domingo, 25 de novembro de 2007

Noel


Com Que Roupa?


Agora vou mudar minha conduta
Eu vou pra luta,
Pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com a força bruta
Pra poder me reabilitar,
Pois esta vida não está sopa,
E eu pergunto: com que roupa?

Com que roupa eu vou?
Pro samba que você me convidou.
Com que roupa eu vou?
Pro samba que você me convidou.

Agora eu não ando mais fagueiro
Pois o dinheiro
Não é fácil de ganhar
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
Não consigo ter nem pra gastar,
Eu já corri de vento em popa
Mas agora com que roupa?

Com que roupa eu vou
Pro samba que você me convidou
Com que roupa eu vou
Pro samba que você me convidou

Eu hoje estou pulando como sapo
Pra ver se escapo
Desta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo,
Eu vou acabar ficando nu,
Meu paletó virou estopa
E eu nem sei mais com que roupa?

Com que roupa eu vou?
Pro samba que você me convidou
Com que roupa eu vou?
Pro samba que você me convidou.

Seu português agora foi-se embora
Já deu o fora
E levou seu capital
Esqueceu quem tanto amava outrora
Foi no Adamastor pra Portugal
Pra se casar com uma cachopa!
E agora, com que roupa?

Com que roupa eu vou?
Pro samba que você me convidou
Com que roupa eu vou?
Pro samba que você me convidou.

(Noel Rosa)

sábado, 24 de novembro de 2007

menina1


Um caso escabroso



A história dessa adolescente que ficou presa durante dias entre duas dezenas de homens é um caso escabroso; não há por onde se lhe pegar.


Confesso que se trata de uma situação tão brutal e tão constrangedora que deixa a gente até sem palavras.


É uma história tão selvagem, tão absurda, que parece impossível de acontecer no Ocidente, em pleno século XXI.


Não fosse adolescente, fosse anciã; não fosse uma garota, fosse uma prostituta; não fossem vinte homens, mas apenas um ou dois - ainda assim não haveria justificativa ou atenuante possível para o que aconteceu.


Eu, pelo menos, não consigo encontrar.


Ainda agora me custa crer que isso não tenha decorrido de maldade, de vingança, de alguma questão pessoal, mas, de incompetência pura e simples.


E de uma mentalidade do tempo das cavernas, que (Deus do Céu!) parece predominar em nossas polícias e em nosso Judiciário - e até, pelo visto, em muitos insuspeitos doutores.


A mentalidade que vê direitos humanos como “privilégios” de alguns.


Não há o que fazer, não há justificativa a apresentar; perdão que se peça à sociedade e a essa garotinha, que possa, de alguma forma, diminuir o horror que viveu e que, provavelmente, jamais esquecerá.


Um horror que, certamente, marcou, a ferro e fogo, o mais profundo da alma...


Mas, mesmo assim, é preciso ter a grandeza de pedir perdão, porque isso é o mínimo que espera sociedade.


Era preciso que o Governo do Estado tivesse tido essa grandeza, desde o começo. E não apenas o Executivo, mas, o Ministério Público e o Judiciário, também.


Desde o primeiro momento, era preciso que os companheiros tivessem olhado nos olhos da sociedade e expressado a dor e a revolta que sentiam, por não terem conseguido evitar que uma coisa assim acontecesse a um ser humano, e o que pior, a uma garotinha.


Era preciso que deixassem claro, desde o primeiro momento, que não compactuam com algo assim; e que jamais deixarão barato algo assim; que irão às últimas conseqüências, para apurar e punir. E, sobretudo, para evitar que algo assim possa se repetir.


Essa coalizão que hoje comanda o Governo do Pará é feita de pessoas que têm uma história de vida, em defesa dos direitos humanos e constitucionais.


Tanto no PT, quanto no PMDB, quanto no PSB são milhares os companheiros que, mesmo diante de ameaças à própria integridade física, jamais recuaram na defesa de pessoas presas, torturadas e violentadas.


Temos, todos, uma história de luta que se agiganta, diante de alguns daqueles que, oportunisticamente, hoje se aproveitam desse episódio, apenas, para acusar – mas que são os mesmos que defendem, muitas vezes, a diminuição da maioridade penal.


Os mesmos que serviram, ciosamente, a uma ditadura, que prendia, matava, arrebentava.


Os mesmos que ficaram caladinhos diante do massacre de Eldorado dos Carajás e de tantos outros massacres ocorridos em nosso estado, ao longo dos últimos doze anos.


Mesmo assim é preciso admitir os erros trágicos, desse episódio.

E o maior deles foi não termos tido a capacidade de sofrer, de nos comovermos, desde o começo, junto com a sociedade.


Porque os companheiros que estão no governo preferiram agir, em primeiro lugar, como governo, preocupando-se, em primeiro lugar, com o aproveitamento do caso pela oposição, ao invés de agirem como sempre agiram: como cidadãos.


Sinceramente, fiquei perplexa ao constatar a insensibilidade de alguns, ao tomarem conhecimento do caso.


Por um erro brutal – para dizer o de menos – tratou-se, primeiro, de tentar transformar a vítima em algoz.


Ficou-se dizendo que a menina não era menor; era maior; que não era “moça direita”. Em suma, que pertencia a uma categoria criminosa incriada, no Estado democrático de direitos, porque passível de ser, simplesmente, atirada aos leões...


Não sei o que se passou nas mentes “brilhantes” que pensaram algo tão absurdo.


Talvez que essas pessoas não tenham nem mães, nem filhas, nem irmãs, nem, ao menos, conhecidas do sexo feminino.


Ou, se forem mulheres, talvez que ao invés de se orgulharem, tenham é vergonha do sexo que carregam entre as pernas.


Só sei é que tal estratégia, se assim pode ser chamada, gerou uma catatonia cujo resultado é essa bola de neve que aí está.


E que tenta nos transformar em vilões de um Estado que recebemos desmantelado, porque pacientemente desmantelado, em doze anos de tucanato.


Creio que mesmo se vivesse mil anos jamais poderia compreender como é que um ser humano, especialmente dessa categoria tão ciosa da própria inteligência – os doutores – pode raciocinar de forma tão abestalhada.


Como é possível que alguém possa ao menos imaginar a possibilidade de justificar a prisão de uma menina ou de uma mulher, entre dezenas de homem, por ela ser puta, “safada”, ou o que quer que valha?


Mas será que não houve um único cérebro, uma única alma neste governo que não visse logo que isso é um atentado tremendo a direitos humanos fundamentais?


Minha xará deveria ter sido firme, no discurso e na ação, desde o primeiro momento.


Se as informações eram parcas e desencontradas, deveria ter mandado imediatamente a Abaetetuba, que fica logo ali, pessoas de sua confiança – as secretárias de Segurança e de Justiça e Direitos Humanos, por exemplo.


E afastado de bate pronto todos os possíveis envolvidos, até o resultado da apuração.


Num momento como esse, se os companheiros me permitem, não dá, simplesmente, para ficar punhetando.

É preciso fazer desde logo o básico. E, se for o caso, errar – mas, pelo que se fez a mais, e não, simplesmente, pelo que se deixou de fazer.


E agora me dêem licença que vou sair com a minha garotinha, a filhinha que é a coisa mais preciosa que Deus me deu.


Quero “lamber a cria”, abraçá-la muito, dizer-lhe do meu amor, como faço todos os dias.


E erguer as mãos para os céus por não ter sido ela...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Julgamento 2


A Vergonha da Década




I



O julgamento do caso Novelino, que ontem terminou, é uma dolorosa vergonha para a sociedade paraense.

Primeiro porque, depois de todos os recursos materiais e humanos que mobilizou, revelou-se inócuo: os quatro principais réus, cujas penas individuais são de 80 anos, terão direito a um novo julgamento, que acontecerá, possivelmente, no ano que vem.

Segundo porque o tribunal do júri, no dia de hoje (20/11/2007), assemelhou-se bem mais a um circo do que aquilo que nós, sociedade, imaginamos de um tribunal.

Na condição de cidadã estou convicta de que tenho direito de cobrar do juiz Raimundo Moisés Flexa e do Tribunal de Justiça do Estado uma explicação plausível para o que aconteceu.

Afinal, os meritíssimos não passam de meros cidadãos iguais a mim, com, apenas, um diferencial de função: são pagos para administrar a Justiça. E só.

Mas, será que foi feita Justiça? Será que, hoje, um pouco mais do que ontem, sabemos o que de fato se passou na Service Brasil, no fatídico 25 de abril deste ano? Será que sabemos, de fato, o que se oculta por trás desses crimes?

Não creio. E não creio, justamente, porque o ilustre magistrado permitiu que se transformasse o “seu” tribunal – como ele tantas vezes enfatizou; como se fosse do próprio bolso dele que saíssem os recursos para custear toda aquela estrutura... – numa escabrosa mistura de dramalhão mexicano com auto de fé.

Não estou aqui para defender Chico Ferreira, Luiz Araújo, Sebastião Cardias e José Augusto Marroquim dos crimes de que são acusados.

A meu ver, todos, em maior ou menor grau, contribuíram para a perversidade que cercou esses assassinatos.

Mas, daí a não lhes permitir chance de defesa, vai enorme distância.

Se não deram, de fato, chance de defesa às vítimas, nós, sociedade, com muito mais razão, deveríamos lhes conceder isso.

Até para mostrar que nos encontramos num patamar civilizatório superior. E que, de fato, temos todo o direito de lhes impor essa cobrança sócio-judicial.

Por diversas vezes o ilustre meritíssimo, Raimundo Moisés Flexa, enfatizou que não permitiria que a família Novelino fosse posta em julgamento.

Corretíssimo, talvez, do ponto de vista humano. Questionável, no entanto, do ponto de vista do pleno direito de defesa, uma vez que as práticas dos Novelino eram um ponto essencial da defesa dos réus, como possível motivação dos assassinatos.

Afinal, havia, até, em declarações de réus, referência a seqüestro do familiar de um deles, para quitação de uma dívida de agiotagem – que, até onde eu sei, é uma ilegalidade.

Mas, tudo bem. Façamos de conta que, apesar de questionável, a decisão do ilustre meritíssimo foi correta.

O problema é que o Dr. Raimundo Flexa, se não permitiu que a conduta das vítimas fosse minimamente questionada no “seu” tribunal, também não deveria ter permitido que fossem santificadas. Mas, foi isso, exatamente, o que aconteceu.

Em um filme, de um ou dois minutos, de repente e não mais que de repente, surgiram as vítimas, Ubiraci e Uraquitan, falando do amor que devotavam ao pai, segundo eles, um “espelho”, um “exemplo” de vida.

Seguiram-se, então, imagens chocantes dos crimes – uma bela edição. E, como se poderia esperar, a emoção explodiu na platéia: ouviram-se soluços altos dos familiares e viram-se lágrimas até em quem não deveria lacrimar...

Não questiono o trabalho dos assistentes de acusação, Roberto Lauria e Antonio Neto, pois, que realizaram magistralmente o que deles se esperava.

Agiram como os brilhantes advogados que são. E, talvez, até um pouco mais: como escolares inteligentíssimos, topo de linha, aos quais fosse permitida uma interessantíssima experiência, em que fôssemos as cobaias, acerca do predomínio da emoção sobre a razão, na espécie humana...

