domingo, 28 de agosto de 2022

Lula e a cova dos leões




Tenho minhas dúvidas se Bolsonaro irá ao debate deste domingo.

À primeira vista, tal ida mais parece suicídio político, devido ao seu desequilíbrio emocional, despreparo e diminuta inteligência.

Mas não se pode esquecer de que ele está cercado por uma equipe de profissionais de marketing.

Assim, se ele for, será dentro de uma estratégia para criar, talvez, um fato político que o mantenha na “crista da onda”.

Ou, quem sabe, para tentar vitimizar-se, até com o recurso às lágrimas de crocodilo.

Ou, ainda, para atrair Lula para uma armadilha.

Afinal, se Bolsonaro na última hora não comparecer, ou se retirar logo após o início do debate, as baterias dos demais candidatos tendem a se voltar contra Lula.

Especialmente, as baterias de Ciro Gomes.

Então, Lula não deveria ir?

Em geral, a recomendação do marketing a candidatos que possuem tão ampla vantagem nas pesquisas, com possibilidade de vencer a eleição já no primeiro turno, é para que evitem se expor desse jeito.

Mas não creio que isso se aplique a Lula, tendo em vista a sua capacidade de comunicação, o processo de satanização que sofreu e a conjuntura do país.

Quer se goste dele ou não, é forçoso admitir que Lula é um fenômeno de comunicação popular.

Ele consegue se fazer entender por todas as camadas sociais, e se fazer acreditar por boa parte delas.

Não bastasse isso, também emociona a plateia, como se estabelecesse um link direto com o coração daqueles que o escutam.

A entrevista ao Jornal Nacional deixou patente a inteligência, o preparo e a capacidade de comunicação desse senhor, que quase não esquentou os bancos escolares.

Mas que soube agarrar cada oportunidade de aprender, que Deus e a vida lhe ofereceram.

Foi assim que se tornou PhD das profundezas humanas: daquilo que se esconde por trás das dezenas de máscaras que todos usamos, para conter e dissimular o animal em nós.

Foi assim que compreendeu a necessidade de ler e se preparar para conviver com os intelectuais que há décadas o cercam, para não acabar virando uma Maria vai com as outras.

Foi assim que aprendeu a rever, interiormente, cada uma das batalhas que enfrentou: não para chorar e quedar-se inerte, com pena de si mesmo. Mas para extrair lições dos erros, acertos, circunstâncias, e seguir em frente, ombros eretos e cabeça erguida.

Lula é um forte. Mas possui uma qualidade que nem sempre os fortes possuem: a solidariedade para com os mais fracos.

A nobreza de sentimentos que leva a estender as mãos aos caídos, por enxergar neles um espelho da sua própria humanidade.

Foi esse homem de inteligência luminosa, a quem as circunstâncias negaram os bancos escolares, mas que se doutorou na escola da vida, que os brasileiros viram na entrevista ao Jornal Nacional.

Diante dele, dois dos mais renomados jornalistas brasileiros.

E o local, uma espécie de cova dos leões.

A poderosa Rede Globo, habituada a eleger e a derrubar governos.

A máquina de manipulação das massas que a ditadura militar impulsionou.

E que teve papel estratégico na tentativa de destruição da imagem de Lula.

Não fosse ele também um gigante da comunicação, é possível que nem pudesse andar pelas ruas, sem acabar humilhado.

Provavelmente, todos os políticos quereriam distância dele.

Mas o que vemos é justamente o oposto: milhões de pessoas se reúnem para ouvi-lo, nas ruas e através dos veículos de comunicação.

E os políticos, de todos os partidos, disputam até a simples possibilidade de usar o nome dele em suas campanhas.

E lá estava Lula na cova dos leões, na última quinta-feira (25/08), capturando a atenção de milhões de brasileiros.

Ao final da entrevista, ouviram-se gritos de comemoração e até foguetório, em várias cidades, em um clima de jogo vitorioso da seleção brasileira.

Pudera: na cova dos leões, em vez de medo e nervosismo, Lula mostrou segurança, tranquilidade, competência.

Em vez de abaixar a cabeça, olhou nos olhos de William Bonner, e até sorriu das perguntas do jornalista.

Não para debochar, ou como se apenas já as esperasse.

Mas por perceber que as armadilhas que lhe atiravam, crentes talvez de que sucumbiria, eram uma oportunidade ímpar para se defender da máquina de moer gente a que foi submetido, ao longo de décadas.

Lula saiu ainda maior daquela entrevista.

E a Rede Globo ainda menor, dado o envergonhado e insincero pedido de desculpas, que se resumiu ao reconhecimento de que Lula não deve nada à Justiça.

Como se só isso fosse suficiente, depois de todos os anos que aquela emissora gastou, para ajudar a encarcerá-lo.

Mas o desempenho de Lula mostrou o quanto o palanque televisivo pode ajudá-lo a conquistar os votos de que precisa, para liquidar essa fatura ainda no primeiro turno.

Sua inteligência, preparo, coragem, equilíbrio emocional, domínio da palavra, capacidade de se comunicar com as massas, formam um conjunto de qualidades que nenhum outro presidenciável possui.

Um conjunto de qualidades que, quando levado massivamente ao distinto público, gera um impacto positivo naqueles que não o conhecem, além de vencer a resistência daqueles que acreditaram nas campanhas difamatórias contra o ex-presidente.

Também a conjuntura recomenda a participação de Lula no debate deste domingo, e nos demais.

As ameaças bolsonaristas às eleições fatalmente se tornarão ainda mais agudas, em um eventual segundo turno.

Haverá, certamente, ainda mais derramamento de sangue e de dinheiro.

Um clima de terror como nunca vimos, na história recente deste país.

Assim, é preciso avançar não apenas nas redes sociais e no trabalho de formiguinha, que é extremamente eficaz para a conquista de votos.

É preciso, também, ocupar todos os espaços possíveis nos palanques eletrônicos, o que significa comparecer a debates e entrevistas.

Deus protegeu e iluminou o Lula até na cova dos leões.

Certamente, Ele vai protegê-lo e iluminá-lo em qualquer lugar.


FUUUIIIII!!!!!

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