O que incomoda muita gente nessa história de blogs e redes sociais é a impossibilidade de impedir o acesso à informação.
Dantes, era assim: o sujeito telefonava para o dono
ou para o editor chefe de um jornal e a matéria morria ali mesmo, sem choro nem
vela.
Aliás, às vezes, nem era preciso telefonar: na
redação, todo mundo sabia que fulano era um dos “queridinhos” dos patrões. Daí
que os repórteres já nem se davam ao trabalho de escrever.
Blogs e redes sociais viraram de cabeça pra baixo aquele
mundinho tão plácido dos “intocáveis”.
Hoje, a informação arromba as portas dos veículos
tradicionais de comunicação, em um processo incontornável, inelutável, de
apropriação pelo distinto público.
Um processo tão veloz que já chegou até mesmo neste fim de mundo,
que é o estado do Pará.
Há alguns anos, caro leitor, você jamais teria
acesso àquela gravação sobre uma suposta venda de sentenças no Tribunal
Regional Eleitoral do Pará (o áudio cuja divulgação levou o advogado Sábato
Rossetti a processar cinco blogueiros paraenses. Leia aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2015/02/incrivel-advogado-processa-cinco.html).
Aliás, você não teria acesso nem mesmo a uma notícia,
ainda que “maquiada” e escondida num pé de página, sobre a denúncia do caso ao CNJ, Polícia Federal,
Ministério Público.
Aliás, é bem possível que ninguém nem mesmo ousasse
denunciar um caso semelhante, ainda que possuísse provas irrefutáveis: um
sujeito sozinho, isolado, sem possibilidade de se fazer ouvir, é alvo fácil
para as mais impressionantes formas de intimidação.
Não, não foi o receio de irreparáveis “prejuízos à
honra” que fez Sábato Rossetti investir contra os blogs.
Fosse assim, ele teria processado os grandes jornais
e emissoras de TV, cujo alcance, que ainda possuem, deu muito maior amplitude à
divulgação desse fato.
Também não foi uma “impossibilidade de defesa”: em
verdade, foi nos blogs, e mais especificamente no A Perereca da Vizinha, que Sábato Rossetti obteve o mais amplo
espaço para se defender.
Até porque esta é outra característica da revolução
informacional: todos podem se fazer ouvir e há ágoras para todos os gostos.
A questão é mais profunda. O que incomoda, como já
se disse, é a possibilidade em si de o distinto público ter acesso a
determinadas informações.
Não é a honra, não é a amplitude: é a simples
possibilidade informativa.
É, em suma, a Democracia, a ferramenta que permite o
exercício do poder por todo e qualquer cidadão. O poder de escolher,
fiscalizar, questionar e de derrocar “intocabilidades”.
Um exemplo emblemático desse pensamento conservador
é a sentença do juiz Álvaro José Norato de Vasconcelos, que determinou a
retirada das postagens do blog do Hiroshi Bogea, sobre a suposta venda de
sentenças no TRE.
O magistrado escreveu: “É de rigor mensurar se a
informação que está sendo transmitida caracteriza adequada utilidade de
conhecimento. Não soa razoável supor que a referida divulgação cumpre funções
de cidadania; ao contrário, satisfaz a curiosidade mórbida de certos leitores,
ávidos por especulações e informações sem conteúdo socialmente justificável, de
modo que não há motivo público que justifique a continuidade do acesso”.
Ora, é o caso de se perguntar: se uma denúncia, ao
Ministério Público, ao CNJ, à AGU, à Polícia Federal, acerca da possibilidade
de venda de sentenças em um tribunal não é um “conteúdo socialmente
justificável”, o que seria, então, um “conteúdo socialmente justificável”?
O Poder Judiciário, com a sua importância radical
para a Democracia, pode ser alvo de suspeitas de malfeitos sem que a sociedade seja
informada acerca disso, até para obrigar a que as investigações sejam levadas
até o fim, doa a quem doer?
Além disso, fica a seguinte pergunta: é legítimo, é
legal, é coletivamente aceitável, determinar, “em nome da honra”, a destruição
de livros de História em uma biblioteca?
Então, por que, “em nome da honra”, um juiz acha que
pode determinar a retirada do conteúdo de um blog jornalístico, que documenta o
pensar e o agir da sociedade em que vivemos?
O pedido para a retirada de conteúdo desses cinco
blogs, e a concessão de tal pedido, não é apenas para “punir” os blogueiros
pela “ousadia” de informar: é, sobretudo, uma afirmação de poder; o poder que alguns
ainda imaginam possuir sobre a informação.
Mais que isso: é a tentativa de continuar a escrever
a História apenas pelo ângulo de alguns,
calando a multiplicidade de vozes trazida pelos blogs e redes sociais.
No entanto, sinto dar esta “triste” notícia aos
cidadãos de pensamento conservador: essa
guerra vocês já perderam.
Não adianta censura, punição pecuniária, cadeia ou
tortura, como as chibatadas impostas a um blogueiro saudita: somos muitos,
somos bilhões!
E se amanhã eu morrer, ou conseguirem me calar,
outro, imediatamente, ocupará o meu lugar.
Depois dos blogs e redes sociais, a possibilidade de
acesso à informação nunca mais será a mesma, dada a multiplicação cotidiana das
“estradas” pelas quais ela pode se realizar.
E quem tentar deter isso, ou simplesmente não
compreender isso, acabará é atropelado por esse “carro alegre” que é a
História.
FUUUUIIIIIIIII!!!!!!!
..................
Pra vocês!
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