Quem eu questiono é o “professor”, o juiz, que permitiu o desenrolar de tal “experimento” numa coisa tão séria como um processo penal.

E vejam que não posso conceder ao ilustre magistrado Raimundo Moisés Flexa sequer o benefício da dúvida, porque isso seria demasiado ofensivo – a ele e a nós, sociedade.

Afinal, qualquer marqueteiro “rasca” e qualquer rábula sabem que as emoções são “trabalhadas” pelo sistema límbico, a área mais primitiva do cérebro humano. E que, contra o predomínio da emoção, não há razão possível.

O exemplo clássico é o predomínio da emoção hitlerista sobre a Nação alemã. E as exceções que ali restaram não passam disto: exceções.

Além do que, todo e qualquer rábula também conhece, de cor e salteado, uma coisa chamada “falácia” e, dentre aquelas existentes nessa larga família de “pensamentos truncados”, uma falácia poderosíssima chamada de “apelo à piedade”.

Ao permitir a exibição daquele filme o ilustre magistrado – inconsciente ou conscientemente – permitiu – e, portanto, se acumpliciou – um processo de “satanização” dos réus. Como que pré-julgou – se assim me permite dizer o ilustre – e ainda permitiu pré-julgar...

Na minha humilde opinião de cidadã negou aí, aos réus, toda e qualquer chance de defesa, ou seja, o devido processo legal.

Pois, que permitiu, através de um silêncio acachapante, que, nos senhores jurados, com razoável grau de certeza, tendo em vista todos os experimentos psicológicos nesse sentido, a emoção passasse a imperar.

E que passassem os senhores jurados, portanto, a estarem movidos, apenas, pela empatia que os sobrepujava.

Sem condições, portanto, a partir desse momento, de “ver”, realmente, as provas técnicas e os depoimentos existentes naquele processo, que deveriam embasar, de fato, a importante decisão social que tomariam.

Ora, daquele filme surgiram as vítimas como verdadeiros titãs de alguns dos papéis mais caros à sociedade.

Eram pais e filhos amantíssimos – e, “por conexão” - maridos, amigos, amorosos; enfim, cidadãos exemplares; “pacatíssimos” seres humanos...

Surgiram, enfim, gigantescos, em relação à pequenez da “bandidagem”...

Afinal, como sabe todo e qualquer rábula – e daí não acreditar que um douto magistrado não o saiba – a mente humana funciona, justamente, nesse tatibitati maniqueísta, que, por geral e persistente, talvez tenha até alguma função biológica...

Ora, esse filme tornou extremamente sensível e solidária às vítimas, num grau muito maior que o recomendável, a totalidade do tribunal.

E a impressão que ficava a quem tentava “racionalizar” tudo isso era a de estar diante de uma turba que, ao mínimo sinal, se mostraria disposta a “justiçar” os acusados.

Ora, júri e juiz não são pagos para ser, simplesmente, solidários às vítimas. A solidariedade social já está expressa na própria estrutura judiciária, com suas leis e tribunais.

Júri e juiz não são pagos para chorar, se descabelar, tomar partido, consuetudinariamente falando.

A eles compete seguir o rigor da lei, ao cobrar a dívida social de um cidadão e pagar, a outro cidadão, o que lhe deve a sociedade.

E isso implica, necessariamente, o predomínio da razão. A capacidade de ver, de fato, se, num dado processo, numa dada denúncia, se apresentam todas as condições exigidas pela lei, por essa criação societária, para a absolvição ou condenação.

Óbvio que tal se torna impossível, quando se permite que o tribunal se transforme em mera reunião de acionistas da Kleenex. Ou, o que é pior, em catarse de torquemadas.

Vence a vaidade, a imagem histórica do magistrado que atuou no processo, com as atas que raramente revelam todos os meandros processuais.

Perde, fragorosamente, a civilização e a sociedade que sustenta o douto juiz.


II


O julgamento do Caso Novelino é um tapa na cara da sociedade paraense, também, por toda a riqueza que o cercou.

Se me permitem os doutos magistrados do TJE e até os doutos promotores – alguns dos quais tenho como amigos, pessoas de quem realmente gosto – tal processo é até uma afronta ao princípio da isonomia.

No ano passado, se bem me recordo, no início do ano passado, duas garotinhas foram assassinadas, barbaramente, em Ananindeua.

Elas não tinham 1,90 metros de altura, nem considerável largura.

Ou um histórico de ataque e defesa a deixar muita gente de cabelo em pé.

Eram criancinhas, tão somente criancinhas... Duplamente protegidas pelo Estado, dado o Estatuto da Criança e Adolescência (ECA).

E, no entanto, o que foi feito do processo que apura os assassinatos dessas crianças?

Que é feito dos processos que apuram as mortes de tantos e tantos cidadãos anônimos, pobres, pretos, semi-analfabetos, mas, igualmente cidadãos?

Lembro de ter ficado a olhar os “manifestantes” do Caso Novelino.

Sim, senhor, isso é que eram manifestantes!...

Muitos deles louros, de pele clara, robustos, bem vestidos, com pulseiras de meio quilo nos braços.

Armaram tendas assépticas, na praça em frente ao tribunal; dentro, tinham pizza e refrigerante, para matar a sede a fome.

Tinham até ônibus para levar os mais pobres, que alguns até chamariam de massa de manobra...

E eu pensei: quem dera que, um dia, todos os manifestantes sejam assim...

Talvez que a justiça ande tão rápida, tão “flash” quanto andou nesse processo.

Talvez que tantos cidadãos, que hoje amargam a dor da espera dessa Justiça parida de um cágado, dessa Justiça-Jabuti, dessa Justiça tão brasileira, tão desigual, possam, quem sabe, antes de morrer, receber o pagamento daquilo que lhes devemos...

Todos os dias, centenas, milhares de cidadãos morrem na periferia das grandes cidades.

A muitos, se reza a missa de sétimo dia, sem que se tenha encontrado o corpo.

A muitos se sepulta na memória, sem que os culpados por esses crimes sejam chamados a responder pela dor que causaram.

É engraçado. No julgamento do Caso Novelino ouvi alguém a tentar justificar a celeridade desse processo pelo “trauma” que esses assassinatos causaram à sociedade.

Que, como naquele caso dos Riechfstal, ou sei lá como se escreve, mas, daquela moça que assassinou os pais, apesar de “bem nascida”, tivesse o condão de provocar altas incursões filosóficas na burguesíssima classe média.

Foi assim: um advogado contou que, depois dos assassinatos dos pais, por aquela moça, bacana, loura e rica, um cliente passou até a fechar a porta do quarto em que dormia, desconfiado que ficou.
Ora, tal sobressalto, em relação a todos, é comum na periferia – ou o desconhece o douto advogado?

Na periferia das nossas urbes até o botequim tem grades...

Há muito, inexistem amigos, familiares; há muito que a nossa gente sobrevive porque Deus – e não o Estado – permite sobreviver.

A classe média é um bicho, de fato, curioso.

Pega um caso que lhe diz respeito e faz dele a invenção da roda, o despertar do mundo.

E logo a classe média, que, apesar de toda a informação e do poder que detém como que “abona” esse estado de coisas...

E eu fico pensando na dor dos pais, dos familiares, dos amigos daquelas menininhas, estupradas e mortas num terreno baldio, em Ananindeua...

Vocês não gostam tanto de emoção? Pois, elas não foram nem algemadas, nem amordaçadas, porque, simplesmente, não precisava: elas nem por sombra representavam uma ameaça. Por natureza, eram inermes.

Mas, até hoje, não sei que fim levou o processo delas.

Ou daquele pai que chorou sobre o corpo de um filho jovem, morto na Cremação.

Ou de qualquer outro pobre sem identidade – sim, porque nesta sociedade em que vivemos, ser pobre significa, também, ser sem identidade.

São milhares, milhões de rostos negros e morenos, caboclos, que, muitas vezes, nem podem entrar no Palácio da Justiça.

Hoje, aliás, até eu quase que fui barrada, por um oficial PM que, incrivelmente, não conhecia.

Mas, eu sei me defender. Tive o “privilégio” à Educação, num país em que pouquíssimos têm esse “privilégio”...

Mas, infelizmente, neste país escravocrata, nem a dona Maria, nem o seu José sabem se defender...


III


Por último – por hoje, é claro - causou-me espécie o “carão” público do meritíssimo Raimundo Moisés Flexa ao advogado Djalma Farias.

Tudo porque Djalma disse, em entrevista ao Diário, que esse processo, justamente, era uma casa da mãe Joana, um saco de gatos – e eu assino embaixo das declarações dele, Dr. Flexa.

Estranhei a maneira incisiva como o douto Raimundo Moisés Flexa se dirigiu ao Dr. Djalma, de longe o melhor advogado daquele tribunal.

Apesar do vocabulário ultrapassado, datado, frente a um jovem e turbinado Lauria; como um Francisco Alves frente a um Roberto Carlos, Djalma, mesmo assim, conseguiu ser instigante, ao revelar a fragilidade até da perícia técnica, ao localizar na base da coluna um osso, que na realidade, se situa no pescoço; ao não encontrar nos cadáveres marcas clássicas de asfixia – e mesmo assim determinar que as mortes dos Novelino se deram por asfixia.

Volto a isso amanhã, se der, porque já bebi um pouco a mais, estou cansada e preciso dormir.

Mas, a mim pareceu “inconsistente” o comportamento do douto magistrado.

Afinal, abraçou e conversou, docemente, com os pais das vítimas – como se fosse pago para isso, por nós; como se fosse justo um juiz se dar assim com quem, por tantas “insinuações” deveria era investigar – ao passo que, a um homem de mais de 70 anos, com mais de 30 anos de advocacia, como Djalma, preferiu passar um carão.

Não nutro qualquer simpatia por Djalma Farias – muito pelo contrário; nos confrontamos, se ele não se lembra, eu me lembro, no processo dos padres franceses.

Ele havia sido contratado, como dizíamos, pela ditadura, para jogar os posseiros contra os padres; eu, era do PRC e o criticava até não mais poder.

Mas, hoje, causou-me revolta a covardia – sim, meritíssimo – a covardia de ofendê-lo no “seu” tribunal sem chances de defesa.

Se eu fosse da OAB, o senhor, certamente, meritíssimo, estaria perdido.

Porque eu iria aos confins do inferno para lhe obrigar, excelência, a respeitar um princípio básico do Direito, que é o direito de defesa, que todo rábula conhece, aliás.

Vossa Excelência, se é permitido a um mero cidadão dizer tal, vossa excelência abusou do poder que lhe foi socialmente concedido.

O Tribunal não é seu, excelência – é da sociedade.

E nele inexiste hierarquia entre Vossa Excelência e as Vossas Excelências que são o Ministério Público e os advogados de defesa.

Todos são partes legítimas e necessárias do processo legal.

Se Vossa Excelência não gostou das declarações do Dr. Djalma Farias à imprensa, deveria tê-lo contestado na imprensa.

E não esperado, covardemente, data vênia, estar placidamente sentado na cadeira de juiz do “seu” tribunal, para fazê-lo.

