terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Saindo do Túmulo


I Got Life

I got life, mother
I got laughs, sister
I got freedom, brother
I got good times, man

I got crazy ways, daughter
I got million-dollar charm, cousin
I got headaches and toothaches
And bad times too
Like you

I got my hair
I got my head
I got my brains
I got my ears
I got my eyes
I got my nose
I got my mouth
I got my teeth

I got my tongue
I got my chin
I got my neck
I got my tits
I got my heart
I got my soul
I got my back
I got my ass

I got my arms
I got my hands
I got my fingers
Got my legs
I got my feet
I got my toes
I got my liver
Got my blood

Repete

I got my guts (I got my guts)
I got my muscles (muscles)
I got life (life)
Life (life)
Life (life)
LIFE!


Hare Krishna

Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare

Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare

Love love
Love love
Drop out
Drop out
Be in
Be in

Love love
Love love
Drop out
Drop out
Be in
Be in

Take trips get high
Laugh joke and good bye
Beat drum and old tin pot
I'm high on you know what

Take trips get high
Laugh joke and good bye
Beat drum and old tin pot
I'm high on you know what

Take trips get high
Laugh joke and good bye
Beat drum and old tin pot
I'm high on you know what

Marijuana marijuana
Juana juana mari mari
Marijuana marijuana
Juana juana mari mari

Beads, flowers, freedom, happiness
Beads, flowers, freedom, happiness
Beads, flowers, freedom, happiness
Beads, flowers, freedom, happiness

Beads, flowers, freedom, happiness
Beads, flowers, freedom, happiness
Beads, flowers, freedom, happiness
Beads, flowers, freedom, happiness


Aquarius

When the moon is in the Seventh House
And Jupiter aligns with Mars
Then peace will guide the planets
And love will steer the stars

This is the dawning of the age of Aquarius
The age of Aquarius
Aquarius!
Aquarius!

Harmony and understanding
Sympathy and trust abounding
No more falsehoods or derisions
Golding living dreams of visions
Mystic crystal revalation
And the mind's true liberation
Aquarius!
Aquarius!

When the moon is in the Seventh House
And Jupiter aligns with Mars
Then peace will guide the planets
And love will steer the stars

This is the dawning of the age of Aquarius
The age of Aquarius
Aquarius!
Aquarius!

Harmony and understanding
Sympathy and trust abounding
No more falsehoods or derisions
Golding living dreams of visions
Mystic crystal revalation
And the mind's true liberation
Aquarius!
Aquarius!


(Hair)

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Extra! Extra!

O Retorno da Perereca – a Missão

Pseudo-jornalista garante que
volta ao batente no mês que vem



Direto do Brejo News – O blog A Perereca da Vizinha retorna ao formato original no próximo 12 de fevereiro, em plena batucada do Carnaval. Segundo a proprietária do inusitado espaço político – a esquizóide Perereca – a decisão surgiu depois de mais uma de suas crises existenciais. “Tomei toneladas de Prozac e me submeti a intensivas sessões de eletrochoque. Também experimentei todas as griffes de camisa-de-força. E acho que, agora, finalmente, encontrei o caminho da salvação” – explicou a lunática.

Ela disse que o blog trará, novamente, matérias, notas e entrevistas exclusivas, além de análise política. “Eu e a minha equipe decidimos recuperar este importante espaço da blogosfera. Vamos, como diria a minha correspondente, ‘dar tudo de si’, para informar os leitores de tudo que é lado”, declarou, em português canhestro e repleto de sétimas intenções, como, aliás, é do estilo dela.

A Perereca reafirmou o compromisso de retomar o “Projeto Arco-Íris”, que nada mais é que um espaço político multicor. “Queremos ouvir atenienses, espartanos e, é claro, também, aos persas. Pretendemos transformar o blog num point democrático, sujeito a toda sorte de controvérsias” – disse, sem explicar, porém, como vai conciliar esse ideal com fato de ocupar uma assessoria de imprensa do novo governo.

A pseudo-jornalista (alô, alô, sindicato! Ela não tem diploma!) informou, ainda, que pretende implantar um projeto de “sustentabilidade econômica” do blog. “Graças à consultoria do Barão de Inhangapi, resolvemos colocar anúncios no blog. Mas, é claro, manteremos o compromisso primordial com os leitores. Porque, afinal, os leitores estarão, sempre, em primeiro lugar”, observou a hipócrita, que evitou explicar o fato de a tal “consultoria” ter sido contratada sem licitação.

O mailing da Perereca se encontra em fase de atualização. E o blog retornará com novos contadores de acesso, que permitam identificar a procedência dos leitores, bem como aqueles que se encontram online. “Aprendi muito nesses meses todos” – comentou a suspirosa Perereca – “Creio que os leitores gostarão muitíssimo das novidades que vamos apresentar”.

Entre as “novidades” de A Perereca da Vizinha está o ultra-esperado VII capítulo de “Festa no Meu Apê”. A pseudo-jornalista (alô, alô, sindicato! PÔ!) garante, porém, que não vai cutucar onça com vara curta – aliás, com vara alguma: “Apenas acreditamos que o Pará merece e que está perfeitamente amadurecido para uma incursão democrática como essa”.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Navegadores I




Vira Virou

Vou voltar na primavera
E era tudo que eu queria
Levo terra nova daqui
Quero ver o passaredo
Pelos portos de Lisboa
Voa, voa que eu chego já

Ai se alguém segura o leme
Dessa nave incandescente
Que incendeia minha vida
Que era viajante lenta
Tão faminta da alegria
Hoje é porto de partida

Ah! Vira virou
Meu coração navegador
Ah! Gira girou
Essa galera.

(Kleiton e Kledir)




Os navegadores I

É preciso ouvir o horizonte que bate à porta.
E tão docemente, misteriosamente, convida a dançar.
A descobrir-se pele e sangue nas mãos do infinito.
A amanhecer em cada céu, embriagados de amanhã.
Ser a alma que se abre ao mundo.
Os sonhos que se deleitam nas nuvens.
O olhar de Deus a cobiçar a vida.
A mergulhar na vida, para explodir em luz.
Ser na terra, o ventre da terra.
O bicho encantado na imensidão da floresta.
Um caçador. Um eterno caçador.
Como um espírito que buscasse a própria essência.
A poesia que rasgasse a carne, para traduzir-se em coração.
Ver além da tempestade como quem desenha estrelas. A parir estrelas. Incessantemente.
Ver o pó. Sem medo de voltar ao pó.
Ver a vida. Ser a vida. Ser em vida. Ser.

(Belém 25/01/2007)

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Catullo




Ontem ao Luar


Ontem, ao luar, nós dois em plena solidão
Tu me perguntaste o que era a dor de uma paixão.
Nada respondi, calmo assim fiquei
Mas, fitando o azul do azul do céu
A lua azul eu te mostrei
Mostrando-a ti, dos olhos meus correr senti
Uma nívea lágrima e, assim, te respondi
Fiquei a sorrir por ter o prazer
De ver a lágrima nos olhos a sofrer

A dor da paixão não tem explicação
Como definir o que eu só sei sentir
É mister sofrer para se saber
O que no peito o coração não quer dizer
Pergunta ao luar, travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul
Pergunta, ao luar, do mar à canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão

Se tu desejas saber o que é o amor
E sentir o seu calor
O amaríssimo travor do seu dulçor
Sobe um monte à beira mar, ao luar
Ouve a onda sobre a areia a lacrimar
Ouve o silêncio a falar na solidão
De um calado coração
A penar, a derramar os prantos seus
Ouve o choro perenal
A dor silente, universal
E a dor maior, que é a dor de Deus


(Catullo da Paixão Cearense e Pedro Alcântara)

domingo, 21 de janeiro de 2007

Um debate necessário!


Jornalismo sem diploma


I

Esse debate em torno da exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista não é novo. Já existia, há 27 anos, quando comecei a trabalhar em jornal. No entanto, ao longo dessas quase três décadas, não me lembro de perseguição tão implacável aos jornalistas sem diploma.

O objetivo, aparentemente nobre - a regulamentação profissional – catalisa importantes apoios sociais. Mas, como quase tudo na vida, por trás dessa nobreza aparente, há interesses bem mais comezinhos.

Ninguém imagine que essa discussão é baseada nos interesses societários. Para garantir a qualidade e a democratização da informação; pessoas mais bem preparadas para servir ao conjunto dos cidadãos; para tratar a informação como a condição sine qua non que é às transformações sociais – e não como um sabonete, um rolo de papel higiênico, uma “mercadoria” qualquer, ou, até, como mero “apêndice” da publicidade.

Tudo conversa fiada, lári-lári, para quem não conhece os meandros dessa categoria despolitizada, corporativista e arrogante – mas, na qual, eu, apesar das bicudas, orgulhosamente me incluo, mesmo que sem-diploma...

O que se quer, no fundo, é apenas e tão somente garantir mercado de trabalho. Porque jornalista, com ou sem diploma é, em geral, um profissional aprisionado no próprio umbigo, que sequer tem noção do próprio papel social.

Para começar, acredita piamente nesse tatibitati da “imparcialidade” jornalística. Sequer participa politicamente, exercita a cidadania, simplesmente porque se considera “apolítico”. Aliás, não consegue nem “se ver” como trabalhador. E nem consegue compreender que essa “visão imparcial” é ideologicamente determinada. E que a informação nunca foi, é ou será “inocente”: sempre servirá aos interesses das forças em disputa, no âmago da sociedade. E que o importante é termos perfeita consciência do lado em que estamos.

Eis a categoria dos jornalistas, nua e crua, como era há 27 anos e como é, ainda hoje. Há 27 anos, lembro que alguns de nós, no sindicato, bem poucos é verdade, já discutíamos isso. E não me consta que a despolitização dominante tenha se reduzido sensivelmente. Muito pelo contrário.

II

Na verdade, a questão central desse debate é crucial para a sociedade, embora nem apareça nos monólogos apologéticos que predominam nos espaços corporativos.

A questão central é: pode um bem social como a informação – e a formatação dela, o tratamento que se lhe dê - transformar-se em “propriedade”, em monopólio de uma categoria profissional?

Informação é direito básico de Cidadania. É propriedade de todos e de cada um de nós. E todos, temos, sim, o direito de fazer uso dela, na luta pelos nossos ideais.

Se só jornalistas com diploma podem produzir notícia – de impressos, rádios, tvs – como ficam o cidadão e o conjunto de cidadãos desprovidos de meios para pagar esses profissionais?

Como ficam os sindicatos, as associações de bairro, as rádios comunitárias? Como ficam até mesmo as entidades religiosas? E como fica o fumado do cidadão que, simplesmente, quer repartir aquilo que pensa, a sua opinião, com os vizinhos, os amigos, os familiares, através de um informativo, um boletim?

E como ficam os governos, as prefeituras em cidades distantes. Quer dizer: onde não houver jornalista diplomado, não pode haver nem mesmo a mera prestação de contas à sociedade, na forma de uma publicação ou de um programa de rádio ou tv? Ou de uma assessoria de comunicação que pense formas alternativas e sistemáticas de informação aos cidadãos, apesar da falta de veículos tradicionais?

Mas será que não se percebe logo que esse é um atentado despudorado até mesmo a direitos constitucionalmente garantidos?

E qual será o próximo passo? A exigência da assinatura de um jornalista nos sites e blogs – e ao que me lembre já se tentou algo assim, recentemente, não é mesmo?

Mas, desde quando, uma sociedade inteira, milhões de pessoas, pode ficar refém de alguns milhares?

