segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Belém, Belém, quem se importa?






O problema de Belém é que a politicagem domina a tal ponto que a maioria esmagadora das nossas lideranças políticas prefere é defender partidos e governantes a defender a cidade. 

Até porque raras são as lideranças que têm por Belém uma genuína sensação de pertencimento. 

Querem é apenas utilizá-la como trampolim político ou financeiro. 

Querem é pegar umas “lasquinhas”, para depois ir gastá-las no Rio de Janeiro, Europa ou Estados Unidos, que sempre amaram muito mais. 

Daí a situação em que Belém se encontra: cada vez mais imunda, pobre e descaracterizada, com apenas migalhas de um patrimônio histórico e cultural que já foi exuberante. 

Um patrimônio que encantou poetas, impressionou escritores e até serviu de exemplo, por seu cuidado e beleza, ao resto do país. 

Em 2002, o governo do PSDB derrubou o muro do Forte do Castelo. 

Em 2013, a Secult e a Prefeitura de Belém, ambas sob o comando do PSDB, tentaram aprovar a construção de um tal “shopping de charme”, em plena Cidade Velha.  

Mais recentemente, a Prefeitura de Belém, ainda sob o comando do PSDB, permitiu a colocação de um toldo horroroso no Bar do Parque. 

Contra todos esses ataques à cidade gritaram as esquerdas e o MDB, enquanto os simpatizantes do PSDB permaneciam calados, como se tudo estivesse nos trinques e nos conformes. 

Agora, os papeis se invertem: é o MDB quem agride a cidade com essa cobertura horripilante de vidro e metal, na Casa das Onze Janelas, para agradar a um dono de restaurante e à meia dúzia de abestados. 

E agora gritam os tucanos, enquanto emudecem as esquerdas e os simpatizantes do MDB. 

E assim, mais uma vez, quem perde é Belém, com a qual a maioria das lideranças políticas só se “importa” quando estão em jogo os seus interesses tribais. 

O mesmo acontece em relação ao lixo, às enchentes, ao sofrimento do nosso povo, em seus barracos miseráveis, onde crianças, mulheres, idosos sobrevivem pior do que bicho. 

Nada mais compatível com uma cidade sem memória do que lideranças políticas sem vergonhas. 

O que não presta para Belém, venha de que partido vier, simplesmente não presta. E ponto. 

Ou, para ser mais clara: se aquele “shopping de charme” e o toldo do Bar do Parque eram verdadeiras excrescências naquelas paisagens históricas, a cobertura na Casa das Onze Janelas também o é. 

É simples assim. Ou deveria ser. 

Mas em uma cidade que escorraçou um Antonio Lemos e elegeu, por duas vezes, um saqueador como o Duciomar, tamanha politicagem nem chega mais a assustar. 

Fossem outras as lideranças, talvez ainda pudéssemos saborear um Guarassuco e uns doces da Palmeira, na esplanada do Grande Hotel ou no Café da Paz. 

Teríamos a São Jerônimo, a estrada de Nazaré e tantas outras ruas e avenidas tomadas por casarões portugueses e seus imensos quintais, que também sumiram para dar lugar a monstrengos de vidro e concreto, fontes de um calor infernal. 

Ainda teríamos o Largo de Nazaré dos arraiais de outubro, antes de aquele espaço público ser “privatizado” para a igreja católica. 

Ainda teríamos o cine Palácio, que foi dizimado por hordas evangélicas, com as suas aleluias histéricas. 

Ainda teríamos o antigo prédio da Província do Pará, depois Escola Normal, em todo o seu esplendor, e não se deteriorando lentamente, até que acabe, quem sabe, vindo ao chão. 

Nem de longe arriscaríamos a possibilidade de o nosso Ver o Peso, dos nossos feirantes, ribeirinhos, bêbados e poetas, até arder em chamas, devido às nossas disputas insanas. 

Fossem outras as lideranças, não teríamos apenas na memória a Belém da nossa infância e da infância dos nossos avós.  

Não teríamos essa angústia que se agiganta, ao perceber que também vão sumindo a memória, os avós, as crianças a brincar nas ruas, os casais a namorar nas praças, os pássaros, as borboletas, as mangueiras, as flores, as estrelas, as canções... 

E que a Belém restará as águas de rios imundos, repletas de coliformes fecais. 

E que a Belém restará mais e mais edifícios, muitos deles para lavar o dinheiro de bicheiros, traficantes e políticos de todas as facções. 

Restarão os bairros dominados pelo crime organizado e os nossos jovens mortos à bala. 

Serão apenas os rios de lama, um oceano de lama, para uma cidade cujas lideranças políticas parecem é sentir prazer em chafurdar na lama. 

FUUUIIIII!!!!!!

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Alô, Alô, Polícia e Ministério Público do Pará: animais de estimação são assassinados no condomínio Azpha Ville, em Ananindeua. E até crianças podem estar em risco: cão foi envenenado no quintal da casa de seu tutor.



 

Já seriam pelo menos 3 os animais de estimação assassinados com veneno, de julho pra cá, no condomínio Azpha Ville, na BR 316, km 08, no município de Ananindeua.

Segundo informações de moradores, os dois primeiros eram gatinhos. O mais recente, ontem, foi um cãozinho.
 
Os dois gatinhos teriam sido envenenados quando se encontravam nas ruas do condomínio. 

Já no assassinato do cãozinho, o veneno (chumbinho) teria sido colocado em um pedaço de pão, que foi lançado para dentro do quintal da casa de seu tutor.

Isso significa um crescimento na ousadia desses crimes e um risco também para crianças, caso esse(s) psicopata(s) não seja(m) detido(s).

“E se fosse o meu netinho, que tivesse pegado aquele pedaço de pão, já que as crianças têm a mania de levar tudo à boca?”, pergunta a mãe da moradora que perdeu o seu cãozinho e que, ao que se diz, não para de chorar. 

Pois é. Apesar de vivermos na aparente segurança de um condomínio fechado, descobrimos que há pelo menos 1 assassino entre nós.

Uma criatura tenebrosa, que mata cruelmente bichinhos indefesos, até mesmo dentro da casa de seus tutores, e que também coloca em risco criancinhas igualmente indefesas.

A polícia e o Ministério Público têm, sim, de agir rapidamente e com rigor, para conter esse(s) bandido(s).

E penso que já até passou da hora de começarmos a pressionar o Judiciário para que coloque atrás das grades esses assassinos, que se espalham por várias cidades deste país. 

Aqui mesmo, no Facebook, já li sobre animaizinhos envenenados, às proximidades das casas de seus tutores.

Muitas vezes o suspeito é um vizinho, que a comunidade considera “uma pessoa bacana”, mas que se acha no direito de matar um animalzinho indefeso, simplesmente porque se sente “incomodado”.

Isso tem de acabar. 

Essas criaturas têm de ser chamadas pelo que são: assassinas, psicopatas.

Essas criaturas têm de entender que NÃO, NÃO é “normal” que assassinem esses bichinhos porque se sentem “incomodadas” com o barulho, a simples presença deles, o carinho que recebem de seus tutores, ou sei mais o quê. 

E a sociedade tem de entender que tais criaturas, longe de serem “pessoas bacanas”, não passam é de uns bandidos perversos e covardes, cujo lugar é, sim, na cadeia.

FUUUIIII!!!!

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

O racismo do Ouvidor Geral do Ministério Público do Pará, Ricardo Albuquerque



 

Triste um Ministério Público que tem como procurador de Justiça e “ouvidor” um cidadão como Ricardo Albuquerque, para quem os índios são preguiçosos, “não gostam de trabalhar”, já que, segundo ele, preferiram a morte à escravidão, o que teria levado à necessidade de o Brasil buscar seres humanos negros, para escravizar. 

Trata-se de um pensamento extremamente preconceituoso e desrespeitoso, que vai na contramão de todo o esforço da sociedade brasileira para tentar compensar um conjunto de crimes, que, em verdade, não podem ser compensados: o horror da escravidão negra e o genocídio das populações indígenas. 

Ao que parece, para o “ouvidor” a escravidão é quase uma festa, para quem gosta de trabalhar. 

E a seguir-se nessa linha de raciocínio, seria o caso de se questionar o porquê das ações do próprio Ministério Público para combater o trabalho escravo, que até hoje atormenta o Brasil e o Pará, em muitas propriedades rurais.  

Afinal, para que retirar esses escravos dali, se devem estar felicíssimos com o trabalho de sol a sol, embora obrigados a dormir no chão, comer alguma espécie de babugem, pegar porrada e até a beber a mesma água que é dada aos animais? 

Pois é. Olhar a condição desses escravos de hoje dá uma ideia, embora muitíssimo pálida, do que foi a escravidão negra.  

E ontem como hoje, por que é que muitos desses seres humanos se submetem à escravidão? Por que gostam de trabalhar? Por que não têm qualquer apreço à liberdade? 

Não. Eles se submetem porque têm medo.  

Porque o instinto básico de qualquer ser humano é a preservação da própria vida. 

Um instinto tão forte que só é muitas vezes superado pela preservação da própria descendência.  

Raros, muito raros, são os animais humanos que conseguem colocar em primeiro lugar a preservação da espécie, e até de tudo o que vive. 

Não por acaso, nós os consideramos sobre-humanos, heróis e até “iluminados”.  

Então, creio que esta é a primeira coisa que o “ouvidor” do Ministério Público do Estado do Pará precisa entender: negros são seres humanos e agem como todo e qualquer ser humano, para preservar a própria vida. 

Ou seja, doutor, não são apenas os brancos que têm amor à vida e à liberdade. Por mais incrível que isso lhe pareça, um negro gosta tanto de viver quanto o senhor.  

Mas há outra coisa importante que o doutor Ricardo Albuquerque talvez consiga entender, caso volte a estudar: a escravidão negra não foi de forma alguma pacífica, e as próprias comunidades quilombolas, às quais aparentemente ele despreza, comprovam essa resistência. 

Apesar do medo da morte, muitos fugiram para quilombos; muitos tentaram alcançar o sonho da liberdade.  

Muitos morreram tentando, doutor. 

Apesar dos estupros, torturas, espancamentos que deixavam as costas em carne viva; dos membros esmagados, queimados ou até arrancados (olhos, genitálias, dentes, seios), para obter essa submissão pacífica que o senhor parece pensar que existiu, os negros continuaram a resistir, a fugir, a se rebelar, e até a se matar, como derradeira forma de resistência. 

Apesar das crueldades inimagináveis e das manipulações culturais e mentais, com a mistura de indivíduos de diferentes nações africanas, para dificultar a comunicação; a distribuição de recompensas e castigos e até as promessas de futuras alforrias, para “amansá-los”, os negros não se renderam à escravidão, como ainda hoje não se rendem a essa escravidão mal disfarçada dos morros, favelas e baixadas, de Norte a Sul do Brasil. 

E quanto aos índios?  

Novamente, doutor, temos de falar sobre seres humanos, embora talvez o senhor imagine, da mesma forma que pensava o homem medieval, que índios não têm alma, ou, se a possuem, é inferior à sua. 

A resposta do animal humano depende em muito do território em que se encontra: o próprio ou o desconhecido. 

No caso dos negros, eles eram arrancados de seu território, misturados a integrantes de outras nações, espremidos nos porões de navios imundos, nos quais passavam meses a sofrer com a fome, o calor, a sede, e a ver pessoas morrendo ao lado, todo santo dia. 

