Em carta à Associação dos Magistrados do Pará
(Amepa), publicada no Facebook da entidade, o desembargador Milton Nobre
respondeu à carta aberta que escrevi.
Leia
a minha carta: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2016/11/carta-aberta-ao-desembargador-milton.html
A
resposta de um fiel escudeiro do desembargador: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2016/11/amigo-de-milton-nobre-responde-ao-blog.html
A
nota de solidariedade da Amepa a Milton Nobre: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2016/11/a-sentenca-da-amepa-solidariedade.html
E, abaixo, a carta do desembargador (clique em cima
dos quadrinhos, para ampliar):
A
minha resposta:
Em primeiro lugar, doutor Milton, gostaria de lhe
pedir desculpas por tê-lo deixado, mais uma vez, sentadinho à espera de uma
resposta. Mais ou menos como aconteceu, em 2011, na audiência daquele processo que
o senhor ajuizou contra mim.
Naquela época, eu enfrentava uma situação
complicada, com questões que precisavam ser resolvidas com urgência, para não prejudicar,
irreparavelmente, pessoas próximas.
Hoje, no entanto, tenho todo o tempo do mundo para reconstituir
trilhas, deixadas em montanhas de papéis.
E o senhor nem imagina a satisfação que experimento,
quando reconstituo não uma, mas várias trilhas. Satisfação assim, quem sabe, só
a dos felinos, quando detectam esse odor tão característico do medo.
Não sei se já nos encontramos em outras encarnações,
como até cogita o senhor.
Mas não sou um carma, doutor Milton. E, nesta vida, não
tenho motivos para “odiar” o senhor, a quem, aliás, mal conheço.
Então, chega a ser burlesco que um cidadão tão
poderoso tente reduzir toda essa polêmica a meras questões pessoais, apenas
para bancar o “coitadinho”.
Em livre comparação, é como se alguém, ao reescrever
o grande Mário Puzo, fantasiasse Dom Corleone de Chapeuzinho Vermelho.
O cerne do problema que nos opõe é de interesse
público, doutor.
Tanto assim, que nem sequer mencionei os gritos e
sussurros pelos gabinetes e corredores do Judiciário, o que, certamente, provocaria
um verdadeiro “barata-voa” - e a delícia da plateia.
O xis da questão, repito, é que o senhor transformou
o Judiciário paraense em mero capacho desse chefe de quadrilha, que é o governador
Simão Jatene. Ou seja, transformou esse Poder magnífico em um fantoche da
corrupção política e do crime organizado.
Ou o senhor ignora as fraudes eleitorais
perpetradas, à luz do dia, pelo governador e seu bando?
Ou o senhor ignora que o sobrinho-testa-de-ferro do
governador é um dos chefes do crime organizado, no Nordeste do Pará?
O senhor, em sua carta, e um seu amigo, em postagens
na internet, insistem em que lhe fiz acusações infundadas, em 2011, o que é uma
deslavada mentira, com o claro objetivo de me desqualificar.
Naquela época, o que escrevi foi uma reportagem,
que, como todas as reportagens deste blog, não continha adjetivos, palavras
duras e, muito menos, “acusações”.
Um texto, portanto, muito diferente da minha carta
aberta, que foi um artigo, uma opinião, e
no qual fiz, sim, acusações ao senhor.
No entanto, o senhor e o seu amigo, para manipular as
pessoas, misturam tudo no mesmo balaio, a fazer de conta que não sabem
distinguir entre os dois estilos textuais.
Aquela reportagem de 2011 se limitava a relatar os fatos,
todos embasados em documentos, entrevistas e informações públicas da internet.
Não continha, portanto, nem sombra de opinião.
Daí que nem tive problemas em assinar aquela nota de
esclarecimento, já que não havia escrito nenhuma das “acusações” que o senhor
diz-que “leu”.
Em outras palavras, para facilitar a leitura ao senhor: apenas admiti que NÃO escrevi o que, de fato, NÃO escrevi, o que chega
a ser até surreal.
Além disso, o tema central daquela reportagem perdura
até hoje: o aluguel de uma casa, pelo senhor, ao Governo do Estado.
E se isso não é ilegal, certamente que é IMORAL –
como até acho que lhe disse, na cara, naquela audiência. Ou o senhor já se
esqueceu disso?
