terça-feira, 13 de maio de 2014

Extra! Extra! Suposta troca de emails entre Ronaldo Brasiliense o Orly Bezerra revela indícios de uso de dinheiro público para a reeleição do governador Simão Jatene. Emails foram violados, afirma Brasiliense, que não nega autenticidade de documentos publicados pelo jornalista e blogueiro Paulo Leandro Leal. È a mais explosiva polêmica da blogosfera paraense.


Orly, Brasiliense e Jatene: dinheiro público estaria turbinando campanha de reeleição (foto do blog Vionorte)



Um comentário anônimo postado em um blog pode complicar a situação do jornalista Ronaldo Brasiliense, da Griffo Comunicação, do marqueteiro Orly Bezerra e do próprio governador Simão Jatene, que é candidato à reeleição, em outubro próximo.

O comentarista, que escreve como se fosse Brasiliense, admite que são verdadeiros os emails publicados pelo também jornalista Paulo Leandro Leal, no blog Vionorte.

“(...)Meu sigilo de correspondência eletrônica (e-mail) foi quebrado de forma criminosa e com um interesse claramente definido: tentar descobrir ilegalidades nas minhas relações com o governo do Estado”, diz o comentarista.

E acrescenta: “Mas o que se viu é que de 9.395 emails existentes na minha caixa de mensagens, foram selecionados menos de vinte, todos diretamente ligados de alguma forma ao governo do Pará e à sua publicidade, e ao senador Jader Barbalho (...)”. 


Uma bomba na blogosfera 

O comentário, que foi postado no blog do deputado Parsifal Pontes,  é mais um ingrediente da mais explosiva polêmica da blogosfera paraense: a suposta violação de emails trocados pelo jornalista Ronaldo Brasiliense com o marqueteiro Orly Bezerra, dono da Griffo Comunicação, a agência de propaganda que detém a maior fatia da conta de publicidade do Governo do Pará.

Nos emails, há fortes indícios de utilização de dinheiro público na campanha de reeleição de Jatene.

O principal deles é um Pedido de Inserção (PI) da Griffo Comunicação, para a publicação de anúncios do Governo do Estado no jornal O Paraense, que é dirigido por Ronaldo Brasiliense.

O jornal, cujo único anunciante parece ser o Governo, rasga elogios ao governador Simão Jatene. Ao mesmo tempo, publica reportagens contrárias ao pré-candidato oposicionista, Helder Barbalho, e ao pai dele, o senador Jader Barbalho (PMDB), dentre outras lideranças oposicionistas.

O Pedido de Inserção, que tem o número 019397, destina R$ 35 mil da verba de publicidade do Governo para dois anúncios de página inteira no jornal O Paraense – um tabloide quinzenal, de tiragem não revelada e que costuma circular apenas em períodos eleitorais e pré-eleitorais.

O jornal tem o preço de capa de R$ 1,00, mas também é distribuído gratuitamente em vários pontos da capital do Pará. 

Veja a PI publicada pelo blog Vionorte (clique em cima dela para ampliar):




Nos emails, aparentemente autênticos, Ronaldo Brasiliense chega a enviar ao marqueteiro Orly Bezerra as reportagens contrárias a candidatos oposicionistas que acabara de publicar em O Paraense e que pretendia reproduzir na coluna “Por Dentro”, que mantém nas edições dominicais do jornal O Liberal, um dos principais veículos de comunicação do estado.

É o caso da matéria segundo a qual o pré-candidato oposicionista ao Senado, Paulo Rocha (PT), pode estar inelegível, em decorrência da Lei da Ficha Limpa.

Ela foi publicada em O Paraense na edição de 1 a 15 de abril deste ano.

Mas, em 1 de abril, Brasiliense teria enviado um email ao marqueteiro, pedindo-lhe opinião sobre essa matéria, que pretendia reproduzir no jornal O Liberal do dia 6 – o que de fato ocorreu.

Nessa edição de O Paraense, que tem 16 páginas, além da matéria de capa e de contracapa sobre a possível inelegibilidade de Paulo Rocha, há duas páginas de anúncios do Governo do Estado e sete páginas de matérias elogiosas ao Governo Jatene, seis delas com fotos do governador.