Sinceramente, como cidadã, senti vergonha pelo senhor.

Afinal, não trombeteio o respeito aos costumes sociais, como o senhor trombeteia.

Não me faço os elogios que o senhor se faz.

Mas, aprendi, desde pequena, a respeitar os mais velhos. A ter pelos mais velhos uma deferência imensa, por tudo o que podem nos ensinar.

Ao Dr. Djalma – e a mulher a à filha dele que estavam naquele tribunal, no “seu” tribunal – deixo, aqui, a minha solidariedade.

Quem dera que o senhor tivesse tido em relação a ele metade da deferência que teve, sabe-se lá por que, em relação aos Novelino...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

julgamento1



A Quimera Oculta



A grande sensação do primeiro dia do julgamento dos acusados de participar dos assassinatos dos irmãos Novelino foram as “revelações” acerca de um esquema de “caixa dois”, para financiamento de campanhas eleitorais, capitaneado pelo empresário João Batista Ferreira Bastos, o Chico Ferreira, mandante confesso dos crimes.

Um esquema que envolveria os gêmeos da política brasileira, PT e PSDB, e que contaria com a participação de dois supostos sócios de Ferreira: Marcelo Gabriel, filho do ex-governador Almir Gabriel, e Carlos Maurício Carpes Ettinger, dono da Clean Service.

Os três, de acordo com denúncia do Ministério Público Federal, pela qual respondem à ação penal, integrantes de uma quadrilha especializada em fraudes licitatórias e previdenciárias.

Falaram sobre o esquema ilegal de financiamento de campanhas eleitorais tanto os mandantes confessos, Chico Ferreira e o radialista Luiz Araújo, quanto um dos executores confesso dos irmãos, o ex-policial civil Sebastião Cardias.

Embora aparentemente divididos, nas estratégias de defesa para tentar atenuar as pesadíssimas sentenças que poderão receber, os três foram unânimes em afirmar que os R$ 4 milhões devidos por Chico Ferreira aos Novelino tiveram origem em recursos carreados para o financiamento de campanhas eleitorais.

Incisivo, o radialista Luiz Araújo não apenas apontou dois operadores desse esquema – o deputado federal Paulo Rocha e o secretário de Transportes, Waldir Ganzer, ambos do PT.

Mas, assim como quem não quer nada, até fez ver a familiaridade de Paulo Rocha com Chico Ferreira: uma irmã do deputado seria namorada de Helder Barbosa da Nóbrega, ex-gerente da Service Brasil e “laranja” de Chico em várias das empresas pertencentes a ele e a outros “sócios ocultos”, conforme apurou a Polícia Federal.

Araújo, que disse atuar como lobista, contou que apresentou Paulo Rocha e Waldir Ganzer a Chico Ferreira e que os três passaram a trabalhar juntos, nesse esquema, desde 2004. E disse que também apresentou a Chico o ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues e o falecido desembargador Geraldo Lima, ex-secretário municipal de Belém, na gestão petista.

Araújo falou, ainda, sobre a proximidade entre os Novelino e Chico Ferreira, antes dos crimes. Disse que outras empresas de Chico ficavam em salas existentes em um posto de gasolina, localizado na 28 de Setembro, de propriedade dos irmãos. E Chico, por sua vez, disse que pretendia abrir uma empresa de empréstimos junto com eles.

Ou seja, cada qual a seu modo – Araújo, Cardias e Chico – apenas levantou a pontinha do véu de uma história que pode ser até mais escabrosa, do ponto de vista social, que os assassinatos dos irmãos Novelino.

Por que resolveram agir assim é uma incógnita. Mas, ao que parece, puseram-se a disparar recados, a quem interessar possa, acerca da alta periculosidade que poderão representar, caso sejam deixados sozinhos a enfrentar os leões.

Alguém já disse, aliás, que se Chico Ferreira resolver, de fato, abrir o bico, não sofrerá pedra sobre pedra na sociedade paraense.

Ele, simplesmente, levará junto, para o quinto dos infernos, políticos, servidores públicos, graúdos empresários e até alguns dos mais sonantes advogados e juízes que o Pará possui.

É possível que Luiz Araújo também conheça um bocado dessa história sórdida. Afinal, foram vários anos de bons serviços ao “magister”, até como testa de ferro.

Custa a crer, porém, que o mesmo possa ser dito acerca de Sebastião Cardias, que parece um oficial de mais baixa patente. Não deixa de ser curioso, porém, que a banquinha que possuiu, no centro comercial de Belém, estivesse ligada a um dos maiores grupos de jogo do bicho – o JB.

E que Chico Ferreira, nos áureos tempos em que era conhecido como “o Rei”, segundo o relato de quem lhe foi próximo, adorasse passar uns tempos a pescar, placidamente, em São João de Pirabas...

Outro detalhe interessante é que, no depoimento ao promotor Paulo Godinho, em 23 de outubro, Cardias também falou sobre um suposto envolvimento dos Novelino com a pistolagem, roubo de carros e adulteração de combustíveis.

Além disso, é preciso juntar a esses ingredientes as relações que Chico Ferreira possuía com uma certa igreja evangélica. E o fato de que teria até inaugurado um “templo” desses, em Belém, conforme uma fonte da Service Brasil – e algumas denominações religiosas, como se sabe, dão excelentes “lavanderias” financeiras.

Quer dizer, só a pontinha do véu já permite vislumbrar um leque de crimes: financiamento ilegal de campanhas eleitorais, por gente ligada a fraudes licitatórias e previdenciárias, que mantinha excelentes relações com suspeitos de pistolagem, roubo de carros e adulteração de combustíveis e com banquinha de jogo do bicho ligada a um dos maiores grupos paraenses do setor. Tudo temperado pelo possível “branqueamento” em nome de Deus...

Ou seja, a nós, cidadãos, resta, apenas, indagar: que monstro, afinal, se oculta debaixo desse véu?

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Temporários


Sobre os temporários



Essa história dos temporários é pra lá de complexa.

Por mais que sejamos tentados a apoiar essas pessoas, pais e mães de família, o fato é a ilegalidade da ocupação desses cargos, a partir de 1988, sem o necessário concurso público.

Lembro que uma das argumentações jurídicas, em desfavor dos temporários, é justamente essa: não há como alegar ignorância.

Porque teria havido, na verdade, uma conjugação de vontades, entre quem nomeou e o nomeado, para burlar a Lei.

É certo que muitos deles são cidadãos humildes, que nem sabem por onde passa o andor da Santa.

Receberam uma recompensa, um prêmio, por votar em sicrano ou beltrano, nesse toma-lá-dá-cá que sempre foi a política brasileira.

Mas, com o tempo decorrido - dez, quinze anos - é difícil de acreditar que não tivessem tomado conhecimento da precariedade da situação que usufruíam.

É preciso sanear o serviço público brasileiro, como primeiro passo para quebrar esse “cabidismo” de emprego em que se transformou; essa apropriação do Estado, da máquina que tem de ser pública, por famiglias ou legendas partidárias.

Servidor público tem de ser concursado, de carreira, para ter maior possibilidade de agir em favor de quem lhe paga o salário – a sociedade.

Não pode ser, simplesmente, a mulher do fulano, a prima do beltrano, o passeador de cachorro do imperador de plantão.

Tem de ter segurança, possibilidade de se negar a atuar contra os interesses coletivos - e de denunciar quem o faz.

Quem vive na situação periclitante de não-concursado, vive do favor desse ou daquele partido, desse ou daquele “senhor”. Tem, muitas vezes, de ver, ouvir e calar.

Não pode exercitar, plenamente, a cidadania que todos esperamos dele, quando nós, sociedade, lhe possibilitamos o acesso à tão nobre função.

Tal insegurança é ruim para ele, é ruim para nós.

Só a partir da efetivação por concurso é que poderemos, quem sabe, enterrar a triste história do serviço público brasileiro, construído em benefício das famílias nobres de além-mar e da “nobreza” que se ia estabelecendo por aqui.

O próximo passo é criar carreiras com efetiva progressão salarial e funcional, quer dizer, de fato chamativas.

Para atrair, ao serviço público, os melhores, os mais bem preparados dentre nós, como acontece no mundo civilizado.

Afinal, a nossa expectativa é a de que os que cuidam do que pertence a todos tenham, de fato, os olhos mais aguçados. Que eles sejam a nossa voz, lá onde nós, muitas vezes, passamos batidos.

Uma excelente proposta, como já vem sendo discutido e efetivado, aliás, é que a fatia do leão dos DAS e de outros cargos comissionados pertença a servidores efetivos.

Que aqueles que elegemos, por períodos tão efêmeros, disponham de um mínimo de possibilidade de nomeações, ao mesmo tempo em que os “nossos” técnicos, os servidores que nós, sociedade, efetivamos, possam crescer aqui e ali, em conhecimentos, em ganhos, em jogo de cintura...

Talvez assim – Deus queira! – os nossos políticos passem a escolher com mais cuidado aqueles que nomeiam, puxando dinheiro do próprio bolso sempre que tiverem de pagar a pensão da mulher e da amante ou o salário da empregada que lhes serve, em casa, o cafezinho.

Para mim, a questão realmente problemática é a condição de “senhor de escravos” do Estado brasileiro.

Essas pessoas são trabalhadoras - e deveriam ser respeitadas como tal.

Deveriam ter direito não apenas ao FTGS, como já lhes garantiu a Justiça do Trabalho, mas a férias, 13 e a tudo o que recebem os trabalhadores regidos pela CLT.

Não deveriam ser, simplesmente, jogadas no limbo.

Além disso, há a situação de quem as nomeou; dos ordenadores de despesa.

Esses coitados que estão sendo mandados para casa, arcarão com o pato, enquanto que os políticos que os nomearam, que torraram dinheiro público numa ilegalidade fisiológica, de compadrio, continuarão serelepes, como se nada dissesse respeito a eles.

Mas, se os nomeados pagarão o pato, nada mais justo que esses políticos fossem obrigados a pagar, ao menos, o tucupi, a pimenta, a farinha e o jambu...

Talvez assim aprendessem que o buraco da sociedade brasileira, hoje, é muitíssimo mais embaixo...


Um adendo


Escrevi o texto acima há uns dias, mas acabei não postando por vários motivos: primeiro, a dificuldade de conexão daquele dia; depois, a dificuldade de dar uma escapadinha ao blog, entre tantos afazeres cotidianos.

Nesse meio tempo, aconteceram algumas coisas importantes, como uma excrescência em forma de projeto, parido no submundo da politicagem legislativa.

Óbvio que o que se pretende, com tal projeto e liminares e outros recursos protelatórios é, tão somente, “rolar com a barriga” a inescapável demissão dos temporários, visto que não possuem qualquer amparo legal.

Resta saber como ficará a situação de milhares de concursados, já aprovados ou que ainda serão, nos vários concursos em andamento.

Terão de esperar anos a fio pelo tão sonhado emprego, após tanta luta, tanto esforço, porque o cargo que lhes pertence permanece indevidamente ocupado por não-concursados?

