O tabuleiro de 2010
As repercussões do “acordão” de Brasília (I)
É pouco provável que o acordo pré-nupcial entre o PT e o PMDB, em torno da candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República, tenha repercussões imediatas no Pará.
O meio de campo continua pra lá de enrolado no casamento mais problemático que a política paraense já produziu.
Se é certo que o “acordão” de Brasília tende a acelerar, a curto prazo, as negociações interpartidárias, a verdade é que nada garante que PT e PMDB não vão continuar a se estapear em público e que caminharão juntinhos ao “altar” de 2010.
O pomo da discórdia, desde sempre, é a partilha de poder – ou, como gostam de chamar os peemedebistas, o “espaço político” para que o partido contemple suas milhares de lideranças, em todo o estado.
E poder é coisa que o PT sempre teve enorme dificuldade em dividir, mesmo em se tratando das suas inúmeras tendências.
É bem verdade que as relações do Governo do Estado com o próprio PT já foram bem piores.
Até dezembro do ano passado, apenas a Democracia Socialista (DS), a minúscula corrente da governadora Ana Júlia Carepa, apitava alguma coisa no governo.
Mas aí entrou em cena um colegiado político, com representantes das quatro principais tendências do PT paraense – entre outros, Paulo Rocha, Ganzer, o presidente regional João Batista, o líder do governo, Airton Faleiro, o chefe da Casa Civil, Cláudio Puty.
O colegiado passou a debater com Ana Júlia as estratégias políticas e as principais decisões de governo.
Nacos importantes do bolo, como a poderosa Secretaria de Comunicação, saíram do controle da DS e foram parar nas mãos de Paulo Rocha, cuja presença no governo não correspondia à dimensão da sua corrente, a Unidade na Luta, no PT estadual.
E se os petistas continuam a não morrer de amores uns pelos outros, pelo menos o governo começou a ganhar uma cara, a parecer mais coeso.
E as divergências, que já ameaçavam transbordar para o espaço público, acabaram novamente restritas aos muros do PT.
A “abertura” do governo, arrancada a fórceps, também permitiu que ele começasse a ceder espaço para a entrada de novos partidos, de forma a pavimentar o caminho para um amplo leque de alianças em 2010.
O problema é que nada disso parece ter surtido efeito – ainda - sobre as suas relações com o principal aliado, o PMDB.
O que, se até surpreende, dada a habilidade de alguns dos jogadores, também não autoriza a afiançar que as rachaduras na parede são de tal monta que já há remendo que dê jeito.
Day after na AL
Na manhã de ontem, quarta-feira, no day after do “acordão” de Brasília, o líder do PMDB, deputado Parsifal Pontes, foi à tribuna para esclarecer que não há “qualquer correspondência” entre a aliança em torno de Dilma e as relações entre petistas e peemedebistas, aqui no Pará.
“Eu elogiei o presidente Lula e a capacidade de articulação dele. Mas disse que, infelizmente, isso não se repete no Pará. Aqui a história é outra. O fato de fecharmos com a Dilma não tem qualquer influência para uma aliança com a governadora Ana Júlia Carepa”, afirmou o deputado ao blog.
No entanto, até mesmo Parsifal reconhece que o pacto nacional deve intensificar as negociações entre as duas legendas.
A última conversa do presidente Lula com o presidente regional do PMDB, o deputado federal Jader Barbalho, acerca das querelas locais, foi há mais de dois meses.
E Jader, até por uma questão estratégica, preferiu aguardar pelo “acordão” nacional, para retomar o diálogo.
“A qualquer momento, a partir de agora, eles (Lula e Jader) devem sentar para conversar”, prevê Parsifal, para quem é possível que o novo bate-papo aconteça já na semana que vem.
“Creio que, agora, o Lula vai querer tratar das alianças regionais. E vai começar pelos estados onde há problemas, como é o caso do Pará e da Bahia”, observa.
E, embora pessoalmente contrário à recomposição local com os petistas, Parsifal também reconhece que Jader possui “interesses nacionais muito grandes”, para, simplesmente, “bater o pé” aos petistas paraenses – e apesar de até o cacique peemedebista se sentir “sem nenhum estímulo”, para apoiar a reeleição da governadora.
“Não digo que não há possibilidade de retomar essa aliança no Pará, mas, há pouca possibilidade, mais por obtusidade do PT”, resume.
Para ele, é preciso que o PT ceda espaços políticos aos peemedebistas, até para que seja possível convencer os correligionários, que não querem nem ouvir falar de Ana Júlia. “Temos de ter algo muito suculento para oferecer a eles, até para não acabarmos apanhando”, ri-se.
E o que seria tão “suculento” para levar os peemedebistas a apostarem num casamento neurotizante, desde a saída da igreja?
Parsifal não admite, mas, também não descarta, que a iguaria atende pelo nome de Secretaria de Saúde (Sespa).
Diz, apenas, que o partido não pode continuar no governo “menor do que quando começou” e que o problema não é o dilema hamletiano de “querer ou não querer a Sespa”, ou qualquer outra secretaria: “O que queremos é o comando, o espaço político”.
Aponta, no comportamento de Lula, o exemplo dessa cessão de espaço: “Seremos parceiros até na elaboração do programa de governo e na coordenação da campanha da Dilma”.
E conclui, em tom de brincadeira: “O PMDB nunca fecha a porta; nossa porta não tem nem ferrolho. Mas o problema é que o PT, aqui no Pará, quer que a gente abra a porta, vá buscá-lo na rua, dê presunto, queijo, toda sorte de acepipes e, no final, não quer ajudar a gente nem a lavar a louça”.
Segundo ele, não há problemas nem quanto à proposta petista de ceder ao PMDB uma das vagas ao Senado e, a Vice-Governadoria, ao bloco formado pelo PR e PTB.
Mas, enfatiza, antes de examinar qualquer proposta do tipo, é preciso discutir “a recomposição das alianças”.
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