Orly Bezerra, o rei do pedaço: Griffo oculta campanhas, subestima pagamentos e ganha todas as licitações dos governos tucanos. Tudo sob o olhar complacente do MP e da Receita Federal. |
(Leia as reportagens anteriores da série: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/05/secretario-de-comunicacao-do-para.html ).
Em 21 de novembro de 2010, o jornal O Liberal publicou, na página 10 do caderno Poder, uma entrevista com o publicitário Orly Bezerra, dono da Griffo Comunicação e Jornalismo.
Na entrevista, consta que Orly trabalhou como coordenador de marketing das campanhas do PSDB ao Governo do Pará em 1994, 1998, 2002 e 2010.
E que também “contribuiu” nas eleições de cinco senadores: Ademir Andrade, Luiz Otávio Campos, Duciomar Costa, Mário Couto e Fernando Flexa Ribeiro.
Embora o texto não faça referência, foi também Orly quem coordenou o marketing do PSDB em 2006, quando o tucano Almir Gabriel perdeu o Governo do Estado para a petista Ana Júlia Carepa.
No entanto, veja só que coisa espantosa: no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não há sinal nem da Griffo nem de Orly em algumas das campanhas coordenadas pelo marqueteiro.
E mais: quando contabiliza seus serviços, a Griffo o faz em valores tão baixos, mas tão baixos, que, certamente, arrancaria gargalhadas de quem conhece minimamente os custos de uma campanha eleitoral.
A empresa, que vence todas as licitações para os milionários contratos de propaganda dos governos tucanos, doa dinheiro para o PSDB.
E, por incrível que pareça, já teria até “pagado” para trabalhar para o partido.
Um “investimento” com retorno imediato
Em 2002, informa o site do TSE, a Griffo recebeu R$ 45.000,00 por serviços fornecidos ao Comitê Financeiro Único do PSDB.
No entanto, doou R$ 46.228,00 à campanha do tucano Simão Jatene ao Governo do Estado.
Ou seja: na prática, a Griffo “pagou” R$ 1.228,00 para trabalhar na campanha eleitoral de 2002...
E não apenas na campanha de Jatene, mas, também, na de Duciomar Costa.
Porque, como você viu acima, Orly “contribuiu” com a eleição de Duciomar ao Senado, em 2002.
Mas na prestação de contas de Duciomar não há sinal de pagamentos nem à Griffo nem a Orly.
Constam, apenas, doações em valores “estimáveis” do comitê financeiro do PSDB para Duciomar.
A Griffo também não figura nas prestações de contas de Almir Gabriel e de Mário Couto em 2006.
O Comitê Financeiro Único do PSDB centralizou praticamente todos os pagamentos da campanha de Almir.
E dos mais de R$ 8,8 milhões em despesas do comitê só estão identificados R$ 44.500,00, pagos à churrascaria Rodeio.
Todas as demais despesas – pelo menos online – estão classificadas até hoje como “diversas a especificar”.
Assim, a Griffo não aparece nem como doadora nem como fornecedora da campanha de 2006, quer para candidatos, quer para comitês eleitorais, mesmo quando a busca é realizada através do CNPJ da empresa (04.144.804/0001-15).
Em 2008, a Griffo forneceu serviços que totalizaram R$ 529.100,00 a candidatos e comitês.
Foram 6 os candidatos a prefeito que pagaram por trabalhos da empresa: Antonio Carlos Vilaça (PSC/Barcarena); João Salame (PPS/Marabá); Valdemar Pereira Dias (PSDB/Canaã dos Carajás); Vildemar Rosa Fernandes (PR/São Miguel do Guamá); Joaquim Lira Maia (DEM/Santarém) e Valéria Pires Franco (DEM/Belém).
No entanto, não há sinal de duas outras campanhas nas quais a Griffo, seguramente, trabalhou: a do tucano Manoel Pioneiro a prefeito de Ananindeua; e a de Bel Mesquita, do PMDB, à prefeitura de Parauapebas.
Em 2010, a Griffo não aparece nas prestações de contas dos tucanos Simão Jatene e Fernando Flexa Ribeiro, que se elegeram, respectivamente, governador e senador.
No caso de Jatene, a arrecadação e as despesas foram centralizadas pelo Comitê Financeiro Único.
E foi esse comitê que pagou R$ 261 mil pelos serviços da Griffo.
