Os “lindinhos” da política brasileira: parecidos até nas “traquinagens”. |
Na semana passada, o Ministério Público do Pará ajuizou Ação Civil Pública, por improbidade administrativa, contra a ex-governadora petista Ana Júlia Carepa.
As acusações são pesadas: envolvem até fraude documental na prestação de contas do “empréstimo 366”, como ficou conhecido.
Leia aqui a íntegra da ACP: https://docs.google.com/open?id=0B8xdLmqNOJ12YXBIQklrcnZoS1E
E aqui a resposta da ex-governadora, que nega as acusações e diz que tudo não passa de “factoide” pré-eleitoral: http://anajuliacarepa13.blogspot.com.br/2012/06/mais-do-mesmo-resposta-as-novas.html .
O processo contra Ana Júlia provocou orgasmos múltiplos nos tucanos paraenses. Da mesma forma que também experimentam orgasmos múltiplos os petistas, a cada nova denúncia contra o governador tucano Simão Jatene.
E a verdade é que ninguém aguenta mais essa disputa.
Em momento algum, o PT e o PSDB aproveitam os erros do opositor para uma autocrítica metodológica.
Tampouco disputam pra ver quem é o mais ético, o mais decente.
Sintomaticamente, apenas apontam os erros alheios, como se dissessem: “ulha, ulha, ulha, tu fizeste também!”.
Felizes que nem pinto no lixo. Sem ao menos o pudor de disfarçar.
É como se buscassem no comportamento do opositor uma espécie de “habeas patifaria”: eu fiz, MAS, ele também fez.
Pode ser a coisa mais lesiva, mais absurda, mais primária: tudo o que importa é que o outro também tenha metido o pé na jaca.
Feito uma régua torta, aplicável apenas aos desvãos da moralidade.
E seguem, assim, a nos envergonhar os tucanos e os petistas, os “lindinhos” da política brasileira.
A nós, sociedade, que os guindamos à vanguarda dessa luta para arrancar da miséria milhões de cidadãos. E até para fomentar no Brasil uma nova ética em relação à res publica.
Tão grave ou pior: o vale-tudo em que se meteram acabou por transformá-los em reféns da "massa atrasada".
Um dos exemplos mais recentes foi a blindagem do governador do Rio, Sérgio Cabral, do PMDB, na CPMI de Carlinhos Cachoeira.
Tucanos e petistas têm no fogo os governadores Marconi Perillo e Agnelo Queiroz.
Mas não tiveram nem peito nem grandeza para articular forças no sentido da convocação de Sérgio Cabral, um dos governantes mais enrolados com aquele contraventor.
Certamente, e como sempre, um deve ter se achado mais “esperto” do que o outro, eis que é a isto que hoje se resumem as ações do PT e do PSDB: ser o mais “esperto”, para detonar o outro. E manter o poder só para evitar que o outro o conquiste.
É por isso que se submetem a todos os caprichos do PMDB, essa noivinha tão serelepe, que, se puder, trai o noivo até com o padre, na véspera do casório.
O PMDB joga solto, lá e cá. Faz o que lhe dá na cabeça, não presta contas e nem sequer é pressionado nesse sentido – muito pelo contrário.
Ao fim e ao cabo, é o PMDB quem manda no jogo, enquanto os supostos comandantes da “massa atrasada” dançam no ritmo imposto por ela.
A disputa entre tucanos e petistas pelo troféu “ulha, ulha, ulha, tu fizeste também!” traz enormes malefícios à coisa pública.
Há dois exemplos recentes (e impressionantes) aqui mesmo no Pará.
O primeiro é a ameaça de destruição do Arquivo Público, com o seu acervo documental único, de valor inestimável, portanto, para o Pará e a Amazônia.
Uma funcionária do Arquivo Público denunciou, nas redes sociais, a ocorrência de um curto-circuito, no último dia 18, coisa que a Secult nega que tenha existido.
Devido à repercussão do fato, tucanos e petistas passaram a trocar acusações, a tentar, como sempre, responsabilizar uns aos outros pela precariedade da segurança daquele acervo.
