O Tribunal Regional Federal da 1 Região (TRF1) inocentou,
hoje (17), o senador Jader Barbalho no processo em que era acusado de cobrar
propina, para facilitar a aprovação de projetos da Sudam.
Não é a primeira vez que um processo contra Jader dá
em nada.
Mas esse é particularmente interessante porque não
houve simples prescrição: os juízes concluíram que não havia provas contra ele,
apenas o testemunho de um sujeito envolvido em outro processo e que, à
semelhança de tantos “delatores premiados”, digamos assim, tinha interesse de envolvê-lo
em toda essa história.
Ou seja, toda a acusação se baseava em um testemunho,
que, ainda por cima, estava sob suspeita de parcialidade. Daí o Barbalhão ter sido
inocentado pelo tribunal.
Isso significa que o Jader é um santo?
É claro que não, né leitor!
E vamos combinar: anjo só existe no céu, e demônio só existe
no inferno.
O resto é tudo ser humano, gente sujeita a
muuuuuiiiiitos erros, e a muuuuiiiiiitos acertos também.
Aliás, continuo achando que o Barbalhão é um sujeito
tremendamente enrolado, e ele ainda terá de rebolar muito, para me convencer do
contrário.
Mas as vitórias dele na Justiça só demonstram uma
coisa para a qual este blog sempre alertou: a impressionante satanização que ele
sofreu.
Jader passou a ser associado a tudo o que não presta;
virou até verbo pejorativo.
Mesmo afastado há anos do Executivo, tudo o que acontecia
de errado no Pará, nos últimos 20 anos, era jogado nas costas dele.
Virou o “Grande Satã”, um espírito maligno,
onipresente e onipotente, a pairar sobre o estado.
Pouco importa se isso é uma fantasia, um absurdo lógico,
um conto de terror que nem criancinha acredita mais.
Pouco importa se o Barbalhão não tinha nem poder para jogar o Pará na desgraceira em que mergulhou, em quase
duas décadas de jatenismo: tudo o que de ruim acontecia era culpa do “Grande
Satã”. E ponto.
Mesmo ele não sendo governador, desde 1994; mesmo não
tendo controle sobre a Segurança Pública, a Saúde, a Educação, era a ele que se
atribuía a culpa pela crescente criminalidade; pelas escolas caindo aos pedaços,
pelos postos de saúde que não tinham um simples comprimido para dor de cabeça.
A satanização do Jader atingiu tal ponto que qualquer
pessoa ou instituição que dele se aproximava acabava também “contaminada”.
O partido xis fez acordo com o Jader? “É bandido! Só
quer saber de poder!”. O Jader indicou alguém para algum cargo? “Coitada
daquela instituição: vão roubar até o osso!”. Sujeito votou nele pra senador,
deputado ou sei lá o quê? “É corrupto, a favor da corrupção, e tá querendo é
uma boquinha também”.
No fundo, e creio que foi o próprio Barbalhão quem
disse isso, era a história do ladrão que grita “pega ladrão!”, para desviar a
atenção do distinto público.
Porque enquanto as pessoas tinham o “Grande Satã” para
exercitar os seus minutos diários de ódio, os jatenistas depenavam o estado do
Pará.
Prova disso é que só um ex-secretário de Jatene, o
Nilo Noronha, foi flagrado com uma fortuna de R$ 22 milhões, que ele teria de trabalhar mais de 90 anos, sem gastar nem 1 centavo, para acumular.
Prova disso, são os R$ 13 milhões que o Beto Jatene,
filho do Jatene, pagou a uma seguradora.
E a lista é imensa: daria para ficar falando dias e dias,
e mesmo assim a gente não daria “vencimento” dos milionários escândalos jatenistas.
Para quem não se lembra, o processo de satanização do Jader
começou ainda em 1995, quando os tucanos chegaram ao poder.
Tanto assim que, na campanha de 1998, ele foi pintado
como um demônio, um anhangá.
E por quê?
Porque o Jader era a única liderança que realmente ameaçava
os planos jatenistas de estabelecer uma espécie de império, no estado do Pará,
por duas, três, quatro décadas.
Mas esse processo de satanização experimentou um formidável impulso a partir da década de 2000, quando Jader chegou à Presidência do
Senado Federal, contra a vontade do senador Antonio Carlos Magalhães, o “senhor”
da imprensa brasileira da época. E não apenas por suas relações de amizade com
Roberto Marinho, então dono da toda poderosa Rede Globo, mas também pelas benesses
que distribuiu aos grandes grupos de comunicação, quando foi ministro das
Comunicações.
