domingo, 9 de maio de 2010
Na palma da minha mão
Por mais que faças,
Por onde quer que andes,
Não caberá o mundo
Na palma da tua mão.
O mundo será sempre muito além de ti.
A coisa que não sabes bem o que é.
Mas que estava ali quando chegaste.
E ali ficará quando partires.
Feito a cama que o dono não desfez.
E que restará sempre disposta, ao próximo ocupante...
E, no entanto, vives de imaginar mil histórias de eternidade!...
Ou porque fizeste uma grande obra
(e quantas obras não são grandes, apenas, na fantasia daqueles que as conceberam!...)
Ou porque amaste e foste amado
E haverá quem te chore copiosamente
Ao menos, nos dias santos...
Ou porque conseguiste, quem sabe,
Uma placa de bronze de teus feitos.
Na porta de um teatro, de um estádio, de um botequim.
Talvez, em alguma rua; talvez, em alguma avenida
E haverá, sempre, quem pergunte de ti.
Como se tudo o que viveste –
Tuas lágrimas, teus risos, teus amores;
Essa alma que fizeste caminhar entre tantos desvarios -
Coubesse nalguma placa fria.
Como se foras, afinal, uns poucos feitos.
Uns versos poucos, d’alguma poesia que se perdeu.
Um nome, uma imagem, um símbolo, talvez.
A coisa que não é; que não foi concretamente.
A dor, da qual só restou a dor propriamente dita...
A imagem aprisionada na imagem de si mesma...
Não, por mais que faças
O mundo não caberá na palma da tua mão.
Levarás contigo todos os cheiros que sentiste
O gosto que atiçou o teu paladar
Os corpos que, com o teu, se fizeram um só.
Os caminhos por que passaste
O beija-flor que viste em tua janela
O mar profundo, o nascer do sol.
Tudo se irá contigo: o cheiro da chuva, da manga madura,
A cor do céu mais azul que conseguiste conceber...
E tu ficarás num nome, talvez, na placa fria.
E a vida seguirá seu curso
Como se nunca tivesses havido.
Porque tanto se lhe dá que tenhas sido!...
Eis que à cama sempre feita
Haverá sempre um próximo ocupante!...
Não!...
Tu é que cabes na palma da mão da vida
(e teus filhos e teus netos e teus tataranetos e toda a descendência que puderes imaginar!...)
Mas, a recíproca não é verdadeira.
Morrerás!
E serás, quem sabe, nalguma sala de aula (e não serás tu!...)
E a vida seguirá eternamente
Como coisa que nunca foi tua...
Como coisa a brilhar no horizonte, simplesmente.
Mas que viveste na ilusão de ser única!...
Belém, 09 de maio de 2010.
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