domingo, 11 de outubro de 2020

Oficial da PM aparece em busca e apreensão sem ser chamado e filma policiais da Operação Quimera, que investiga supostos crimes na SESMA. Quem o mandou? Quem vazou a informação? Qual a participação do procurador geral de Justiça, Gilberto Martins, nesse episódio? Ele tentou proteger o cunhado, o secretário de Saúde de Belém, Sérgio Amorim Figueiredo?


 

É um caso muito estranho e que precisa ser investigado a fundo.

Na última sexta-feira (09/10), policiais civis do Pará realizaram a Operação Quimera, que investiga supostos crimes da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (SESMA), na compra de ventiladores pulmonares.

Os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão, expedidos pelo juiz Heyder Tavares da Silva Ferreira.

Um dos principais alvos da operação foi o secretário municipal de Saúde, Sérgio de Amorim Figueiredo, responsável pela aquisição desses equipamentos.

Às 6 da manhã, policiais civis chegaram em um dos endereços ligados ao secretário: um apartamento, no bairro de Nazaré, onde residiria a mãe dele.

Tocaram a campainha várias vezes e constataram que não havia ninguém.

A síndica então ligou para Ana Rosa de Figueiredo Martins, a outra filha da dona do apartamento.

Ana Rosa, que vem a ser esposa do procurador geral de Justiça (PGJ), Gilberto Valente Martins, chefe do Ministério Público do Estado do Pará (MP-PA).

(Pois é: o secretário municipal de Saúde de Belém, homem de confiança do prefeito Zenaldo Coutinho, e que já assinou contratos suspeitos com pelo menos duas supostas quadrilhas (https://pererecadavizinha.blogspot.com/2020/10/alo-alo-pf-e-mpf-empresa-que-ganhou.html) é cunhado do chefe do MP-PA).

Minutos depois da ligação da síndica para a esposa do doutor Gilberto, chegou àquele endereço o tenente-coronel da Polícia Militar Afonso Geomárcio Alves dos Santos, que foi ou ainda é ajudante de ordens do doutor Gilberto.

Segundo o boletim de ocorrência 00608/2020.100037-9, registrado pela delegada Daniela Borges de Vasconcelos, que comandava o cumprimento dos mandados judiciais, o tenente-coronel já chegou “com um aparelho celular em mãos, filmando os policiais e afirmando que iria acompanhar as buscas, assim como filmar o procedimento policial, o que de fato fez”.

Ele teria até mesmo pedido o “nome completo” da delegada, mas ela respondeu que só mostraria a sua identidade funcional à Ana Rosa, que estava sendo aguardada, para acompanhar as buscas.

Ainda segundo a delegada, o tenente-coronel chegou ao apartamento “por volta das 6h25”. 

Já Ana Rosa chegou “por volta das 6h40”.

Então, vamos a algumas perguntas que têm de ser feitas, em relação a esse episódio.

Qual o interesse do tenente-coronel Afonso Geomárcio Alves dos Santos naquela operação policial?

Quem o mandou àquele apartamento, e por quê?

Foi o doutor Gilberto ou a esposa dele quem mandou um funcionário público, para realizar aquele serviço particular?

Ou o tenente-coronel agiu por vontade própria?

Mas, nesse caso, quem o avisou?

E por que é que ele resolveu agir assim?

Ele estava de folga, de férias, ou em horário de expediente?

O veículo que usou nesse deslocamento é dele ou de algum órgão público?

Com que autoridade, apesar de informado que estava em curso o cumprimento de uma ordem judicial, passou a filmar os policiais que participavam daquela operação, com um comportamento que pode até ser entendido como tentativa de intimidação?

E foi tentativa de intimidação?

Por vontade própria ou a mando de quem?

Como foi que ele chegou tão rápido àquele apartamento?

Ora, a polícia chegou às 6h00.

Segundo o boletim de ocorrência, os policiais conversaram com o porteiro, mandaram chamar a síndica, subiram ao terceiro andar e tocaram a campainha várias vezes.

Aí, chegou a síndica, que só então telefonou para Ana Rosa.

Isso significa que esse telefonema deve ter ocorrido por volta de 6h10, ou até mais.

Ou seja, o tenente-coronel deve ter tido apenas uns 15 minutos para chegar na porta daquele apartamento.

Ele mora às proximidades?

Estava lá perto, às 6 da manhã, fazendo algum serviço, resolvendo algum problema?

Ou será que o tenente-coronel já sabia da operação policial e aguardava apenas um telefonema, para se deslocar àquele endereço, ou até para simplesmente entrar naquele prédio?

Se ele sabia, quem o informou antecipadamente?

Quem vazou uma informação estratégica daquela operação policial, para aquele oficial da PM?

Foi um policial, um promotor, um servidor do Judiciário?

