Almir, o maior governador do Pará (Foto: Diário Online) |
Confesso que não era esta a postagem que tinha em mente para o retorno deste blog, após dois meses de paralisação.
No entanto, quase nada é como planejamos, porque a vida e as suas circunstâncias são infinitamente maiores do que qualquer um de nós.
Sinto-me profundamente triste.
Na manhã de hoje, Deus levou o ex-governador do Pará, Almir Gabriel.
O “doutor Almir”, aquele velhinho turrão, ranzinza, que tanto fez por este estado.
Conheci o “doutor Almir” quando ele ainda era secretário de Saúde do governador Alacid Nunes, no começo da década de 1980.
Eu era, então, apenas uma “foquinha”.
Há quem diga que simpatizei tanto com ele por influência da Ana Diniz.
Pode ser.
Mas prefiro pensar que essa simpatia e respeito mútuos eram bem mais uma coisa de alma.
Sempre nos tratamos com respeito e afeto, mesmo quando eu lhe fazia perguntas incômodas.
Ele era assim: quando gostava ou não de alguém, isso ficava visível em seu rosto, em suas palavras, na energia ao seu redor.
Apenas na última entrevista que fiz com ele, em 2011, é que senti o doutor Almir diferente em relação a mim.
Estava agressivo, rancoroso.
E penso que isso decorreu não apenas das reportagens que fiz sobre as transações entre o filho dele, Marcelo, e o Chico Ferreira, mas também porque o doutor Almir de certa forma me incluía entre os "culpados" pela derrota que sofreu em 2006.
Ao final da entrevista, no entanto, ele me perguntou se eu não o ajudaria na eleição para a Prefeitura de Belém.
Disse-lhe que sim, para não contrariá-lo.
Mas eu jamais poderia fazer isso, porque para mim sempre esteve claro, desde 2006, que o tempo do doutor Almir havia ficado para trás.
Penso que quando olharem a história do Pará, daqui a cem ou duzentos anos, Almir Gabriel emergirá como o maior governador que este estado já teve.
E talvez tenha sido justamente o seu legado (e de tantos outros cidadãos) a fazer com que ele fosse rapidamente superado pela roda da História.
Seu estilo autoritário já não se adaptava aos novos tempos, que ele mesmo ajudou a construir.
Lembro que enquanto decupava a entrevista que estou republicando neste blog, senti uma profunda angústia e pensei: “como o doutor Almir envelheceu...”
E penso que, de certa forma, eu sempre soube disso – que ele envelhecia rapidamente, na alma.
Porque, há anos, dizia a amigos que o doutor Almir terminaria seus dias exatamente como Antonio Lemos: sozinho e amargurado.
Almir, o doutor Almir, pagou o preço dos grandes homens públicos, dos grandes políticos, que, no entanto, não sabem quando é hora de sair da mesa e apenas apreciar o jogo.
No entanto, tudo o que ele fez, tudo o que nos deixou, suplanta em muito todos os seus defeitos – e não apenas na morte.
Sua decência, sua honestidade, sua franqueza – “defeitos genéticos” que ele quase nunca conseguia esconder – fazem uma falta danada nessa política que é cada vez mais um “espetáculo”, além de um jogo de rasteiras e de facadas nas costas.
O doutor Almir que conheci nunca atacava por trás. Era sempre pela frente, olho no olho. E era isso que o tornava tão temível.
Penso que guardarei de Almir algumas das minhas melhores lembranças e convicções.
A esperança de transformar este estado e torná-lo mais cidadão.
O respeito pelo outro, o saber que o outro, por mais pobre que esteja, é igualzinho a mim.
A certeza de que é possível, sim, construir uma política em bases mais éticas.
Perdoem-me se não consigo esconder o afeto e a admiração que sempre senti por esse grande homem.
Sei que isso não é bacana para um jornalista e lutei muitas vezes contra tais sentimentos.
Mas agora o que sinto é como se tivessem levado embora o meu primeiro e grande amor da política...
O sujeito que quando abria a boca expressava tudo o que sempre tive vontade de dizer.
E que me ajudou a acreditar na possibilidade de um mundo mais justo e solidário.
É por isso que ao reler a entrevista abaixo dei boas risadas e pensei: égua, que esse velhinho, apesar de todos os defeitos, era mesmo um sujeito pra lá de admirável!
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Leia sobre o falecimento do ex-governador Almir Gabriel.
Aqui: http://www.diarioonline.com.br/noticia-236664-morre-ex-governador-almir-gabriel.html
Aqui: http://www.diarioonline.com.br/noticia-236667-almir-gabirel-sera-velado-no-palacio-lauro-sodre.html
Aqui: http://www.diarioonline.com.br/noticia-236671-politicos-lamentam-a-morte-de-almir-gabriel.html
Leia, também, uma entrevista que fiz com o doutor Almir, junto com a Rita Soares:
Jatene, o candidato da Vale: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2010/01/simao-jatene-o-candidato-da-vale.html
Compromissos com a Vale explicam postura de Jatene, diz Almir: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2010/01/compromissos-com-vale-explicam-postura.html
E abaixo, a republicação da última entrevista que fiz com o doutor Almir, em novembro de 2011:
Almir Gabriel garante que é pré-candidato e que vai ganhar a disputa pela Prefeitura de Belém.
Quando se ouve ele falar, a primeira coisa que vem à cabeça é aquela marchinha de 1950 que embalou a eleição de Getúlio Vargas, e que dizia mais ou menos assim: “Bota o retrato do velho outra vez/Bota no mesmo lugar”.
Aos 79 anos, ex-prefeito de Belém, ex-senador Constituinte e duas vezes governador do Pará, Almir Gabriel garante que é pré-candidato na eleição municipal do ano que vem e que ganhará, sim, a disputa pela Prefeitura de Belém:
“Vamos à vitória: eu, o povo e o PTB”.
Numa longa entrevista à Perereca – por vezes, um bate-papo; por vezes, uma troca de farpas – o “velho”, o eterno tucanão, deu a impressão de estar tinindo para a batalha que se avizinha.
Tem a resposta na ponta da língua, mesmo quando cutucado acerca das mazelas de seu principal apoiador, o atual prefeito de Belém, Duciomar Costa.
Diploma falso de médico do Dudu? “Tem prova disso? Eu não vi! Ele é acusado. E a imprensa entra – como você – e já condena antes”.
Administração desastrada do prefeito pela situação em que se encontra a cidade? “Não. Ele está fazendo um dos melhores governos que esta cidade já teve”.
Processos movidos pelo Ministério Público? “E quem disse que o Ministério Público sempre acerta?”
O “velho” também garante que tem projetos para Belém e que a sua pré-candidatura não é simplesmente mais um capítulo da sua rusga – ou seria malinagem? – com o governador Simão Jatene, seu ex-melhor amigo.
Radicalmente contrário à divisão do Pará; a favor da posse de Jader Barbalho no Senado; incapaz de admitir qualquer responsabilidade pela cisão do PSDB que culminou na sua saída do partido que ajudou a fundar; ranzinza, turrão e, por vezes, de um esnobismo insuportável, mas muito, muito inteligente e bem disposto, Almir Gabriel foi nesta entrevista mais do que nunca Almir Gabriel.
E é ela que você confere a seguir:
Perereca: Doeu muito deixar o PSDB?
Almir Gabriel: Claro! Foi um partido que eu ajudei a fundar no nível nacional e no Pará. No nível nacional, nós procuramos o Ulisses Guimarães (o nós que digo é Fernando Henrique, Covas, Scalco e outros companheiros), para dizer pra ele que, na nossa análise, o PMDB havia esgotado a sua missão histórica, no sentido de reconquistar a liberdade do Brasil – a Democracia, melhor dizendo. Ou a Democracia possível naquele tempo. O Ulisses ficou enrolando a gente não sei quanto tempo. E aí nós decidimos montar o PSDB, sendo que aqui no Pará achei conveniente fundá-lo algum tempo depois da fundação do nacional. E... claro que dói quando a gente sai de um lugar onde a gente tem amigos muito bons, mas que acabaram seguindo a trilha antiga da política.
Perereca: Como assim a trilha antiga da política? Eles retroagiram? O senhor foi um avanço e eles um retrocesso, é isso?
Almir Gabriel: Num certo sentido, sim. Por quê? Eu considero que política vale a pena a gente fazer, se a gente é capaz de amar o povo mais do que a própria gente e a própria família. Não é demagogia isso para mim. É muito comum você ouvir político dizer que ama o povo e isso e aquilo. Agora, o amar o povo o que é que é? É dar dinheiro? Não, não é. É fazer com que a gente dê um passo adiante. E eu continuo achando que ou nós vamos para a terceira via, ou então acabamos repetindo aquilo que os outros erraram ao longo do tempo no estado do Pará.
Perereca: Como assim uma terceira via? Quais são as duas vias, o PT e o PSDB? E tem de ter um meio termo, é isso?
Almir Gabriel: Nada de meio termo! Terceira via no sentido de... o mundo!... Nem o Socialismo nem o Liberalismo, mas uma Social Democracia verdadeira. Aí eu acho que dá. A Inglaterra já encontrou esse ponto há muito tempo.
Perereca: O senhor acha que não há Social Democracia realmente no Brasil? O PSDB não representa isso e nem o PT?
Almir Gabriel: Não, nem um nem outro.
Perereca: Por quê?
Almir Gabriel: Veja bem: o partido “da Social Democracia” não é partido social democrático, né? Ele é “da Social Democracia”... Partido Comunista, partido disso, partido daquilo... Não, tem de ter um partido como o Partido Trabalhista Brasileiro, que eu considero um dos mais arraigados à política nacional, através de Getúlio, e antes de Getúlio. E o próprio Partido Comunista.
Perereca: Mas o PTB não tem um matiz fortemente populista? Quer dizer: isso não é um retrocesso diante de uma proposta social democrata?
Almir Gabriel: Posso te dizer uma coisa? Você é criança demais para falar uma coisa dessas... (risos). Sabe por quê? 1922, 1927, 1928 você nem tinha ainda pensado em nascer - e já estava sendo fundado o Partido Comunista no Brasil, o Pecebão. Então, eu acho assim que é preciso a gente reencontrar e fazer uma reflexão que não é feita nem pelos nossos economistas, nem pelos nossos cientistas políticos. Por que o Pará foi o quarto maior PIB do Brasil no final do Século XVIII, começo do Século XIX? Nós não tínhamos faculdades, universidades, no entanto, Belém era a quarta maior cidade do Brasil.
Perereca: E por que “involuimos” desse jeito?
Almir Gabriel: Porque não seguimos a terceira via; porque quisemos uma coisa dita pura, mas que é impura: a Social Democracia e essas outras coisas.
Perereca: Como assim? O senhor acha que a Social Democracia se perdeu no Pará, é isso? E que o Jatene e as outras pessoas que participaram da fundação do partido não representam isso?
Almir Gabriel: Eu não personalizo. Eu digo: políticas públicas. E isso, para mim, é uma coisa bem mais ampla. E que no caso do Pará, e do Brasil, de certa maneira, nós abandonamos aquilo que considero essencial. Por que nós não fazemos essa reflexão? Você própria não está fazendo; você própria voltou com o esquema antigo, né? E eu, com quase 80 anos, continuo insistindo: tem que falar na... Por que, em 1870, nós fizemos o Teatro da Paz? Vai fazer agora, pra ver como dói.
Perereca: Sim, mas naquela época você tinha uma alta concentração de renda nas mãos de uma elite. A elite que fez o Teatro da Paz, era aquela que, diz-se, até acendia charuto com nota de dinheiro. E a população vivia na maior miséria...
Almir Gabriel: ...Isso é uma bobagem!... É bobagem da falsa esquerda que tem aí, esse negócio de que acendia charuto com nota de quinhentos... São tolices! O que temos de reconhecer – e refletir – é o seguinte: quantas universidades nós tínhamos na época? Nenhuma. Quantas faculdades? Nenhuma. No entanto, o mercado mundial de borracha, com a história da vulcanização da borracha - quando o enxofre caiu num xarope de borracha, vulcanizou... Então, eu acho muito chato que a gente ainda esteja pensando na bobagem que se pensa hoje, de que deva ir pra cá, ou para acolá. Não: um governo tem de trabalhar para todo o povo, desde trabalhador a empresário, desde empresário a trabalhador.
