A Perereca reproduz o artigo da jornalista Flávia Martinelli, para o site Jornalistas Livres.
Em São Paulo, Pará e outros estados, a Polícia Militar está sendo usada para reprimir brutalmente as manifestações contra o golpe.
O objetivo é claríssimo: silenciar os que lutam pela Democracia.
Eis que, no Brasil dos golpistas, bandido é quem defende a Constituição.
Neste link, um vídeo que registra a violência da PM
de Jatene até contra os advogados que tentavam impedir a repressão aos
manifestantes, na última sexta-feira, 2, em Belém: https://www.facebook.com/thamirys.quemel/videos/1175621565845012/
Aqui, a postagem da Perereca sobre a violência ordenada por Jatene: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2016/09/pm-de-jatene-prende-e-arrebenta.html
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Atualizada às 20h16m:
Vídeo mostra policial atirando em manifestante, com
bala de borracha, na manifestação contra o golpe, em Belém, na sexta-feira, 2: https://www.facebook.com/Brasil247/videos/1286169714769366/
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Leia o artigo de Flávia:
“UM
GOLPE COM SANGUE NOS OLHOS
O
que é “baderna” diante de um complô de corruptos? Que massa é essa de “soldados
da arruaça”, como diz a “Folha de S.Paulo” que, depois de apoiar o golpe –
essa, sim, a violência superlativa – se vitimiza de forma patética ao ter sua
fachada pichada por manifestantes?
Por
Flávia Martinelli, para os Jornalistas Livres
Começou com sangue nos olhos. Um globo ocular
dilacerado, cego e, por uma dessas ironias amaldiçoadas, esquerdo. Deborah
Fabri, a estudante de 19 anos atingida por estilhaços de bala na primeira
manifestação depois do golpe, foi perfurada em muito mais do que em seu direito
de se manifestar. Figura de linguagem já não cabe mais na retórica da repressão
inaugurada pelo golpista.
Houve também uma câmera fotográfica destroçada. A
quantidade de pedaços quebrados denuncia a ira do arremesso. E, ainda, centenas
de olhos inflamados por spray de pimenta. Choro de gás e de inconformidade.
“Mão na cabeça e cara virada pro muro, filho da puta! Olha pro chão, vândalo do
caralho!”, é a clássica ordem de prisão policial da tropa de Geraldo Alckmin. E
não dá para esquecer do olhar dos refletores do poder.
Lentes de TV estão seletivas. Só registram o vidro
do caixa eletrônico quebrado. O noticiário da Globo adora um quebra-quebra. Os
editoriais, espaços para a defesa do ponto de vista dos jornais, pedem mais
repressão. A Folha e o Estado de S.Paulo tipificaram os manifestantes por um
único grupo de meia dúzia de queimadores de lixo, pneus e quebradores de
vidraças bancárias. Justificam a porrada, incutem medo na classe média, querem
medidas mais duras para conter quem protesta.
O presidente golpista atendeu no mesmo dia. Temer
autorizou as Forças Armadas a atuarem na Avenida Paulista no domingo (04/09)
marcado para inúmeras manifestações. A “garantia da lei e da ordem” tem como
desculpa a passagem da tocha olímpica no local. O governo do Estado gostou.
Emitiu nota avisando que protesto não pode, não. Estão todos de olho, nas
palavras dos jornais, nos “vândalos”, “arruaceiros”, “milicianos”, “fascistas”,
“criminosos”, e, claro, “baderneiros”, definição preferida dos apoiadores do
golpe.
Mas o que é “baderna” diante de um complô de
corruptos, grandes instituições financeiras, indústrias e mercados
internacionais capazes de derrubar uma democracia? E que massa é essa de
“soldados da arruaça” ou “fanáticos da violência” como diz a “Folha de S.Paulo”
que, depois de apoiar o golpe – esta sim a violência superlativa – se vitimiza
de forma patética ao ter sua fachada pichada por manifestantes?
Os repórteres de gabinete não viram, por exemplo,
que entre os incendiários de lixo havia um pai de família de 54 anos, professor
da rede pública, puto por ter seu voto roubado. Se ele botou fogo para fazer
barricada contra a tropa de choque, é miliciano e ponto final. E dá-lhe bomba,
diz o jornal. E bomba na cara, age a PM.
“Nos últimos dias, eu testemunhei policiais fazendo
mira na cabeça de manifestante”, diz a jornalista Kátia Passos que, muito antes
de ser Jornalista Livre, há um ano, é mãe de uma estudante secundarista e
registra praticamente todos os atos de estudantes em São Paulo. “Nesses três
últimos atos não teve conversa. Eu sempre falo com os comandantes como, ouço o
outro lado. Não consegui trocar uma palavra. Eles se recusam a negociar.”
Kátia reconheceu todas as cinco forças da polícia
nas manifestações: Tática, Tropa de Choque, helicóptero, cavalaria e Polícia
Militar. “Não via esse esquema de repressão desde o massacre de 2013, quando os
policiais perderam completamente o controle e saíram atirando a esmo. A polícia
não está na rua para dispersar, mas para encurralar.”
No dia do golpe, (31/08), havia mais de mil
policiais em ação na manifestação. Num trecho da rua da Consolação, sem saídas
laterais, eles passaram a comprimir os manifestantes, cercando o grupo num
círculo. “Bombas foram lançadas no meio da passeata. A única maneira de escapar
era passar pelos cordões policiais com risco de levar tiro de borracha à
queima-roupa”, lembra o Jornalista Livre Adolfo Várzea.
No dia seguinte, Lucas Porto, repórter, fotógrafo,
rotineiro cinegrafista de transmissões ao vivo das manifestações do Jornalistas
Livres chegou a ser, literalmente, caçado por uma matilha de oficiais. Lucas
sabe que sempre esteve marcado. Mas dessa vez, o grupo de policiais não se
contentou de correr em seu encalço. Lucas ganhou uma bomba exclusiva, só pra
ele, numa calçada praticamente vazia. Só não foi apanhado pelos PMs porque
outro colaborador dos Jornalistas Livres, Caco Ishak, se colocou diante dos
policiais. Caco foi atropelado por uma moto da tropa na calçada, derrubado no
chão, imobilizado e levado para a delegacia. Só saiu de lá depois das 4 da
manhã.
O parâmetro da violência policial deixa claro a que
veio o golpe. É a opinião dos fotógrafos Christian Braga e de Sato do Brasil,
ambos Jornalistas Livres. Christian vê uma escalada crescente de violência
nesses últimos dias. “Tá punk, sim. E tem bala de borracha pra caramba, os
caras nem pensam antes de atirar.” Sato estava próximo ao prédio da Folha de
S.Paulo na última quarta-feira (31/08), quando os manifestantes picharam o
portão blindado da entrada e jogaram pedras na fachada no jornal.
“Vi de longe quebrarem a câmera do fotógrafo ali.
Ele estava sentado com as costas na parede. O policial simplesmente tirou o
capacete da cabeça dele, arrancou a câmera, jogou no chão e pisou no
equipamento.” Sato deu de cara com um PM e avisou: ‘Sou imprensa, sou
imprensa’. Ele respondeu: ‘Foda-se, sai daqui! Quer tomar tiro na cara?’”. De
fato. Àquela altura, a estudante Deborah já havia perdido a visão. Não era
força de expressão. O golpe quer tirar sangue dos nossos olhos”.
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Pra vocês, nestes tempos sombrios do Brasil:
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