quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A orgia da propaganda e a necessidade de uma alternativa de comunicação direta com as massas


Em primeiro lugar, gostaria de deixar bem claro que não tenho rigorosamente nada contra o Orly Bezerra.


Conhecemo-nos há mais de 30 anos. Já nos estressamos muito um com o outro; já batemos o telefone na cara um do outro. Mas também já rimos muitas vezes juntos, até mesmo do resultado de campanhas políticas em que estivemos em campos opostos.

 
Já vi o Orly fumado, já vi o Orly bem de vida e isso nunca interferiu na nossa relação.


Todo esse preâmbulo é necessário devido aos comentários que tenho lido em relação à postagem deste blog sobre a orgia de gastos em propaganda do Governo do Estado: uma festa de mais de R$ 174 milhões para quatro anos, num estado miserável como o Pará.

 
Infelizmente, neste atrasadíssimo estado, a subserviência é tamanha que toda e qualquer crítica expõe o crítico a toda a sorte de ofensas - e até mesmo a ameaças inquisitoriais.

 
Isso posto, vamos ao que verdadeiramente interessa: os espantosos gastos em propaganda do Governo, R$ 40 milhões por ano, num estado com as carências do Pará.


I 

Com já visto na matéria abaixo, os gastos em propaganda do Governo do Estado ficavam em pouco mais de R$ 17 milhões, em valores atualizados, em 1996.

Hoje em dia, R$ 20 milhões em propaganda pode até parecer pouco - mas não é.


É quase tanto quanto destinamos a nossa combalida Santa Casa de Misericórdia. É quase tanto quanto recebe de ICMS uma das nossas maiores cidades, Santarém. É mais do que destinamos à merenda escolar.


Além disso, em 1996,  só havia uns seis gatos pingados para produzir matérias do Governo, ao contrário de hoje, quando se dispõe de uma poderosa estrutura de Comunicação, como é a Secom, e de um programa que pode contribuir de maneira extraordinária para democratizar o acesso à informação: o Navegapará.


Em 2000 ou 2001, salvo engano, participei, junto com outros jornalistas, do planejamento estratégico para reformatar a Comunicação do Estado - o que acabou desembocando, mais tarde, na criação da Secom.


Na época, identificamos algumas questões fundamentais: a necessidade de o Governo ter uma cara e um discurso unificado; de maior agilidade de resposta e de um caráter mais propositivo, e não apenas reativo, da comunicação; a regionalização estrutural, até para que se tivesse uma via de mão dupla das informações; a necessidade de um “braço” comunitário da assessoria de comunicação; a valorização dessa atividade, até entre os demais gestores do governo; e a urgência de reduzir a dependência desse monopólio da divulgação de massa.

 
Muitas dessas questões foram resolvidas, pelos tucanos e pelos petistas. Mas o principal nó crítico permanece: o monopólio da divulgação de massa. E isso apesar de todo o enorme potencial da internet. E isso apesar da Secom, da Funtelpa e do Navegapará.


Não tenho nada contra as agências de propaganda ou contra os veículos tradicionais de comunicação.


Pelo contrário: penso que os veículos de comunicação tradicionais, a imprensa de um modo geral, são grandes aliados do governo – de qualquer governo.


E não apenas na divulgação de campanhas de interesse público, mas, também, no exercício do papel precípuo da imprensa, que é a fiscalização do Poder.

 
Mas o fato é que os governos paraenses não podem mais permanecer reféns dos humores de O Liberal e do Diário do Pará.

 
Porque isso é tornar refém de tais humores a própria sociedade paraense.

 
É por conta desse gargalo que se gasta esse horror de verba em propaganda – em qualquer governo.


E a História existe é para nos ensinar – e não para nos “emburrecer”.

 
II

 
Como quebrar o monopólio da divulgação de massa?


É esse o xis da questão de Norte a Sul do Brasil, mas, principalmente, em estados como o Pará, onde tudo, inclusive o Jornalismo, acontece na base do “é dando que se recebe”.

 
No governo Lula, os petistas derramaram milhões e milhões na propaganda – coisa que a Dilma, graças a Deus, reduziu substancialmente, e nem por isso está mal avaliada.

 
E apesar de tamanha gastança, os melhores resultados obtidos pelos petistas foram justamente com a internet – que ajudou, inclusive, a desmontar as mentiradas do Serra, na última campanha eleitoral.

 
Então, a resposta me parece óbvia: a quebra desse monopólio virá através da internet.

 
E junto com a internet, através das rádios e Tvs comunitárias – se forem, de fato, comunitárias.

 
E junto com a internet e rádios e TVs comunitárias, com a permanente troca de informações entre a Assessoria de Comunicação Comunitária – vamos chamá-la assim, já que não sei o nome – com as entidades da sociedade civil, que fazem aquele trabalho de formiguinha da formação de opinião.

 
Quer dizer, estamos a falar de um trabalho em duas pontas, porque são duas as pontas da informação: a camada mais elitizada, com maior acesso à educação, e as lideranças comunitárias, que trabalham junto ao povão.


E só uma teia alternativa de Comunicação, que tenha como espinha dorsal a internet, poderá unir essas duas pontas e ultrapassar esse gargalo do monopólio da divulgação de massa.

 
E é aqui que entram a Secom e o Navegará.

 
III


O Navegapará é um programa tão extraordinário, mas tão extraordinário, que se os petistas não tivessem feito mais nada de bom no estado do Pará, só ele já valeria a passagem do PT pelo governo.


E o que falta é  saber aproveitar todo o potencial do Navegapará, para a democratização do acesso à informação.

 
Quais os grandes nós da internet no Brasil, para que ela se torne de fato massiva?

 
Vejo pelo menos dois: o baixo nível educacional da nossa população, o que muitas vezes impossibilita até a leitura, quanto mais o manuseio de um computador; e a baixa capacidade financeira, que dificulta a aquisição e a manutenção de um computador e de internet domiciliar.

 
O Navegapará garante esse livre acesso à internet. Mas falta o meio físico, o computador. 


E, também, a qualificação, para que, especialmente os mais jovens, que são mais maleáveis do ponto de vista da aprendizagem, possam usufruir do universo extraordinário de informação e conhecimento que a internet pode proporcionar.
 
Quer dizer: o Navegará deveria ser ampliado para trabalhar também nessas duas vertentes.

 
Junto com o Banco do Estado, o FDE ou até instituições financeiras internacionais, poderia doar computadores a centros comunitários e outras entidades civis, e subsidiar a compra desses equipamentos para famílias carentes.

 
Na outra ponta, o Navegapará também qualificaria as pessoas, especialmente os mais jovens, para o uso desses equipamentos  – e isso poderia até funcionar como apoio físico a programas de qualificação profissional, geração de renda e inserção no mercado de trabalho.

 
Em parceria com a Secom, a Funtelpa e as rádios e as TVs comunitárias, o Navegapará poderia gestar essa ampla teia de divulgação direta. E, ao mesmo tempo, também ajudaria a resolver uma série de outras necessidades tremendas da população paraense, como é o caso da inclusão digital, da melhoria educacional, da qualificação profissional, da geração de renda – e por aí vai.

 
Hoje em dia, você pode ter TV, rádio, telejornal – o escambau - em qualquer escola, centro comunitário e associação, em todo o Pará. E um telão, com entrevistas ao vivo do governador e de secretários de Estado, sobre o que está sendo feito na área da Educação, da Saúde, da Segurança, e especialmente se o público puder participar com perguntas e sugestões, pode até virar uma grande festa em alguns interiores deste nosso estado.

 
Isso é comunicação direta e de massa. É explorar o potencial dos recursos de que já dispõe o governo – Secom, Funtelpa, Navegapará – para levar informações diretamente ao distinto público, sem a intermediação dos veículos tradicionais de comunicação - e, sem, portanto, essa orgia de gastos em propaganda.  

 
Sei que a Secom já desenvolve projetos extraordinários, como é o caso do Tucupix, que envolve milhares de estudantes das escolas públicas e vai ajudar na conexão entre eles, na troca de informações, na apreensão do conhecimento, na melhoria educacional, e por aí vai.

 
Sei que a Funtelpa – tão maltratada, tão sangrada nos primeiros doze anos de tucanato – vivencia, hoje, uma espécie de renascimento, com grandes projetos na área da Web.

 
Mas quando se comparam os R$ 2 milhões dos projetos da Secom, a verbinha carreada para a Funtelpa e a esmolinha destinada ao Navegapará com esse derrame de dinheiro na propaganda, o que se percebe claramente é uma absurda inversão de prioridades.

 
Ao que parece não se quer simplesmente informar a população sobre o que está sendo feito do nosso dinheiro – e o governo tem, sim, o dever, a obrigação legal, de informar.

 
Ao que parece o que se pretende é apenas espalhar cerejinhas em cima do bolo, além de garantir o silêncio da imprensa.

 
E quem é que ganha com isso? Apenas as agências de publicidade e os veículos tradicionais de comunicação. Ou seja, é uma montanha de dinheiro público para uns poucos.

 
E o pior é que isso não resolve o gargalo da comunicação governamental e acaba até se revelando um desserviço à Democracia.


Portanto, que me perdoe o Orly: gosto muito dele, acho que é um ser humano sensacional, um sujeito luminoso, quando se trata de marketing político; um adversário de peso em qualquer campanha; e um sujeito que tem, na minha opinião, a melhor agência de propaganda do Pará, com a qual, aliás, sempre gostei de trabalhar – e ele sabe disso muitíssimo bem.


Mas ninguém vai conseguir me convencer de que essa verba de propaganda não pode ser cortada pela metade, ficando em R$ 20 milhões, com o restante sendo destinado, por mexida orçamentária, remanejamento, lei, ou sei lá o quê, para o Navegapará, a Funtelpa e os próprios projetos da Secom. 

 
IV


A meu ver, o problema é que neste atrasadíssimo estado do Pará o PT e o  PSDB não conseguem jogar democraticamente o jogo da informação.

 
Ambos se afiguram aqui como verdadeiras deformações do projeto original. Ambos são tão autoritários, tão arrogantes, que encaram a crítica como ofensa – e não como a contribuição que efetivamente é. Afinal, ninguém perde tempo com aquilo em que não acredita. É simples assim.

 
Penso que é essa visão autoritária, arrogante, que está por trás dessa opção preferencial pela propaganda – e não pela efetiva democratização do acesso à informação.


Ambos preferem maquiar e engrandecer os próprios feitos, em vez de expô-los como realmente são à crítica da sociedade, para que ela possa melhorá-los - como só mesmo ela, a sociedade, pode fazer.

 
Querem um exemplo?


Mesmo sem mexer um centavo no orçamento da Secom é possível criar um canal de comunicação de alto impacto, a obrigar a abertura de espaço nos veículos de comunicação, independentemente de verbas de propaganda: o blog do Jatene ou do Palácio.

 
Isso foi feito pelo Lula, pela Dilma e até pela Ana Júlia, se não me falha a memória.

 
Mas os tucanos têm tanto medo de povo e, especialmente, de formador de opinião, que não conseguem colocar no ar um mísero blog, mesmo sendo o Jatene um intelectual que escreve muitíssimo bem e que, sobretudo, não diz besteira – o que já é uma bênção para qualquer assessor...

 
Não percebem os tucanos que a Comunicação nestes novos tempos, cada vez mais democráticos, terá de ser feita, cada vez mais, é no embate, é no gogó, é na “gastação de cuspe” - e não  através de derrame de dinheiro na propaganda.

 
É por isso que tanto patinaram os tucanos neste primeiro ano de governo Jatene: como têm medo da massa, como nunca tiveram massa, não sabem se comunicar com a massa, a não ser através de constantes tentativas de lavagem cerebral.


Como só uns poucos tucanos não têm medo do embate democrático, não vão pra cima, como fazem os petistas, que compreendem muito melhor do que os tucanos que é no embate democrático que a sociedade cresce.

 
O Governo Jatene precisa, portanto, rever essa prioridade que tem dado à propaganda. Ou vai acabar descobrindo - como descobriram os petistas e já viram, certa vez, também os tucanos - que essa orgia da propaganda, além de apenas enriquecer uns poucos, nem de longe garante a manutenção do poder.


FUUUUUIIIIIIIII!!!!!!!

11 comentários:

Anônimo disse...

Perereca,isso é mais uma demonstração das prioridades do governo Jatene.Então é bom nos prepararmos para as folhas abundantes nos 2 "jornais" e matérias nas TVs e rádios cheias de factóides e realizações no tempo futuro,como assistimos no final do ano.

Anônimo disse...

Este "jornalismo"que tu fazes aqui é o que chamam de jornalismo declaratório?

Anônimo disse...

Mas Perereca, a manutenção do latifúndio da Comunicação é justamente o meio para as Oligarquias politicas e econômicas se manter lá em cima.

Nunca irão abrir desse privilegio espontaneamente ! Ainda mais a Tucanada. que sem manipulação da propaganda já estaria extinta.

Tiberio Alloggio

Anônimo disse...

Esse esquema de "marketing" funciona em todos os níveis de governo. Com a inflação controlada é muito mais difícil superfaturar obras. O caminho da propaganda é o mais fácil de se fazer caixa, por não deixar rastro. Vide o caso do "publicitario" Marcos Valério, no mensalão.

Anônimo disse...

Enquanto isto os servidores da Santa Casa sem GDI.

Isto é que governo preocupado com a população mais carente, com a saúde, educação, sanemento básico, segurança pública.
Vou parar, caso o contrário vão achar eu eu sou candidato: falando dos poucos recursos para educação, saúde, segurança pública e saneamento

Anônimo disse...

O PT descobriu o caminho das pedras com Duda Mendonça e Marcos Valério e Jatene e Ney Messias adaptam com molho de tucupi.

Anônimo disse...

Governo ineficiente gasta mais para dourar a realidade que investindo para mudá-la.Isso é o que dá eleger demagogos.

Anônimo disse...

Na Santa Casa a nossa GDI sumiu,como agora aqui é terra PPS gostariamos que o Jordy tratasse de resolver a situação.Chega de intermediárias,queremos que o Jordy assuma de vez ou arrume alguem mais competente para o lugar da Eunice Begot.

Anônimo disse...

Na Santa Casa estamos penando com essa apadrinhada do Jordy,tratam o corpo clinico como inimigo e nossa GDI passou a ser um problema para receber.O que fazem com esse dinheiro?

Anônimo disse...

O valerioduto começou com o Azeredo em Minas, portanto antes dos petistas.

Anônimo disse...

Em vez dessa orgia de propaganda é bom que o governador comece a trabalhar com seu secretariado para fazerem juz ao que ganham.Se tiver resultados, a divulgação é automática e percebida pelo povão sem precisar gastar tanto.Excesso de recurso para propaganda só depõe contra e o tiro vai sair pela culatra como foi com Ana Julia.Acorde governador que esse não é o caminho.