Em 2012, a mesma triangulação: a Griffo não aparece na prestação de contas de Zenaldo Coutinho, mas figura na prestação de contas do Comitê Financeiro Único do PSDB, que centralizou a arrecadação e os pagamentos da campanha de Zenaldo.
Segundo o TSE, a Griffo forneceu R$ 160 mil em serviços ao Comitê Financeiro Único do PSDB de Belém (ao qual também doou R$ 5 mil).
E forneceu, ainda, R$ 20 mil em trabalhos ao Comitê Financeiro do PSDB de Santarém, município onde o marqueteiro Orly Bezerra “contribuiu” para eleger o atual prefeito, o tucano Alexandre Von.
No entanto, não há sinal da empresa em qualquer outra campanha eleitoral de 2012.
Nem mesmo na do tucano Manoel Pioneiro, o atual prefeito de Ananindeua, para a qual ela também teria prestado serviços.
Campanhas a preços de viração
Essa triangulação que você viu acima é usual nas campanhas dos tucanos paraenses.
Além de dificultar a fiscalização, ela evita que se perceba rapidamente a ligação entre os eleitos e os doadores e fornecedores de campanha.
E isso é muito útil - para quem ganha todas as licitações dos governos que ajudou a eleger.
No entanto, nem mesmo esse artifício consegue esconder um fato espantoso: os valores incrivelmente baixos que a Griffo diz cobrar pelas campanhas que realiza.
Veja-se a campanha do tucano Alexandre Von, de Santarém: R$ 20 mil pagos à Griffo, através do comitê financeiro, para serviços de produção dos programas de rádio e Tv – uma quantia que não cobre nem mesmo os custos de um repórter, em uma campanha de um município-polo.
Veja-se, ainda, a eleição de 2010: os serviços da Griffo teriam custado apenas R$ 261 mil.
Desse total, R$ 201 mil seriam referentes à produção dos programas de rádio e Tv.
Em valores atualizados pelo IPCA-E, esses R$ 201 mil correspondiam, em abril de 2013, a R$ 236.276,59.
E note bem: esse valor seria para duas campanhas – Governo e Senado.
Porque Orly também coordenou a campanha de Flexa Ribeiro, como informa o jornalista Daniel Nardin (que é assessor de imprensa do senador), em um trabalho que apresentou no XI Politicom, congresso de marketing realizado em Curitiba, no final de 2012.
Agora veja bem: em 2012, os serviços da Griffo para a campanha de Zenaldo a prefeito de Belém (também referentes à produção de programas de rádio e Tv) teriam custado R$ 165 mil, segundo a prestação de contas do Comitê Financeiro do PSDB.
Em valores atualizados pelo IPCA-E, esses R$ 165 mil equivaliam, em abril de 2013, a R$ 171.590,83.
Quer dizer: proporcionalmente, a Griffo teria cobrado mais pela campanha de Zenaldo do que pela eleição ao Governo do Estado, que mobiliza mais profissionais e gera despesas bem maiores, já que exige até o deslocamento de equipes a vários municípios.
E para que não se pense que essa discrepância deriva de um eventual aumento de preço das campanhas, aí vai outra informação: em 2008, a Griffo cobrou pela campanha de Valéria Pires Franco, do DEM, à Prefeitura de Belém, R$150 mil.
Desse total, R$ 130 mil foram referentes à produção de programas de rádio e TV.
E esses R$ 130 mil, em valores atualizados pelo IPCA-E, correspondiam, em abril de 2013, a R$ 166.620,12.
Quer dizer: a Griffo teria cobrado, proporcionalmente, mais pela campanha de Valéria do que pela campanha de Zenaldo, já que Valéria, ao contrário de Zenaldo, não passou para o segundo turno – e o segundo turno exige uma produção frenética de programas de rádio e Tv, que vão ao ar diariamente.
Veja abaixo, tudo em valores atualizados pelo IPCA-E:
Campanha de 2010 (Governo e Senado). Serviços da Griffo: R$ 236. 276,59.
Campanha de 2012 (PMB/Zenaldo, 2 turnos). Serviços da Griffo: R$ 171.590,83
Campanha de 2008 (PMB/Valéria, 1 turno): R$ 166.620,12
Preços não resistem ao cruzamento de informações.
A verdade verdadeira é que todos os valores declarados pela Griffo estão subestimados.
