segunda-feira, 31 de maio de 2021

Um momento único na História de Belém



Fazia tempo que Belém não via uma parceria tão afinada entre o seu prefeito e o governador, em favor da nossa população.

Creio que a última vez em que isso ocorreu (e o leitor me corrija se estiver errada) foi na década de 1980.

Primeiro com Almir Gabriel, que foi nomeado pelo então governador, Jader Barbalho, em julho de 1983, e permaneceu no cargo até dezembro de 1985.

Depois, com Fernando Coutinho Jorge, que comandou a cidade entre janeiro de 1986 e dezembro de 1988, como primeiro prefeito eleito após o fim da ditadura militar.

Jader governou o Pará de março de 1983 a março de 1987. Seu sucessor foi Hélio Gueiros, que administrou o estado até março de 1991.

Foi um tempo bom para a cidade, pelo menos nas áreas centrais.   

No entanto, todos eles (Jader, Hélio, Almir e Coutinho) eram do MDB e possuíam visões de mundo muito parecidas.

Já o governador Helder Barbalho, do MDB, e o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, do PSOL, são de partidos não apenas diferentes, mas até opostos, em seus ideais de sociedade e de mundo.

Além disso, enfrentam uma pandemia, que já ceifou a vida de quase meio milhão de brasileiros; uma gigantesca crise econômica, com recessão, inflação galopante e desindustrialização do país; e aquela que é a maior ameaça da nossa História à Democracia, ao meio ambiente e aos direitos sociais e trabalhistas da maioria esmagadora da população: o bolsonarismo, essa visão do inferno que mistura fascismo e entreguismo; ultraliberalismo econômico e moralismo medieval.

Mas, apesar das enormes diferenças ideológicas e de tempos tão sombrios, Helder e Edmilson têm conseguido trabalhar juntos em favor de todo o nosso povo, e não apenas dos moradores das áreas centrais.

Em vez de perderem tempo tentando empurrar um ao outro a responsabilidade por eventuais desacertos (e eles serão, necessariamente, muitos, tendo em vista as circunstâncias); em vez de tentarem atrapalhar um ao outro, por conta de seus interesses pessoais, partidários ou ideológicos, preferiram dar as mãos.

Com isso, como que nos brindam com uma aula de Democracia e de espírito público.

E isso em uma cidade marcada por episódios violentos, devido às paixões políticas: prefeito “enxotado”, jornal incendiado, banho de fezes em jornalista, e por aí vai.

É, de fato, um momento único, este que estamos vivendo em nossa amada e maltratada Belém.

Foram 16 anos de abandono, a “coroar” décadas de brigalhadas políticas, ou de indolência e incompetência, que deixaram a cidade em escombros, com o lixo e enormes alagamentos a “irmanar” a periferia e os bairros nobres.

Dezesseis anos com toda sorte de manobras para cooptar as instituições e, no fundo, impedir a participação das camadas populares no Poder.

Dezesseis longos anos a tentar impor o silêncio ao nosso povo, como se ele tivesse de se resignar a viver pior do que bicho, em ruas imundas e lamacentas, sem acesso à Saúde, Saneamento, Educação, Segurança, Emprego, Habitação, Lazer.

Curiosamente, tanto Helder quanto Edmilson já foram acusados, pelos tucanos, de autoritarismo e de perseguições políticas a adversários.

No entanto, são eles a demonstrar que é possível, sim, conviver e colaborar, democraticamente, civilizadamente, para a melhoria de vida da totalidade da população, mesmo que se esteja em um campo ideológico tão diferente.

Maturidade? Jogo de Cintura? Necessidade de unir forças contra o inimigo principal, neste momento, que é o bolsonarismo?

Um pouco de tudo isso, sim.

Mas o principal é mesmo a capacidade de respeito ao outro, às pessoas, à população: à infinidade de “cores” que é o coração de toda e qualquer cidade, estado ou país.

E é essa qualidade, infelizmente tão rara, que Helder e Edmilson possuem.

É claro que, mais adiante, eles já não seguirão juntos.

Faz parte do jogo democrático: lá na frente, cada um irá comandar os projetos de seus grupos políticos, para alcançar o poder estadual, ou nele se manter.

Mas são excelentes, para o Pará inteiro, essa capacidade de diálogo e de trabalho conjunto em favor da população, que ambos estão a deixar como exemplo e como herança.    

Pena que estejamos a enfrentar tempos tão difíceis; pena que essa “dupla dinâmica”, como já são chamados por alguns, não tenha chegado ao poder nos tempos áureos de Lula.

Imagine o que teria representado, para o Pará e para Belém, essa parceria, naqueles tempos em que o Brasil crescia e se humanizava a pleno vapor...

Mas não dá para reclamar muito de Deus, não é?

Afinal, há bem pouco tempo e talvez até por intercessão da Nazica, Ele nos livrou de um destino tenebroso: depois de 16 anos de abandono, cairmos nas mãos de um bolsominion, em plena pandemia...

FUUIIIII!!!!!

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