Com a palavra o Ministério Público, cuja obrigação – e até a própria razão de ser – é a defesa da Lei, da Constituição.

domingo, 11 de novembro de 2007

Os pingos

Os pingos nos is



Jamais me colocaria contra um governo que ajudei a gestar.

Isso seria declaração de incapacidade, de incompetência. E quem anda, há tanto tempo, na política, não pode se dar a tais “desfrutes”: a condição de formar opinião implica, necessariamente, antevisão.

Ao mesmo tempo, não abro mão da minha “essência” tucana. Afinal, como diz aquela música belíssima, dos Rappa, “paz sem voz, não é paz, é medo”.

Creio que chegamos até aqui por um aglomerado de vontades, que se insurgiam contra o que estava posto no Estado: a imoralidade no trato da coisa pública; a hipocrisia das “vestais” que satanizavam deus e o mundo, mas que abençoavam o enraizamento do crime organizado na máquina pública ; a continuidade de um poder que corrompia as instituições; a destrutividade de quem não consegue ver a política como um jogo entre adversários eventuais, mas como um verdadeiro auto de fé...

Creio, ainda hoje, que nos insurgimos em prol da decência, da liberdade e do respeito ao outro – pois, que todos temos defeitos, afinal. Nenhum de nós é a Pureza ou a Bondade, ou puros ou bons.

Mas, nenhum de nós, com um neurônio a mais, aceitará que o outro, com iguais imperfeições, se pretenda um deus.

Isso fica para os imbecis. Mas, graças a Deus, nenhum de nós, que sobrevive nesta grande arena que é a política, padece de tal doença.

No entanto, creio que precisamos acertar as passadas.

É certo que não faz nem um ano que estamos a comandar o Estado – um Estado que encontramos do jeito que encontramos, aliás.

Encantado pela propaganda enganosa que o fazia se sentir um príncipe, quando é, na realidade, um mendigo.

Um Estado que, para manter-se no propagandístico equilíbrio da Lei de Responsabilidade Fiscal, não podia investir em nada de real interesse da sociedade, como é o caso da Saúde, da Educação e da Segurança.

Um Estado que nos deixou como herança a necessidade de pagarmos dívidas e mais dívidas de uns dinheiros que engordaram uns poucos, enquanto o nosso povo morre nas ruas, a doenças, à fome, à bala.

Mas, ainda assim, precisamos acertar as passadas.

Vencemos as eleições, o PT, o PMDB, os tucanos e os esquerdistas desiludidos, e os independentes.

Mas, para que isso não se transforme numa vitória de Pirro, é preciso que o PT e o PMDB – ou seja, a nossa linha de frente – aprendam a conviver e a comandar.

Isso não é exatamente um encontro de namorados, numa pracinha aconchegante, com um banquinho bacana e um lampião que só ilumina o que se quer.

É uma aliança política. Com todos os senões e desvãos de uma aliança política.

O PT precisa compreender isso. E o PMDB também.

Do contrário, continuarão falando merda e dando munição ao adversário.

É certo que, talvez, não estejamos na companhia de quem, realmente, gostaríamos.

É certo que algumas práticas, ou algumas não-práticas, nos deixam e deixarão de cabelo em pé.

É certo que não conseguiremos, jamais, entender, realmente, como pensa essa pessoa que está ao nosso lado.

E essa estranheza, por mais que não consigamos entender agora, é uma profunda aprendizagem...

Mas, neste momento, precisamos atiçar a capacidade de conviver.

Precisamos juntar a cachaça e o vinho; a feijoada e o caviar.

E é isso que, de certa forma, embatuca: nenhum de nós está, exatamente, para o champagne; somos todos farofeiros.

Então, qual a dificuldade?

O PT precisa aprender a ceder; o PMDB, a compreender o custo dessa cessão.

É um acordo, uma aliança eventual. E ponto.

Não significa que estaremos todos juntos, lá na frente...

Sim, vou consentir: temos de conviver, o que implica, até certo ponto, confiança, respeito, mútuo. E até estimar, gostar, que isso é profundamente humano.

Mas, o fato, é que não estamos aqui para confiar, gostar, etc e tal.

Podemos respeitar – e isso é o que se exige de qualquer jogo.

Mas, jamais, poderemos “estimar” e transformar o outro num parceiro permanente.

Querermos que o outro veja o mundo pelos nossos olhos...

É custosa essa convivência, como são custosas todas as convivências do mundo.

O PT tem um compromisso, o PMDB tem outro. E é isso que temos de compreender.

Se compreendermos isso, conviveremos bem, da base ao topo.

Aprenderemos a negociar desde as pequenas coisas – como a cadeira para sentar ou a tabuleta na mesa do chefe – até às grandes, que dizem respeito à sociedade.

Não casamos. Fizemos uma aliança política.

Isso implica que o parceiro, por mais descabelado que se apresente, seja sempre, publicamente, um ser extraordinário, inigualável, maravilhoso...

domingo, 4 de novembro de 2007

1998

In Memoriam de 1998


De há muito que tenho vontade de publicar a música abaixo.

Mas, sempre me cerceei.

Pareceu-me maldito, de mau-gosto, sei lá...

O problema é que essa música me lembra de um tempo em que acreditávamos em tanta coisa...

Talvez, um tempo de inocência, não só para mim, mas, para muita gente...

Para a ala mais radical do tucanato...

Aquela que sua a camisa, de fato, por um novo Pará.

Aquela que vê na honestidade e na ética, não um favor, mas, uma obrigação, para com tudo o que existe, especialmente a coisa pública.

A todos os que esperam – e fazem acontecer!...

A todos os que arriscam tudo por uma vida melhor para a nossa gente!

Diretamente desse longo e tenebroso exílio, deixo a vocês, queridos (meus companheiros!...), uma lembrança porreta...

Para, ainda uma vez, estarmos juntos...

Nem que seja por um brevíssimo momento...


O Mundo Místico dos Caruanas...


Beija-flor
E o mundo místico dos Caruanas
Nas águas do Patu-Anu
Mostra a força do teu samba

Contam que no início do mundo
Somente água existia aqui
Assim surgiu o girador, ser criador
Das sete cidades governadas por Auí
Em sua curiosidade, aliada à coragem
Com seu povo ao fundo foi tragado
O que lá existia aflorou, o criador semeou
Surgindo os seres viventes em geral
E de Auí se deu a flora, fauna e mineral

Sou Caruana eu sou
Patu-Anu nasceu do girador, obá
Eu trago a paz, sabedoria e proteção
Curar o mundo é minha missão

Pajé, a pajelança está formada
Eu vou na barca encantada
Anhangá representa o mal
Evoque a energia de Auí
Pra vida sempre existir
Oferenda ao mar pra isentar a dor
Com a proteção dos caruanas Beija-flor
A pajelança hoje é cabocla
Na Ilha de Marajó, vou dançar o carimbó
Lundu e siriá, marujada e vaquejada
Minha escola vem mostrar
O folclore que encanta
O estado do Pará

(Alencar De Oliveira, Wilsinho Paz, Noel Costa, Baby)

Chuá...

Chuá Chuá


Deixa a cidade, formosa morena
Linda pequena, volta ao sertão
Beber a água da fonte que canta
Que se levanta do meio do chão

Se tu nasceste cabocla cheirosa
Cheirando a rosa no peito da terra
Volta pra vida serena da roça
Daquela palhoça no alto da serra

E a fonte a cantar: chuá, chuá
E a água a correr: chuê, chuê
Parece que alguém que cheio de mágoa
Deixasse, quem há de dizer, a saudade
No meio das águas rolando também

A lua branca de luz prateada
Faz a jornada no alto do céu
Como se fosse uma sombra altaneira
Da cachoeira, fazendo escarcéu

Quando essa luz na altura distante
Loira ofegante no poente a cair
Dá-me essa trova que o pinho descerra
Que eu volto pra serra que eu quero partir

(Pedro Sá Pereira e Ary Pavão)

As gentes

As gentes



Há gente que adora rir dos sentimentos alheios. Com uma leveza que nos deixa a pensar se tais pessoas conseguiram sentir, de fato, alguma coisa na vida.

Algumas pessoas rifam tanto a alma, o coração, para “se dar bem”, para “subir na vida”, para “ter ibope”, para “fazer sucesso” que parecem invejar, profundamente, quem preserva a capacidade de sentir.

É como se odiassem quem não se rende a essa luta besta por coisas efêmeras, que o tempo se encarrega de apagar...

Precisam escarrar no rosto de quem sente, até por uma questão de sobrevivência.

E não é, apenas, por bens materiais – embora pensem que é.

É porque se contentam com uma existência parasitária. E só.

A gente é o que é. Cada qual, portanto, com a sua dor.

Quem não encontra sentido na própria vida, que o procure. Que mude de estrada, de rumo. Que ouse. Ou, que aprenda a conviver com os próprios demônios.

Mas, que largue a vida dos outros, que deixe aos outros em paz.

Não é a tentar controlar a vida alheia que se tornarão melhores. Porque, melhores, jamais serão.

Nasceram e morrerão pútridos. Porque é da essência deles essa podridão.

Precisam disso para ter o que falar – em casa, nos bares, no restaurante, no cinema.

Porque, sem isso, seriam, apenas, um eterno e doloroso silêncio...

Pessoas vivem, sentem, riem, choram, sonham, amam...

Mas, essas coisas não têm, simplesmente, capacidade para nada disso.

Comem o pão sem gosto, engolem a bebida, trepam com cartão de ponto.

Que sigam assim, se é isso que pretendem ou se acham que é só para isso que servem.

Que se consumam na própria amargura.

Mas que, ao menos, não tentem infectar todo o resto do mundo com essa miséria que carregam.


P.S: Passo recibo e assino embaixo, com firma reconhecida e tudo... E aí?... Vou ao foda-se... Sempre estou pronta e disposta a ir ao foda-se... Mas, há mais alguém aí disposto a ir, também, ao foda-se?...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Luísa

Luísa


O vinho não consolou. Fazia tempo que se assemelhava às lágrimas que escorriam do coração. O vermelho intenso, o perfume das lembranças escondidas. O calor que se lançava nas veias, mas que se perdia nas geleiras da alma.


Luísa sentou-se na cadeira de balanço, pra lá e pra cá, pra lá e pra cá...

Da janela podia contemplar as árvores desfolhadas pelo Outono. Lisboa imersa em neblina... Os suspiros vindos dos lados da Mouraria. E a noite a arrancar à Severa todos os fados do mundo...

Lá longe, tão distante, era o Tejo. O verde vivo que se rendera à escuridão. E a lua a esmaecer sozinha, entre as estrelas que cintilavam no céu.

Na parede, o relógio marcava uma da manhã – por onde andaria Luís?

Não, ele não voltaria...

Havia meses que se fora, a outros braços, a outros mundos.

Qual um navegante que insistisse em desbravar outras terras – sempre além, sempre além...

Ele a amara, ou amara sozinha?

Mas, o amara, de fato? Ou quisera dele somente os beijos que lhe acendiam o corpo?

As mãos, os braços, as pernas que transformavam o desejo em suor?

Não, Luís tinha de ser o amor de sua vida, precisava ser.

Precisava, desesperadamente, dessa lembrança, desse fio de humanidade.

Precisava olhar o relógio e lembrar-se dele. Precisava de alguém, ao menos, para lembrar.

Precisava de um sentimento, de alguma coisa inexplicável, maior...O rio que só é rio pela certeza do mar...

Ah, as histórias que se contavam sobre o amor!...

A voz, o hálito de Tisbe, na fenda que reunia os amantes...As águas que carregavam o perfume de Isolda...A fonte a murmurar o lamento de Inês...

O olhar que traduz todas as palavras do mundo, num mero olhar...

A revelar, num lampejo, todo o mistério do Universo!...

A explosão da vida a repetir-se, infinitamente, em cada coração...

Em que corpo, em que mundo andaria Luís?

Lembrou-se da primeira vez em que se viram – quanto tempo passara, desde então?

Os olhos pousados nos olhos dele, enternecidos...Como o olhar do apaixonado à lembrança de sua paixão!...

Uns olhos que sorriam dela e que pareciam sorrir só para ela, entre todas as manhãs do mundo!...

Uns lábios que jorravam palavras incompreensíveis, um para o outro...E que nem importava compreender...

Pareceu-lhe que os pensamentos se enroscavam, um no outro, bem mais que as pernas, os cabelos e as mãos...

E que todo o resto – a vida, a morte, a felicidade, a infelicidade e as gentes (e toda a maledicência que carregam...) – se dissolvia na irrealidade em redor...

O que dera errado?

De onde viera o cansaço, a separar as bocas e o coração?

De onde nasceram as palavras, essas feridas tão profundas que nada poderia cicatrizar?

De onde viera esse frio a congelar o desejo que fluía, um do outro, às águas do mesmo mar?...

A cadeira pra lá e pra cá, pra lá e pra cá...

Tomou mais um gole de vinho. E sentiu o Outono a pesar-lhe nos ombros, a prenunciar o Inverno perene...

Viu passar um casal, as mãos enlaçadas, o riso solto. E quase que pôde sentir o sabor daquele beijo repentino, a envolver a neblina.

A ternura das almas que se dão no mesmo florescer...

Luís se fora, ela também se fora.

Foram-se, um do outro, como se pusessem um sonho a dormir...

Como as bocas que se calam, sem mais a dizer.

Ficaram a neblina, o vinho que não consola, a cadeira de balanço, o relógio na parede, as árvores cinzentas.

E essa escuridão a insistir-lhe no peito: é amor... Foi amor... Tinha de ser amor...


Belém, 21 de maio de 1998.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Blogs

Sobre os blogs



Acho muito bacana a dinâmica dos blogs – tanto que, a cada dia, apaixono-me mais por este que criei.

Não simplesmente porque saiu de mim. Mas porque é um espaço bacana de reflexão.

Os blogueiros já fomos chamados de tudo: narcisistas (et exibicionistas), adolescentes, irresponsáveis, doidos, etc...Freud, aliás, já se cansou de nos explicar...

Não há como negar, porém, que blogs, da maneira como nos apropriamos deles, têm se convertido em imensa conquista democrática.

São a tribuna, a Ágora interditada pelo poder econômico.

São essa possibilidade de troca – de informações, de opiniões – que os grandes veículos de comunicação tentam negar.

E, talvez, a nossa grande vingança seja esta: os chefões dos veículos de comunicação – e de todas as formas de poder – nos lêem (e como nos lêem!...) todo santo dia...

Muitos, aliás, até viram nossas fontes... É como se tentassem descobrir em nós o aroma das mudanças que tentaram reprimir...

Somos, afinal, uma grande tribo. A tribo dos com-Ágora. A tribo dos com-Debate, com-Pensamento, com-Reflexão.

Pena que os blogs, no Brasil, ainda não tenham o poder de formar, amplamente, opinião, como atingiram em outros cantos do mundo.

Aqui, e mais ainda no Pará, somos apenas nós – os cinco por cento de sempre.

Os que sempre ansiamos ir além da informação pasteurizada que nos empurram os tradicionais veículos de comunicação.

Aqui, tentam nos reduzir à senzala – quando muito, nos concedem alguma “Feitoria”...

Como se os “com –Ágora” fôssemos as ovelhas-negras das elites brasileiras. E não estivéssemos, em verdade, várias passadas à frente delas...

Afinal, nos tiraram dos canaviais.

Mas, nós, ao invés de nos acomodarmos às almofadas da Casa Grande, resolvemos enveredar por essa coisa meio quilombolesca da opinião própria...

Quem sabe, um dia, resolva a minha relação de amor e ódio com esse novo Palmares.

Quem sabe aprenda a servir um chá das cinco bacana, que nem o “cumprade” Juvêncio. Ou a me atualizar, enlouquecidamente, que nem o Jeso.

Quem sabe, um dia, me dedique, dê o melhor de mim, como eles fazem...

Olho para isso tudo – e para a Cris, por exemplo – e não posso deixar de pensar que estou diante de uma genuína Revolução da comunicação social...

Ofertamos informação e opinião – e não apenas “tinta e papel”, como definiu, de forma insuperável, o Juvêncio.

E eu olho para esse bolsão de couro que comprei – bacanão, até recende, manos...Tem até etiqueta de marca, avaliem!...Mermo, mermo bacanão...

Mas, com bolsão e tudo, eu não consigo reprimir essa vontade danada de me juntar a vocês...

domingo, 21 de outubro de 2007

Rebelião1

A Rebelião dos Rifados



É engraçado como algumas pessoas se mostram intolerantes quando assumimos determinadas posições.

Desde a semana passada, quando declarei minha opção por Valéria, não paro de receber bicudas. E o pior é que sei que muitas outras virão.

Infelizmente, a política paraense é tão primária que inexistem adversários – qualidade do que é, sempre, eventual.

O que existe são inimigos, que é preciso “destruir”.

É como se insistíssemos em transportar para a arena política o capitalismo selvagem e a sanha implícita de destruição.

Ao fim e ao cabo, nada assim tão espantoso num estado que ainda abriga legiões de miseráveis e até a escravidão...E em que, os intelectuais, em geral, infelizmente, nunca leram além de um livro didático...

Creio que já dei todas as explicações possíveis acerca do meu posicionamento, da minha opção por Valéria.

Resta-me, apenas, bater numa tecla essencial, do próximo pleito: a recusa de ser, simplesmente, rifada.

Para mim, esse é um mote extraordinário que haverá de explicar muita coisa...

Como os R$ 20 milhões “concedidos” pelo governo petista a esse prefeito Metralha, justamente no período pré-eleitoral...

Vinte milhões para que Duciomar possa “guaribar” mais e mais ruas e praças, para nos enganar, novamente... Nós, o “povinho do nariz furado”, não é mermo?...

Para que Duciomar e o bando dele - a horda dele - possam enfiar mais e mais dinheiro público naquela conta bacana lá da Suíça...E para que não atrapalhem as “jogadas brilhantes” dos nossos políticos, em 2010...

O que alguns desses políticos estão a esquecer – ou fazem de conta que esquecem – é a História desta cidade.

A força, a coragem, a determinação dos cidadãos de Belém...

Esse desejo que existe em cada um de nós de não nos rendermos à bandidagem, por mais assustadora que pareça...

Tais políticos acreditam, que, com dinheiro farto – a bamburrar, digamos, assim, porque eles sempre bamburram, não é mermo? - poderão realizar uma grande lavagem cerebral em nossa cidade.

Como se bastasse distribuir “desmemoriol” – aquela tal pílula do esquecimento que eles tomam todos os dias – para que nós, o “povinho do nariz furado”, nos rendêssemos assim...

Nem estranho que o PMDB – leia-se Jader Barbalho – aja assim. E peço desculpas às novas lideranças do PMDB por falar delas assim. Mas, a verdade é que o velho, que falou tanto em juventude, não consegue dar espaço a mais ninguém, pois não?

A mim o que dói é que o PT e o PSDB tenham descido a tanto, também.

Afinal, o PT e o PSDB já foram a esperança da política brasileira.

Com esse discurso esfarrapado da ética e da moralidade pública e do compromisso com a população mais pobre...

Como é possível, então, que esses partidos imaginem rifar 1,6 milhão de pessoas?

Como é possível que esses partidos acreditem na possibilidade de entregar nossas vidas, nosso cotidiano, mais uma vez, nas mãos da horda de Duciomar?

Os “donos” desses partidos também vivem em Belém.

Os filhos, os netos deles, cruzam com os nossos filhos e netos, todo santo dia, quanto vão à escola, à lanchonete, à boate, ao restaurante da moda...

Será que esses “iluminados” imaginam que, por serem filhos e netas deles, esses meninos e meninas estão imunes ao que acontece em nossa cidade?

Será que imaginam que esses meninos e meninas não poderão contrair dengue ou outra doença qualquer - e até acabarem mortos – sim, MORTOS! – por uma doença, por um assaltante ou até por um acidente de trânsito?

Mas, em que planeta, em que mundo vivem esses “iluminados”?

Imaginam, por acaso, que os condomínios, as cercas elétricas e todo o aparato de segurança que pagam - com o nosso dinheiro, diga-se de passagem! - podem apartá-los, de fato, do restante da população?

A que grau de esquizofrenia chegaram as elites que dominam Belém?

Se não estamos livres nem de um vírus que escapa na China, nos Estados Unidos, na Inglaterra, quanto mais de um vírus que está bem aqui, a destruir Belém...

Mas, essa gente parece que acredita ter uma espécie de “pacto com Deus” – ou com Satanás, talvez...

Parece que se acredita melhor, acima, de todos nós...

Como se o dinheiro que juntaram às nossas custas fizesse deles alguma coisa de “super”, “trans”, ou sei lá mais o que...

Eles esquecem que o cotidiano acontece justamente nas ruas da nossa cidade – e não entre os muros hiper-seguros dos condomínios que pagam com o dinheiro - suado - do nosso bolso...

Esquecem que doenças, acidentes, violência são olham a posição social, a cor, a religião, o sexo, a idade de quem quer seja...

Será que o Poder cega tanto as pessoas? Será que o Poder é capaz de fazer isso às pessoas – ou elas já eram assim e nós é que não percebemos?

Não, não serei rifada – me recuso a ser rifada!...

Que os senhores e senhoras que nos querem rifar, que se mudem para Marabá, Santarém, Altamira, Tucuruí, Ananindeua - ou para qualquer outra cidade ou para qualquer outro “pólo” que considerem mais importantes...

Para mim, é como diria Cícero, o grande orador dos romanos: que peguem as suas gentes, as suas coisas e deixem esta cidade – de vez!

Que se vão, com as suas “jogadas brilhantes” e as suas tralhas, para bem longe daqui...

Eu, de minha parte, já me sentirei bem mais segura se, entre nós e essa gente, houver, ao menos, o muro do eleitorado...

sábado, 20 de outubro de 2007

Tropicalismo


Uma sessão Tropicália!


“Estou aqui de passagem. Sei que adiante um dia vou
morrer. De susto, de bala ou vício...”



Alegria, Alegria


Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou...

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou...

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não...

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou...

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil...

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou...

Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou...

Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...