Devem pensar que somos lesos; que não percebemos que se alguma coisa tivesse sido feita, quer no governo de Ana Júlia, quer no governo de Simão Jatene, a situação do Arquivo não teria chegado ao ponto que chegou.
E enquanto se estapeiam para empurrar o filho enjeitado no colo do outro, segue aquele acervo sob a ameaça de ser consumido pelas chamas.
Em momento algum, passa por suas cabeças amesquinhadas a possibilidade de união por uma causa tão nobre: salvar o Arquivo Público, no qual pulsa a própria alma do povo do Pará.
No entanto, se fossem capazes de se unir ao menos em torno disso, talvez conseguíssemos levantar dinheiro em todo canto – governos estadual e federal, bancos, empresas – para evitar um desastre iminente, de prejuízos incalculáveis até para as futuras gerações.
Outro exemplo da nocividade dessa disputa é a relação de tucanos e petistas com a Delta Construções, apontada pela Polícia Federal como o braço financeiro da organização criminosa de Carlinhos Cachoeira.
A Delta opera no Pará pelo menos desde 2006, o último ano do primeiro governo de Simão Jatene.
Naquele ano, ela levou dos cofres públicos estaduais, segundo o antigo portal “Transparência Pará”, pelo menos R$ 3,5 milhões.
Foi, porém, no governo petista que ela bamburrou, com ganhos e contratos que ultrapassaram R$ 200 milhões.
E no novo governo de Jatene, quando se imaginava que ela seria corrida do Pará, em virtude das críticas que recebeu durante a campanha eleitoral, o impossível aconteceu: a Delta ganhou contratos com o Sistema de Segurança, Casa Militar e Defensoria Pública, que, por força de aditamentos, já alcançam R$ 26,8 milhões.
E que poderiam alcançar até R$ 80 milhões anuais, como previa o limite para a locação de veículos da Delta ao Sistema de Segurança Pública, no Pregão 003/2011/Segup, não fosse a chiadeira nas redes sociais, a denúncia de um cidadão do Amapá ao Ministério Público Estadual e a revelação da ligação dela a Carlinhos Cachoeira.
É cristalino que tucanos e petistas estuporaram a boca do balão em suas relações com a Delta Construções: há pelo menos dez anos, pipocam em vários estados e municípios acusações cabeludas contra essa empresa - superfaturamento e fraudes em licitações, por exemplo.
E mesmo agora, com a profusão de indícios de que ela até integra uma organização criminosa (vejam só!), os contratos são mantidos.
Nada de suspensão contratual, como já ocorreu em vários estados e municípios. Nem mesmo o anúncio de um pente-fino pela controladoria estadual e pelo tribunal de contas, como acontece nos contratos da Delta em todo o Brasil.
Novamente, tudo o que importa é que o outro também está enrolado até o pescoço nessa transação tenebrosa.
Então, vá lá saber quem é o mais obsceno em toda essa história.
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As declarações do ex-ministro dos Transportes, Luiz Pagot, a revista Isto É desta semana, apenas reforçam tudo o que escrevi acima, na noite de sexta-feira.
Novamente, os “lindinhos” estão cobertos de lama, emparedados pela “massa atrasada”.
É bem feito por não terem usado a tão decantada “esperteza” para fazerem uma reforma política digna desse nome, que acabasse com essa patifaria do caixa dois.
É bem feito por não terem confiado na sociedade que os sustenta politicamente, para pressionar esse Congresso prostituído.
É bem feito porque, na ânsia de apenas destruir uns aos outros, estão é a se tornar cada vez mais parecidos com a “massa atrasada”.
Bem feito! Mas talvez assim, vendo arder algumas de suas principais lideranças, resolvam tomar aquilo que há muito tempo necessitam: uma bela dose de Semancol.
É isso aí.
2 comentários:
Direita e esquerda são os limites, como no maniqueísmo,a conter o povo idiotizado para manter a farsa da democracia representativa, o status quo
Votou-se no Jatene confiando em mudança, mas o que vemos é o mesmo drama com diferentes personagens (e até algumas que aderem a todo e qualquer governo ,já que não tem mesmo diferença).Assim segue o Pará parasitado por essa ralé política.
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