Perereca: O senhor não acha que o Pará, desde essa época em que o senhor está falando, o período da Borracha, evoluiu bastante em termos de democratização? Quer dizer, você tem mais gente com mais acesso a uma vida melhor do que antigamente, quando isso estava concentrado em um pequeno grupo?
Almir Gabriel: É claro que está melhor. Eu tive um debate com o Jarbas Passarinho, no atual IAP, em que eu dizia pra ele que o mundo caminha sempre – não tem esse negócio de voltar pra trás. Agora, há certos lugares que caminham mais rápido do que a gente, né?
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2 - O porquê de ter deixado o PSDB....
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Perereca: Não houve mesmo mais possibilidade de o senhor permanecer no PSDB? O senhor se sentiu traído, em algum momento, pelos seus antigos companheiros?
Almir Gabriel: Em política não tem isso. Em política cada qual arma, faz o seu caminho, para o qual alguns ajudam e outros atrapalham – e isso é normal; estamos discutindo poder.
Perereca: Mas o Jatene lhe atrapalhou em algum momento?
Almir Gabriel: O problema é dele!... Por que é que você está tão presa ao Jatene?
Perereca: É que as pessoas querem saber. A grande divergência que lhe fez deixar o PSDB foi essa questão do Jatene, não foi?
Almir Gabriel: Não. O que me fez sair foi um conjunto de coisas. E nesse conjunto tem: eu acho que o PSDB nacional mudou de caminho quando morreu o Covas. Enquanto o Fernando segurou o bastão, a coisa caminhou razoavelmente bem. Acho que ninguém pode dizer que o Fernando Henrique não foi a pessoa que mais contribuiu para a redemocratização do Brasil – ele e Zé Sarney. É, ri, tá?...Então, José Sarney, a tolerância dele. Não digo amém para o Sarney. Acho que o atraso do Maranhão é uma coisa que é culpa da família Sarney. Todavia, há de se reconhecer que ele não é num cara de confronto. Ele prefere a negociação – vide os anos de governo dele. Ele ficou com seis, aceitou cinco e, se a gente fosse muito pro pau, ele ficaria com quatro.
Perereca: É uma característica do PMDB essa tolerância, não é?
Almir Gabriel: Não do PMDB, mas do seu comando, na época, que era o José Sarney
Perereca: Ah, o senhor não acha que é todo o PMDB?
Almir Gabriel: O PMDB é também assim. Se não fosse assim, como é que ele teria voltado ou derrubado a ditadura? Não teria como. O PMDB teve um momento que estava todo mundo lá dentro, inclusive eu que era de origem à esquerda. Então, eu acho que isso é uma coisa muito bonita. Mas o meu conceito é que o PMDB, se ele não se renovar, ele se esgota em relação à história do Brasil
Perereca: Por quê?
Almir Gabriel: Porque se esgota. As mensagens maiores dele já foram feitas: o direito ao voto, o voto do analfabeto, por exemplo. Tudo isso é coisa do PMDB. E acho que não dá para tirar. Uma das maiores bobagens que vi repetidamente colocada no Brasil é que a década de 80 foi uma década perdida. E por quê? Porque qual é o povo que muda a sua Constituição se estiver satisfeito, de barriga cheia? Nenhum. Então, a tal década perdida dos economistas representou a possibilidade de um avanço tão grande a ponto de o Brasil mudar a Constituição.
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3 - ... E a superação da “turrice” em relação ao Barbalhão: “Jader é um dos maiores líderes do Pará”
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Perereca: Agora, no Pará, o PMDB tem problemas sérios, não é? O senhor nunca quis uma aliança com o PMDB, não é? E, aliás, até surpreendeu muita gente, na última eleição, com aquele seu café da manhã com o Barbalhão... Passou? Não tem mais aquela “turrice” que o senhor tinha em relação ao PMDB?
Almir Gabriel: Não tem nada de “turrice”, desculpa eu te dizer. Eu quero te colocar o seguinte: na verdade, eu acho que o Jader é um dos maiores líderes que o Pará tem. Agora, nem sempre acerta, erra pra caramba – e não se corrige. Mas acho que ele é um grande líder, sem dúvida nenhuma. A prova é que agora o Supremo resolveu inventar.
Perereca: Não foi correto esse novo empate no julgamento do STF?
Almir Gabriel: No meu ponto de vista, não. Veja bem: não existe lei enquanto ela não é submetida às duas Casas, e aprovado o texto nas duas Casas. No entanto, foi feita a modificação no Senado, voltou para a Câmara, não sofreu modificação, foi para o presidente – que passei a admirar, o Lula – o presidente sancionou, mandou para o Supremo e, agora, o Supremo acha que é válida a lei. É engraçado isso, não é?
Perereca: Então, o Jader deveria ter assumido o lugar no Senado?
Almir Gabriel: Claro! O povo não votou? A Democracia tem como fundamento o voto, ou não?
Perereca: Então, o senhor já superou essas brigas, todas essas diferenças que o senhor teve com o Barbalhão?
Almir Gabriel: Não pode dizer que tive diferenças. Ele não me apoiou para ser senador? Eu não fui o senador mais votado? Ele não me apoiou como secretário de Saúde? Ele não me apoiou e não me indicou para prefeito de Belém. E aí?
Perereca: É, mas durante o seu governo ele foi até preso e algemado e dizem que o seu governo teve participação nisso, não é?
Almir Gabriel: Ele foi preso não por determinação minha, vamos com calma. Porque o meu filho também foi – e tu também entraste em reportagem esculhambando o meu filho injustamente – na véspera de um debate que eu teria com a mocinha, com a “mãe dos paraenses”.
Perereca: Com a Ana?
Almir Gabriel: Sim.
Perereca: Mas o senhor não apoiou a Ana na última eleição? Entre a Ana e o Jatene o senhor não preferiu apoiá-la?
Almir Gabriel: Claro, qual é? Tá errado politicamente?
Perereca: Então, agora o problema é com o Jatene?
Almir Gabriel: Não, não é com o Jatene – não me interessa personificar. Tu estás insistindo...
