terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Barbalhão: uma história que só o futuro contará.






O Tribunal Regional Federal da 1 Região (TRF1) inocentou, hoje (17), o senador Jader Barbalho no processo em que era acusado de cobrar propina, para facilitar a aprovação de projetos da Sudam. 

Não é a primeira vez que um processo contra Jader dá em nada.  

Mas esse é particularmente interessante porque não houve simples prescrição: os juízes concluíram que não havia provas contra ele, apenas o testemunho de um sujeito envolvido em outro processo e que, à semelhança de tantos “delatores premiados”, digamos assim, tinha interesse de envolvê-lo em toda essa história. 

Ou seja, toda a acusação se baseava em um testemunho, que, ainda por cima, estava sob suspeita de parcialidade. Daí o Barbalhão ter sido inocentado pelo tribunal. 

Isso significa que o Jader é um santo? 

É claro que não, né leitor!  

E vamos combinar: anjo só existe no céu, e demônio só existe no inferno. 

O resto é tudo ser humano, gente sujeita a muuuuuiiiiitos erros, e a muuuuiiiiiitos acertos também. 

Aliás, continuo achando que o Barbalhão é um sujeito tremendamente enrolado, e ele ainda terá de rebolar muito, para me convencer do contrário. 

Mas as vitórias dele na Justiça só demonstram uma coisa para a qual este blog sempre alertou: a impressionante satanização que ele sofreu. 

Jader passou a ser associado a tudo o que não presta; virou até verbo pejorativo. 

Mesmo afastado há anos do Executivo, tudo o que acontecia de errado no Pará, nos últimos 20 anos, era jogado nas costas dele. 

Virou o “Grande Satã”, um espírito maligno, onipresente e onipotente, a pairar sobre o estado. 

Pouco importa se isso é uma fantasia, um absurdo lógico, um conto de terror que nem criancinha acredita mais.  

Pouco importa se o Barbalhão não tinha nem poder para jogar o Pará na desgraceira em que mergulhou, em quase duas décadas de jatenismo: tudo o que de ruim acontecia era culpa do “Grande Satã”. E ponto. 

Mesmo ele não sendo governador, desde 1994; mesmo não tendo controle sobre a Segurança Pública, a Saúde, a Educação, era a ele que se atribuía a culpa pela crescente criminalidade; pelas escolas caindo aos pedaços, pelos postos de saúde que não tinham um simples comprimido para dor de cabeça. 

A satanização do Jader atingiu tal ponto que qualquer pessoa ou instituição que dele se aproximava acabava também “contaminada”. 

O partido xis fez acordo com o Jader? “É bandido! Só quer saber de poder!”. O Jader indicou alguém para algum cargo? “Coitada daquela instituição: vão roubar até o osso!”. Sujeito votou nele pra senador, deputado ou sei lá o quê? “É corrupto, a favor da corrupção, e tá querendo é uma boquinha também”.  

No fundo, e creio que foi o próprio Barbalhão quem disse isso, era a história do ladrão que grita “pega ladrão!”, para desviar a atenção do distinto público. 

Porque enquanto as pessoas tinham o “Grande Satã” para exercitar os seus minutos diários de ódio, os jatenistas depenavam o estado do Pará. 

Prova disso é o rombo de R$ 1,5 bilhão que o Jatene deixou nas contas do governo, só no ano passado. 

Prova disso é que só um ex-secretário de Jatene, o Nilo Noronha, foi flagrado com uma fortuna de R$ 22 milhões, que ele teria de trabalhar mais de 90 anos, sem gastar nem 1 centavo, para acumular. 

Prova disso, são os R$ 13 milhões que o Beto Jatene, filho do Jatene, pagou a uma seguradora. 

E a lista é imensa: daria para ficar falando dias e dias, e mesmo assim a gente não daria “vencimento” dos milionários escândalos jatenistas. 

Para quem não se lembra, o processo de satanização do Jader começou ainda em 1995, quando os tucanos chegaram ao poder. 

Tanto assim que, na campanha de 1998, ele foi pintado como um demônio, um anhangá. 

E por quê?  

Porque o Jader era a única liderança que realmente ameaçava os planos jatenistas de estabelecer uma espécie de império, no estado do Pará, por duas, três, quatro décadas. 

Mas esse processo de satanização experimentou um formidável impulso a partir da década de 2000, quando Jader chegou à Presidência do Senado Federal, contra a vontade do senador Antonio Carlos Magalhães, o “senhor” da imprensa brasileira da época. E não apenas por suas relações de amizade com Roberto Marinho, então dono da toda poderosa Rede Globo, mas também pelas benesses que distribuiu aos grandes grupos de comunicação, quando foi ministro das Comunicações. 

Na época, o começo da década de 2000, Tvs, jornais e revistas de todo o País praticamente acamparam em Belém, para devassar a vida do Barbalhão. 

A verdade se misturou à mentira; futricas viraram fatos e Jader foi “linchado” todos os dias, em todos os veículos de comunicação do Brasil. 

Para completar, ele cometeu a temeridade de não se defender como deveria: caiu na besteira de acreditar que a “onda” passaria. 

Não passou.  

Até porque os tucanos paraenses aproveitaram a “onda” nacional, para, através do dinheiro da propaganda, aprofundar essa satanização. 

É possível que se esse linchamento ocorresse hoje, o resultado fosse diferente, tendo em vista as redes sociais, que contrabalançam o poder dos grandes grupos de comunicação. 

Mas é possível, também, que o resultado fosse o mesmo, tendo em vista a decisão burra de Jader de não se defender como deveria. 

É que acusações não podem ser vistas como simples palavras que o vento leva: têm de ser rebatidas, sob pena de “colarem” na própria alma do acusado. 

E depois que isso acontece, o sujeito pode morrer gritando a sua inocência, que ninguém mais acreditará. 

Agora mesmo, muitos ainda dirão que o Barbalhão é culpado, apesar de a Justiça tê-lo inocentado. 

Mesmo que ele consiga ser inocentado em todos os muitos processos a que responde, ainda assim é quase impossível que a imagem dele seja reformulada para o distinto público, nos tempos atuais. 

E reformulada não como um anjo, mas exatamente como aquilo que é: apenas e tão somente um político de seu tempo, da sociedade de seu tempo, apesar de possuir, é verdade, uma infinidade de rolos, além de qualidades que o tornariam um fenômeno político em qualquer época e em qualquer lugar do mundo. 

Certa vez, até escrevi que, para infelicidade do Pará, Jader preferiu usar o seu extraordinário talento em favor apenas dele mesmo, e não do povo deste estado. 

Fosse diferente, talvez não estivéssemos neste buraco em que os jatenistas nos jogaram, já que ele possui uma capacidade estratégica e de aglutinar as massas que poucas vezes a gente vê. 

Mas como ele também toma decisões incrivelmente burras, como no caso de não se defender como deveria e até de acreditar que o Jatene não iria concorrer ao Governo em 2014, é possível que esse meu juízo seja mera ilusão. 

É possível que não existisse um “salvador” para essa situação em que os paraenses fomos jogados, e que o melhor é apenas dizer: maktub! 

Hoje, talvez até pela avançada idade, que aos escorpianos leva à contemplação do indizível, o Barbalhão parece focado em projetos que podem trazer amplos benefícios ao povo paraense. 

Ou talvez isso seja apenas impressão, causada pelo trabalho da competente jornalista Luiza Mello. 

Ou talvez seja apenas a divulgação sistemática do trabalho do Barbalhão, coisa que ele também nunca havia se importado em fazer. 

Ou talvez seja resultado da ruptura da milionária propaganda contra ele. 

Ou talvez já seja um dos frutos do governo do Helder, filho dele. 

Embora sejam muitas as possibilidades, prefiro acreditar que o Barbalhão finalmente compreendeu que o talento que possui é uma construção coletiva, que o deixa em dívida não apenas com milhares de antepassados, mas, sobretudo, com a sociedade em que vive. 

É o tempo, o senhor do mundo, que vai branqueando os cabelos, apesar de todas as tinturas... 

E que, apesar de nos conduzir inelutavelmente ao túmulo, também desperta em nós um enorme amor à vida e a tudo o que respira ao nosso redor. 

Tudo ganha outro significado, diante do avanço imparável do tempo. 

E quem sabe, em um futuro distante, seja outro o olhar do distinto público sobre o político chamado Jader Barbalho. 

FUUUIIIIII!!!!


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