sábado, 27 de novembro de 2010

Ping-pong Jader III: uma extraordinária satanização.



 
Perereca: Pois é, o senhor tem até um livro em que resgata boa parte dessas realizações. Mas depois que deixou o governo, o senhor passou a ser visto como um “satanás” da política paraense. Muito desse processo de satanização veio dos tucanos. Quer dizer: não é estranho, depois de tudo isso, o senhor voltar a se aliar com quem lhe satanizou?
Jader: Em primeiro lugar, o processo de satanização ao qual você se refere, não só ao longo da história da humanidade, mas, do Brasil, só se faz com o líder. Não se faz processo de satanização com lideranças que eu chamo de “chá de erva-cidreira”. Havia todo um processo de tentar destruir a minha imagem, no sentido de tentar evitar um possível retorno meu ao Governo do Estado, ou de tentar abalar a minha liderança. Então, eu compreendo isso, porque sou um contumaz leitor de tantas histórias, aqui e alhures. Há pouco, estava me lembrando, principalmente nesse episódio dos “fichas limpas, fichas sujas”... O maior e melhor administrador que Belém já teve foi Antonio Lemos. E ele, apesar de já ter deixado a Intendência, como era chamada a Prefeitura, foi satanizado. Ele não queria nem voltar ao poder, estava com idade avançada (o que não é meu caso, que estou apenas com 36 anos...). Ele não tinha nenhum interesse e mesmo assim se montou a fraude de um atentado contra o Lauro Sodré e se queimou a Província do Pará, que era o jornal dele. Depois, a turba destruiu a casa dele e ele foi arrastado de pijama pelas ruas de Belém, sendo chamado de “velho ladrão”, “safado”. Depois, foi expulso, colocado num navio e seus restos mortais só voltaram para cá 60 anos depois. E não tem na história desta cidade, passado todo esse tempo, nenhum administrador público que possa ao menos, não é nem ombrear, mas se aproximar dos joelhos de Antonio Lemos.
     
Perereca: Mas o senhor não sente nem mesmo mágoa em relação a esse processo de satanização?
Jader: Em primeiro lugar, nunca trabalhei com ódio: sempre trabalhei com muito entusiasmo, empenho, paixão, o que é uma diferença muito grande. E depois, acho que não tenho do que me queixar, porque o julgamento que sempre me preocupou não é o julgamento dos meus inimigos e adversários. Os meus inimigos e adversários simplesmente, em determinados momentos da política do Pará, me elegeram como alvo, como obstáculo a ser removido. O que sempre me preocupou é o julgamento da opinião pública, da maioria. E isso eu não posso me queixar. Recordo a referência de uma das maiores autoridades em pesquisa qualitativa do País, que é a professora Fátima Jordão, professora aposentada da USP. Sou capítulo, um “caso”, de um livro dela. E ela diz não imaginar que outras lideranças do Brasil sobrevivessem a um processo de destruição de imagem como o que ela havia constatado em relação a mim, aqui no Pará. Então, eu só me sinto reconfortado. Porque se fui atacado, e continuo sendo atacado, é sinal de que não me transformei num irrelevante. Porque uma das coisas que sempre me preocupou foi não me transformar num irrelevante. Como não sou um irrelevante, sou uma pessoa que incomoda. E se incomodo, é sinal que sou levado em conta. Ficaria muito preocupado é se tivesse um julgamento, após todos esses anos de vida pública, desfavorável do povo do Pará. Aí, se eu tivesse sido abandonado pelo povo do Pará, aí, confesso, estaria num processo de profunda frustração política e pessoal. Mas eu não fui; não posso me queixar do povo do Pará. Pelo contrário: em que pese toda essa campanha de destruição de imagem, o povo do Pará sempre foi solidário comigo. Nessa última eleição, por exemplo: houve toda uma campanha dizendo que votar em mim seria nulo. E o povo do Pará sai de casa, cerca de 1,8 milhão de pessoas, e me elege senador da República. Então, do que é que eu posso me queixar? 

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