Na época, o começo da década de 2000, Tvs, jornais e revistas de
todo o País praticamente acamparam em Belém, para devassar a vida do Barbalhão.
A verdade se misturou à mentira; futricas viraram
fatos e Jader foi “linchado” todos os dias, em todos os veículos de comunicação
do Brasil.
Para completar, ele cometeu a temeridade de
não se defender como deveria: caiu na besteira de acreditar que a “onda”
passaria.
Não passou.
Até porque os tucanos paraenses aproveitaram a “onda”
nacional, para, através do dinheiro da propaganda, aprofundar essa satanização.
É possível que se esse linchamento ocorresse hoje, o
resultado fosse diferente, tendo em vista as redes sociais, que contrabalançam
o poder dos grandes grupos de comunicação.
Mas é possível, também, que o resultado fosse o mesmo,
tendo em vista a decisão burra de Jader de não se defender como deveria.
É que acusações não podem ser vistas como simples
palavras que o vento leva: têm de ser rebatidas, sob pena de “colarem” na
própria alma do acusado.
E depois que isso acontece, o sujeito pode morrer
gritando a sua inocência, que ninguém mais acreditará.
Agora mesmo, muitos ainda dirão que o Barbalhão é
culpado, apesar de a Justiça tê-lo inocentado.
Mesmo que ele consiga ser inocentado em todos os muitos
processos a que responde, ainda assim é quase impossível que a imagem dele seja
reformulada para o distinto público, nos tempos atuais.
E reformulada não como um anjo, mas exatamente como
aquilo que é: apenas e tão somente um político de seu tempo, da sociedade
de seu tempo, apesar de possuir, é verdade, uma infinidade de rolos, além de qualidades
que o tornariam um fenômeno político em qualquer época e em qualquer lugar do
mundo.
Certa vez, até escrevi que, para infelicidade do Pará,
Jader preferiu usar o seu extraordinário talento em favor apenas dele mesmo, e não do
povo deste estado.
Fosse diferente, talvez não estivéssemos neste buraco em
que os jatenistas nos jogaram, já que ele possui uma capacidade estratégica e
de aglutinar as massas que poucas vezes a gente vê.
Mas como ele também toma decisões incrivelmente
burras, como no caso de não se defender como deveria e até de acreditar que o
Jatene não iria concorrer ao Governo em 2014, é possível que esse meu juízo
seja mera ilusão.
É possível que não existisse um “salvador” para essa
situação em que os paraenses fomos jogados, e que o melhor é apenas dizer:
maktub!
Hoje, talvez até pela avançada idade, que aos
escorpianos leva à contemplação do indizível, o Barbalhão parece focado em
projetos que podem trazer amplos benefícios ao povo paraense.
Ou talvez isso seja apenas impressão, causada pelo
trabalho da competente jornalista Luiza Mello.
Ou talvez seja apenas a divulgação sistemática do
trabalho do Barbalhão, coisa que ele também nunca havia se importado em fazer.
Ou talvez seja resultado da ruptura da milionária
propaganda contra ele.
Ou talvez já seja um dos frutos do governo do Helder,
filho dele.
Embora sejam muitas as possibilidades, prefiro
acreditar que o Barbalhão finalmente compreendeu que o talento que possui é uma
construção coletiva, que o deixa em dívida não apenas com milhares de antepassados,
mas, sobretudo, com a sociedade em que vive.
É o tempo, o senhor do mundo, que vai branqueando os
cabelos, apesar de todas as tinturas...
E que, apesar de nos conduzir inelutavelmente ao
túmulo, também desperta em nós um enorme amor à vida e a tudo o que respira ao
nosso redor.
Tudo ganha outro significado, diante do avanço
imparável do tempo.
E quem sabe, em um futuro distante, seja outro o olhar
do distinto público sobre o político chamado Jader Barbalho.
FUUUIIIIII!!!!
..........
Leia, no DOL, sobre a decisão do TRF1 que
inocentou o Barbalhão: https://www.diarioonline.com.br/noticias/para/543446/justica-federal-inocenta-jader-barbalho-no-caso-sudam-por-falta-de-provas
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