Quando eram desembarcados aqui, um território totalmente desconhecido, esses seres humanos, acorrentados, eram levados para leilões e senzalas, marcados a ferro e mantidos aprisionados, com fome, sede, frio e toda sorte de violências, muitas delas “mães” das torturas que ainda hoje vemos em nossas penitenciárias e delegacias policiais, e que são combatidas pela instituição que o senhor representa. 

Obviamente, como todo e qualquer ser humano, esses africanos devem ter experimentado um torpor inicial, além de muito, muito terror. 

Mesmo assim, como já visto, com o passar do tempo conseguiram resistir de forma impressionante, e através dos séculos. 

Já a resposta dos índios, doutor, tinha de ser necessariamente mais imediata e até mais agressiva, afinal, eles estavam em seu território. 

Ou o senhor desconhece que este imenso território, a que chamamos Brasil, pertencia, em verdade, a inúmeras nações indígenas, que foram espoliadas e quase exterminadas pelos colonizadores? 

Então, a resposta indígena variou desde a resistência armada e à recusa de qualquer forma de colaboração com o invasor (aquilo a que o senhor chama de “preguiça”), até a acordos, para tentar se sobrepor a nações ou a grupos rivais. 

Rigorosamente nada diferente do que vimos e vemos em qualquer território invadido, e em qualquer época, eis que é da natureza humana que nos une que estamos a falar. 

Assim, doutor, penso que o seu problema é que o senhor não consegue enxergar negros e índios como seres humanos. 

E talvez até por esses tempos sombrios que vivemos no Brasil e no mundo, ache “normal” expressar esse tipo de pensamento odioso, que nega humanidade às pessoas e busca exterminar até a história de resistência delas.  

É por isso, doutor, que o senhor também acredita que não temos qualquer dívida em relação aos negros: ora, se eles não são humanos, por que deveríamos sentir um mínimo de dor de consciência, de empatia, de misericórdia até por todas as atrocidades que eles sofreram e ainda sofrem, não é? 

Que vergonha, doutor Ricardo Albuquerque, que o senhor representa para o Ministério Público do Estado do Pará e de todo o Brasil. 

Que vergonha que o senhor e aqueles que pensam como o senhor representam para toda a espécie humana. 

O Ministério Público, definitivamente, não é o seu lugar.  

E muito menos em um cargo tão importante para a sociedade, como é o de ouvidor. 

E o que eu espero é que venham medidas rigorosas, e não apenas palavras, do nosso Ministério Público, a provar que essa instituição de fato não compactua com o seu claríssimo e criminoso racismo. 


FUUUIIIII!!!! 

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Abaixo, a nota divulgada pelo Ministério Público do Pará sobre as declarações do procurador:


NOTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ À IMPRENSA

 
O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) repudia o teor do áudio que circula nas redes sociais onde constam manifestações do Procurador de Justiça Ricardo Albuquerque da Silva referentes à questão racial de negros e índios, cujo teor reflete tão somente a opinião pessoal do referido membro da instituição. 

Em relação a questão racial, o MPPA tem trabalhado para assegurar a implementação de políticas públicas para garantir às populações negras e indígenas a efetivação da igualdade de oportunidades. 

No último dia 20 a instituição promoveu evento em alusão ao Dia da Consciência Negra, que reuniu ONGs e a sociedade civil num debate sobre discriminação racial e religiosa no Brasil. O órgão também vem implementado políticas afirmativas no âmbito da própria instituição como, por exemplo, a decisão do Colégio de Procuradores de Justiça (CPJ), em abril deste ano, de incluir cotas para estudantes quilombolas e indígenas nas seleções de estagiários de nível superior realizadas pela instituição.  

Nesse sentido a instituição também tem fiscalizado e cobrado ações afirmativas, fiscalizando os programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades. 

Finalmente, este órgão reafirma não compactuar com qualquer ato de preconceito ou discriminação a grupos vulneráveis da sociedade.