Do excelente blog Semióticas (MG), do
jornalista e professor José Antônio Orlando:
“O animal humano
Nem tudo são flores para a “prova de
verdade” que a fotografia sempre pode representar. Desde a primeira metade do
século 19, os pioneiros do registro fotográfico usaram a pretensa “verdade” da
imagem fotográfica para ganhar fortunas reproduzindo, especialmente, os seres
humanos considerados “exóticos, selvagens ou monstros” – muitos deles
capturados como animais em seus países de origem e depois exibidos em feiras,
circos e zoológicos das maiores e mais “civilizadas” capitais da Europa e
Estados Unidos.
Por incrível que pareça, a última
dessas grandes e populares exposições em zoológicos de “humanos exóticos, quase
animais” foi realizada há pouco mais de 50 anos. Em 1958, em Bruxelas, Bélgica,
a apresentação em uma jaula de uma “autêntica família de um vilarejo do Congo”
foi interrompida antes da data prevista. Apesar do estrondoso sucesso popular
que levava todos os dias multidões ao “espetáculo”, críticas na imprensa e
pressão dos países vizinhos provocaram o fechamento do negócio. Não há registro
sobre o destino da “autêntica família”.
Presentes em todos os manuais de
história da fotografia, as cenas registradas em daguerreótipos, dioramas,
cartões postais, filmes de curta duração e outras técnicas pioneiras dos
tristes espetáculos de “humanos exóticos, quase animais” foram reunidas pela
primeira vez em uma impressionante exposição aberta nesta semana no museu Quai
Branly, em Paris. Antes da exposição, as imagens haviam sido publicadas em 2008
no catálogo “Human Zoos – Science and Spectacle in the Age of Empire”
(Liverpool University Press), resultado da pesquisa feita durante décadas pelo
historiador francês Pascal Blanchard.
No catálogo, que traz mais de 600
cartazes, fotografias e fotogramas de época, Pascal Blanchard defende a tese de
que o desumano e popular espetáculo tinha um objetivo político: justificar e
fazer propaganda das missões de guerra e de ocupações ao sul da linha do
Equador nas Américas, África e Ásia pelos países da Europa. Segundo Blanchard,
que assina como curador científico da exposição no Quai Branly, os espetáculos
de “zoológicos humanos” legitimaram a colonização e influenciaram o
desenvolvimento de ideias racistas que perduram até nossos dias.
Blanchard explica que durante o
século 19 se desenvolveram noções sobre a raça e o conceito de hierarquia
racial, com teses absurdas como aquela que defende que os negros africanos
seriam o elo que faltava entre o macaco e os homens brancos ocidentais, ou o "homem
normal", como consideravam os cientistas. Seguindo a cronologia das
imagens do catálogo publicado por Blanchard, a exposição começa com as
primeiras chegadas de povos "exóticos" à Europa, trazidos pelos
exploradores, como o caso da família de índios tupinambá, do Brasil, que
desfilaram, em 1550, para o rei Henrique 2º e a nobreza em Rouen, na França.
Londres, que foi a pioneira ao
apresentar uma exposição de índios brasileiros Botocudos em 1817, iria
transformar-se na "capital dos espetáculos étnicos", seguida pela
França, Alemanha, Bélgica e Estados Unidos. A exibição em Londres, em 1810, e
em Paris, em 1815, da sul-africana Saartje Baartman, conhecida como "Vênus
Hotentote". Hotentote era o nome pelo qual sua tribo era conhecida à
época.
Saartje Baartman, exibida como
atração numa jaula para plateias incrédulas e ávidas por aberrações e
monstruosidades, tinha nádegas muito proeminentes e marcou, segundo Blanchard,
uma reviravolta nesse tipo de apresentação. Depois do sucesso popular da negra
nua de nádegas exageradas, pessoas com deformações físicas e mentais também
passariam a servir de atração para as cortes europeias na época.
Esses "shows" nas capitais
da Europa e nos Estados Unidos se profissionalizaram e renderiam fortunas, com
interesse cada vez maior do público, tornando-se uma indústria de espetáculos
de massa. Os “animais humanos em jaulas” atraíam multidões em suas extensas
turnês internacionais - e geravam fortunas”.
Aqui você pode ler a
íntegra do artigo, além de ver as interessantíssimas fotos que o ilustram: http://semioticas1.blogspot.com.br/2011/12/o-animal-humano.html
Um comentário:
O que Harry Houdini e Simao Jatene tem em comum? Bom, o primeiro, é consirado o maior ilusionista do mundo, o segundo, é o maior ilusionista do Pará, consegue enganar o povo com uma facilidade. Pará, o estado com os piores indices do Brasil.
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