(Caetano Veloso)



Soy Loco Por Ti, América


Soy loco por ti, América, yo voy traer una mujer
playera
Que su nombre sea Marti, que su nombre sea Marti
Soy loco por ti de amores tenga como colores la espuma
blanca de Latinoamérica
Y el cielo como bandera, y el cielo como bandera
Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores
Sorriso de quase nuvem, os rios, canções, o medo
O corpo cheio de estrelas, o corpo cheio de estrelas
Como se chama a amante desse país sem nome, esse
tango, esse rancho,
Esse povo, dizei-me, arde o fogo de conhecê-la, o fogo
de conhecê-la

Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores
El nombre del hombre muerto ya no se puede decirlo,
quién sabe?
Antes que o dia arrebente, antes que o dia arrebente
El nombre del hombre muerto antes que a definitiva
noite se espalhe em Latinoamérica
El nombre del hombre es pueblo, el nombre del hombre
es pueblo

Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores
Espero a manhã que cante, el nombre del hombre muerto

Não sejam palavras tristes, soy loco por ti de amores

Um poema ainda existe com palmeiras, com trincheiras,
canções de guerra
Quem sabe canções do mar, ai, hasta te comover, ai,
hasta te comover

Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores
Estou aqui de passagem, sei que adiante um dia vou
morrer
De susto, de bala ou vício, de susto, de bala ou vício

Num precipício de luzes entre saudades, soluços, eu
vou morrer de bruços
Nos braços, nos olhos, nos braços de uma mulher, nos
braços de uma mulher
Mais apaixonado ainda dentro dos braços da camponesa,
guerrilheira
Manequim, ai de mim, nos braços de quem me queira, nos
braços de quem me queira

Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores

(Gilberto Gil, Capinan, Torquato Neto)


Geléia Geral


Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira num calor girassol com alegria
Na geléia geral brasileira que o Jornal do Brasil anuncia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

A alegria é a prova dos nove e a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o sol é mais limpo e Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem, Pindorama, país do futuro
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

É a mesma dança na sala, no Canecão, na TV
E quem não dança não fala, assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala as relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada, um LP de Sinatra, maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano, superpoder de paisano, formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela, carne-seca na janela, alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade, hospitaleira amizade, brutalidade jardim
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

Plurialva, contente e brejeira miss linda Brasil diz "bom dia"
E outra moça também, Carolina, da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos e a saúde que o olhar irradia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

Um poeta desfolha a bandeira e eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto tropicália, bananas ao vento
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

(Gilberto Gil e Torquato Neto)


Miserere Nobis


Miserere-re nobis
Ora, ora pro nobis
É no sempre será, ô, iaiá
É no sempre, sempre serão

Já não somos como na chegada
Calados e magros, esperando o jantar
Na borda do prato se limita a janta
As espinhas do peixe de volta pro mar

Miserere-re nobis
Ora, ora pro nobis
É no sempre será, ô, iaiá
É no sempre, sempre serão

Tomara que um dia de um dia seja
Para todos e sempre a mesma cerveja
Tomara que um dia de um dia não
Para todos e sempre metade do pão

Tomara que um dia de um dia seja
Que seja de linho a toalha da mesa
Tomara que um dia de um dia não
Na mesa da gente tem banana e feijão

Miserere-re nobis
Ora, ora pro nobis
É no sempre será, ô, iaiá
É no sempre, sempre serão

Já não somos como na chegada
O sol já é claro nas águas quietas do mangue
Derramemos vinho no linho da mesa
Molhada de vinho e manchada de sangue

Miserere-re nobis
Ora, ora pro nobis
É no sempre será, ô, iaiá
É no sempre, sempre serão

Bê, rê, a - Bra
Zê, i, lê - zil
Fê, u - fu
Zê, i, lê - zil
Cê, a - ca
Nê, agá, a, o, til - ão

Ora pro nobis

(Capinan/Gilberto Gil)


É Proibido Proibir


A mãe da virgem diz que não
E o anúncio da televisão
E estava escrito no portão
E o maestro ergueu o dedo
E além da porta
Há o porteiro, sim...

E eu digo não
E eu digo não ao não
Eu digo: É!
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir...

Me dê um beijo, meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estantes, as estátuas
As vidraças, louças
Livros, sim...

E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo: É!
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir...

Me dê um beijo, meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estantes, as estátuas
As vidraças, louças
Livros, sim...

E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo: É!
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir...

(Caetano Veloso)

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Dudu2

Os Anjos e os Demônios



I

Quando escrevi o post “O Prefeito Metralha” tinha consciência das críticas que receberia.

Mas, quem dá a cara tem de saber conviver com o contraditório.

Aliás, para mim, é aí que reside uma das belezas do jogo democrático: o amor com que tantas pessoas defendem aquilo em que acreditam, mesmo que seja oposto ao que defendemos.

Tenho publicado a maioria das críticas, evitando, apenas, aquelas que são demasiado ofensivas a outrem.

Respeito quem me critica e até agradeço, porque isso instiga à reflexão.

Feliz ou infelizmente, porém, a política não é feita nem por anjos, nem por demônios, mas por seres humanos, com esse infinito de crenças, expectativas e circunstâncias que cada um de nós representa.

No jogo político, como em tudo na vida, somos levados a fazer escolhas.

Escolhas que podem nem ser aquelas que gostaríamos. Mas que se afiguram “o possível”, frente à determinada conjuntura.

II

Ao contrário do que disse um comentarista, não me esqueci do que publiquei acerca de Fernando Dourado.

Ao declarar minha opção por Valéria, não tentei passar um atestado de idoneidade a quem quer que seja. Nem tenho poder para isso.

Penso, também, ter deixado claro que não cultivo simpatias ideológicas pelo DEM.

Respeito, porém, as opções dos autodenominados democratas.

Mais não seja, porque “ver o mundo”, digamos assim, e expressar opiniões é direito básico. Implícito, aliás, à própria condição humana.

III

Aprendi, ao longo destes anos, que a eficácia do nosso jogo, no âmbito político, depende, em primeiro lugar, de sabermos identificar o inimigo principal.

Ninguém, nesta grande mesa que é a política, consegue alguma coisa isoladamente; é preciso respeitar, negociar.

E a base dessa negociação, além, é claro, de um projeto estratégico, é a identificação do inimigo comum conjuntural.

Não adianta ficar reclamando da vida, dizendo que todo mundo é farinha do mesmo saco: metralhadoras giratórias têm vasta repercussão folclórica, mas nenhuma conseqüência histórica.

É preciso optar. E nem sempre pelo melhor. Mas, na maioria das vezes, pelo menos pior...

IV

Quem é melhor ou menos pior: Valéria ou Duciomar?

Tudo bem: nós, de esquerda, realizemos aquela catarse básica...

Arranquemos os cabelos, imploremos aos céus... Digamos: “Senhor, Senhor, como chegamos a esse ponto?”.

Nada – rigorosamente nada - conseguirá alterar a conjuntura que está aí.

Podemos discordar do DEM, ter mil reservas em relação ao Vic. Mas, ainda assim, persistirá a pergunta: quem é melhor ou menos pior?

E não adianta vir com Mário Cardoso, Suely, Edílson ou até mesmo Jatene.

São melhores ou menos piores?

Mas, além disso – e é isso que acaba sendo definidor – qualquer deles tem condições de se bater, com alguma chance de vitória, com o prefeito Metralha?

Vejam bem: não estou falando como tucana, filiada ao PSB, que joga com o PMDB, admira candidato do PT e que está disposta a apoiar o PFL...

Não é como uma “contradição”, como me chamou um anônimo.

Até porque não vejo nisso contradição: vejo capacidade de conviver e de ir além dos interesses de efêmeras lideranças partidárias...

Falo como cidadã de Belém. Como alguém que vive aqui porque quer e precisa viver.

Falo como alguém que nutre um profundo amor por esta cidade.

Como alguém que se recusa a ser simplesmente “rifada”, porque o jogo deste ou daquele partido exige que se rife, neste momento, 1,6 milhão de pessoas.

Falo como mãe, que não quer ver a filha adoecer de dengue.

Falo como ser humano, que não agüenta mais ver gente morrendo em posto de saúde, enquanto dois ou três bandidos metem dinheiro público no bolso.

V

Por que Valéria é melhor ou menos pior que Duciomar?

Em primeiro lugar, porque nada é pior que Duciomar.

Ele é o sujeito que desceu tanto o nível da roubalheira, da patifaria, que não é possível encontrar exemplo anterior. Ele é, simplesmente, o mau exemplo de si mesmo.

A coisa que nos leva a buscar comparações com um vírus, um bando, uma horda, naquela tentativa básica de racionalizar.

E eu me pergunto – mesmo tendo em mente que inexistem anjos e demônios neste jogo – como é possível que nós, sociedade, tenhamos parido algo assim?

Esse sujeito é um psicopata guindado à condição de agente político. E só.

Para ele, são normalíssimas todas as aberrações: desde falsificar diploma – e, “eventualmente”, cegar alguém - até deixar morrer crianças, pais, mães em posto de saúde.

Para ele, inexiste uma característica básica das pessoas: a capacidade de se identificar com o outro, com a dor do outro...

Para ele, e para os demais psicopatas que o rodeiam, só existe o interesse próprio: o prazer que lhes é dado pela apropriação de um dinheiro que pertence a todos nós.

VI

Valéria não merece ser comparada a isso.

Com todas as restrições que tenho ao DEM e ao Vic, tenho de admitir que ela possui qualidades importantes.

Algumas, aliás, até espelhadas em práticas de que discordo. Como o assistencialismo sincero, que eu sei que não leva a lugar algum - mas que ela acredita importante.

É engraçado. Quando eu trabalhava na Funcap, em 1997, discutíamos justamente isso: a diferença entre políticas emancipatórias e assistencialistas.

E eu me recordo das queixas de alguns técnicos, acerca da falta de algum assistencialismo, em meio às políticas que os tucanos tentávamos imprimir.

O problema é que nos deparávamos, muitas vezes, com crianças que estavam em abrigos da Funcap porque a família não possuía, por exemplo, banheiro em casa.

E a gente ficava pensando a falta que fazia um bocadinho de assistencialismo. Afinal, a construção de um banheiro poderia representar, ao menos, o aconchego de um lar.

Não mudaria nada na condição miserável dessas famílias.

Mas, certamente, apagaria daquela criança as marcas da institucionalização.

Para nós, classe média, é difícil entender a importância de um banheiro, até porque é algo tão presente em nossas casas que nem pensamos nisso.

Mas, infelizmente, a maioria da nossa gente vive que nem bicho...

VII

Valéria tem essa sensibilidade, essa capacidade de identificação com as pessoas pobres.

Tenho pra mim que, se ela fosse a prefeita, aquele cidadão que agonizou duas horas diante das câmeras, não teria morrido.

Em último caso, ela mesma apareceria ali com um médico ao lado.

Não penso como ela. Mas tenho de reconhecer a sensibilidade que ela tem.

E isso, certamente, já a faz muito melhor que o Dudu...

Pode-se argumentar que ela faz isso por politicagem.

Como quando insistiu em levar o “Presença Viva” a todo o estado. E em entregar, pessoalmente, os óculos, o receitório, as certidões.