Perereca: Eu só queria entender isso... O senhor não acha que, apesar de todos os erros, o Jatene ainda consegue ser um bocadinho melhor do que a Ana, e milhas melhor do que o Domingos Juvenil, que está todo enrolado nessa história da Alepa?
Almir Gabriel: Olha, dois casos que colocaste. Primeiro: Domingos Juvenil. Acho que ele está sendo ingênuo em aceitar o jogo que está sendo posto - pela imprensa do Pará. Não estou dizendo que ele é santo. Estou dizendo que está sendo ingênuo em aceitar esse jogo. Talvez que ele espere aquela velha história: demora tanto que o povo esquece e aí a pessoa vai embora. Justiça tem tempo e tem verdade - para ser Justiça.
Perereca: Ele não é o único culpado nessa história da Alepa?
Almir Gabriel: Acho que não.
Perereca: Quem seria, então? O Mário Couto?
Almir Gabriel: Não sei, filha! Eu sou delegado, investigador? Não é problema meu. O problema que eu acho é: o povo escolheu? Sim. Em outra ocasião? Sim? Pra outra função? Sim. Você é a favor da Democracia? Então, respeita. Agora, essa coisa de dizer “sou a favor da Democracia”, aí o povo vota, escolhe o cara, mas você diz: “não gostei” – e tira o cara... Que história é essa? Isso não é Democracia... Vamos ver se a gente deixa implantar a Democracia no Brasil, não é? E a imprensa ajuda – precisa ajudar.
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4- A imprensa e o combate à corrupção: “você acha que a imprensa influencia nisso?”
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Perereca: O senhor acha que a imprensa não ajuda?
Almir Gabriel: Não. Eu disse pra Úrsula: vocês fazem um pré-julgamento, colocando a gente como culpado antes de julgar. Quando a Constituição, e o mundo todo, diz o seguinte: até prova em contrário, o cara é inocente. Na imprensa do Brasil, e do Pará, principalmente, onde tem duas famílias brigando, o que é que acontece? Você não tem razão, pra começo de conversa. Nem um nem outro; político não tem razão. Eu defendo a imoralidade, a corrupção? Não – e a prova está aqui, na minha casa. Ali tem sabe o quê? Os presentes que recebi na época em que eu operava. Não tem gravata, não tem livro, não tem essas coisas que o pessoal dá para político. Então, nesse aspecto, a atual imprensa do Brasil... Pensa bem: daqui a 50 anos, um historiador vai pegar os títulos que vocês botam na imprensa e vai pensar: égua, que diabo de povo era esse?
Perereca: Mas a ação da imprensa não ajuda a reprimir um bocado dessa imoralidade no trato da coisa pública, coisa que, aliás, era um dos centros do seu discurso, a moralização do trato da coisa pública?
Almir Gabriel: Não é a moralização, é a moral, o uso moral da coisa pública. E isso a gente aprende em casa, não é na coisa pública. Meu pai e minha mãe, não tinha história: qualquer banana era tostão que a gente pagava. Não tinha esse negócio de roubar banana dos outros.
Perereca: Mas a imprensa colabora nesse sentido?
Almir Gabriel: Pouquíssimo. E sabe por quê? A imprensa usa ou não usa a questão do assassinato como uma forma de vender mercadoria? Agora tem cadernos especiais pra isso, não é? Bem feitos, fotografias bonitas – como fotografia, não como assunto. E é a imprensa do mundo, não é só daqui. Um dia desses estava vendo TV – e estou sem ver televisão há dois ou três anos. Por acaso a minha mulher ligou e eu assisti um trecho da Bandeirantes. Em 14 notícias, 13 eram de polícia, nas quais os “artistas” eram os bandidos. O repórter, ele só ia com a câmera. O que é que você acha?
Perereca: Mas o senhor não acha que, no caso dos políticos, se a imprensa não estiver em cima, aí é que eles vão aloprar nas suas “tenebrosas transações”com o dinheiro público? O que a gente tem visto não é justamente isto: quanto mais a imprensa noticia, menos eles podem fazer?
Almir Gabriel: Quem quer fazer, faz; esconde melhor, que história é essa!... Você acha que a imprensa influencia no sentido de reduzir?
Perereca: A sociedade, diante da informação, não obriga a essa redução?
Almir Gabriel: De cabeça bem fria: de Getúlio para cá melhorou ou piorou o negócio da corrupção?
Perereca: Não melhorou o combate, doutor Almir?
Almir Gabriel: Melhorou ou não melhorou a corrupção – não estamos falando de combate. Responde, vai?
Perereca: Sim, mas há muitas práticas que antes eram vistas como naturais e que hoje já são consideradas abomináveis, como é o caso do nepotismo, por exemplo. Há 20 ou 30 anos, você nem falava nisso. Hoje, já provoca escândalo.
Almir Gabriel: Nepotismo é bobagem! Eu tinha um sobrinho que era quem mais entendia de computação no estado do Pará, o Inácio Neto. E eu não podia nomear porque ele era meu sobrinho. Isso é uma bobagem que não tem tamanho! Então, você priva o povo de uma pessoa que tem capacidade, competência e é honesta porque “teve o azar” de nascer como filho de um irmão meu?
Perereca: Mas será que entre sete milhões de paraenses não havia mais ninguém além do seu sobrinho?
Almir Gabriel: Não tinha ninguém, aí é que está. Tinha gente muito boa, mas ninguém com o perfil dele. Então, eu acho o seguinte: eu sou a favor do nepotismo? Não. Eu sou contra o nepotismo. Dois: eu sou a favor da corrupção? Também não. Agora, eu acho que não é isso que faz o Brasil ficar atrasado e o Pará também.
Perereca: E o que é que faz o Brasil e o Pará ficarem atrasados?
Almir Gabriel: É o foco errado.
Perereca: E qual seria o foco certo?
