer e crescer.

Foi nela que brinquei de pira, de bola, de peteca; que tomei banho de chuva, que chupei aquela manga tão cheirosa, que quase caiu em cima de mim...

Foi nela que dei o meu primeiro beijo.

Foi nela que me casei e tive os filhos que tanto amo.

E é nela, se Deus quiser, que também morrerei, um dia.

À luz de suas estrelas.

Para sempre um encantado, das águas tranquilas de seus rios...