É possível... Mas, infelizmente, tenho para mim que é bem pior: ela crê, de fato, nisso...

Valéria acredita nos óculos, na certidão, na cesta básica, como coisas, de fato, decisivas para essas pessoas...

Não entende a diferença entre benesse e direito.

Por isso, sempre, a longo prazo, estaremos em campos opostos.

Mas, tenho de reconhecer que esse é um diferencial a favor dela.

Exatamente como o diferencial a favor dos comunistas: são pessoas que acreditam na bondade humana...

VIII

É inevitável que me coloque na defensiva sempre que alguém tenta creditar a um homem poder decisório sobre uma mulher.

Já vi mulheres acreditarem nisso. Mas eu, jamais, conseguirei ver a nós, mulheres, como alguma coisa manobrável.

Somos, infinitamente, mais inteligentes.

Construímos algumas das conquistas fundamentais da humanidade, como a cerâmica, a agricultura, a linguagem, a cultura.

Desenvolvemos elaboradas técnicas de sobrevivência, em meio ao massacre da força bruta.

Tenho para mim, portanto, que ao invés de sermos manobráveis, sabemos é manobrar.

Sabemos usar a imagem, o que se espera de nós; o papel social que insistem em nos reservar.

Em nós, a negociação tornou-se quase que um ganho biológico...

Nestes meus 46 anos nunca conheci mulher “dominada” por homem.

Vi mulheres que regateiam, o que eu jamais regatearia, por causa de uma forma de ser em que acreditam, por “n” fatores.

Vi mulheres que têm medo de seguir em frente – menos por questões econômicas e mais pelo que, culturalmente, foram levadas a desejar.

Mas, jamais vi mulher que decidindo, não tentasse “acontecer” – e por causa disso, aliás, muitas de nós são assassinadas, todo santo dia...

Possuímos, todas, essa força.

Por isso, da mesma forma que não acredito que o tal piloto manobrasse a Ana Júlia, não acredito que o Vic manobre a Valéria.

É verdade que são histórias diferentes, visões diferentes.

Uma abriu caminho sozinha.

Outra vem abrindo caminho a partir de.

Uma vem dos movimentos sociais; outra, dos chás beneficentes...

Mas, todas, vamos nos encontrar lá na frente...

E o engraçado é constatar as semelhanças.

Ana nomeou um mundo de mulheres, inclusive uma secretária de segurança, que deixa a macharada de cabelo em pé.

Valéria tinha um mundo de assessoras. E era tanta mulher, tanta mulher que, maninhos, confesso que até me incomodava...

A gente olhava prum lado e pra outro e mal via um macho... Que coisa horripilante!...

Já bebi demais; no final de semana continuo essa postagem, a falar sobre as possibilidades da Valéria enfrentar – e talvez derrotar – esse prefeito Metralha.

Mas, acho bacana acabar falando de nós.

De quem somos, meninas...

E de tudo o que já conseguimos conquistar...

FUUUUIIII!!!!

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Dudu 1

O Prefeito Metralha



Há muito tempo que Duciomar Costa já deveria estar preso, ao invés de continuar a administrar (?) a maior cidade do Pará e da Amazônia.

É difícil acreditar, porém, que esse Prefeito Metralha, tenha, enfim, o destino que merece, a partir do pedido de prisão do MP.

Não é segredo para ninguém que a Justiça, em nosso país, e mais ainda em nosso estado, deixa muito a desejar.

Infelizmente, enquanto a Nação passa a limpo o Executivo e o Legislativo, o Judiciário tem escapado praticamente incólume dessa tácita “operação mãos limpas”.

Não porque é merecedor de um atestado de idoneidade. Mas, simplesmente, porque o corporativismo e o poder dos Meritíssimos permitem que seja assim.

Raros são os juízes que vêem o sol nascer quadrado. Raros são os que têm, ao menos, de explicar a incompatibilidade entre os ganhos que possuem e o patrimônio de que dispõem.

E os poucos que têm de prestar contas à Justiça, porque flagrados em atos de puro banditismo, acabam postergando infinitamente a devida punição – ou até “premiados” com a belíssima aposentadoria que seria negada a um servidor público comum.

Como se juízes, desembargadores, ministros dos tribunais superiores não fossem apenas e tão somente servidores públicos.

Que, quando flagrados se locupletando, “peculatando”, digamos assim, não devessem responder da mesmíssima maneira por tais atos.

Pena de juiz, desembargador, ministro contraventor deveria ser exemplar.

Não apenas pela remuneração que recebem: afinal, quanto é que isso representa em relação ao salário mínimo, que é a mísera remuneração da maioria esmagadora dos trabalhadores brasileiros?

Mas, principalmente, porque a dignidade do cargo que lhes foi concedido – o poder de julgar, de dirimir, de intermediar conflitos – deveria pressupor o compromisso com a sociedade que os pariu.

Talvez o cerne da questão seja a origem dos Meritíssimos, em geral provenientes, especialmente na Região Norte, da oligarquia.

Dessas “famiglias” escravistas que ainda acreditam no “Direito Divino”.

E que não conseguem perceber a impossibilidade de deter a radicalização democrática, devido, principalmente, ao avanço das tecnologias de informação.

Não quero meter todos os juízes, desembargadores e ministros no mesmo saco, até porque sei que não é assim.

Já conheci alguns bem bacanas, extraordinários.

Mas, enquanto os Meritíssimos não se dispuserem a fazer a necessária faxina, todos acabarão parecendo exatamente iguais.

II

Mas, voltemos ao nosso “Prefeito Metralha”, que motivou este post.

Não é primeira vez que se pede a prisão dele e de outros integrantes da quadrilha dele.

Aliás, há que se dar a César o que é de César: Belém nunca viu quadrilha como essa. E eu me pergunto se haverá cidade brasileira que tenha visto, nos últimos tempos, algo assim.

Duciomar Costa parece nascido da imaginação do finado Dias Gomes, com o antológico personagem Odorico Paraguaçu – que, se não me engano, era até escrito com dois esses...

Não apenas ofende a gramática e a moralidade pública; ofende até a lógica mais rasteira, que perpassa os atos de qualquer ser humano.

A quadrilha que Dudu chefia não tem qualquer compromisso, além do enriquecimento dela mesma. E demonstra isso, todo santo dia, de modo insofismável.

Não é como as quadrilhas que, eventualmente, se apropriaram de bens públicos, em Belém ou no Pará, por motivos pessoais ou coletivos/partidários.

Essas, ao menos, procuravam se justificar, faziam alguma coisa: desentupiam um cano aqui e ali; construíam uma praça, uma escola; colocavam uma lixeira, combatiam endemias, epidemias, ou sei mais que “ias”, mesmo que mandando que os coitados dos guardas sanitários se virassem nos trinta...Faziam campanhas “benevolentes” pelos pobres, distribuindo direitos como se fossem favores...

O problema da quadrilha de Duciomar é que não se trata, exatamente, de uma quadrilha. É um bando, uma cepa virótica.

Quadrilhas, por exemplo, não destroem, o sistema bancário – pelo contrário, querem que os bancos continuem a existir, para que possam continuar a roubar.

Bandos, não estão nem aí. Chegam, assaltam, queimam, destroem e pronto. Porque não conhecem outra existência que não seja a parasitária.

Duciomar e o seu bando rendem até tese de doutorado.

Estão todos ricos e maravilhosos – e assim continuarão.

São a cara do eleitorado, que acha isso normalíssimo. Do cidadão da periferia, que considera “benesse” uma certidão de nascimento; que não tem nem idéia do que seja Cidadania. E que se o “pulítico” não “concede”, não ajuda, ainda acredita, piamente, naquele perobal...

Ainda levará uns 50, cem anos, para que o Pará e Belém se ajustem aos trilhos democráticos.

Sempre foi assim; sempre experimentamos todas as conquistas sociais com décadas de atraso.

Mas, sinceramente, não acredito, prefiro não acreditar, que ainda nos encontremos num tempo que “reacolhe” o bando, o vírus, representado por um Duciomar.

III

Em post anterior falei da minha opção por Valéria, nas próximas eleições. E gostaria de esclarecer isso.

Não gosto do DEM, embora respeite e goste – e muito - de vários Democratas. Minha “mãe espiritual” é do PFL/DEM. E tenho por ela um amor imenso, de alma, mermo.

Por causa dela e de outras pessoas fantásticas que conheci, dou graças a Deus por apreciar as pessoas bem mais que as siglas...

Mas, não poderei, jamais, concordar com o ideário do DEM. E espero em Deus que seja sempre assim. É questão ideológica. E ponto.

Mas, sou forçada a reconhecer que Valéria é a única candidata em condições de enfrentar o bando de Duciomar.

Meu candidato do coração – a prefeito, governador e até presidente do Brasil – se chama Mário Cardoso. E que petista extraordinário ele é!...

O professor Mário respeita, ouve as pessoas, mesmo que tenham opção política diferente da dele.

É de um espírito democrático tão radical, que conseguiu deixar até a Perereca de queixo caído...

Nunca o vi ofendido ou descontente com eventuais divergências. Pelo contrário: ele parecia apreciar isso...

Não bastasse isso é um soldado, que sabe se curvar, democraticamente, às decisões coletivas.

E é honesto – vejam só!

E é um intelectual que sabe a importância da participação popular.

Que não se isola, se encafua na estratosfera. Mas que quer saber, sinceramente, o que pensa a dona Maria lá da Vila da Barca. Porque sabe que só assim o “sonho” terá chance de se concretizar, afinal...

Sou tucana e jamais abrirei mão dessa condição, mesmo que proscrita.

Até porque não miro o hoje, mas, o amanhã.

Para mim, dominar um estado por doze anos é loucura, porque isso, em primeiro lugar, vicia as instituições.

E o fato de ser tucana me faz acreditar, visceralmente, na democracia. E um dos pilares da democracia é, justamente, o livre funcionamento das instituições...

Por isso, quadros como Mário Cardoso me fazem invejar o PT – porque nós, tucanos, com a nossa opção preferencial pelo personalismo, nunca conseguimos cultivar quadros assim, tão desapegamos, como direi, da própria voz, e imbuídos, de fato, de representar o grupo que lhes transferiu o poder de coordenação.

Nunca conseguimos enveredar pelo caminho da radicalização democrática; nem sombra disso. Que pena, não é mermo?

O problema é que Mário não tem condições de derrotar o bando do Dudu.

Mário precisa de tempo – precisa ser devidamente trabalhado, para enfrentar esse amplo domínio do jogo de cena, das câmeras de Tv. E isso demandará, certamente, uns dois ou três anos de intensivão no pé do “fessor”. Para que aprenda até a se vestir e a falar...

De Suely, então, nem se fala. E do tal do Edílson, também. Isso é loucura da DS, que está a ficar igualzinha ao Gueiros...

O poder sobe a cabeça, manos. E vocês resolveram, agora, que podem eleger um poste. E vão perder com poste e tudo, infelizmente...

O “xis” da questão nas eleições do ano que vem é que está todo mundo de olho em 2010.

O Jatene e a Ana temem a Valéria como prefeita de Belém.

Quer dizer: ninguém está mirando o hoje, mas o amanhã.