Na edição de 15 a 30 de abril (e que teria sido a destinatária dos anúncios de R$ 35 mil do PI 019397), das 16 páginas de O Paraense duas são de anúncios do Governo do Estado; 3, além da capa, são de reportagem sobre o “escândalo do Banpará” e o suposto envolvimento do senador Jader Barbalho em um desvio de R$ 10 milhões naquele banco; e duas são de uma entrevista com o vice-governador Helenilson Pontes, que é pré-candidato ao Senado, com o apoio de Jatene.

De quebra, há uma foto do governador Jatene, com nota elogiosa na coluna “Na Planície”, também assinada por Brasiliense, na página 3; uma reportagem sobre a possibilidade de outra puxadora de votos do PT também estar inelegível - a ex-governadora Ana Júlia Carepa; e um editorial de página inteira criticando a presidenta Dilma Rousseff, que é do PT.

E da mesma forma que a matéria sobre a possível inelegibilidade de Paulo Rocha, a reportagem sobre os 30 anos de impunidade do escândalo do Banpará, publicada em O Paraense, teria sido encaminhada por email, para palpites de Orly Bezerra, em 23 de abril.

Aliás, ao que parece, Orly também teria recebido o texto que viria a ser publicado por Brasiliense sobre o escândalo do Banpará no jornal O Liberal de 27 de abril, já que comenta o fato de Jader ter chegado jovem ao Governo, o que pode ocorrer, também, com o seu “pimpolho” (a reportagem publicada por Brasiliense em O Liberal abre justamente fazendo essa relação).

Em outra edição de O Paraense, de janeiro deste ano, mas que não aparece na troca de emails, o esquema é semelhante: das 16 páginas, duas são de anúncios do Governo do Estado; a contracapa é sobre denúncia ajuizada pelo Ministério Público contra Helder Barbalho, por campanha eleitoral extemporânea; duas páginas são sobre a entrega, por Simão Jatene, do “maior pacote de obras da história”; outra  é sobre a defesa de Jatene de uma nova política para a Amazônia; duas, com fotos de Jatene e Aécio Neves (pré-candidato tucano à Presidência da República), criticam o adiamento  da votação do marco da mineração; o editorial de página inteira critica Dilma; na coluna Na Planície há nota elogiosa a Jatene e mais uma foto de Aécio; e a capa traz duas manchetes: a denúncia contra Helder e o pacote de obras de Jatene. 


Violação de sigilo e propaganda eleitoral com dinheiro público 

Os emails foram publicados pelo jornalista Paulo Leandro Leal no blog Vionorte, no último 13 de maio.

Paulo alega que recebeu o material de uma fonte e que não houve violação dos emails.

Segundo ele, o jornalista Ronaldo Brasiliense teria estado em uma lan house, na cidade de Santarém, mas se esqueceu de fechar o email. A fonte de Paulo seria a pessoa que usou esse computador logo depois de Brasiliense e que, ao perceber o conteúdo explosivo dos emails, resolveu copiá-los.

O caso foi reproduzido por outros blogs, mas só ganhou repercussão de fato hoje, quando foi parar no blog do deputado Parsifal Pontes, um dos mais acessados do Pará.

Desde então, comentários assinados por um certo Ronaldo Brasiliense, ou supostamente postados por ele, ameaçam processar meio mundo, por violação de correspondência e dano moral.

“Já esperava que a repercussão do ato criminoso - a violação de correspondência sem autorização judicial - viria do senhor. Aumenta o rol dos que serão processados”, postou um comentarista, que se identificou como Ronaldo Brasiliense, no blog do Parsifal.

Mas o deputado sustenta que o caso não é tão simples.

“Com certeza o senhor está enganado com o autor da violação que, de fato, cometeu um ato sujeito à processo, embora seja de controversa questão alcançá-lo: o senhor abriu a sua correspondência e espalhou pelas calçadas as cartas abertas. Mas isso, caso o senhor insista em expor mais ainda a sua privacidade, será assunto para debates jurídicos extensos”, escreveu o deputado, em resposta ao comentarista.

