quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

2010

Jatene, Almir, Couto e o
“doloroso parto” tucano






É possível, como já anunciam alguns blogs, que o candidato tucano ao Governo do Estado, no ano que vem, já esteja escolhido e que ele se chame Simão Jatene.



Há semanas, tucanos de alta plumagem garantem que a parada já está decidida e que tudo se resume ao anúncio do doloroso parto. Ou, melhor dizendo, à melhor estratégia para a apresentação do pimpolho.



Na manhã de ontem, o líder do PSDB na Assembléia Legislativa, deputado José Megale, teria até assumido o papel de arauto das boas novas: tascou-lhe, para quem quisesse ouvir, que o ungido é Simão Jatene - e pronto!



Mas, não é bem assim.



Conversei, na noite de ontem, com o senador Fernando Flexa Ribeiro, presidente regional do PSDB. Ele garantiu que ainda não existe qualquer “posição oficial” do partido, nem a nível local, nem a nível nacional.



“Estamos caminhando para um entendimento e avançamos muito, mas, isso não está fechado”, afiançou.



E não quis, aliás, nem fixar uma data para o desfecho da novela: “Não tem prazo, não tem como estabelecer prazo para isso. É um parto natural e não uma cesariana. Vai nascer quando estiver maduro”.



Flexa disse que Jatene e Almir Gabriel, que também postula a candidatura tucana, não voltaram a se encontrar desde a reunião que tiveram, há umas duas semanas, em Brasília – a primeira, aliás, desde que o rompimento entre eles se tornou público, no primeiro semestre deste ano.



A idéia era que voltassem a se encontrar ao longo desta semana. Mas, um problema de saúde do presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, na tarde de ontem, acabou colocando a agenda no freezer. E é possível que assim permaneça, nos próximos dias, já que Sérgio Guerra teve, inclusive, de ser hospitalizado.



Também no gabinete do senador Mário Couto não havia notícia de definição da candidatura tucana.



“A informação que recebemos é que isso foi dito pelo deputado José Megale, na Assembléia Legislativa, e que até os prefeitos já estão sendo avisados de que o candidato é o doutor Simão Jatene. Mas, até este momento (20h00 de ontem) nem o senador, nem o doutor Almir Gabriel foram comunicados de nada” – informou a Assessoria de imprensa de Mário Couto.



E Couto, como se sabe, também postulava a candidatura tucana. Mas acabou abrindo mão dela, exclusivamente, em favor de Almir.




II




O açodamento de Megale não é um bom sinal.



Pode-se até imaginar, como propalam os jatenistas, que tudo já esteja, de fato, definido e que a questão se resuma, agora, a meras formalidades.



Mas, o fato de se colocar o carro à frente dos bois, pode indicar, também, que nem tudo são flores. Ou, em outras palavras, que ainda há muitas arestas a aparar.



Afinal, se a decisão é assim tão pacífica, para que esticar a corda?



O anúncio da decisão que não houve, pelo menos a ponto de poder ser formalizada, lembra a desastrada ida de deputados estaduais tucanos a Brasília, para discutir com o Diretório Nacional a sucessão no diretório local, à revelia de seu presidente.



Ali, simplesmente, chutou-se o pau da barraca – terá ocorrido o mesmo agora?



E a verdade é que os tambores de guerra ainda não cessaram nos bastidores.


Entre os coutistas, ainda se afirma que Mário Couto não apoiará Jatene, caso ele seja, de fato, o ungido. “Ele (Couto) vai ficar na dele e não vai fazer campanha pra ninguém”, diz-me uma fonte.




III




E é aí que está, de fato, o xis da questão.



O problema não é se Jatene já é, de fato, o escolhido e se tudo se resume, agora, à mera formalidade.



Como já se disse, é bem possível que seja assim.



E não por seus belos olhos, mas, por uma questão bem pragmática.



Como lembrou há pouco tempo ao blog o deputado Ítalo Mácola, a escolha do candidato se dará em bases profissionais.



Em outras palavras: pela maior chance de vitória.



E isso tanto mais é verdade em se tratando da direção nacional tucana, de olhos arregalados na disputa pela Presidência da República.



Física, política e historicamente, Jatene reúne melhores condições que Almir, para a batalha pelo Palácio dos Despachos.



Então, muito dificilmente não será o candidato – só se não quiser.



E a questão, na verdade, é até que ponto conseguirá unificar ao redor de si coutistas e almiristas.



E mais: até que ponto não estará sujeito, lá na frente, a ter de enfrentar uma disputa na convenção partidária – ou alguma declaração bombástica contra a sua candidatura, nos veículos de comunicação.



Tucanos graduados juram de pés juntos que não há hipótese de que as fissuras partidárias resultem em desastre semelhante.



“Isso é o normal, é o jogo, tá se negociando, se discutindo. O Jatene conversa sempre com o Mário, eles nunca fecharam a porta. E o Almir só agrediu o Jatene no início. As pessoas ficam valorizando isso, como se não tivesse mais jeito. Mas, a verdade é que dá, sim, para recompor”, afirma um tucano do alto escalão.



Outro tucanão vai pelo mesmo caminho: “Não vejo possibilidade de o Almir desistir. E o Jatene também não desiste. Mas essa disputa não será levada para a convenção. Todo o nosso esforço é justamente para evitar a convenção”.



Da mesma forma pensa o deputado Ítalo Mácola: “Tem definição, sim. Talvez não seja é a hora de anunciar. Mas, nas bases, nós sabemos que o candidato é o Jatene. Mas, o PSDB vai estar unido, essa é a nossa expectativa. Conversamos com o Mário Couto e ele disse que acompanhará o partido, quem quer que seja o candidato escolhido. E o mesmo dissemos a ele – que apoiaremos o candidato escolhido”.



Mácola se refere a uma reunião que a bancada estadual teve, há tempos, com Mário Couto, antes ainda de ele abrir mão de sua candidatura em favor de Almir.



O próprio Almir, aliás, já me disse em entrevista que apoiará o ungido – quem quer que ele seja.



Resta saber até que ponto os atos confirmarão as palavras.



Ou se, como naquela bela frase de Machado de Assis, não acabarão por revelar o abismo existente entre o espírito e o coração.

Um comentário:

Bia disse...

Boa noite, Ana:

sua análise é serena. Bem mais, talvez, do que meu comentário.

Usando sua citação de Machado, o abismo, o fosso é entre o rancor e a comiseração.

No rancor, a antes reconhecida lucidez se perdeu.

Na comiseração - sem o sentido bíblico que a faz ser confundida com piedade - reside a possibilidade de transigir, de abrir espaços, janelas e portas para arejar um presente soturno e um futuro dificilimo para o Pará.

Abração