Pelo aluguel daquela casa, situada na travessa
Apinagés, 270, em Belém, o senhor já recebeu R$ 1,339 milhão, entre 2004 e
outubro deste ano, em valores NÃO atualizados.
É mentira, doutor?
Então, vá se queixar ao portal da Transparência.
Porque lá consta, inclusive, que, em 2014 e neste ano, o senhor recebeu até
acima do empenhado.
Além disso, o aluguel daquele imóvel cresceu 113%,
entre 2011 e este ano, já que custava cerca de R$ 7.500,00, e hoje custa R$
16 mil mensais.
Mentira tem pernas curtas, doutor. E o que o senhor
e o seu amigo esqueceram é que faço esse tipo de levantamento em questão de
minutos.
Na sua resposta, o senhor também transcreve parte do
acordo que assinamos, em 2011, e no qual admito (e reafirmo aqui), que não tive
qualquer intenção de ofender a sua “honra”.
No entanto, o que o senhor, ardilosamente, esconde é a
violência de que usou contra o meu blog: o senhor não apenas me obrigou a
retirar aquela reportagem do ar, mas até me proibiu, judicialmente, de citar o
seu nome, em um verdadeiro atentado contra a Constituição.
No quadrinho abaixo, para refrescar a sua memória, a
ordem da juíza Danielle de Cássia Silveira Bürnheim:
E por que é que o senhor esconde isso, doutor
Milton? Porque toda aquela soberba, autoritarismo e violência fazem cair por
terra essa sua humildade de araque, que o senhor agora tenta “vender” ao
distinto público.
O que o senhor buscou, naquela época, foi demonstrar
a sua “intocabilidade”: todo o poder que possui no Judiciário paraense, no qual
há magistrados que se dispõem até mesmo a violentar a Constituição, a um pedido
seu.
E como aquele processo andou rápido, não é, doutor?
Celeridade digna de uma Suécia! Como se um Poder tão extraordinário como esse pudesse
virar um mero brinquedinho, a serviço da sua vaidade.
A verdade, contra todo o papo-furado da sua
resposta, é que o senhor manda e desmanda no Judiciário paraense.
Todas as suas explicações se referem apenas ao
funcionamento IDEAL desse Poder: livre, sem interferências político-partidárias,
distribuindo a Justiça, igualmente, a todos os cidadãos; com magistrados de
comportamento irretocável, incapazes de cooptar os próprios colegas, para a
proteção de alguns.
Um Judiciário onde prevalecesse apenas a técnica, o
esforço, a dedicação, sem essa abjeta troca de favores, que leva ao topo, em
geral, não os melhores, mas os apadrinhados.
Há, aliás, um diálogo extremamente esclarecedor quanto
à realidade do Judiciário paraense e o poder que o senhor detém: a conversa entre
a juíza Rosileide Filomeno, hoje desembargadora, e o empresário Marcelo
Gabriel, filho do ex-governador Almir Gabriel.
Na época, 2006, o doutor Almir havia sido indicado,
pelo PSDB, para concorrer, novamente, ao Governo do Estado, e o senhor era
presidente do Tribunal de Justiça do Pará.
A conversa telefônica foi grampeada pela Polícia
Federal, que investigava tanto Marcelo, quanto o empresário João Batista
Ferreira Bastos, o “Chico Ferreira”, por suspeitas de que ambos comandavam uma
organização criminosa, especializada em fraudes licitatórias.
Hoje, “Chico Ferreira” cumpre pena de 80 anos, como
mandante dos assassinatos dos irmãos Novelino.
Mas naquele dia em que tal conversa foi grampeada, “Chico
Ferreira” se encontrava no gabinete da doutora Rosileide.
E ela pedia, através do Marcelo, que o doutor Almir
dissesse ao senhor que tinha que ser ela a ascender ao Desembargo.
Isso porque ela achava que o senhor queria colocar
como desembargadora a “mulher do Humberto de Castro”, ou seja, a doutora Célia
Regina de Lima Pinheiro, com quem o senhor mantém profundas relações de amizade.
E, de fato, foi a doutora Célia quem acabou como desembargadora,
em novembro de 2006. E hoje ela é, inclusive, a vice-presidente do nosso estratégico
TRE.