Para ambos, portanto, assim como para o PMDB, é mais tranqüilo um “imbecil” como o Duciomar.

É engraçado: todas essas pessoas, que se acham tão inteligentes, resolveram embarcar na crença de que Dudu só quer é trepar. E trepar bem longe, lá em Brasília.

Todos, em suma, arresolveram contar com o ovo no fiofó da galinha

Contam com a história de que esse bando, essa horda, depois de destruir Belém, não vai querer “flagelar” o estado também.

Sou tentada a dizer: Deus queira, Deus queira...

Mas, pelo sim, pelo não, eu, cidadã fumada, sujeita à dengue e a todos os desmandos dessas criaturas, prefiro me prevenir.

Até porque não quero ser, simplesmente, “rifada”, eu, moradora de Belém, junto com 1,6 milhão de pessoas...Não é justo, pois não?

Por isso, vou de Valéria. E para mim, se Deus ajudar, há de ser Valéria na cabeça!

sábado, 13 de outubro de 2007

Círio 2007

Um Feliz Círio!


Que posso desejar a vocês além da maniçoba adubada, com pimenta arretada e farinha grossa?

Quem sabe um pato no tucupi, daqueles que deixam a gente a suar...

Talvez, um “feliz doce de graviola”, de bacuri, de cupuaçu, de tapioca...

Ou a manga madurinha, com o sumo a escorrer pelos cantos da boca...

Ou um “feliz açaí grosso!”. A pupunha cozida, quentinha, graúda e vermelhinha, com manteiga e café...

Que posso desejar a vocês além da lembrança do primeiro arraial?...

Da primeira roda-gigante, do primeiro carrossel, do primeiro algodão-doce, da primeira maçã do amor...

Da primeira bola colorida, do primeiro bichinho de miriti...

Do primeiro trem-fantasma. Sim, do primeiro trem-fantasma, com as visagens arregaladas nuns olhos de espanto, que rendiam gargalhadas “prum” mês inteiro...

Quem sabe, um infinito de rios e baías, com jeito de mar...

Quem sabe a chuva, uma feliz e abençoada chuva, daquelas que “amolham” o corpo e a alma também...

O que se pode desejar de sublime a quem vive em Belém-do-Pará?

Que gosto, que cheiro, que cor, que sensação, que desejo não nos acariciou?

Ah, sim, faltou a Virgem, a Santinha!...

A Senhora que nos enseja, atiça e abençoa...

Então, só me resta desejar que a Mãe, essa Grande Mãe, “abalance” vocês em seus braços. E que aperte e aperte e aperte...E que proteja... Do jeitinho que faz a Belém.

Que cada um de vocês seja o lírio mimoso, o mais suave perfume, o céu estrelado...O amor – o grande e incondicional amor – de Nossa Senhora de Nazaré!...

Que cada um de vocês seja único, no coração dela.

E que Ela, simplesmente, sorria... Toda feliz da vida...Ao lembrar do filhinho bacana que é você!...

Um Feliz Círio, meus amores!


Este Rio é Minha Rua!



Este rio é minha rua
Minha e tua mururé
Piso no peito da lua
Deito no chão da maré

Pois é, pois é
Eu não sou de igarapé
Quem montou na cobra grande
Não se escancha em puraqué

Rio abaixo, rio acima
Minha sina cana é
Só de pensar na “mardita”
Me “alembrei” de Abaeté

Pois é, pois é
Eu não sou de igarapé
Quem montou na cobra grande
Não se escancha em puraqué

Me “arresponde” boto preto
Quem te deu esse pixé
Foi limo de maresia
Ou inhaca de mulher

Pois é, pois é
Eu não sou de igarapé
Quem montou na cobra grande
Não se escancha em puraqué

(Paulo André e Ruy Barata)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Araújo

A carta de Araújo


O PT precisa esclarecer, de uma vez por todas, as acusações de que teria mantido relações perigosíssimas com a “tchurma” de Chico Ferreira e Marcelo Gabriel.

A carta de Luiz Araújo, por Alessandro Novelino divulgada, não é a primeira a se referir a isso.

Nos bastidores políticos, de há muito corre solta a boataria acerca de tais relações.

Fala-se em contribuição milionária à campanha de Ana Júlia e de prefeitos e parlamentares petistas, inclusive com a existência de cheques e de telefonemas grampeados pela PF.

Fala-se até mesmo de empréstimos à quadrilha, chancelados por importantes lideranças petistas.

Desde a prisão de Chico Ferreira que tais boatos têm pesado como espada de Dâmocles, sobre várias cabeças coroadas do petismo.

Eram ameaças veladas, repassadas em forma de recadinhos, através de várias pessoas.

Eram pedacinhos de grampos telefônicos, divulgados aqui e ali.

Mas, até a carta de Araújo, nunca se havia falado de forma tão aberta sobre tais relações.

E as perguntas que ficam são: por que, justamente, Araújo, que teria sido um dos mentores do assassinato dos irmãos Novelino?

E porque, justamente, Alessandro, irmão dos assassinados?

Não consta que Alessandro seja, exatamente, um estrategista.

Diz-se que teria revelado a carta, para comprovar as más intenções do chororô de Araújo.

O problema é que, na carta, o que mais chama a atenção são as relações promíscuas entre o PT e a quadrilha de Chico e Marcelo.

Teria sido mais um recadinho?

Se for assim, o PT estaria apresentando obstáculos à punição dos assassinos dos Novelino?

Ou, ao menos, estaria, de alguma forma, tentando ajudá-los? Ou, ainda, não estaria fazendo o que poderia?

Outra dúvida esquisita é quanto à intenção de Alessandro.

Ora, o chororô de Araújo é para não ser transferido para Americano, porque ali a vida dele estaria ameaçada.

Ora, Araújo é peça-chave no desvendamento do assassinato dos irmãos Novelino.

Logo, pergunta-se: não seria do maior interesse do deputado Alessandro que Araújo permanecesse onde, em tese, tem maiores condições de continuar vivo?

Além disso, de toda a confusão que cerca a carta de Araújo, emerge outra dúvida atroz: é possível que o PSDB estivesse a participar, junto com os petistas, ou das pressões sobre os petistas, para relaxar as investigações sobre as atividades de Chico e Marcelo?

Não sou “moralista” e muito menos ingênua.

Depois de décadas de militância política, sei que é preciso certa “flexibilidade” para angariar os recursos necessários a uma campanha eleitoral, especialmente em se tratando de partidos de esquerda.

Mas, também acredito que há limites a essa “flexibilidade”.

Será que ninguém desconfiou que, por trás dos milhões abocanhados pela quadrilha, poderia haver algo mais do que caixa dois eleitoral?

Será que ninguém nunca desconfiou de esquemas mais pesados, como lavagem de dinheiro e tráfico de drogas e de armamentos?

Será que ninguém nunca se perguntou – como me instigou, certa feita, um promotor – de onde saiu Chico Ferreira, o que permitiu que se associasse até ao filho de um governador e para quem e por que é, enfim, necessário?

De que forma Chico Ferreira foi aceito, tão de ânimo leve, nos principais círculos da sociedade paraense?

A carta de Araújo e as circunstâncias dela, enfim, mais escondem do que revelam.

São como a esfinge a repetir: decifra-me ou te devoro.

Resta saber quem será o corajoso Édipo. E o destino que terá...

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

pensando, pensando

O Escorpião



Toda vez que digo que sou de escorpião, as pessoas torcem o nariz. Porque, para todo mundo, esse é um signo cruel.
Não nego que possuímos imensa capacidade de destruição. Até porque, para nós, destruição não significa fim, mas, renascimento.
É a capacidade de atravessar desertos e desertos, a cheirar no grão de areia a promessa da flor.
Talvez por isso todo escorpiano pareça meio amalucado.
Não há tempo ruim. Porque a gente sempre consegue encontrar aquele fiozinho de esperança.
Essa é, aliás, a característica de quem se acostumou a “brotar das pedras”.
A sobreviver, teimosamente, mesmo onde todos “insistem” em morrer.
É isso... Para nós, escorpianos, a morte é uma incompreensível insistência. Porque o normal é sobreviver – de qualquer forma, de qualquer jeito. E o resto logo se verá...
Um escorpiano é uma incerteza permanente para si e para os outros.
Talvez, um perigo público. Mas, antes, um perigo para si mesmo.
Porque é capaz das manobras mais arriscadas. E mais seguras, também.
Como o sujeito que se lança de um avião, a sei- lá-quantos mil pés. Mas sabendo, de si para si, que possui escondidos trezentos pára-quedas. E que mesmo se todos falharem, ainda assim seguirá em frente, mesmo que todo arrebentado.
A arrastar-se, a esconder-se debaixo da primeira pedra. E ali ficar. Até que o tempo e o meio lhe permitam caçar de novo.
Por isso, um escorpiano parece um bicho esquisito, sem a capacidade de criar os laços que todos os bichos criam.
Com a “manada”, a família, o meio.
É só aparente. Escorpiano cria laços, sim. E bem mais profundos que a maioria dos animais.
Cria laços com as pedras, o sol, o deserto, a areia.
Cria laços até com o animal que o ajudou a atravessar o rio...
Mas jamais deixará de ser, sobretudo, um sobrevivente...

Respostas

Respostas



Mais logo respondo às dúvidas que ficaram acerca do meu último post e aos comentários que recebi, um deles do deputado Vic Pires Franco.

No momento, estou tentando “acordar”, digamos assim, colocar a cabeça em ordem; encontrar um rumo, um farol em meio à tempestade.

Creio que chega um momento na vida de todo mundo em que é preciso decidir aquilo que, de fato, se quer: o que nos move, o que valorizamos, afinal.

Não aquilo que simplesmente deixamos passar diante de nossos olhos, por vezes, ao alcance das mãos.

Não o que temos, todo santo dia, como se não tivéssemos; que está ali, mas poderia não estar.

Mas, o sonho, o que aquece a alma. O aparente desvario, que ninguém mais entende. Mas, que faz uma falta danada dentro do peito.

Se não for por isso, pelo que vale a pena lutar?

O que será de nós, quando nos formos, se não conseguirmos viver a plenitude deste átimo que é a vida?

Pensava um dia desses: quando chegamos ao mundo, trazemos, ao menos, um corpo.

Mas, quando partimos, somos tão somente a alma diante de Deus.

Que se chame de Deus, o que se queira chamar: Tempo, História, Destino, Memória, Natureza, Potência, Criador.

Ainda assim seremos apenas Isso e a alma. Nada mais.



Nabuco

(Coro dos Escravos)


Va', pensiero, sull'ale dorate;
Va', ti posa sui clivi, sui colli,
Ove olezzano tepide e molli
L'aure dolci del suolo natal!
Del Giordano le rive saluta,
Di Sïonne le torri atterrate...
Oh mia patria sì bella e perduta!
Oh membranza sì cara e fatal!
Arpa d'or dei fatidici vati,
Perché muta dal salice pendi?
Le memorie nel petto raccendi,
Ci favella del tempo che fu!
O simìle di Sòlima ai fati
Traggi un suono di crudo lamento,
O t'ispiri il Signore un concento
Che ne infonda al patire virtù!

(Verdi)