Perereca: Pois é: tantos anos depois, essa história do ACM (Antonio Carlos Magalhães) lhe alcança e lhe tira novamente do Senado. O senhor se arrepende de ter brigado com o ACM? Se pudesse voltar no tempo, o senhor faria a coisa de outra forma, evitaria o confronto?
Jader: Não; acho que cada momento é um momento. O que considero absurdo não é ter enfrentado o ACM. Pelo contrário: ele me fez uma grande homenagem, na última entrevista que concedeu à imprensa brasileira, publicada nas páginas amarelas da Veja. Quando perguntaram qual tinha sido o seu maior erro político, ele me fez uma homenagem: disse que foi ter brigado comigo. Então, contabilizo o fato de que, enquanto todos se apavoravam – inclusive, o presidente da República à época tinha um medo desmedido, e que, aliás, confessou numa reunião com alguns parlamentares, dentre os quais a mim – todos tinham medo dele. Só este caboclo do Pará não teve medo de enfrentá-lo. E com um detalhe: eu fui prevenido de tudo o que ocorreria comigo.
Perereca: Quem lhe preveniu?
Jader: O presidente Sarney. E eu lhe digo isso hoje, porque isso está no meu discurso de despedida do Senado, onde eu relatei a minha conversa com o Sarney, com ele presente no plenário, quando ele me contou que o enfrentamento com o Antonio Carlos redundaria, em primeiro lugar, pela influência dele junto à grande imprensa brasileira, numa grande campanha da imprensa contra mim. Depois disso, o envolvimento do Ministério Público Federal. E que isso tudo era uma coisa programada. E que o melhor caminho para mim era recuar.
Perereca: O senhor acha que o Ministério Público Federal lhe perseguiu?
Jader: Não só a mim tem perseguido. Tenho o maior respeito pelo Ministério Público. Acho que ele deve exercer o seu papel de fiscal da Lei e dos interesses da sociedade. O que me preocupa é, às vezes, ter um certo sentimento de ver o MP como um aglomerado político, e até, às vezes, com um comportamento de partido político. Aí me preocupa, porque eu acho que quem exerce uma função, seja no MP, seja no Poder Judiciário, não deve ter partido político, não deve ter postura ideológica, no sentido partidário, mas deve ter uma preocupação única: defender os interesses da sociedade. Agora, quando alguns acham de assumir posturas de natureza político-partidárias, posturas preconceituosas, e até posturas de luzes da ribalta, aí eu tenho de apresentar a minha modesta divergência, porque acho que essa não é a função seja do MP, seja do Judiciário. A função do MP e do Judiciário é servir exclusivamente ao interesse da sociedade.
(continua)
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