sexta-feira, 18 de agosto de 2006

18 de agosto de 2006

Fragmentos Biográficos III


O papel em branco, a vida a passar.
Ao longe, entre espumas, um luar.
E a noite, a adentrar o peito,
Refaz o universo em perfeito:
Da tempestade nasce o vento,
Que nos eleva a mais adiante!
Quem nunca amou um carrossel?
E se desfez em pedaços,
que se ajuntam aqui e ali?
O fio do desespero,
a desenhar, febril, a significância,
Quem nunca se fez não o que era
Mas o que imaginou?
Quem nunca buscou um além
Não de morte, mas de vida?
Quem nunca se perdeu em sonhos inconfessáveis
Mais ardentes que qualquer amante?
Quem nunca se fez um outro - o outro!
Na esperança de encontrar-se, enfim?
Quem nunca rastejou, diante do que lhe pareceu sublime?
Quem nunca errou e errou e errou – e escondeu?
A acreditar na miragem havida,
Quem nunca entregou, sorrindo, o coração?
E sou eu a louca, aquela que não queda silente?
A que grita e se debate entre-muros?
A que enxerga o mistério do que não é, mas que poderia?
A única que se atrai pelo sonho irrespondível?
A única que vê, entre espumas, um luar?
A única que bebe e se perde em si mesma?
A única a cismar no que parece, para encontrar o que é - infinitamente?...

A louca a expor as vísceras, aos censores públicos...
A louca a quem os choques já nem afetam, por todos os choques que levou da vida...
Devo ser, assim, uma espécie de incriada: Deus pensou e pensou - mas esqueceu!...
E eu penso nos sonhos que se foram e que pensei: levaste!
E perdôo a Deus como perdôo a mim!
E novamente é a música que me leva para além de tudo.
A música que é enquanto é, mas que nunca se esvai.
Tão necessariamente bela, que é necessário que seja!
Por todas as flores e mares e pedras que move ao redor do mundo!
E o oculto, como que se me revela:
Quem nunca amou e sonhou e esqueceu?
E o luar em luar se me torna!...
Belo, mas tão impossível e irreal
Que em minhas mãos se desfaz a espuma
E tu aos céus retornas, ó luar!

Belém, 18/08/2006.

2 comentários:

Anônimo disse...

sabe Perereca,parece que vc sofre tanto...não vale a pena,delete de sua vida tudo que lhe traga dor, angustia, ansiedade.Deixe só o que te dá prazer,como por exemplo essa gelada que vou abrir agora!
A.S.

Ana Célia Pinheiro disse...

É? Pois eu já abri um bocado. E pra lá do "véu de noiva", como diria uma amiga minha. Mas, realmente, não sofro. Bebo. É diferente...