Mal comparando, isso parece a questão dos camelôs. Mil e quinhentos, três mil, sei lá quantos, tomaram as ruas, as vias públicas de Belém, porque precisam sobreviver. E, para 1,5 milhão de cidadãos, lá se foi o direito de ir e vir...

III

Na defesa do diploma de jornalista não faltam argumentos falaciosos

O mais recorrente deles – e novamente nobre – é o da defesa de melhor remuneração para esses profissionais.

É claro que ninguém é contrário à melhoria salarial dos trabalhadores. Mas, novamente, é preciso passar a lupa na argumentação.

Não é verdade que os “sem-diploma” depreciam os salários da categoria. Pelo contrário: muitos jornalistas que nunca passaram nem perto de um curso de comunicação estão entre os mais bem pagos e respeitados do mercado.

Na verdade, o que deprecia o valor da mão de obra são as levas e levas de jornalistas despreparados que, todos os anos, são jogados no mercado - justamente pelos cursos de comunicação, que, em geral, têm qualidade para lá de sofrível.

E como a notícia, a informação, virou apêndice da publicidade, essa mão de obra, abundante, desqualificada e barata, serve muitíssimo bem ao cotidiano das empresas jornalísticas.

Afinal, com qualquer dois neurônios se produz um “calhau” - que vai tapar o buraco na página de um cansado e mal pago editor...

IV

Outro argumento dos “com-diploma” – que, aliás, se incluem na elite dos 7% de brasileiros que concluíram um curso superior; mas isso eles não dizem, é claro – chega a ser risível.

Decomposto, espremido, vai dar no seguinte: a ética profissional é decorrência do diploma. Ou, o diploma é condição sine qua non, necessária, da ética profissional.

E por que é que eu digo que isso é até risível? Porque existe aqui, claramente, uma confusão conceitual.

Ética e conhecimento são coisas bem diferentes. Eu até posso ser ético por conhecer. Ou até conhecer, para que isso me ajude a ser mais ético – forcemos a barra, assim. Mas, sinceramente, onde é que está a relação de necessidade? Ou, até, a “essência” em que essas coisas se misturam, para se tornar uma só?

Se eu tomar como verdadeiro esse raciocínio - e radicalizá-lo - chegarei, forçosamente, à conclusão de que éticos só podem ser os 7% de brasileiros que concluíram uma universidade, ou seja, que se apropriaram do conhecimento formal.

E nem esses 7% de brasileiros, mas, possivelmente, apenas o 0000000000,1% que concluiu um curso de Filosofia, estudou exaustivamente a ética e, em decorrência disso, é, necessariamente, ético.

Quer dizer: do lado oposto, terei 93% de brasileiros, a massa empobrecida mantida na ignorância, que, agora, para além de não ter condições mínimas de sobreviver dignamente, também nem pode ter um comportamento ético, porque desconhece o que isso significa...

Ou seja: deve ter muito canalhocrata, com anel de doutor, rindo à beça desse raciocínio...

V

Mas os “com-diploma” também argumentam o seguinte: novamente movidos pelas mais nobres intenções, dizem que a falta de regulamentação profissional, via diploma específico, interessa aos patrões.

Ora, dizem eles, sem a exigência do diploma, os patrões vão poder contratar quem bem entenderem para as redações – o amigo, a mulher, a mãe, o filho, cachorro, periquito, papagaio...

E, novamente, esse “argumento” terrorista, de tão triste, chega a ser risível.

Mas, desde quando, essa ou aquela exigência legal é impeditivo, no Brasil, para empresário contratar quem quer que seja?

Tenho 27 anos de profissão – mais da metade da minha vida. E não me lembro de uma única ocasião em que isso tenha se configurado.

E novamente essa “crença”, essa mera opinião, advém da prepotência, da arrogância dos jornalistas, que, ao invés, de se reconhecerem como trabalhadores, acreditam, piamente, que detêm, isoladamente, espécie de poder.

Poder de trabalhador não advém de um pedaço de papel, mesmo que seja do Direito – que, aliás, é conseqüência, não causa. Poder de trabalhador, qualquer que seja a categoria, ou conjunto delas, advém é da união, das lutas coletivas.

Ademais, para que, meu Deus do céu!, o dono de uma empresa jornalística vai querer colocar numa redação, nessa fábrica de loucos mal pagos, os seus parentes? Só se for para se livrar deles...

Vai é colocá-los em situações melhores, em outras empresas, ou em assessorias.

E desde quando, os jornalistas, temos esse controle tão extraordinário do que é produzido nas redações, que seja necessário, aos patrões, colocar lá “agentes infiltrados” consangüíneos?

E desde quando o simples fato de ser jornalista diplomado torna alguém sublime, imune a qualquer “influência”?

A conclusão necessária de tal premissa é que, no dia em que todos os jornalistas brasileiros formos especificamente diplomados, teremos não mais os jornalões que temos. Mas, milhares, milhões de Pravdas, a defender, incessantemente, os interesses do proletariado...


VI

É claro que não estou aqui defendendo que a porcaria dessa profissão vire um bordel.

E digo porcaria porque, se pudesse voltar no tempo, jamais teria entrado numa redação de jornal. Sei que tenho talento para isso. Mas, sinceramente, não é isso, exatamente, o que eu gostaria de ter feito na vida.

Jornalismo é desgastante, cansativo. E, de certa forma, vai desconstruindo, aos poucos, toda a capacidade de crer.

O bom jornalista nunca será “crente”. Sempre se perguntará o que está por trás da declaração do entrevistado. O que ele não diz, porque não quer ou não pode dizer.

E vai, também, considerar, sempre, o contexto do dito e do não-dito, na hora de escrever. Para não servir de inocente útil, nas mãos de quem quer que seja.

Vai considerar, em primeiro lugar, os interesses da sociedade em que vive, e não os seus ou os do entrevistado.

Terá sempre em mente que tem um compromisso com o seu tempo, que é a base de um tempo que está por vir.