E foi pouco depois de uns dois emails assinados pelo suposto Brasiliense, que chegou ao blog do deputado o email anônimo no qual um internauta (que escreve como se fosse Brasiliense) reconhece a autenticidade do material publicado por Paulo Leandro Leal.

É claro que é preciso apurar se houve ou não violação da correspondência de Brasiliense e se os emails são, de fato, verdadeiros.

No entanto, assim como os direitos individuais à privacidade e à imagem, também o direito coletivo à livre escolha dos representantes, por meio de eleições limpas, é garantido pela Constituição.

Assim, é preciso, também, apurar o suposto envolvimento de Brasiliense, Jatene e Orly Bezerra em uma possível tentativa de macular as próximas eleições através do abuso de poder econômico, uso da máquina, utilização de dinheiro público na campanha de reeleição do atual governador.

O caso promete.

Com a palavra, o Ministério Público. 

Leia aqui a postagem do jornalista Paulo Leandro Leal sobre a suposta troca de emails entre Ronaldo Brasiliense e Orly Bezerra: http://www.vionorte.com.br/2014/05/bastidores-do-poder-relacao-nada.html 


E aqui a postagem do blog do deputado Parsifal Pontes e o comentário que pode complicar a vida de Brasiliense:http://pjpontes.blogspot.com.br/2014/05/blog-do-oeste-do-para-revela-e-mails.html#comment-form 




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A Perereca volta ainda esta semana, ou mais tardar na segunda-feira, para incendiar a blogosfera. Mas voltará em novo blog: o blog da Ana Célia. Aguarde!

domingo, 20 de abril de 2014

A Incrível História de Onde Judas Perdeu as Botas – Parte 3







Frank Sinatra da Silva Simão era tão canastrão, mas tão canastrão que é mesmo uma pena que tenha nascido em Onde Judas Perdeu as Botas, e não em Bollywood.

O pai batizou-o assim na certeza de que seria um grande artista.

Afinal, previra uma pitonisa engarapada até à alma, em meio à fumaça das ervas adivinhas:

_Seu Isac, o seu filho vai ser o maior artista que já se viu em Onde Judas Perdeu as Botas! Um artista impressionante!...De deixar qualquer um de queixo caído!... Eu vejo, seu Isac!... Tá tudo aqui nas cartas, ó!...
_Mas que tipo de artista ele vai ser? Será que vai ser músico que nem o avô?
_Músico, seu Isac!... Tô vendo aqui, ó: ele vai dar música que é uma beleza!... Vai arrastar multidões, que nem aquele flautista... Aquele tal de Hamelin!...  O seu filho vai cair na boca do povo, seu Isac!...
_Na boca do povo?
_É, seu Isac, ele vai ser famoso demais!... Tô vendo aqui, ó!... Mais afamado do que ele só os últimos dias de Pompeia!... Vai entrar pra história, seu Isac! E não haverá um só ‘caboco’ de Onde Judas Perdeu as Botas que não diga: “Égua, que esse daí é ‘mermo’ um artista!”...

Para dar mais um empurrãozinho ao destino (o que seria de Moisés sem as pragas do Egito, caro leitor?), o pai matriculou o menino no Conservatório da República Imperial.

Mas o Pequeno Sinatra não possuía nem afinação, nem ritmo, nem  significativa extensão vocal. E o timbre, desgraçadamente, também ficara  anos-luz ao de seu homônimo.

Night and day, as professoras agonizaram naqueles trinados por eternos três meses.

Até que, mergulhadas em profunda depressão e transtornos obsessivos (especialmente, súbitos tremeliques), suplicaram que o levassem de lá.

E ainda endureceram as regras de acesso ao Conservatório, naquele que passaria à história como “O Estranho Caso do Pequeno Sinatra de Onde Judas Perdeu as Botas”.

Tristíssimo, o pai viu crescer o moleque sem conseguir imaginar outro destino à altura de nome tão promissor.

Nem jogar bola Frank sabia...

Tampouco se destacava em português, matemática, química, física, história, geografia - ou em qualquer disciplina existente, ou por existir.

Em verdade, só possuía duas grandes aptidões: dormir e pescar.

Além disso, era um mentiroso nato, genuíno, autêntico, verdadeiro, capaz de levar os circunstantes às lágrimas, sempre que desatava a contar os “causos” que inventava – inclusive, para si mesmo.

Os olhos a fitar o além do além, a mão direita a bater no peito e a voz embargada eram capazes de compungir até o mais pétreo coração...

Por isso, o pai até pensou em fazer do filho um pastor pentecostal.

Mas foi aí que teve a ideia que mudaria o destino de Frank e de toda a província:
_Levanta já dessa rede, seu malandro, vagabundo, preguiçoso, que você vai é ser político!

Sábio como todo pai, também quebrou o violão do Sinatra:
_Do jeito que você toca, isso só serve é pra espantar eleitor, seu incompetente!

E depois de obrigar o filho a limpar as inúmeras remelas, levou-o para se filiar ao partido de João Batista, o recém-eleito presidente imperial.
_E trate de fazer com que ele goste de você! Senão eu te jogo é pra fora de casa, seu pilantra!

E, de fato, João Batista adorou Frank Sinatra.

Primeiro pela impressionante capacidade de fazer com que todos trabalhassem por ele.

Manco, pálido, franzino, o rapaz espalhou aos quatro ventos que sofria de grave e intratável doença cardíaca.

Assim, muitos desenvolveram por ele uma espécie de simpatia misericordiosa, já que se encontrava a um passo do túmulo.

Além disso, a relutância coletiva em contrariar um pré-defunto lhe permitiu apropriar-se das melhores ideias alheias; galgar rapidamente os postos de direção partidária e safar-se de vários apuros.

Sempre que se via envolvido em disputas familiares que não conseguia resolver, ou que era encurralado pelos adversários políticos, queixava-se de dores no peito e começava a arfar. Cambaleante, era levado ao hospital - e de lá só saía quando os ânimos serenavam.

No entanto, o que mais encantou João Batista foi a capacidade do rapaz de prometer, e prometer, e prometer – e de sempre encontrar uma legião de crentes fervorosos, mesmo que coisa alguma fizesse, ou, ao menos, pretendesse fazer.

Para os ‘cabocos’ daquela ilha, era um gênio da política, um Pequeno Bórgia dos trópicos, cuja iluminação intelectual, quase mediúnica, era a mais extraordinária já alcançada pelo espírito humano.

Em pouco tempo, João Batista fez do rapaz o responsável pelo caixa dois das campanhas eleitorais e por todos os assuntos futurísticos de Onde Judas Perdeu as Botas.

Admirava-o, tratava-o como a um filho e pegava-se até embevecido diante da devoção daquele espírito grandioso, absolutamente desprendido de ambições materiais.

Certo dia, cansado e doente, pediu que Frank o substituísse, para que pudesse retornar mais adiante à Presidência Imperial.

Quase teve de implorar, porque o rapaz afirmava detestar o poder, os salamaleques provocados pelo cargo; a hipocrisia, o puxa-saquismo.

Em verdade, dizia, queria apenas servir ao povo, em prol do Bem coletivo...

No entanto, João Batista acabou por convencer o rapaz, o único em quem podia confiar para guardar-lhe o lugar, eis que uma alma abnegada, luminosa, evoluída.

E foi assim que teve início a mais longa Presidência Imperial de Onde Judas Perdeu as Botas, uma era de pilantragens e patifarias como poucas vezes se viu em qualquer lugar do mundo.

Logo ao assumir o comando da província, Frank tratou de corromper juízes, promotores, políticos e jornalistas, ofertando-lhes centenas de sinecuras, entre outros “agrados”.

Também desencadeou feroz perseguição aos adversários: prisões, demissões, execrações públicas.

Destruiu até mesmo as mais promissoras lideranças de seu partido e de partidos aliados.

Caboco, preciso de ti”, afirmava, com ar humilde, enquanto encaminhava o desafortunado ao suicídio político, sempre com a desculpa de se tratar de uma “articulação brilhante”, fundamental à manutenção do poder.

Loteou os cargos públicos com parentes, amásias e toda sorte de parasitas.

Roubou, e roubou, e roubou – até que quase nada restasse nos cofres provinciais.

Sob seu comando, Onde Judas Perdeu as Botas tornou-se, mais do que nunca, onde Judas perdeu as botas...

