Perereca: Mas o senhor não acha que o resultado teria sido diferente se o senhor tivesse sido candidato, em vez de abrir mão em favor do doutor Almir?
Jatene: Mais uma vez vou dizer as razões disso.
Eu sempre disse – e não é agora, tampouco às vésperas das eleições passadas – que me preocupava muito o estatuto da reeleição, no Brasil.
Preocupa-me muito a reeleição num país cujas instituições ainda são muito frágeis e os partidos políticos estão muito distantes daquilo que sonhamos.
Sempre digo que um partido político é, acima de tudo, um educador coletivo, que tem uma tarefa dificílima.
De um lado, ao mesmo tempo em que ele rompe com os limites externos do cidadão, capacita o cidadão para se impor os seus próprios limites. É a questão dos direitos e deveres. Se não, você cai numa coisa muito complicada, que é a história de achar que todo mundo só tem direitos.
Mas, voltando à história que você perguntou: no Brasil, os partidos são muito pouco programáticos. Por isso, a reeleição acaba impregnada por um personalismo muito grande.
E como sempre apostei em projeto coletivo, não podia imaginar a reeleição a não ser excepcionalmente, no caso de não se ter uma candidatura alternativa, à altura de garantir a continuidade de princípios postos no governo.
Mas, esse não era o caso: tínhamos uma pessoa com uma história; um ex-governador que fez um belo trabalho e que se dispunha a ser candidato.
Então, por quê?
Se, na verdade, você pode brigar pelo Poder por três grandes motivações: para TER – são aqueles que acham que, na verdade, o Poder é a porta da felicidade e da riqueza; para SER – são aqueles que são um poço de vaidade e, por causa disso, precisam ter o Poder para que as pessoas fiquem lhes rendendo homenagem; e para FAZER.
Se você briga pelo Poder para FAZER, é o projeto que motiva, mais do que essa questão de quem é o ator principal.
Vamos ser francos: isso é absolutamente coerente, razoável – e essa foi a razão.
Se teria sido diferente, se a população teria feito outra leitura?... Não sei.
Um comentário:
Ora, ora... Mesmo que indiretamente Jatene diz aqui que não quis disputar a reeleição. Portanto, Almir Gabriel NÃO IMPÔS a sua candidatura em 2006 como muitos querem fazer crer. É preciso então parar com essa história de que Jatene abriu mão da sua candidatura. Ele, simplesmente, não quis, levando Almir a lançar seu nome.
Nas próximas entrevistas com Jatene sugiro que a pergunta a ele seja feita de forma mais direta, como: "o Almir Gabriel obrigou o sr. a sair da disputa?" ou ainda "o sr. (Jatene) quis ou não concorrer a reeleição?".
Assim, tudo ficará ainda mais claro.
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