Almir Gabriel: Por que é que não se revê o que aconteceu entre 1850 e 1900 e se toma isso como exemplo? Antonio Lemos é de quando? Lauro Sodré é de quando? Como é nome daquela rua que vai do início da Praça da República até o cemitério da Soledade? Quem implantou, no Brasil, os tribunais de contas foi Serzedelo Corrêa... Então, o que eu quero te colocar é que nós estamos fora de foco. O que é que me interessa que o bandido Zé ou o bandido xis... Eles têm importância para a sociedade? É claro que têm. Mas não são essenciais para a direção da sociedade. Sei que vou perder voto com essa colocação. Por quê? Porque toda vez que eu falo até jornalista franze o sobrecenho. E porquê? Porque não lê história!
Perereca: Não, doutor Almir, é que eu não estou entendendo. Não que eu ache que indivíduos são o fundamental. Mas se você não fizer esse combate individualmente, essa questão da corrupção vai crescer de uma forma assustadora, não é?
Almir Gabriel: Por que é que você afirma isso? Qual a base que você tem para afirmar? É só não votar da próxima vez num corrupto, qual é o problema? Então, se você fortalecer o que não é corrupto; se você disser “esse cara é bom”, aí você fortalece; aí o povo vota.
Perereca: Mas na política brasileira, inclusive nessa questão do dinheiro, que tem aí a reforma política que nunca sai, o senhor acha que é tão fácil assim que o cara bom, o cara honesto, se apresente numa campanha e saia vencedor?
Almir Gabriel: Cada vez mais os honestos escapam. E por quê? Fernando Henrique, eu vi falar, xingar, o Fernando Henrique. E eu pensei: “Fernando Henrique? Um cara democrata que só ele...” Eu assisti. Ele foi meu companheiro no Senado, e quando foi presidente da República eu estava aqui. Mas eu não tenho nenhuma dúvida quanto à correção dele. Nenhuma! Mário Covas. Eu tenho andado em São Paulo e tem sido “uma graça” ouvir pessoas dizerem: “O Mário? O Mário era ladrão”. O Mário era maluco, neurótico, de honesto. Por quê? A imprensa defendia o Mário? Não. Então, eu não acho que vocês devam ter de assumir a posição de juízes. Mas nem a favor, mas nem de delegado também, né? Só pra esculhambar? Para! Dá um tempo!
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5- A pré-candidatura a prefeito de Belém e a defesa de Duciomar
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Perereca: O senhor está pronto pra ser prefeito de Belém? Está preparado?
Almir Gabriel: Claro! Você acha que não? A pergunta inverte: você acha que não? Fui candidato a vice-presidente do Mário Covas. Fui governador duas vezes. Fui prefeito. Fui secretário de Saúde. Você acha que eu não estou preparado?
Perereca: Então, o senhor é pré-candidato a prefeito de Belém?
Almir Gabriel: Claro! Sou pré-candidato.
Perereca: E o senhor acha que o PSDB, o seu antigo partido pode lhe apoiar?
Almir Gabriel: Eu quero o povo do meu lado, o povo votando no cara que fez a Estação das Docas, no cara que reviveu a Santo Alexandre; no cara que fez a Onze Janelas, onde eu visitei lá gente que vocês nem tinham nascido, porque eram comunas e estavam presos lá (risos). Levy Hall de Moura. Levy era meu cliente. Um juiz super, ultra correto, honesto, competente – tava lá!...Tem gente amiga minha que nem entra no Onze Janelas. E diz: “Gabriel, sabe por quê? Eu ainda ouço os gritos”. O pessoal errou ao fazer 1964? Errou. Eu bato palmas pro Jarbas porque ele é coerente, continua defendendo. Mas ele sabe que estava errado. Hoje eu tenho consciência que ele sabe que estava errado.
Perereca: E quais são seus planos para a Prefeitura de Belém?
Almir Gabriel: Você acha que eu vou lhe dizer, pra dar de bandeja pros outros? (risos)
Perereca: Sim, doutor Almir, mas já se fala por aí que o PSDB vai se unir a outros partidos contra o senhor...
Almir Gabriel: Todos os partidos vão se unir uns aos outros, isso é a tradição. Aqui nós vamos ter uns cinco candidatos – no mínimo – podendo chegar até a dez.
Perereca: Quem o senhor acha que vem com o senhor?
Almir Gabriel: Comigo?
Perereca: É. O senhor vem pelo PTB, não é? Quem o senhor acha que deve vir com o senhor, se o senhor for candidato?
Almir Gabriel: Se, se, se!... Se a convenção do PTB aprovar meu o nome, quem virá como? Como vice?
Perereca: Não, quem virá apoiando o senhor.
Almir Gabriel: O povo, que é quem mais eu quero.
Perereca: E os partidos não?
Almir Gabriel: Claro que sim, por causa do tempo de televisão deles.
Perereca: E o seu vice? Já tem algum nome na agulha?
Almir Gabriel: Não. E se tivesse, eu não ia dizer. (risos).
Perereca: Se o PSDB não lhe apoiar nessa empreitada, o senhor não vai se sentir um bocado magoado com os tucanos?
Almir Gabriel: Eu acho que voto é que é importante; não é sentimento nem tapinha na costa. Eu já disse isso milhões de vezes.
Perereca: Agora, me diga uma coisa, doutor Almir. O Duciomar Costa foi acusado várias vezes de forjar um diploma de médico. O senhor é médico. E sabe-se que o Duciomar...
Almir Gabriel: Escorregou, escorregou! E sabe por quê? Porque o único país do mundo que exige profissão de médico para oftalmologia é o Brasil. Vá nos Estados Unidos que você compra óculos é na esquina.
Perereca: Sim, mas em todos os países falsificação de documento é crime, não é?
Almir Gabriel: Isso é outra coisa. A ortótica resolve o problema.
Perereca: Mas ele foi acusado de falsificar um documento.
Almir Gabriel: Sim, ele foi acusado. Tem prova disso? Eu não vi! Ele é acusado. E a imprensa entra – como você – e já condena antes.
Perereca: Mas aí é que está, doutor Almir. O senhor é tido com uma pessoa com enorme amor por Belém...
Almir Gabriel: Eu sou apaixonado por Belém...
Perereca: Pois é. E o Duciomar, até onde se vê, é um desastre pra Belém.
Almir Gabriel: Por quê? Me diga.
Perereca: Pela condição em que está a cidade.
Almir Gabriel: Não. Ele está fazendo um dos melhores governos que esta cidade já teve.