Por fim, e sem precisar de qualquer Salomé, mandou cortar a cabeça de João Batista.

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A Perereca adverte: esta obra é de ficção. Qualquer semelhança entre algum político e o Pequeno Sinatra de Onde Judas Perdeu as Botas é mera coincidência. 

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Pra Vocês!

sábado, 12 de abril de 2014

A Perereca morreu? Viva a Perereca!




Sério mermo que vocês acharam que tinham se livrado de mim?

Égua do pessoal!...

Intonci, vocês acharam mermo que eu aia aficá de fora dessa jogatina?

Mas quandu, mermão!..

Mas se avai assê a maió jogatina que já se aviu no Pará, desdi aquandu eu mi intendu pur genti!...

Ficha por ficha, mano a mano, ou, melhó adizendo: dá-lhe, que eu te arrebento!...

Vai assê aquinem aquele filme do Pacino e do De Niro: Fire contra Fire – i assalve-se aquem apudé!...

E vocês acharu mermo que esta dotôra in beng-beng num aia adá as cara a tapa?

Mas si inté o Jatene e o Orly aiam aficá tristinhos, tristinhos, amacambúzios, acoitadinhos!, a perguntaire a toda gente: mas cadeire a Perereca? Cadeire? Mas assim o jogo não tem graça, ora pois!...

A Perereca da Vizinha volta depois da Páscoa, amantíssimo leitor!

Posso chamá-lo assim, não posso?

Afinal, são oito anos de intimidade, cumplicidade...

É verdade, tivemos muitas idas e vindas...

E você, por vezes, teve de ter uma paciência de Jó!...

Mas tem sido bom pra você também, não tem?

Tanto assim que você continua entrando na Perereca, mesmo com ela paradona (vai que um dia ela acorde, né não?...).

E eu só queria é que você soubesse o quanto a sua companhia é prazerosa.

O quanto eu me sinto até envaidecida em tê-lo aqui neste cafofo.

O quanto me toca e me faz seguir em frente a confiança que você demonstra neste blog.

À exceção do Sindifisco (e a gente tem de tirar o chapéu pro Sindifisco) A Perereca da Vizinha não tem a ajuda de ninguém.

Não é badalado pelos jornalões (embora já tenha até manchetado os jornalões...). E, mesmo assim, faz um barulho danado...

Então, é claro que é você o responsável por isso.

Você, amantíssimo leitor, que distribui as postagens deste blog nas redes sociais e através de emails – ou até que reproduz as reportagens do blog em jornais por todo o interior do Pará.

É verdade que, por vezes, eu gostaria de ir embora.

Afinal, às vezes me sinto como se andasse a quebrar uma pedreira...

E aí eu olho para o meu jardim, repleto de borboletas, passarinhos, rosas, jasmins...

E penso que essas cores, esses cantos, esses perfumes são extraordinários demais para que se busque algo além...

Mas aí eu me lembro que essa vitória não me pertence – ela é sua, também.

Ou até principalmente sua, já que você deve ter quebrado muita pedra para tornar acreditado e conhecido um blog jornalístico chamado  “A Perereca da Vizinha”...

E uma coisa a gente pode dizer deste blog, né não?: este nome foi mesmo inesperável...

No entanto, a Perereca não poderá retornar com esse nome.

E essa, confesso, é uma das decisões mais difíceis que já tomei.

Há pelo menos quatro anos, eu sei que não há como tentar garantir sustentabilidade a um blog jornalístico chamado A Perereca da Vizinha.

Simplesmente, porque ninguém vai anunciar em um blog com esse nome.

A exceção tem sido o Sindifisco. Mas, a par de todo o esforço do Sindifisco, essa ajuda não é suficiente.

A Perereca da Vizinha penou nas mãos do PSDB.

Penou nas mãos do PT, e está penando, que nem sovaco de aleijado, novamente, nas mãos do PSDB.

Daí que é previsível que penará, também, nas mãos do PMDB.

Isso porque inexiste maturidade democrática no estado do Pará.

Quem assume o poder, não consegue enxergar  a sociedade como aliada.

E a imprensa, que é a maior fiscal da sociedade – que me perdoe o MP – acaba por ter apenas duas alternativas: ou se corrompe, ou acaba no limbo.

Toda a adiposidade que possuía foi-se embora nesses quatro anos de governo Jatene – não tenho mais, não há mais.

Daí que, qualquer que seja o resultado dessas eleições, haverá diante de mim um deserto para o qual eu já não possuo nenhuma condição financeira.

Além disso, a vida foi me mostrando que determinados atalhos podem até parecer bacanas, mas, ao fim e ao cabo, só te atormentam...

Daí que a principal tarefa que vejo hoje é garantir sustentabilidade a este espaço jornalístico, um dos poucos que, ao menos, tenta ter um mínimo de respeito a você, amantíssimo leitor.

Se eu quero isso? Não. Prefiro mil vezes o cantar dos passarinhos, o bailar das borboletas, o perfume das rosas e jasmins.

Mas este blog – e você que o acompanha desde o começo sabe disso – acabou por assumir uma função que não deveria ser dele: ser quase a única janela escancarada à liberdade de informação neste estado infeliz.

Lamento que seja assim.

Não tenho pinta de heroína e nem acredito em heroísmo – até porque conheço (e penso) a figura do “herói” (leiam, por favor, “O Heroi das Mil Faces”, do Joseph Campbell – é magnífico!).

Além disso, sei que todo homem médio é capaz de atos heroicos em defesa de alguma coisa que ama ou em que acredita.

No entanto, eis-me aqui a lutar, heroicamente, pela liberdade de informação...

É quase cômico... Quase... Evangélico!...Quase... Messiânico!!!...

Mas deixemos as meditações filosóficas para futuramente.

Presentemente, temos é de garantir a sobrevivência deste espaço.

De sorte, que a Perereca da Vizinha ficará apenas para acesso a tudo o que foi publicado até aqui – e tenho pensado em formas de facilitar e de deixar bem explícito esse acesso, especialmente, aos posts de maior repercussão.

O outro blog que lançarei, esse sim, será para as novas reportagens.

Pensei em lançar o blog Pará de Fato – e até registrei e configurei.

Mas acabei por considerar que o blog da Ana Célia Pinheiro ou da Ana Célia será menos traumático.

Até porque o meu nome – embora nunca tenha feito disso cavalo –de- batalha – acabou atrelado à Perereca da Vizinha.

E eu só espero é que vocês tenham por esse novo blog a mesma confiança e o mesmo carinho que sempre demonstraram pela Perereca.

Viva a Perereca da Vizinha!

Viva a força da sociedade!

Viva a liberdade de informação!

Pra vocês:








 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Ângelo Custódio, 210




Se aquela rua fosse minha, eu mandava ladrilhar.

Com cantigas de roda.

Pessoas sentadas à porta, à noitinha, a conversar.

Ângelo Custódio, meu tapete de Penépole...

Memória e fantasia entrelaçadas.

Fios que teço e desfaço, teço e desfaço, teço e desfaço, para não perder a certeza de mim...

Ilusória? Não.

Mágica, enevoada, e até um coração que não cessa de sangrar.

Mas real.

Dolorosamente, real...

Depois, o casarão da São Jerônimo, 960, já quase a adolescer.

O porão e as celas da escravatura convidavam a toda sorte de assombrações.

No terreno imenso, entre peremas, galinhas e marrecas; entre abacates, cacaus e abricós, a “árvore do enforcado” e um gazebo igualmente assustador...

Belém inteira era um sonho dentro de um sonho.

Princesas morenas, de longos cabelos, que até viravam flor.

Monstros a gritar na escuridão da noite.

Magia recendendo a cupuaçu.

Coaraci, cururu, pitiú: abracadabra, alakazam, amém.

Toda palavra é mágica: a criação do que julgamos ser, a negação do que nos atordoa.

Palavras não apenas exprimem: exorcizam.

Os anjos, os demônios e até esta dor em nós.

A dor de nos sabermos tão sós...

A certeza de que o tempo que vivemos nunca, nunca mais voltará...

E as mangueiras? E as enormes árvores da “Praça dos Leões”?

Na São Jerônimo, Presidente Vargas, Nazaré, centenários casarões enfileirados, em quase toda a extensão.

Matinta-Perêra, rasga-mortalha.

Procissões das almas a inundar a Cidade Velha.

A história a exalar dos casarões.

Os espíritos, um eterno retorno.

As águas – muitas, muitas, muitas águas.

Ao redor e a cair dos céus.

O verde exuberante, o cheiro de fruta.

Como era fértil aquela Belém!...

Mas hoje já não há almas.

Foram-se os casarões, as crianças, os imensos quintais.

O tempo arrastou meu pai, minha irmã, e vai levando, a cada dia, mais um pouquinho da Ângelo Custódio.

Toda a Belém é um turbilhão de edifícios.

Paredes enormes que se erguem a esconder o sol e  obstruir os ventos.

Muros que nos separam cada vez mais, como se não bastassem os muros civilizatórios...

Por toda parte, concreto, vidro e asfalto nos roubam o rosto e a alma.

São os novos anhangas da colonização.

E o medo por nos querermos vivos, embora ninguém saiba exatamente o que é estar vivo...

E chegará o tempo em que nem saberemos quem somos.

Ou o que tivemos.

Ou o que poderíamos ter.

Um tempo em que a Ângelo Custódio, crianças a brincar nas calçadas e o gosto da fruta madura serão, apenas, mais um paraíso a idealizar.

Belém, 17 de fevereiro de 2014.

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Pra dona Zenaide e pra Ângelo Custódio:


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

MPE ajuíza Ação Civil Pública para obrigar o Governo a melhorar situação de adolescentes apreendidos em Altamira. Adolescentes ficam alojados “em ambiente visivelmente insalubre, anti-higiênico, sem luz solar e aeração necessária”, diz o MP. E é “péssimo o estado de conservação e limpeza por onde quer que se olhe”.


O Ministério Público ajuizou Ação Civil Pública (ACP) para obrigar o Governo do Estado a melhorar as condições em que são mantidos os adolescentes apreendidos no município de Altamira, que têm de permanecer temporariamente na delegacia da polícia civil daquele município, até que sejam ouvidos pela Justiça.

Na ACP, a promotora estadual de Justiça, Érika Menezes de Oliveira, requer que os adolescentes sejam alojados “em locais salubres, com celas limpas, aparelho sanitário e lavatório, camas, assim como aeração, insolação e condicionamento térmico adequados à existência humana”, informa um texto no site do MPE.

O texto fala apenas em pedido de concessão “de tutela antecipada ‘Inaudita Altera Pars” e omite que se trata de uma ACP.

Mas a informação foi confirmada pelo blog através de telefonemas à sede do MP em Altamira e à Assessoria de Comunicação em Belém.

A Perereca, no entanto, ainda não conseguiu cópia da ação. 


Até limpeza é precária


O processo, que foi ajuizado ontem, também requer que o Governo seja obrigado ou reformar a área da delegacia onde permanecem os adolescentes, ou a construir um novo espaço com essa finalidade.

Segundo o texto, a promotora sustenta que  “o Estado do Pará não vem assegurando serviços relevantes à proteção dos direitos da criança e do adolescente quando da necessidade de apreensão, ainda que temporária, de adolescentes que necessitam ser custodiados na delegacia de polícia de Altamira, em decorrência da prática de ato infracional na cidade”.

Ainda de acordo com o site do MP, Érica disse que “há cela especial disponibilizada a esse público específico em Altamira, a fim de que não seja encarcerado junto com os demais presos de justiça, e se encontra em condições operacionais precárias, em péssimo estado de conservação e limpeza, por onde quer que se olhe. Sejam quanto à pintura, higiene, instalações hidráulicas e elétricas”.

A notícia acrescenta que os adolescentes “ficam apreendidos e alojados em ambiente visivelmente insalubre, anti-higiênico, sem luz solar e aeração necessária”.

A promotora disse ter enviado vários ofícios (o texto não diz, mas presume-se que foi ao Governo), para que o problema fosse resolvido. 

Porém, “passados mais de sete meses, a situação ainda permanece”.

A multa diária por descumprimento requerida na ACP é de R$ 10 mil.

Há pedido de liminar.