segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Alô, alô, Marajó! Alô, alô, MPF! Damares Alves diz que traficantes arrancam dentes de criancinhas traficadas do Marajó, para que elas “não mordam durante o sexo oral”. E insinua que imprensa, STF e Congresso apoiam tais perversidades. Mas não explica o que fez contra isso e por que só decidiu “revelar” essas aberrações às vésperas do segundo turno das eleições.




Em 2019, quando era ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves chocou o Pará e o Brasil ao afirmar que meninas eram estupradas, na Ilha do Marajó, por não usarem calcinhas. Ou seja: para ela, a culpa era dessas crianças e adolescentes.

Agora, às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais, Damares volta à carga, com declarações que mais parecem saídas da seita norte-americana Q-Anon, que se utiliza de um problema social gravíssimo, como é a pedofilia, para satanizar adversários e endeusar os amigos.

Segundo Damares, crianças de 3 ou 4 anos da Ilha do Marajó, traficadas para outros países, teriam seus dentes arrancados, “para que não mordam na hora do sexo oral”.

Seriam, também, alimentadas apenas com comidas pastosas, “para o intestino ficar livre, para a hora do sexo anal”.

Damares, que foi eleita senadora pelo PL, o mesmo partido de Bolsonaro, diz que teria descoberto tudo isso durante a sua passagem pelo Ministério, e que existiriam até imagens dessas crianças.

Ela fez tais declarações no último sábado (08/10), diante de uma plateia de evangélicos da Assembleia de Deus Ministério Fama, em Goiânia, capital do estado de Goiás.

Só não esclareceu o que fez em relação a tais “descobertas”: se as levou ao conhecimento do Ministério Público Federal (MPF) e da polícia, para que fossem investigadas, a fim de resgatar essas crianças e punir os criminosos.

Ou se resolveu guardar as suas “descobertas” em silêncio, para divulgá-las apenas durante a campanha eleitoral, deixando os criminosos soltos, e as crianças entregues à própria sorte.

Damares chegou a insinuar que essas perversidades contariam com o apoio ou cumplicidade da imprensa, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional.

Segundo ela, quando informado da situação, “Bolsonaro disse: nós vamos atrás de todas elas (as crianças). E o inferno se levantou contra esse homem. A guerra contra Bolsonaro que a imprensa levantou, que o Supremo levantou, que o Congresso levantou, acreditem, não é uma guerra política, é uma guerra espiritual”.  

Ela também disse ter descoberto, quando ainda estava no Ministério, do qual saiu em 31 de março deste ano, que, “nos últimos 7 anos” o estupro de recém-nascidos teria “explodido” no Brasil, e que o Ministério teria imagens de bebês de apenas 8 dias de vida, sendo estuprados.

Novamente, ela não informou o que fez, quando ministra, para combater tais crimes.

Além disso, parece ter esquecido que os “últimos 7 anos” são o período de 2015 para cá.

Ou seja: não se referem apenas ao governo da ex-presidenta Dilma Rousseff, do PT, que foi afastada do cargo no começo de 2016, mas principalmente aos governos de Michel Temer (de 2016 a 2018), aliado de Bolsonaro, e do próprio Bolsonaro (de 2019 até agora).

Damares disse ter “descoberto”, ainda, que um vídeo com o estupro de crianças “custa entre R$ 50 mil e R$ 100 mil”.

Mas não disse que tais valores significam que os compradores dessas perversidades têm de ser pessoas muito ricas, possivelmente grandes empresários, como aqueles que apoiam Bolsonaro.

Ela também afirmou que o crime organizado está envolvido nessas brutalidades e que “tem sangue, tem morte, tem sacrifícios”.

No entanto, mais uma vez, não esclareceu se levou à polícia e ao Ministério Público tais “denúncias”.


A opinião do blog


A Perereca da Vizinha lamenta a falta de caráter de Damares Alves, ao insinuar uma espécie de cumplicidade da imprensa com tamanhas aberrações.

Em vez de fazer as suas insinuações dentro de uma igreja, repleta de pessoas que, em geral, só se “informam” através das redes bolsonaristas de fake news, a ex-ministra deveria ter tido a decência de fazê-las diante dos jornalistas.

Igual postura deveria ter tido em relação aos ministros do STF e aos integrantes do Congresso Nacional, para que, assim como os jornalistas, tivessem a chance de se defender.

O blog espera que a ministra informe as providências que adotou acerca de tão graves “denúncias”, e que apresente provas do que diz.

Do contrário, as suas “revelações” terão sido apenas mais uma das fake news eleitoreiras do bolsonarismo.

O blog reluta em acreditar que a ex-ministra esteja a se utilizar de criancinhas indefesas, e de um problema tão grave quanto a exploração sexual infantil, para fazer politicagem em favor do atual presidente e satanizar aqueles que não se curvam diante dele.

Tal atitude, vinda de uma pastora evangélica como Damares, seria absolutamente covarde, repugnante, e até diabólica.

Mas não só.

Poderia até mesmo indicar espécie de tara, perversão sexual, a exemplo da fake news das mamadeiras em formato de pênis.

Fantasias ocultas de mentes profundamente perturbadas, que as pessoas normais, com um mínimo de sanidade mental, simplesmente não conseguem conceber.

Mas, obviamente, o blog não acredita que seja esse o caso da ex-ministra.


As reportagens com as declarações de Damares


Leia esta excelente reportagem da Agência Pública, de 2019, mostrando que a exploração sexual de crianças e adolescentes, na Ilha do Marajó, é muito grave e existe, sim, mas é bem diferente do que Damares Alves afirmava, naquela época: https://apublica.org/2019/09/investigamos-a-violencia-sexual-no-marajo-e-nao-e-nada-do-que-a-ministra-damares-diz/

E veja as matérias com as declarações da ex-ministra.

Aqui: https://portaldeprefeitura.com.br/2022/10/09/damares-alves-revela-descobertas-chocantes-de-abusos-em-criancas-dentinhos-sao-arrancados-para-elas-nao-morderem-na-hora-do-sexo-oral/

Ou aqui: https://folhadoestadoonline.com.br/politica-nacional/video-damares-afirma-que-governo-bolsonaro-vem-combatendo-trafico-de-criancas-e-pedofilia-criancas-tem-os-dentes-arrancados-para-fazer-sexo-oral/

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