Perereca: Doutor Almir, o Ministério Público está inclusive vendo essa história da macrodrenagem. Aquela área que o senhor fez a macrodrenagem, para tirar aquele pessoal da lama, está voltando a encher porque ele não limpa, doutor Almir!
Almir Gabriel: É ele quem tinha de limpar?
Perereca: Não é prefeitura, doutor Almir? O Estado não doou os maquinários pra ele?
Almir Gabriel: O Estado, não. Foi o BID que repassou o dinheiro pra nós e nós compramos e repassamos para a Prefeitura, porque o contrato previa isso. Eu só quero te dizer o seguinte: quem é que prosseguiu a luta da macrodrenagem em Belém? Responda. Quem é que está fazendo lá o lado do Jurunas? Responda. Quem é que começou a da Universidade e não terminou? Quem fez o buraco do Entroncamento?
Perereca: O senhor acha, então, que o Duciomar é injustiçado?
Almir Gabriel: Eu acho que a imprensa do Pará não é justa em relação a ele; não é correta.
Perereca: Mas, doutor Almir, não é só a imprensa. O Ministério Público tem vários processos...
Almir Gabriel: Quem disse que o Ministério Público acerta sempre? Acerta às vezes; sempre, não. Eu estive com o Fernando Henrique há três anos. Você se lembra daquela época em que um procurador do Ministério Público Federal (não me lembro o nome dele) acusava o Fernando de roubalheira, do diabo que os carregue? Lembra dele? Onde ele está? Está na cadeia? Não. Ele está pagando R$ 1 milhão de indenização ao secretário do Fernando, pela mentira que ele pregou. Então, quem disse que o Ministério Público acerta sempre? Eu vou te dar um dado: até bem poucos dias atrás não tinha a foto do chefão do Ministério Público nacional. Por quê? Se tem do presidente da República; se tem do presidente do Supremo, mas não, eles têm de estar escondidos. Que história é essa? Eles têm de rever... É bom que o Ministério Público assuma uma responsabilidade grande? Eu acho. Mas eles têm de se rever na posição que estão. Eles não são palmatória do mundo. Correto?
Perereca: Mas vindo com o Duciomar, que tem uma rejeição altíssima – alguns dizem que estaria em 70% - isso não vai dificultar a sua eleição a prefeito de Belém?
Almir Gabriel: Me diga uma coisa: como é que você explica uma pessoa ter uma rejeição maior do que aquele número de votos que ele ganhou? Se ele tinha 70%, 60% de rejeição, como é que ele foi eleito do jeito que foi?
Perereca: O senhor acha que essa rejeição foi inventada?
Almir Gabriel: Pesquisa acontece no Brasil de maneira engraçadíssima. Depende de quem encomenda, né? É lastimável lhe dizer isso, eu lastimo demais, porque amo matemática, amo estatística. Eu sempre digo às pessoas: “olha, cada palavra tem um significado e um peso aritmético ou matemático. Paixão vale tanto. Amor vale menos do que paixão – mas é mais seguro. Amizade é menos do que amor, mas é segura também”. Então, você pode quantificar o valor de cada palavra. Mas aqui no Brasil, não. Ou, na imprensa do Pará, não. Hoje nós estamos atravessando uma fase muito ruim.
Perereca: Com essa briga entre os Maiorana e os Barbalho?
Almir Gabriel: Você é que está sintetizando assim.
Perereca: Eu estou perguntando... (risos)
Almir Gabriel: Por que é que os repórteres continuam lá trabalhando? Eles precisam sustentar as famílias, né? E eu explico, né? Então, me diga: será que tudo se resume a isso, à briga dos dois? A vida do Pará se resume à briga das duas famílias? Será? Pense bem? Há poucos dias uma pessoa de O Liberal telefonou para uma pessoa muito amiga minha, que é filha de uma ex-professora minha do curso primário. E disse: “É verdade que o Gabriel vai renunciar?”. E ela disse: “Eu não sei disso”. E ligou pra mim e eu caí na gargalhada. Ora, renunciar!...É que tão tremendo de medo. As pernas do bicho estão assim...
Perereca: Vai dar pra ganhar que nem naquela eleição de 1994, ao Governo do Estado, quando, ao que se conta, no início da campanha o senhor fazia comício só pra um bêbado, um cachorro e um poste? O senhor acha que nessa eleição para a prefeitura, mesmo que não consiga outros apoios, o senhor vai conseguir chegar lá?
Almir Gabriel: Eu acho que sim. Se não, eu não estava aí na briga. Acho que é uma bobagem eu ficar dizendo: “olha, eu espero...” Não, eu estou aqui pra ganhar. É pra ganhar e governar bem.
Perereca: E se o Jatene não lhe apoiar?
Almir Gabriel: O problema será dele; não é meu. Eu estando eleito o problema é dele. Ele é obrigado a atender. Sabe por quê? Ele não é governador de alguns do partido dele. Ele é governador do povo do Pará. E eu tenho certeza absoluta de que o Jatene tem consciência disso.
Perereca: Mas o senhor quer ser prefeito porque tem um projeto para Belém, ou esse é mais um capítulo dessa sua rusga com o Jatene?
Almir Gabriel: Você quer ver os mapas? Não vou te mostrar tudo o que tenho de dados, é claro. Mas posso te mostrar os mapas. Você acha que eu seria, ou submeteria o povo de Belém, e o povo do Pará, e o povo do Brasil, a um capricho pessoal meu? Sinal de que você também não confia em mim; que toda a minha vida política desde 1949 não tem valido nada. Eu fui eleito tesoureiro do Diretório Acadêmico de Medicina em 1951 – eleito! Não fui indicado – fui eleito!
Perereca: Eu estou lhe perguntando isso porque o senhor há de convir que as suas atitudes, na campanha passada, deixaram os tucanos paraenses sem saber o que fazer, porque, tudo bem, no primeiro turno o senhor veio apoiando o Domingos Juvenil, mas, no segundo, entre Jatene e Ana Júlia o senhor foi apoiar o PT. O senhor não acha que isso foi um erro, que o senhor jogou fora toda uma vida no PSDB, um projeto, um compromisso político?
