Em 1984, foi lançado o álbum abaixo, “Cantoria”.
Nele, há uma canção, “Matança”, interpretada pelo Xangai.
Na época, eu tinha 24 anos.
Mas me lembro bem o quanto essa canção me marcou.
No entanto, nunca imaginei que viveria para ver o que ela “profetizou”.
Destruímos tanto a natureza, que agora ela como que tenta nos extirpar, da mesma forma que extirpamos a um câncer.
E de nada adianta clamar por Jesus, Maria, Yahweh ou Alá.
Muitos já estão morrendo devido às mudanças climáticas.
Milhares já estão perdendo o pouco que juntaram ao longo de toda uma vida.
O mundo que deixaremos aos nossos filhos e netos será, provavelmente, um filme de terror.
Tudo como resultado das nossas ações e inações, ao longo de décadas.
Por ignorância, descrença, manipulação ideológica das massas.
Ou até mesmo pela vã esperança de sensibilizar quem só enxerga cifrões.
Para agravar as coisas, somos apanhados por esse furacão em meio à ameaça de uma nova Idade Média piorada.
Com grupos nazifascistas a operar máquinas de fanatização político-religiosa sem paralelo na História.
O caos social lhes é propício, e eles sabem disso.
Aos olhos das multidões fanatizadas, as tragédias oriundas das mudanças climáticas soam como “castigos divinos”, a exigir bodes expiatórios.
Temos visto isso nas redes sociais: gente a dizer e a replicar que a tragédia do Rio Grande do Sul foi provocada pela “ira divina”.
Os bodes expiatórios são os de sempre: gays, “comunistas”, feministas, umbandistas, com ênfase nesses últimos.
Isso gera a possibilidade de crimes de ódio.
Afinal, estamos a falar de uma população já desesperada, e que ainda poderá sofrer com doenças decorrentes do contato com águas contaminadas.
E que, mesmo assim, continua a ser massacrada por essa máquina de mentiras e fanatização.
Vimos isso, também, durante a pandemia e na época das últimas eleições presidenciais.
Gente ajoelhada pelas ruas, a rezar; fanáticos religiosos que vandalizaram os prédios dos Três Poderes, na expectativa de um golpe militar.
E enquanto isso, prosseguem as motosserras e o fogo nada divino do agronegócio a destruir florestas.
Prosseguem os garimpos, a especulação imobiliária, as indústrias a poluir os rios.
E prosseguimos todos com o nosso consumismo desenfreado, a “construir” montanhas de lixo por todo lado e a espalhar a fumaça de combustíveis poluentes, como símbolos de dinheiro e poder.
Desde os primórdios da Civilização, e hoje muito, muito mais, vivemos sob o império do TER.
É o “ter” que nos define.
É o “ter” que nos move.
É o “ter” que nos consome.
E é o “ter” que, enfim, irá nos extinguir.
O Apocalipse que nos espreita é tecno-capitalista-medieval.
Sem Jesus voltando, glorioso.
Mas com montanhas de lixo (roupas, carros, computadores, smartphones, TVs...), onde dantes existiam florestas e rios.
Com multidões em procissão ou ajoelhadas pelas ruas, vítimas das pestes trazidas pela devastação.
E com grandes fogueiras a queimar os “hereges”, nos altares expiatórios.
Para os criminosos que orquestram toda essa destruição (bilionários, barões do agro, banqueiros, grandes industriais) pouco importa que a espécie humana se acabe, desde que vivam como reis-sacerdotes até lá.
Para eles, florestas, rios, bichos e gente são apenas negócios, e nada mais.
E ainda nos dizem que é preciso continuar a “negociar”, no jogo político, com essa bandidagem.
Temos de ser “cordatos", “politicamente hábeis” e parar de “alarmismo”.
Quando o que precisamos, em verdade, é de leis mais duras, com longas penas de cadeia, para enfiar goela abaixo desses abutres o respeito à Constituição.
Resta-nos pouco tempo até o Apocalipse.
Construído pelas mãos humanas.
E que, pelas mãos humanas, também precisará ser detido.
FUUUIIII!!!
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Pra vocês. Pra todos nós.
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