Não há dúvida que a segurança pública vai desempenhar papel decisivo nas próximas eleições.
Primeiro pela “sensação de insegurança” que aflige a todos os paraenses, em todos os cantos do território. Sensação, aliás, calcada em situações bem concretas: assaltos, seqüestros e assassinatos brutais. A barbárie a que assistem, todos os dias, perplexos, os moradores de Nazaré e do Tucunduba. E que pode transformar o ato de sentar à porta de casa em um filme de terror.
Óbvio que a eficácia desse mote – poderoso, vez que se alimenta – será proporcional à capacidade de as oposições conseguirem conectá-lo à incompetência do Governo Estadual. Ou, pelo contrário, de o Governo Estadual conseguir livrar-se de boa parte dessa responsabilidade. Proeza, aliás, difícil a essa altura do campeonato.
Porque o PSDB permitiu que a insegurança assumisse as proporções assustadoras que vemos hoje. Não que pudesse fazer milagre, num país de desigualdades avassaladoras. Mas, ao menos, poderia ter garantido o básico: polícia nas ruas e os equipamentos necessários ao cumprimento do dever.
No entanto, o que se viu foi justamente o oposto. Em 2003, o número de policiais militares – ou o grosso do efetivo das forças de segurança – era o mesmo de 1994, apesar do crescimento populacional registrado no Pará. Por todo o interior se multiplicaram queixas em relação à falta de equipamentos e condições básicas – armamento, munição, viatura, combustível, melhores salários. Não bastasse isso, ainda agregou-se a falta de planejamento e um verdadeiro asco ao comando, a correr a boca pequena entre a oficialidade.
Do ponto de vista simplesmente eleitoral, o mais grave, para o PSDB, é que a incapacidade de garantir um mínimo de segurança à população põe em xeque até o discurso de transformação econômica do Pará. Porque, das duas uma: ou não existe mudança alguma ou a mudança tem beneficiado, apenas, os mesmos de sempre, não chegando às grandes massas populares. Simples questão de lógica, dada a relação inescapável entre a negação da Cidadania e o incremento da criminalidade.
É provável que a resposta pífia do Governo Estadual aos ataques oposicionistas deva ser creditada, num primeiro momento, à incapacidade de identificar o poder desse mote. Hoje, porém, tal se deve, certamente, a dificuldade mesma de contorná-lo, depois de deixá-lo chegar ao ponto em que chegou. Principalmente quando é impossível jogar a responsabilidade para o costado da administração anterior...
O eleitorado, com o seu pragmatismo, decidirá, provavelmente, pela segurança pública – e não por toda a honestidade jurada do mundo, cada vez menos credível no território profano da política. Mas é preciso que a oposição consiga sistematizar os ataques a esse flanco. E humanizar as histórias que resgata, para maximizar o poder da empatia. Afinal, como bem sabe a psicologia social, o combustível das multidões é o sentimento - e não a razão.
Um comentário:
Muito bom esse artigo, Dona Perereca. A senhora faz parte do Ranário Real? Ou habita nos brejos da nossa periferia? Desculpe o enxerimento, afinal, não interessa a sua origem, o que vale é que a senhora é muito bom (no bom sentido, claro).
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