Uma campanha eleitoral em um município médio do interior do Pará mobiliza uns 10 profissionais, apenas para a produção de programas de rádio e TV.
São, pelo menos, dois cinegrafistas, um repórter, um produtor, dois editores de imagem, dois editores de programas, dois apresentadores e um coordenador.
E mesmo que cada um receba, em média, pelos três meses de campanha, apenas R$ 15 mil, mais despesas de hospedagem, alimentação e transporte, só aí são cerca de R$ 200 mil.
E essa é uma conta muito por baixo, mesmo em se tratando de um município médio.
No entanto, as despesas de uma agência de propaganda não se resumem ao que é realizado in loco por essa equipe.
A agência e o marqueteiro pensam estratégias de campanha, formatam programas de governo, criam slogans, cartazes, anúncios, vinhetas, panfletos, outdoors - uma infinidade de peças publicitárias.
E se é assim em um município médio do interior, o que dizer do Governo do Estado e da prefeitura da capital?
Na eleição de 2008, só os impressos que a Griffo criou para o comitê financeiro do DEM de Belém ficaram em R$ 80 mil – ou R$ 102.535,46, em valores atualizados pelo IPCA-E.
E, para o comitê do DEM de Santarém, os serviços ficaram em R$ 50 mil (ou R$ 64.084,66 em valores atualizados) apenas pelo fornecimento de jingles, vinhetas e slogans.
Pergunta-se: quem forneceu, por exemplo, a criação de impressos da campanha de Zenaldo?
E mais: por serviços de produção dos programas de rádio e Tv de Joaquim Lira Maia, o candidato do DEM, em 2008, à Prefeitura de Santarém, a Griffo declarou ter recebido apenas R$ 50 mil – ou R$ 64.084,66, em valores corrigidos.
Mas só os serviços de produção de rádio e Tv que a empresa realizou em Barcarena, também em 2008, para os comitês dos candidatos a vereador de 9 partidos (aqueles que apoiavam o candidato da Griffo à Prefeitura de Barcarena, Antonio Carlos Vilaça), ficaram em R$ 45.500,00 – ou R$ 58.317,04 atualizados.
Pergunta-se: como é possível que os serviços da Griffo para programas de rádio de candidatos a vereador de Barcarena tenham ficado mais caros do que para os programas de rádio e Tv de um candidato a prefeito da estratégica Santarém?
E qual o motivo de os serviços da Griffo para Lira Maia terem custado o triplo do que cobrou de Alexandre Von?
E que não se pense que as relações de Orly com o DEM eram ruins.
Pelo contrário: quando o DEM comandou a área de Proteção Social do Pará, quem comandava a adubada Secretaria de Saúde era Fernando Dourado, ex-concunhado de Orly.
Em outras palavras: os preços declarados pela Griffo não resistem nem mesmo a um rápido cruzamento das informações que ela mesma prestou.
Porque contrariam até mesmo a lógica, a importância estratégica dos cargos e municípios em jogo nas eleições.
E o fato de a empresa ganhar todas as licitações do partido para o qual coordena todas as campanhas, doa dinheiro, ou até mesmo cobra mais barato e até trabalha “de graça” pode até ocultar um perigoso jogo de interesses.
Mas essas são questões que só a Receita Federal e o Ministério Público poderão esclarecer.
Leia nas próximas reportagens da série “Griffo, a insaciável”:
_Ganhos da empresa não se resumem aos milhões da propaganda: TV paga bonificação e empresas incentivadas e detentoras de contratos milionários com o Governo inflam a clientela da Griffo.
_Uma overdose de propaganda: os preços cobrados para a veiculação da propaganda do Governo.
_Os parentes de Orly Bezerra empregados na máquina pública
E veja nos quadrinhos abaixo.