Ou essa informação teria sido obtida por outros meios?

Que meios?

Legais? Ilegais?

Quem se beneficiou do vazamento dessa informação para aquele militar?

Quem mais tomou conhecimento antecipado da Operação Quimera, se é que isso ocorreu?

Outro ponto que precisa ser esclarecido é onde está lotado, afinal, esse tenente-coronel.

No burburinho que se formou nas redes sociais e no MP-PA, diz-se que ele ainda é ajudante de ordens do doutor Gilberto.

No entanto, no Diário Oficial do Estado (DOE) de 14 de maio deste ano, consta que ele deixou o Gabinete Militar do MP-PA e voltou ao serviço ativo da PM.

Não consegui localizar qualquer outra publicação com o nome dele depois disso, o que torna esse caso ainda mais estranho.

Afinal, se ele não trabalha mais como ajudante de ordens do PGJ, ainda assim continua a prestar favores ou serviços pessoais ao doutor Gilberto? Fora ou dentro do horário de expediente? Qual a dimensão desses serviços? E por que é que isso ocorre, se é que ocorre?  

Há 14 anos, caso tomasse conhecimento de um episódio desses, tenho certeza de que o então promotor militar Gilberto Valente Martins estaria fazendo perguntas muito parecidas.

Creio que ele chamaria a imprensa, pediria à Corregedoria da PM a abertura de uma investigação, e talvez até tentasse levar o caso ao Colégio de Procuradores do MP-PA.

Até porque não se trata apenas de soldados pintando a casa de um coronel em horário de expediente, como um dos casos que o doutor Gilberto chegou a denunciar.

Mas de um militar de alta patente que pode ter sido usado, com recursos públicos, em um serviço particular, talvez a partir da obtenção de informações policiais sigilosas, e de maneira nada republicana, e com um comportamento que dá margem à suspeita de tentativa de interferência em uma investigação policial, e até no cumprimento de uma ordem judicial.

Um comportamento tão inusitado e, aparentemente, tão constrangedor, que até gerou um boletim de ocorrência de uma delegada, talvez até para se precaver contra possíveis acusações.

E aqui, cabe também perguntar: esse tenente-coronel estava a tentar coletar provas contra aquela operação policial? Por que e para quem?

E se agiu assim a mando do PGJ, desde quando o PGJ é advogado de defesa dos interesses de particulares?

Além disso, até onde sei, nem secretário municipal, nem cunhado têm foro privilegiado.

Então, o que é que faz o PGJ metido nessa história, se é que está metido nessa história?

E onde fica o promotor do caso e a autonomia funcional dele?

Na última quarta-feira, 7, depois de muita “encheção” de saco de algumas fontes, enviei 12 perguntas ao doutor Gilberto.

Algumas relacionadas a um processo contra ele e a esposa dele.

Outras, a respeito desse parentesco dele com o secretário municipal de Saúde de Belém, o que, segundo algumas pessoas, estaria interferindo na apuração de denúncias sobre supostas irregularidades desse secretário.

No entanto, o doutor Gilberto mandou dizer que não se manifestará, no momento, “sobre o assunto”.

Até entendo que não se manifestasse sobre o processo que envolve a esposa dele.

No entanto, achei estranho que nem sequer admitisse ou negasse o parentesco com o secretário municipal de Saúde, e que também não negasse quaisquer interferências em investigações que envolvem a SESMA e o prefeito de Belém.

Porém, creio que ainda mais estranho é o silêncio do doutor Gilberto diante da presença do tenente-coronel Antonio Geomárcio Alves dos Santos em uma operação policial, que cumpria uma ordem judicial, e com o comportamento que aquele militar exibiu.

Talvez o Ministério Público, que cobra tanta transparência de governadores e prefeitos, chegando mesmo a ajuizar processos contra eles, acredite que não deve qualquer explicação ao distinto público.

Talvez imagine que pode agir como bem entender, ter as atitudes mais absurdas, porque aqueles que o sustentam “não têm nada a ver com isso”.

Talvez alguns “xerifes” se imaginem até acima da Lei, cujo cumprimento têm o dever de fiscalizar.

Talvez alguns tenham olhado tempo demais para o abismo, e se deixado tragar por ele...

E talvez ao distinto público reste apenas dar de ombros e repetir: casa de ferreiro, espeto de pau!

No entanto, prefiro manter viva a esperança de que os grandes promotores e procuradores do nosso MP-PA acionem a quem de direito (polícia, corregedorias, Conselho Nacional do Ministério Público), para esclarecer todo esse episódio.

Afinal, os homens, por mais vaidosos que sejam, sempre passarão.

O que fica são as instituições.

E essas, sim, é que é preciso proteger.

FUUUIIIIII!!!!!!!     

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