Almir Gabriel: É engraçado: você diz “jogou fora”. Vamos analisar “jogou fora”. Então, por que é que tem tanta gente tremendo as pernas aí fora? Por que é que tem tanta gente dizendo que o futuro prefeito serei eu? Eu joguei fora? Teve muita gente que quando eu fui escolhido para ser candidato a prefeito de Belém pelo Jader Barbalho, e renunciei, disse o seguinte: “acabou o Almir Gabriel”. Engraçado, eu fui eleito governador duas vezes depois disso. Então, vocês são ótimos para fazer previsão.
Perereca: O senhor acha que o PMDB pode vir a lhe apoiar, afinal, o senhor fez as pazes com o Jader na última eleição?
Almir Gabriel: Eu gostaria imensamente. O PMDB, PT, todo mundo.
Perereca: Mas o PT vai ser difícil lhe apoiar, não é?
Almir Gabriel: Eu acho difícil porque eles não têm rumo aqui no Pará. Eu me lembro que quando eu estava disputando contra o Jarbas Passarinho, estive com o Lula, em Brasília. Ele era deputado federal e eu era senador. O Lula se virou pra mim e disse: “O PT do Pará tem muito maluco. Não me pede que te dê apoio”. Ele disse pra mim! Agora o Lula esteve aqui comigo e se ofereceu para vir aqui em casa. Eu não o recebi aqui porque ele era presidente da República e estava carregando uma candidata. Então, achei que o melhor seria um lugar neutro – e sugeri isso. Ele me recebeu na Base Aérea de Belém. Ele e a Dilma, ambos super, ultra cansados, pela campanha que estavam finalizando aqui. Mas de qualquer maneira me pediram para eu dar apoio. Qual é o problema? O PSDB me pediu para dar apoio? Não, não me pediu.
Perereca: Se o Jatene tivesse pedido o senhor teria dado?
Almir Gabriel: Não.
Perereca: Por quê?
Almir Gabriel: Porque não merecia!
Perereca: Como é que o senhor avalia este primeiro ano do governo Jatene? Na sua avaliação, o que ele tem feito de bom e de ruim?
Almir Gabriel: Eu mandei combinar com você que a liberdade de imprensa era quase total.
Perereca: Ninguém combinou isso comigo.
Almir Gabriel: Eu não estou com interesse de julgar. Eu quero que o povo o julgue. Por quê? Porque eu digo as coisas e ele fica quieto, calado lá.
Perereca: Mas o senhor até já disse numa entrevista que achava que é um governo medíocre, alguma coisa assim. O senhor não acha que o Jatene até que tem feito alguma coisa boa pelo Pará, que ele tem acertado? O senhor não acha que esse primeiro ano de governo dele até que está nos trinques e nos conformes?
Almir Gabriel: Você está dizendo, né?
Perereca: Estou lhe perguntando.
Almir Gabriel: E eu não quero responder, porque eu já lhe disse que não marcamos entrevista para você chegar no Jatene. Isso aí, não. Deixa o Jatene viver a vida dele.
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6- A divisão do Pará e a proposta da transferência da capital para Belomonte
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Perereca: Só a última sobre o Jatene: o senhor acha que ele erra quando não se mete na questão do Plebiscito?
Almir Gabriel: Claro! Ele foi eleito governador para defender o estado do Pará.
Perereca: Mas o senhor não acha que, qualquer que seja o resultado, vai sobrar um estado em que ele terá de estar numa posição que permita negociar com todo mundo?
Almir Gabriel: Ah, quer dizer que negociar vai ser mais importante que o destino do povo do Pará? E você, jornalista, acha que ele está certo?
Perereca: Conciliar, aplacar os ânimos, digamos assim, qualquer que seja o estado que saia daí.
Almir Gabriel: Você é paraense?
Perereca: Da gema. A minha família é toda do Marajó.
Almir Gabriel: Vai virar território, né? Quer virar território... Menina!... Eu acho o seguinte: toda vez que uma pessoa é escolhida pra liderar, ela tem de assumir o risco e tem de orientar a população. Eu acho que a proposta que está sendo feita de divisão do Pará é tola, é boba, é errada!
Perereca: Mas essa população que está lá não sofre, há décadas, um abandono cruel daqui de Belém, do governo centralizado em Belém?
Almir Gabriel: Não diga bobagem, menina!... Vá lá em Santarém, com o povo de Santarém. Eu mandei fazer uma pesquisa, tá? Na pesquisa, o povo nem tava aí com relação à questão da divisão. Agora, tem um determinado grupo que quer ser governador. E a única forma é dividindo o Pará. Tem gente que quer ser senadora, ou senador – e a única forma é dividindo o Pará. Está aqui a proposta (mostra um documento). Veja de que ano é - 2009.
Perereca: Então, isso é coisa só de alguns políticos, não é da população inteira?
Almir Gabriel: Não, não é da população inteira, em primeiro lugar. Em segundo lugar não responde às necessidades. Por que você daria, para o futuro estado do Tapajós, 60% do território? Por que você daria para umas pessoas que vieram de Goiás, Minas Gerais pra cá, para ajudar o crescimento do Pará, 17%, 30% - e o restante ficaria com o estado do Pará, com o teu Anajás? Por quê? Eu acho que o estado do Pará hoje é grande para ser administrado só centralmente. Por que é que não se aceitou a transferência da capital, como eu propus, quando estava governador, para Belomonte? Mas houve um jornal que publicou, na primeira página, um editorial mandando o malho em cima de mim.
Perereca: Se tivesse transferido a capital, teria integrado mais o estado e evitado isso?
Almir Gabriel: Claro! Nenhum lugar seria mais distante da capital do que 450 ou 500 quilômetros. Hoje, você tem lugar distante 800 quilômetros ou mais. Você tem de ir para Altamira, de Altamira para ir para Jacareacanga como é que é?
Perereca: O senhor não acha que a continuidade dessa situação com essas distâncias extraordinárias e essa falta de estrutura...
Almir Gabriel: Você é a favor da divisão do Brasil? Da divisão da China? Da divisão dos Estados Unidos? Do Canadá? É? Só porque são grandes? Não existe nação grande sem território e sem povo, tá?
Perereca: O senhor vai lutar na campanha contra a divisão do Pará?
Almir Gabriel: Se me chamarem eu vou, claro.
Perereca: Mas ainda não lhe chamaram?
Almir Gabriel: E eu acho que nem é bom, porque eu quero que o pessoal que é favor ou que é contra vote em mim (risos).
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7 – Derrota de 2006 foi um “equívoco” do eleitor
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Perereca: O senhor foi governador durante oito anos, foi um cara poderoso, e havia até dificuldade em lhe contestar porque o seu temperamento não admitia contestação...
Almir Gabriel: Não, sempre admiti. Menina, eu sou eleito desde 1951! Então, significa que as minhas idéias eram postas à prova desde 1951. Então, por que é que eu não aceitaria contestação? Agora, na hora de contestar tem de vir com inteligência, tem de vir com base, tem que saber história. Pra contestar! Pra discutir é outra coisa. Eu faço uma diferença muito grande entre palpite e opinião.
Perereca: Sim, quando houve essa cisão, no ano passado, muita gente, muitos tucanos que faziam parte da sua corte...
Almir Gabriel: Corte?
Perereca: ...É, que estavam no seu entorno, até lhe viraram as costas. Como é que o senhor se sentiu em relação a isso, até em relação às pessoas que devem ter até lhe tratado mal, em decorrência da campanha do ano passado?
Almir Gabriel: Primeiro, desafio que alguém me trate mal – desafio. Porque eu me respeito, me dou respeito e tenho certeza de que as pessoas também me respeitam. Dois: acho que é maturidade política, tanto deles como minha, cada qual tomar a decisão que quiser. Ou não? Quer dizer que eu tenho de dizer: “sim, senhor” e querer que os outros digam também? Menina, eu lutei pela Democracia; eu lutei para você vir fazer essa entrevista, tá certo? Desde garoto! Pergunte pro meu primo Alfredo: desde Castanhal!...Então, Democracia pra mim é uma coisa importante – mas importante, importante. E vamos ter de lutar até fazê-la ser realmente Democracia no Brasil.
Perereca: O senhor não acha que muito do que aconteceu na história recente do PSDB, essa questão de o senhor não apoiar o Jatene, no ano passado; essa questão de não lhe quererem como candidato...
Almir Gabriel: Você é do PSDB?
Perereca: Não, não, não, eu estou lhe fazendo uma pergunta. Essa questão de não lhe quererem como candidato e de o senhor acabar não apoiando o Jatene, o senhor não acha que isso foi, em grande medida, responsabilidade sua, por ter ido embora com aquela derrota de 2006, saído sem dizer nada a ninguém, sem socorrer um partido em frangalhos, sem ao menos agradecer aos seus eleitores?
Almir Gabriel: Menina, você hoje colecionou todas as tolices que poderia falar!... Em primeiro lugar... E olha: eu tenho todo o respeito pelos jornalistas. Você sabe disso, né? Vocês nos acusam, esculhambam, pintam e bordam, mas eu respeito – a profissão. Nem sempre o profissional – nem sempre. Por quê? Como tem médico que faz aborto, tem jornalista que também faz besteira. Tem ou não tem? Bom, o que é que eu estou colocando – e que você colocou. Ora, quando eu fui derrotado, eu acho que foi um equívoco do povo. E você acha que eu deveria continuar olhando pra cara do povo, rindo, sorrindo? O pessoal batendo na minha costa e dizendo, como cansou de repetir: “Fizeram uma injustiça, né? Você que merecia”. Engraçado, né?... Dois: todo mundo tem liberdade de morar onde quer, não tem? Por que eu não podia ir morar em Bertioga?
Perereca: Sim, mas teve uma quantidade enorme de eleitores que votaram no senhor...
Almir Gabriel: Sim, votaram, mas não disseram que era para eu ficar morando no Pará. Disseram? Vai, responde!
Perereca: E o PSDB que ficou sem rumo, desnorteado que nem barata tonta?
Almir Gabriel: Você é que está dizendo. Eu acho que não. Tanto não ficou sem rumo que o PSDB fez o senador, governador, maioria real na Assembléia Legislativa. E quando eu saí tinha mais de 100 prefeitos do nosso lado. Teve prefeito que quis vir para o PSDB e eu disse: “não, chega”. Por quê? Porque é muito complicado um governador dividir um bolo pequeno por 200, 500, mil. O bolo que eu estou falando é o recurso do Estado. Não é bolo grana, não, de pastinha preta.
Perereca: Só pra terminar: qual é a sua avaliação desse um ano – porque todo mundo espera que o senhor faça. Qual é a sua avaliação?
Almir Gabriel: Espera o comício. E espera a aliança que o Duciomar possa fazer, né?
Perereca: O senhor vai esperar até a última hora pelo apoio do governador?
Almir Gabriel: A última hora? Não, não tem essa história de última hora; é até a hora conveniente em política, né?
Perereca: Até agora é só o PTB que está lhe apoiando?
Almir Gabriel: Não, teve gente que já veio me convidar.
Perereca: De que partido?
Almir Gabriel: PRB.
Perereca: PRB e quem mais?
Almir Gabriel: É chato ficar dizendo.
Perereca: Sim, mas quantos partidos?
Almir Gabriel: Quatro
Perereca: O senhor tem pesquisa sobre o seu nome? E quando o senhor sai, anda pelas ruas, conversa, verifica que há aceitação?
Almir Gabriel: Você quer ir comigo lá na Feira da 25, comprar açaí, comprar peixe?
Perereca: O pessoal ainda se lembra do prefeito Almir Gabriel?
Almir Gabriel: Se lembra do governador – e da pessoa do Almir Gabriel. Da pessoa correta, honesta, que acordava às 4 da manhã. E que continua acordando, estudando, lendo...
Perereca: E que está pronto pra essa batalha?
Almir Gabriel: Se eu não estivesse... Você é engraçada... Já fui candidato a vice-presidente e não estou pronto pra ser prefeito de Belém?
Perereca: Não vai desistir de jeito nenhum?
Almir Gabriel: Claro que não! Nós vamos à vitória: eu, o povo e o PTB.
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Peço desculpas aos leitores pela demora nesta postagem, mas lutei a tarde inteira com o Blogger.
Para o doutor Almir, para a família dele e para todos nós:
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