Vai aprender a cultivar a curiosidade de uma criança. A perguntar e perguntar e perguntar, mesmo aquilo cujas respostas parecem óbvias. Porque, do aparentemente óbvio, advém, muitas vezes, o inusitado.

Vai aprender a lutar pelo furo, pela notícia exclusiva, a par da instantaneidade dos meios de comunicação.

E vai sofrer, que nem cachorro de pobre, até o dia seguinte, para ter a certeza de que a notícia que trouxe foi exclusiva de fato. Ou, ao menos, que ninguém o furou.

E vai suar para fazer o melhor, sempre o melhor, para o leitor. E vai gastar horas a fio, desgastando a vista, para ler, sofregamente, sobre tudo, para nunca ser confundido pela ignorância, na hora de tomar como verdadeira uma informação ou de a escrever. E para que o leitor, mesmo que com parcas condições de leitura, consiga compreender o que ali foi informado.

Contra a orientação dos editores e até dos patrões – que pretendem a notícia cada vez mais leve, como se servisse, apenas, para a sala de espera de um consultório – vai escavar a fundo a informação.

Porque há que se deter a informação – mesmo que não seja de pronto utilizada. Para que ela ajude a pensar sobre outras informações que surgirão lá na frente. E porque ela pode ensejar o furo de amanhã.

Jornalismo não é certeza – nunca será. É dúvida permanente. Metodicamente cultivada.

VII

Quando digo que não estou defendendo que essa profissão se transforme num bordel é porque também defendo alguma forma de regulamentação.

Creio, sinceramente, que os jornalistas poderiam sair de qualquer curso da área das Ciências Humanas. E que a técnica, o específico, poderia ser uma complementação.

Assim, teríamos – e essa é uma esperança – jornalistas mais aptos a compreender a sociedade em que vivem e a agir sobre a realidade.

Porque hoje o que ocorre é uma inversão: a técnica adquiriu uma primazia que não pode ter, no caso específico do jornalismo, sobre conhecimentos que permitem, ao menos, uma mundivisão mais límpida.

Tais instrumentos, que existem em profusão na Sociologia, na Filosofia, na História, no Direito, na Economia, rareiam nos cursos de Comunicação Social. São tratados como adendo, quando, em verdade, são o principal.

Mas, mesmo nesse tipo de regulamentação, seria preciso excluir algumas áreas.

A comunicação popular (sindicatos, comunidades) por exemplo, deveria ser excluída de qualquer tipo de exigência profissional. Até para permitir que os cidadãos possam construir, coletivamente – e com os meios que efetivamente dispõem – as linguagens e formatos eficazes.

É claro que os jornalistas poderiam ajudar nisso. Mas isso seria uma possibilidade. E não condição para a existência disso.

Também teriam de ficar de fora sites, blogs de caráter pessoal. Porque isso tem a ver com a liberdade de expressão.

E, sobretudo, deveríamos, os jornalistas, acabar com essa história de monopólio das assessorias de comunicação. E embora isso pareça, simples interesse pessoal, a coisa é bem mais profunda.

Na verdade, as assessorias de comunicação não deveriam ser ocupadas por jornalistas, porque, simplesmente, não fazem jornalismo.

Sei que é um campo de trabalho mais bem remunerado que as redações e que se tem ampliado muito. Mas, tais espaços, para ser justa, deveriam ser ocupados por relações públicas, publicitários ou profissionais de marketing. Jamais por jornalistas.

Quero que aqui, sem hipocrisia, algum jornalista afirme que já fez jornalismo em assessoria de comunicação.

Vamos, agora, deixando o corporativismo de lado, responder a seguinte pergunta: quem, dentre nós, divulgou alguma informação que fosse contrária aos interesses do assessorado?

É claro que os mais tarimbados sabem bem que, às vezes, é melhor divulgar uma inevitável notícia ruim, para manter as rédeas, o controle sobre o impacto social disso.

Mas, isso é jornalismo?

É certo que há cada vez mais jornalistas e os veículos de comunicação vão se tornando cada mais incapazes de assimilar essa massa profissional.

Mas, isso nos dá o direito de avançar sobre áreas que não nos pertencem, e mais que isso, que são rigorosamente incompatíveis com o jornalismo?

Nessa área, no máximo, poderíamos trabalhar na elaboração de projetos, para ajudar na identificação de linguagens e formatos.

Mas, jamais, assumindo o comando disso.

Agora, me dêem licença que vou tomar uma. FUUUUIIIIII!

P.S.: Sim, eu vou fazer o tal do curso de comunicação que vocês tanto defendem. Depois de 27 anos, não tenho alternativa, não é mesmo? Só estou tentando arranjar dinheiro para pagar uma faculdade particular, já que o meu joelho não me permite encarar o guamazão. Vou me submeter, porque também não quero abrir uma guerra contra a categoria à qual pertenço. Mesmo não concordando, me submeto, democraticamente, às decisões coletivas. Mas, creio, sinceramente, que temos de ampliar e aprofundar esse debate. Afinal, para além dos interesses da categoria, é preciso olhar os interesses da sociedade como um todo.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Primeiro e derradeiro

Aviso aos Navegantes!




Agora, vejam só, entre tantos problemas, tenho de me preocupar com uma doida, recalcada, vaca louca, uma tal de diz-que jornalista de merda que resolveu me acertar. Que até telefona aos outros, para que eu seja demitida.

Uma sujeita que só tem emprego porque é de um tal partido. E porque é corporativista, como ela só.

Uma PORCARIA, que nenhuma empresa quer, porque não serve para nada. E cujo marido, ao que me disseram, só serve, mesmo, é para carregar a cadeira de eventual paraplégica....

Vamos lá, "sindicalismo do agachamento", da gentalha apegada ao cabide, que só se manifesta diante de quem, aparentémente, não representa perigo.

E eu estou desafiando, para deixar bem claro, o Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará.

Tal sujeitinha, que me faz quase descer ao nível do Baratão, diz-que vai me barrar. Quero é ver! Quem enfrenta Tsunami, maninha, não desfalece em marola!...

Venham todos! De uma vez. Vamos lá ver, não é isso?

Até agora eu estava calada. Até ia fazer o curso como vocês querem, não é mesmo? Mas, será que vocês preferem uma voz ecoando nacionalmente? Vamos lá!

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Lindo!



Não ia postar nada tão cedo, mas, não resisti: fui obrigada a roubar esse postal belíssimo do blog do Parsifal Pontes, cujo link, Parsifal.org, você encontra nesta página.

Como não tenho blogado muito ultimamente, confesso que só agora vi essa imagem lindíssima da Belém de outrora. Tivesse visto antes, antes a teria surrupiado, para, quem sabe, prestar homenagem a Belém.

Me perdoe, prefeito - melhor dizendo, deputado - mas uma raridade dessas não pode ficar restrita a apenas um blog.

Assim, fico lhe devendo esse furto...E grata, de coração!

P.S. Dêem um pulo lá. Há outras imagens sublimes!

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

A única coisa na vida que gostaria de ter feito!

Cântico negro



"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

(José Régio)

sábado, 13 de janeiro de 2007

Alea jacta est

O Futuro aos deuses pertence!



Ao fim (última estrofe de Fortuna Plango Vulnera) há referência a uma história de que gosto muito. Trata-se da rainha Hécuba, mulher do rei Príamo.

A história de Hécuba é mais ou menos assim: durante 50 anos, ela foi rainha da rica e poderosa Tróia.

Aquando da guerra contra os gregos contava mais de 70 anos.

Velha, portanto, e depois de uma vida inteira “abençoada”, viu morrer Príamo e todas as dezenas de filhos que tiveram.

Além de ver morrer todos eles, inclusive Heitor, o mais bravo, também viu morrer o filho deste, atirado de um penhasco.

Viu, ainda, a amada Tróia em chamas.

A “coroar” tais infortúnios, ainda foi levada como escrava, para passar os últimos anos de vida a servir quem lhe havia tirado tudo.

Trágica Hécuba, como só os gregos sabiam ser! Com as parcas a tecer o inelutável destino, sempre sujeito a toda uma anterioridade, e no qual, por vezes, era a deusa Éris a imperatriz do mundo...

“Gira, roda da fortuna”, “eis meu dorso nu exposto a tua crueldade” e “eis o bravo, derrubado pela sorte, chorai comigo!”, são algumas das frases dessa preciosa criação.

Divagando, a Perereca retorna a Carmina Burana. E, mais uma vez, faz girar a Roda da Fortuna.



Carmina Burana

(Fortuna e Fortuna plango vulnera)

I

O Fortuna
Velut luna
Semper statu variabilis,

Semper crescis
Aut decrescis;
Vita detestabilis
Nunc obdurat
Et tunc curat
Ludo mentis aciem,
Egestatem,
Potestatem
Dissolvit ut glaciem.


Sors immanis
Et inanis,
Rota tu volubilis,
Status malus,
Vana salus
Semper dissolubilis,
Obumbrata
Et velata
Michi quoque niteris;
Nunc per ludum
Dorsum nudum
Fero tui sceleris.


Sors salutis
Et virtutis
Michi nunc contraria,
Est affectus
Et defectus
Semper in angaria.
Hac in hora
Sine mora
Corde pulsum tangite;
Quod per sortem
Sternit fortem,
Mecum omnes plangite!

II

Fortune plango vulnera
Stillantibus ocellis
Quod sua michi munera
Subtrahit rebellis.

Verum est, quod legitur,
Fronte capillata,
Sed plerumque sequitur
Occasio calvata.

In Fortune solio
Sederam elatus,
Prosperitatis vario
Flore coronatus;

Quicquid enim florui
Felix et beatus,
Nunc a summo corrui
Gloria privatus.

Fortune rota volvitur:
Descendo minoratus;
Alter in altum tollitur;
Nimis exaltatus

Rex sedet in vertice
Caveat ruinam!
Nam sub axe legimus
Hecubam reginam

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Festa VI

Festa no Meu Apê VI



(Abrem-se as cortinas. No meio do salão estão o Barão, o Jujuba, o lorde Balloon e o Barão dos Cadeados vestidos de pais de santo, junto com umas seis mães de santo. Há tambores e outros instrumentos de percussão. Eles cantam e dançam a “Festa de Umbanda”, de Martinho da Vila: “O sino da Igrejinha/Faz belém blem blam/Deu meia-noite/O galo já cantou/Seu tranca rua/Que é dono da gira/Oi corre gira/Que ogum mandou/Tem pena dele/Benedito tenha dó/Ele é filho de Zambi/Ô São Benedito tenha dó/
Tem pena dele Nana/Tenha dó/Ele é filho de Zambi/
Ô Zambi tenha dó/Foi numa tarde serena/Lá nas matas da Jurema/Que eu vi o caboclo bradar/Quiô/Quiô, quiô, quiô, qiera/Sua mata está em festa/Saravá seu mata virgem/Que ele é rei da floresta/Quiô/Quiô, quiô, quiô, quiera/Sua mata está em festa/Saravá seu cachoeira/Que ele é rei da floresta/Vestimenta de caboclo/É samambaia/É samambaia, é samambaia
Saia caboclo/Não me atrapalha/Saia do meio
Da samambaia”)


_Só me faltava essa!Agora, já tem até macumba no meu apê!
_Ô comadre, num si avexe! Vamo mais é costurá a boca do sapo, pra modo de amarrá os inimigos!
_Eu chamo é a Sociedade Protetora dos Animais, pra ti, animal! Mas desde quando eu vou já virar macumbeira?
_Mas tem reza forte, comadre! Dá certo ‘mermo’! Tem uma simpatia pra mantê marido que se, você assoubesse, não tinha aperdido o seu...
_(...)
_A gente apega um bocado de leite de mulhé parida e alava as partes com ele – sabe aquele banho tcheco básico? Aí, acoloca na geladeira, pra modo do corno abebê.
_Mas, não é melhor misturar um pouco de café, “pra modo” de disfarçar o gosto?
_Égua! Como é que eu não pensei nisso antes?... Ah, e tem também aquela pra Santo Antonio, que você adevia fazê, comadre, pra modo de arranjá outro otário! Acompre uma imagem do santo e arranque o minino do braço dele. Aí, abandone o bichinho numa igreja e arreze uma novela pro santo. Mas apoquente o santo, comadre, apoquente! E só adevolva o minino quando arranjá marido!
_(...)
_E tem uma mais fácil, comadre. Você apega o leite de mulhé parida...
_Serve o outro?
_Não, comadre, não amisture macumba que apode dá errado. Apegue o leite de mulhé parida, acoloque num copo e aí amergulhe o santo de cabeça pra baixo. Afogue o santo, comadre, mas afogue! E diga pra ele: só te atiro daí quando eu conquistá o meu amô”. Quero é vê se o santo num ajuuuuda!..
_Querida correspondente você me chamou?
_Ah é, seu Barão, eu já tinha até asquecido! É que eu queria que o sinhô ensinasse a comadre a fazê água sanitária!
_A senhora está interessada em abrir o próprio negócio, dona Perereca?
_Eu?...
_Num ascute ela não, seu Barão. Que a comadre aprecisa é de um guia espiritual! Num ata nem desata deste Ap velho! E olhe só pra ela, seu Barão, toda descabelada!
_É verdade, dona Perereca! A senhora anda necessitada de uma guaribada na infra-estrutura!...
_(...)
_Eu já disse pra ela, seu Barão. Tava até ensinando uma reza forte, pra modo de espantá a urucubaca. Mas como o sinhô virô macumbeiro, apodia me ajudá...
_É verdade, seu Barão! O senhor entrou aqui Hare-Khrisna. Depois, virou uma mistura de Fred Astaire e Frank Sinatra. E, agora, vai virar macumbeiro?
_São tempos difíceis, minha senhora, são tempos difíceis! Sempre mantive a ética e a dignidade e nunca – nunca! – menti ao povo do Brejo! A senhora é testemunha, aliás, desse meu modo novo e extraordinário de fazer política! De todos os sonhos que tornei realidade!
_Comadre, eu vô me desfazê em lágrimas...
_Eu também, cumadizinha, eu também!...Mas, seu Barão, sabe, é que eu não estou entendendo o que é que isso tem a ver com macumba...
_Ah! É que nos resolvemos agregar riqueza aos nossos talentos naturais. Eu, o Jujuba, o Balloon e o Cadeados resolvemos implantar um novo e extraordinário empreendimento. Vai se chamar Terreiro do Caboco Fok you...
_Mas, não é um nome meio esquisito pra um terreiro de macumba?
_Absolutamente, minha senhora! Decidimos dar um certo charme ao nosso negócio. Até porque, como a senhora bem sabe, as elites do Brejo adoram um nome exótico! E depois, fok you é o que vamos fazer...
_E vocês vão abandonar a política?
_É claro que não, minha senhora! Vamos é formar grandes cadeias produtivas de cabocos...
_ Me desculpe, é que não estou entendendo...Como é que isso vai funcionar?
_É muito simples, minha senhora: cada um de nós vai ficar responsável por uma etapa produtiva. O Jujuba, por exemplo, vai cuidar da farofa e da galinha preta. Já o Barão de Cadeados vai construir o terreiro...
_Vixe Maria! Num adeixe não, seu Barão! Que aí vai sê caboco da Alemanha, pai de santo de Paris, preto velho da Dinamarca...E nunca mais que acaba, viu, seu Barão? É tanto aditivo que dá pra enrolá os States!
_Sim, seu Barão, e o lorde Balloon vai fazer o quê?
_Isso não lhe parece óbvio, minha senhora? O Balloon vai cuidar dos efeitos especiais...
_Vixe Maria! Que vai tê até exu suspenso na Babilônia!
_E o senhor, seu Barão, o que é que vai fazer?
_Eu, minha senhora, vou invocar os cabocos!
_É... O que não vai faltar é “caboco” invocado...
_Além disso, vou incorporar os santos. É só tremer assim, ó!...
_Com licença, minhas senhoras!
_Ô, seu lorde Sudão eu já tinha até me asquecido do sinhô!
_Pois é! E está todo mundo impaciente lá atrás, certo? Querendo saber, certo?, a que horas vamos entrar, certo?...
_Eu já não lhe disse, seu Sudão? É só no próximo ato!
_Mas já estamos, certo?, no próximo ato, certo?
_O que é que você acha, comadre, a gente amanda o seu Sudão entrá agora?
_(...)
_Ô comadre! Por que é que você ta aí com essa cara de paisagem?
_É que ta um vento!...A gente não ouve nada!...
_Faz o seguinte, seu Sudão: avorte lá pra trás, que daqui a pouco a gente lhe achama.
_Mas é que eu tenho um problema, certo? Eu tenho trauma de bastidores, certo?
_Não me adiga, seu Sudão! E quando foi que isso acomeçou?
_Quando eu tinha oito aninhos, certo?, e perdi a minha primeira rã...
_Vixe, Maria! Apere lá que eu vô pegá as minhas agulhas novas! Se adeite aí nesse sofá, seu Sudão, e me aconte tudo!...
_Querida correspondente, será que eu também poderia participar dessa sessão?
_Com certeza, seu Barão! Adeite nesse outro sofá e vamô fazê um coletivo de psicanálise. Comadre, apegue meus óculos e meu cachimbo e vá anotando tudo! Num aperca nada, viu!

(As luzes diminuem. Foco nos quatro: a correspondente, sentada numa poltrona, de óculos e cachimbo; o Sudão e o Barão deitados nos sofás; a Perereca, numa cadeira atrás, anotando tudo. Em BG: “Boi da Cara Preta”.)

(Continua)

(P.S.: escancarada aos leitores, amante das criações coletivas, a Perereca aceita sugestões)

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

fragmentos IV

Fragmentos Biográficos IV


O coração navegante ansiava lançar-se ao mar. Sempre adiante, sempre adiante... A mergulhar nas ilhas inexploradas, para encontrar-se, quem sabe, no infinito.

Quieta, trancava portas e janelas. Em vez do sol, o negrume. Em vez dos pássaros, das ondas, do vento, era o silêncio. Tão denso e profundo, que calava a alma. E o horizonte desmanchava em dor...

Por que ficaria ali – ali ou em qualquer lugar? Por que criar raízes, se gente foi feita para andar? Se o oculto, o encoberto, promete sempre mais que o que se tem?

Ainda que os pés sangrassem, que se fizessem desertos os campos do mundo, ainda assim, queria seguir.

Para buscar, entre espinhos, a flor. O oásis. A face do deus que se esconde em cada deus.

Não fosse assim, de que adiantaria viver? Para arrastar-se como se arrasta toda a gente, a temer a morte que já é?

Queria o coração acelerado. O olhar brilhante da descoberta. Os sentidos escancarados ao mundo. A vida em zilhões de tempestades. O caos primordial.

Lembrou da primeira vez em que partiu. A mochila nas costas, uns vinte e poucos anos.

Os rios, as matas. E a casinha branca emoldurada pela imensidão da floresta. Quem viveria ali, tão possuído e distante? Quem seria a parte que se fez todo?...

As gentes, que olhara com a curiosidade das gentes. Como a procurar o liame, o elo. A essência por trás das palavras, dos sonhos, dos gestos.

A quantos amara e matara, em palavras, gestos e pensamento? E em quantos resistiria, na alegria e na dor?

No coração, eram tantos os perfumes, que se embriagara deles. Já não tinham rosto. Eram alma e cheiro entranhado nos poros. Pele sob a pele.

E os castelos, os rios, as casas, as matas eram o universo que se fez retina. O Verbo a conceber a luz.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Pra sangrar o coração...



Caravela


Segue o teu caminho,
Minha caravela.
Vai por outros mares,
Outras terras.

Eu sou marinheiro
E revirei o mundo,
Pra descobrir o exílio
No coração.

Pelos sete mares,
Enfrentei quimeras.
Mas não sei domar
As minhas feras.

Fui sem oriente,
No rumo de outras Índias,
Perdido nas neblinas
Da ilusão.

Minha caravela,
Aprendi a ver estrelas
Onde o céu andava escuro
De paixão.

Tive uma sereia
Que me alucinava,
Que me amava e socorria
Nas batalhas contra o vento.

Vi a lua branca
Refletida n’agua.
Naveguei por tantas
Nicaráguas.

Embarquei num sonho,
Perdi minha fragata.
Fiquei a ver navios
Na imensidão.

(Geraldo Carneiro/Egberto Gismonti)

domingo, 7 de janeiro de 2007

Debate I

Um debate tucano I

A tática e a estratégia

I

Enquanto escrevo – e nem sei por que escrevo – vou ouvindo Amália, em “Foi Deus”, e Elizeth, em “Três Apitos”. Vozes e canções tão diferentes, mas, belíssimas, quais as sensações que despertam, no corpo e na alma.

A música é um aprendizado. Não no sentido de claves, pautas. Mas, no sentido de conhecer e amar a harmonia por trás da diversidade aparente. Ou, como diria certo filósofo, essa convivência necessária e extremamente bela entre o arco e a lira.

O começo “divagatório”, por incrível que pareça, vai dar em política.

Simplesmente, não consigo odiar ou desrespeitar quem pensa diferente de mim.

Já fui o oposto, é verdade, mas, na juventude. Na época, admirava os paredões a que mandaríamos toda a burguesia. E tomava o proletariado por angelical. Enxergava no Estado um Leviatã. Não fazia a mínima idéia do significado da sociedade civil.

Rezava, sem saber, rezava. E foram necessários muitos anos para compreender, afinal, essa promiscuidade insistente (e nefasta) entre política e religião.

É por isso que me vejo, às vezes, boquiaberta, diante do ódio que alguns tucanos cultivam em relação a mim.

Se publicasse todos os comentários ofensivos e anônimos que recebo, praticamente todos os dias, as pessoas minimamente equilibradas ficariam, certamente, tão espantadas como eu.

Essa coisa de satanização é pequena demais. Revela ignorância, intolerância e até uma certa ingenuidade: a incapacidade de compreender o que significa o poder e, sobretudo, a conquista do poder.

Nenhum de nós – tucanos, petistas, peemedebistas, pefelistas – somos anjos ou demônios. Mas, simplesmente, agentes políticos. Pessoas exercendo a Cidadania, como, aliás, todos deveriam fazer.

Parece tatibitati. E é. Mas, às vezes, é preciso ser pedagógico. Até no sentido primordial da palavra: aquele que conduz o menino pela mão.

É fato que os sentimentos interferem na possibilidade de escutar o outro. Assim, ouvimos, atentamente, as pessoas com quem simpatizamos. E nos fechamos ao discurso daqueles com quem antipatizamos. Mas, quem sabe, agindo didaticamente, consigamos obter da platéia a necessária atenção.


II

Partido é um ajuntamento de cidadãos que caminham na mesma direção; que pensam, interpretam o mundo, da mesma forma. E querem, ao fim e ao cabo, a mesmíssima coisa.

É claro que, em meio a isso, há divergências. Mas não posições estratégicas - de fundo, de horizonte, de futuro, de objetivo - diametralmente opostas. Até porque isso resultaria, fatalmente, em outro partido.

O que há são diferentes compreensões táticas; visões diferentes de uma determinada conjuntura, de uma realidade, e da ação que sobre ela é preciso exercer, para alcançar aquele objetivo comum.

Esse é, pois, o primeiro ponto a fixar: a diferença entre tática e estratégia. A diferença entre o que se pretende, de fato, lá adiante, e o que se faz, aqui e agora, diante do que está posto, para se chegar ao fim pretendido.


III

E como é que isso se traduz no dia a dia? É mais ou menos assim: você e eu queremos chegar a Roma. Ou porque amamos a História; ou porque temos Roma como “o” roteiro turístico. Ou porque, talvez, acreditemos na propaganda da “Roma, Cidade Eterna”. Não importa o porquê. O fato é que eu, você e tantos outros queremos chegar a Roma.

Pois, muito bem. Como somos “companheiros” ou, quem sabe, amigos, decidimos viajar juntos. Sonhamos, planejamos juntos. E até parece que nunca nos separaremos, não é? Em nossa imaginação, já até organizamos a festança em Roma – a nossa Roma. Nossa e só nossa! Sem cristãos a arrombarem a nossa alegria pagã. Onde inexiste pecado – original ou adquirido.

Mas, lá pelas tantas, nós, apesar de mantermos o mesmo amor pela mesma Roma, começamos a divergir. Você diz que é melhor pegar um avião até Recife e daí se mandar para Madri ou Barcelona. E, por barco, trem, ônibus ou avião, chegar, afinal, a Roma.

Mas, eu digo que assim fica mais caro e distante. Que o melhor é pegar o avião em Belém até Lisboa. E, a partir daí, pegar outro avião. Ou, quem sabe, comprar a passagem direta, com escala no Rio ou em São Paulo. Mas, o certo, é que, também, continuo querendo chegar a Roma.

É claro que o dinheiro e o tempo que cada um de nós gastará dependerá da realidade que vemos – e, também, dos meios à nossa disposição.

E o que é essa realidade? Nada além das informações que possuímos – ou não possuímos – e que nos fazem pensar assim ou assado.

E o que são os meios? O dinheiro, o cacife, que possuímos – ou que possui um amigo, um parente, um aliado – e até os aviões, barcos, trens, ônibus e tudo o mais que existe no lugar em que nos encontramos. Ou seja, tudo o que podemos usar, para vencer a distância entre o “aqui” e o lugar aonde pretendemos chegar.

É claro que o resultado da decisão que tomamos - em função dessa “realidade compreendida” e dos meios disponíveis - dependerá de vários fatores. Pode ser que, objetivamente, a decisão mais respaldada, advinda, oriunda, “parida” de dados concretos me leve a chegar mais barato e rapidamente.

Mas, é possível, também, que uma greve, uma tempestade, um defeito no avião, no trem, no barco, ou qualquer outro acidente, me leve a ficar retida em algum lugar, dias, semanas a fio, enquanto você chega a Roma, todo bacana – e saboreia um sorvete, depois de comer uma bela macarronada e apreciar o Coliseu...

E, é claro, que, entre tantos companheiros que se dispuseram a ir conosco, haverá sempre aquele (ou aqueles) que ficará especado em Belém. Porque não entendia nada de geografia. E imaginava que Roma era logo ali. E que bastava apanhar o Icoaraciense...

Mas, ao fim e ao cabo, fazemos parte, todos, do mesmo balaio. Você, que chegou tão depressa; eu, que fiquei tempos, perdida em algum lugar; e o sujeito que nunca chegou – até porque o ônibus demora à beça e o motorista, embora carcamano, nem é capaz de dizer: “Vê se te manca, ô meu! O busão só vai até Icoaraci”...


IV

Bom, já vou na sexta ou sétima dose de vodka. E, definitivamente, estou escrevendo outras coisas. Hoje, já escrevi um poema, cheguei à metade do “Festa no Meu Apê VI” e estou, aqui, tentando traduzir alguns dos conceitos mais difíceis de compreender na política: tática, estratégia, imponderabilidade. Mas, que são, rigorosamente, fundamentais, qual o conceito de “areté”. Por isso, peço vênia aos leitores para beber em paz, neste final de noite, ouvindo, depois de Amália e Elizeth, um excelente pagodão.
Volto a esse assunto mais adiante. Amanhã, vou concluir a Festa no Apê. Ciao!

sábado, 6 de janeiro de 2007

Ao pó

Ao pó



Não me convidem para enterros.
Não me convidem a velar os mortos.
Permitam que chore na solidão de meu quarto,
Os risos e as histórias de quem partiu.

Enterros existem para esquecer.
Cemitérios, para visitar.
Há coisa mais impessoal que aquele amontoado de sepulturas?
Há anonimato maior que o da terra a receber um corpo?

Cemitérios são monumentos à finitude.
Avivam a consciência de que tudo retorna ao pó.
Não apenas em materialidade.
Mas nos confins do que chamamos tempo.

A cada era, apaga-se um coração.
E embora renasça em luz, entre as estrelas,
E embora respire no corpo, no cheiro, de quem ficou,
Cala, aos poucos, na lembrança,
Até que a pequenina lembrança - e aquele que lembra
Também se acabem em pó.

E a alma que torna ao criador
Daqui, nem o corpo a levar,
Também já não é aquele coração
Pois que os corações são feitos de sangue, esperança e suor.

Enterro é a morte vívida do coração que se amou.
Um filho, um amigo, o pai...
Cobre de luto a imensa vida ali tão perto.
E que se fez mais amada que a vida que ficou.

A paixão atiça o calor daquele corpo,
Mas o choro que se levanta
É a realidade do frio que se tornou.

E não há força que possa animá-lo.
Nem música, nem poesia que o vão buscar às profundezas da terra.

Não, não me convidem para enterros,
Nem esperem que a eles compareça.

Prefiro a memória em festa,
A lembrança que cheira, ri, salta, acaricia...
Que arde no peito em carne e osso
Até que o peito em outro peito retorne
À luz, ao tempo, ao pó.

Belém, 06 de janeiro de 2007