Aqui, as doações e fornecimentos da Griffo na eleição de 2002:
Abaixo, a prestação de contas do Comitê Financeiro Único do PSDB em 2006 e os quadrinhos mostrando que a Griffo não forneceu nem doou serviços a candidatos ou comitês:
Aqui, os serviços da Griffo a candidatos a prefeito em 2008:
E aqui os serviços da empresa a comitês, também nas eleições de 2008:
Abaixo, os serviços fornecidos pela Griffo ao Comitê Financeiro do PSDB em 2010:
Aqui, as doações e fornecimentos da Griffo na campanha de 2012:
Abaixo, um trecho do trabalho “Elementos culturais e a identificação com o candidato: o Caso Flexa Ribeiro”, apresentado pelo jornalista Daniel Nardin, assessor de Flexa, durante o XI Politicom. Nele, o jornalista entrevista Orly Bezerra e informa que o marqueteiro coordenou a campanha eleitoral do senador. O trecho foi extraído da página 155 dos anais do congresso:
Abaixo a entrevista de Orly Bezerra ao jornal O Liberal de 21 de novembro de 2010, na qual são listadas as campanhas ao Governo que o marqueteiro coordenou e os senadores que ajudou a eleger:
Aqui, notícia extraída do portal das ORM sobre o lançamento da candidatura do tucano Manoel Pioneiro à Prefeitura de Ananindeua, em 2008. Nela, Orly é citado como marqueteiro de Pioneiro. Notícia idêntica teria sido publicada no jornal Amazônia, edição de 30 de junho de 2008:
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O blog pede desculpas aos leitores pelo atraso desta reportagem, que deveria ter sido publicada ontem, quinta-feira. Mas promete que a próxima estará no ar na próxima quinta. E alerta: os custos de campanha citados acima se referem apenas à Griffo. Não incluem, portanto, os custos das demais empresas que também atuam na área de propaganda das campanhas eleitorais. Essas empresas e as relações delas com a Griffo e com os governos do PSDB serão objeto de outra reportagem.
10 comentários:
Pererca, por que a moca que faz propaganda da TV para a prefeitura de Belem atualemente é aquela a mesma que trabalho na campanha, ela e aquel reporterzinho da Liberal
Não é difícil de entender porque o MP e a Receita Federal são complacentes, mais que isso, coniventes, com essas maracutaias. O MP é subordinador ao governador. O santin(h)o que foi chefe desse órgão é da tchurma do Jatene. E o ex-chefe da RF todos sabem, tucano até a medula da alma, é o atual chefe do fisco estadual. Claro como a luz do sol.
Tô adoraaaaaaando! Caiu a máscara.
Hhehehe tudo safadinho. kkkkkkk (para não chorar)
Hoje, assisti uma comovente matéria na TV RBA, em que uma senhora, desesperada, implorava por ajuda para seu irmão, morador de rua e portador de transtornos mentais, que parecia um bicho jogado numa calçada.
Situação que causa indignação e denuncia que o município de Belém, assim como o estado do Pará não têm políticas de assistência e acolhimento e, muito menos, de tratamento desses seres humanos, que perambulam pelas ruas sofrendo junto com suas famílias.
Segundo a matéria, em Belém são mais de 400 moradores de rua. E o pior, em Belém existe apenas um abrigo noturno com 24 leitos. Ou seja, um verdadeiro descaso e irresponsabilidade dos prefeitos, tanto do anterior (o chefe de quadrilha duciomar) como do atual, além do governador. Também não dá pra esperar algo de políticos que tem raiva de povo, que governam para as elites e seus parceiros.
Aliás, políticas públicas e sociais, nunca foram prioridades para os governos do PSDB em Belém e no Pará. O que se vê é muita propaganda milionária e enganosa num estado sitiado pelo crime e pela exclusão social.
O povo tem culpa nisso, pois elegem esses crápulas, que desviam dinheiro da saúde e da educação, enriquecem, não prestam contas, ficam impunes e ainda desdenham de seus eleitores.
É por isso que o Orly está com essa pose de rico, né maninha? rsrsrsrs
Parabéns pela matéria, apesar de já ter perdido a esperança neste estado e no Brasil.
É impressionante como o PSDB virou o partido da corrupção aqui no Pará. Lendo suas matérias percebo como a comunicacão é o centro de gravitacão do governo Jatene. Dá impressão de que ele relegou o governo para esse Orly Bezerra tomar conta. Governo da propaganda, como dizem. Parabéns pelos dados que você apresenta. São incontestáveis. Todas as máscaras estão caindo.
Égua! até a campanha do "Totó do Rominho" foi feita pelo Orly?
Governo de farsantes, despudorados, dissimulados e quadrilheiros!
Estão errados quando dizem que não prestam contas. Prestam sim, e são fiscalizados pelo probo, honesto, e livre do nepotismo, o famigerado tce. E tudo é aprovado, sem ressalvas. Também pudera, o vice presidente do órgão inútil tem um irmão nomeado no cargo de vice diretor no presidio de Bragança.
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