E vou aqui transcrever a conversa grampeada, para refrescar
a memória do distinto público:
“Rosileide: Marcelo.
Marcelo: Eu!
Rosileide: Você lembra da Dra. Rosileide?
Marcelo: Claro que lembro, claro que lembro, tudo
bom?
Rosileide: Tudo bem, vai depender se você me
prometer agora, porque o Chico vai jurar em cima da Bíblia agora um negócio
aqui no meu gabinete, ele ta aqui na minha sala.
Marcelo: Então o negócio é muito sério.
Rosileide: Não, mas é fácil, Marcelo, é fácil. Eu já
estive com o seu pai aí no apartamento, na casa dele, eu sei que ele já falou
com o nosso presidente aqui, a próxima vaga vai ser ainda este ano, e o
problema é o seguinte: que me pareceu que ele está querendo colocar a mulher do
Humberto de Castro que tem 42 anos e 14 anos de magistratura, e eu tenho 30
anos de magistratura e tô com 50 anos, então o que eu queria falar com você,
que você desse um toque pro Dr. Almir é que ele me disse, quando eu falei com
ele, o nosso amigo em comum, que eu sei que é o Dr. Almir, já falou a seu
respeito, só que agora depois que o Dr. Almir foi indicado, vai pesar mais um
pedido do Dr. Almir.
Marcelo: Tá, tá bom.
Rosileide: Marcelo dá uma força pra mim, Marcelo.
Marcelo: Eu vou, eu vou dar uma falada pra ele.
Rosileide: Você fala mesmo?
Marcelo: Com certeza absoluta.
Rosileide: Inclusive você pode até dizer para ele
que eu falei com o Dr. Milton, e me pareceu que o Dr. Milton ta querendo
proteger uma outra pessoa.
Marcelo: Sei.
Rosileide: O Dr. Almir tem que dizer assim: Olha
Milton vamos colocar primeiro ela porque você já me prometeu botar, colocar
ela. Posso contar com você?
Marcelo: Tá, eu vou dar uma falada com ele sim, com
certeza.
Rosileide: Então tá Marcelo, qualquer dia dá um
pulinho aqui no meu gabinete comigo.
Marcelo: Vou sim, com certeza, tá bom então.
Rosileide: Tá um abraço.
Marcelo: Tá um abraço grande pra senhora. Tchau.
Rosileide: Tchau”.
Como se vê, doutor Milton, até os próprios juízes falam
abertamente, com pessoas estranhas ao Judiciário, sobre o seu poder de guindar
quem bem entende ao Desembargo.
E se apegam a quem, para frear aquilo que consideram
uma injustiça? Àqueles a quem o senhor desde sempre serve: os governadores do
PSDB.
E não imagine, doutor, que obtive essa conversa ilegalmente:
ela está entre as centenas de documentos que venho analisando, para que não
fique pedra sobre pedra do seu esquema criminoso.
Portanto, doutor Milton, faça o que bem entender.
Mas não fique por aí tentando me propor, veladamente,
acordos, para que eu pare de falar, em troca de o senhor não me processar.
Como já disse aqui, agora não tem acordo,
negociação, dissimulação, lári-lári.
Agora, vamos jogar até o último fôlego de cada qual,
que é para que seja feita uma limpa neste estado.
Chega de silêncios! Chega de impunidade! Chega desse
genocídio no estado do Pará!
Não tenho medo do senhor, doutor Milton. E nem dos
jagunços do sobrinho do governador.
Como diz aquela música, pode vir quente, que eu
estou é fervendo!
FUUUIIIIII!!!!!
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Veja
nos quadrinhos o dinheiro já recebido pelo desembargador Milton
Nobre, pelo aluguel de uma casa ao Governo do Estado. Clique em cima, para
ampliar.
2004:
2005:
2006:
2007:
2008:
2009:
2010:
2011:
2012:
2013:
2014:
2015:
2016:
Aqui,
um empenho mostrando o valor do aluguel daquela casa, em 2011, à época locada à
SEAD:
Abaixo,
o diálogo entre Rosileide Filomeno e Marcelo Gabriel, em papel timbrado do TJE: