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Zenaldo e Duciomar, na posse do novo prefeito: eu sou você amanhã (Foto: Agência Pará). |
A esta altura do campeonato, o
prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho já deve ter percebido que tem nas mãos um
tremendo abacaxi.
Ao longo de uma bela carreira
política, Zenaldo nunca esteve envolvido em maracutaias (pelo menos até onde se
sabe).
Também é um sujeito com um bom
jogo de cintura, para a negociação e a articulação políticas.
E, talvez até por influência da
mãe, sempre se interessou genuinamente pela assistência à população mais pobre.
Se de forma assistencialista,
essa é outra discussão.
Mas, ainda que seja assim, ao
menos se interessou pelo sofrimento alheio e tentou minimizá-lo.
Por tudo isso, sempre pareceu ter
um futuro político promissor, que poderia levá-lo até ao Palácio dos Despachos
ou ao Senado Federal.
Mas, a cada dia que passa, a
Prefeitura de Belém coloca mais uma pá de terra na carreira de Zenaldo.
E os rolos são muitos e imensos,
para alguém com apenas oito meses de gestão.
Há a violenta repressão ao Movimento Belém Livre, o que, aliás, é uma contradição na carreira
de um ex-líder estudantil.
E, além disso, a insistência em
não reduzir o preço das passagens de ônibus, na contramão de boa parte das capitais
brasileiras e da diminuição de impostos nos transportes coletivos.
Há a enormidade de assessores, o
nepotismo escancarado e os espantosos gastos em propaganda.
Há a tentativa de
comprar, por R$ 100 milhões, o Hospital Porto Dias.
E há o rolo dos rolos, o nó dos
nós: a caótica saúde pública de Belém.
Em apenas oito meses, já se foram
dois secretários municipais de Saúde.
Profissionais respeitados, preferiram
pegar o boné.
Sinal, talvez, de que a Saúde de
Belém se encontra apenas à espera da extrema-unção.
O caos é tamanho que nem mesmo os
milhões da propaganda conseguem mais esconder.
Na semana passada, o Jornal Hoje,
da Rede Globo de Televisão, mostrou para o Brasil inteiro esse drama: criança
dormindo na escada do PSM, à espera de leito; corredores tomados por macas;
pacientes dividindo a mesma cama; falta de lençóis e até de dipirona.
Pior: nada indica que a Unidade
de Saúde da Sacramenta seja uma exceção.
Trata-se, portanto, de um nó tremendo, com
enorme capacidade de comover as pessoas, já que se traduz em sofrimento e
morte.
Sofrimento de gente fragilizada,
pela pobreza, por doenças graves.
Morte até de bebezinhos, como se
viu no Jornal Hoje.
No entanto, será que a culpa é apenas
do Zenaldo?
É claro que não.
A bem da verdade, quando ele
assumiu a Prefeitura, a Saúde de Belém já estava com um pé na cova.
E a responsabilidade por essa
tragédia tem de ser dividida entre muitos.
Com a sociedade, que não se
mobilizou com a força que deveria, para conter essa matança.
Com as instituições, que deveriam
fiscalizar o funcionamento dos nossos hospitais e não o fizeram.
Com o Poder Judiciário e a Câmara
Municipal de Belém, que garantiram a permanência do ex-prefeito Duciomar Costa,
durante intermináveis oito anos, na nossa prefeitura.
Com a imprensa que, em troca de milhões
e milhões em propaganda, não apenas se manteve em silêncio diante da dor dessas
pessoas, mas até ajudou a incensar a administração de Duciomar.
No entanto, apesar de estar
prefeito há apenas oito meses, Zenaldo também tem culpa no cartório.
Primeiro porque foi o partido
dele, o PSDB, quem ajudou a eleger e a manter no poder o ex-prefeito.
Segundo porque, ao que parece (e
os fatos gritam), a Saúde não vem recebendo a prioridade que ele prometeu.
Terceiro porque os compromissos
partidários e de campanha o fazem calar diante do xis da questão: o
sucateamento da Atenção Básica, em todo o estado do Pará, e a centralização do
atendimento na capital.
Não, não é “mera coincidência” ou
“coisa da política” a semelhança das denúncias que atingem o pronto socorro de
Belém e a Santa Casa de Misericórdia do Pará, na qual, todos os dias, todas as
semanas, todos os meses, assistimos a uma verdadeira “matança dos inocentes”.
Em verdade, há um fio, ou um
conjunto de fios, a ligar profundamente esses dramas.
A Saúde se deteriora em impressionante
velocidade porque não há vontade política do Governo Jatene para investir na
Atenção Básica e fazê-la funcionar como deveria.
E também porque a propalada
descentralização dos serviços de Saúde é apenas pra inglês ver; para produzir
imagens de belos hospitais, para a próxima campanha eleitoral.
Porque a verdade verdadeira é que
a população do interior do Pará está entregue à misericórdia de Deus.
Tanto assim, que os doentes têm de
ser encaminhados, às centenas, para a capital, em busca de um atendimento, que,
embora precaríssimo, ainda é superior àquele que os reluzentes hospitais
regionais conseguem oferecer.
Ou seja: falta tudo nestes dois
anos e meio de Governo Jatene, que tem se revelado um dos mais nocivos da
história recente do Pará – e os baixíssimos gastos com investimentos (num
estado que já possui um dos piores IDHs do Brasil e uma das maiores taxas de
incremento populacional) estão aí a comprovar o que estou a dizer (http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/08/percentuais-de-investimento-do-para-sao.html).
É claro que Zenaldo sabe de tudo
isso muitíssimo bem.
Mas, nada dirá.
Continuará a engolir em seco essa
impotência diante desse mar de pessoas pobres e desassistidas que chegam todos os
dias a Belém, oriundas de todos os cantos deste miserável estado do Pará.
Uma pena.
Porque, pelo andar da carruagem, Zenaldo
corre o risco de terminar o mandato ainda mais odiado do que Duciomar.
Um final inesperado e melancólico
para uma carreira tão longa, bela e promissora.
FUUUUUUIIIIIIIII!!!!!!!!!
..........
E
leia no jornal O Liberal de hoje (Atualidades, página 11), a matéria sobre a
saída do secretário municipal de Saúde Yuji Ykuta. Clique em cima do quadrinho para ampliar: