No domingo, o publicitário Rafael Esteves resolveu
almoçar na casa de uma amiga, no bairro da Bela Vista, em São Paulo. E como a
amiga é fã de “Friends”, vestiu uma camiseta com a logomarca do seriado. Ele só
não imaginava é as hostilidades que enfrentaria por causa de algo tão
corriqueiro - a escolha de uma roupa.
O metrô estava apinhado de manifestantes do 15 de
Março. E a camiseta de “Friends” era vermelha, a cor do petismo e de todas as esquerdas.
Enquanto caminhava, Rafael notou que lhe olhavam de forma esquisita e só se
tocou do que se tratava quando ouviu o primeiro “vai pra Cuba”. Em uma das
estações, veio o pior: além de insultos, ouviu a ordem: “ou tira a camiseta ou vai ser expulso do
vagão”.
O rapaz explicou que não é petista, apontou a
logomarca de “Friends”, argumentou que o
Brasil é uma Democracia - e nada. No meio da confusão, uma senhora de 74 anos
saiu em defesa dele e disse ser petista. A idosa acabou expulsa, aos gritos, do
vagão. (https://www.facebook.com/faelesteves/posts/877603128965204).
Naquele mesmo dia, à tarde, em Porto Alegre (RS), a
estudante Sara Menezes estava em uma esquina, observando a passeata. E como
vestia uma camisetinha vermelha, teve de ser protegida pela polícia. "Eles
começaram a gritar com um rapaz ao meu lado, e quando viram que eu estava com
uma camiseta vermelha vieram pra cima, e a policia logo apareceu pra me
proteger", contou a garota. (http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/rs-com-roupa-vermelha-jovem-e-hostilizada-em-manifestacao,aa952651bee1c410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html)
No Rio de Janeiro, um homem caminhava pela praia de
Copacabana, quando foi abordado por manifestantes, também pelo fato de estar
com uma camiseta vermelha – e, “pra piorar”, com uma estampa da foice e martelo.
O homem recusou-se a tirar a camiseta ou a ir embora da praia. Bateu boca com
os manifestantes, disse que votou em Dilma Rousseff e que as ruas são de todos.
Foi chamado de “viado” e insultado com toda sorte de palavrões. Tentaram até espancá-lo.
Teve que sair dali em uma viatura policial. (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603255-homem-com-camiseta-da-foice-e-martelo-e-hostilizado-em-copacabana.shtml).
Ainda em Copacabana, o fiscal da Fazenda Sérgio
Moura, que é morador da área resolveu gritar para os manifestantes um “vai pra
Miami”. Foi cercado e agredido. "Me agrediram, jogaram cerveja, me deram
chute", relatou. "Não vou ficar calado. Vocês querem que tenha um
golpe militar para todo mundo ficar calado? Eu defendo o meu direito de ser
democrático. Vai para Miami, vai atrás do teu dinheiro", repetia,
indignado, após a agressão.
Já o mecânico Rogério Martins apenas passava de
bicicleta pela avenida Atlântica, também em Copacabana, com uma bandeira
vermelha do Movimento Nacional de Luta pela Moradia enrolada no pescoço. Foi
chamado de “ladrão”, “comunista” e empurrado da bicicleta até cair. Teve de ser
escoltado pela polícia, para deixar o local. "Eu não fiz nada e tentaram
me espancar", disse, espantado, o mecânico. (http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2015/03/acompanhe-os-protestos-pelo-pais.html)
Os casos acima são apenas algumas das agressões
ocorridas durante a Manifestação de 15 de Março, considerada “pacífica” e
“ordeira” pelos grandes veículos de comunicação.
Eles refletem um ódio impressionante a tudo o que
lembre o petismo e todas as esquerdas. Um ódio que não poupa ninguém: nem mesmo
uma idosa de 74 anos ou uma garota que poderia ser sua filha, caro leitor.
Em comum entre as vítimas, além da roupa vermelha,
há apenas o exercício de direitos democráticos, constitucionalmente garantidos:
ir e vir, liberdade de expressão.
Em comum entre os agressores, a ideia de que podem
suprimir na marra os direitos alheios; que podem ofender, ameaçar e até espancar outros cidadãos; que podem determinar aos demais até o que vestir.
O ódio aos “comunistas” (a denominação a que são
reduzidos por essa gente todos os esquerdistas, e não só) não é um fenômeno
novo no Brasil.
Experimentou picos durante o integralismo e a
ditadura militar, mas sempre esteve presente em todo o século passado.
Nos últimos anos, no entanto, parece vir crescendo
de forma célere, e ninguém sabe dizer em que acabará.
Nas jornadas de junho de 2013, foram várias as agressões
a militantes de esquerda, já que grupos fascistas tentavam expulsá-los daquele
movimento.
Na campanha eleitoral do ano passado, também ocorreram
agressões - a mais impressionante a um deficiente físico: http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2014/10/19/enio-petista-conta-a-agressao-que-sofreu/
Agora, ao que parece, o ódio se dissemina pelo país
e atinge até mesmo quem nem militante é: apenas comete o “pecado” de usar uma
determinada cor.
Certeza de impunidade? Provavelmente.
Coisa que explica, também, o fato de até pedirem
abertamente um golpe militar, enquanto semeiam esse ódio doentio entre as
massas que invadem as ruas do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário