sexta-feira, 11 de junho de 2010

Tempos necrófagos



Continuo no estaleiro, como diria o CJK. Não quero forçar a minha coluna, que exigirá um tratamento longo – seis meses, no mínimo, conforme previsão médica.


Pelo que entendi – e eu não entendo patavina de Medicina – trata-se de uma espécie de deslocamento de disco, aliada à artrose.


Daí que ainda estou tentando digerir essa informação, enquanto poupo forças para trabalhos que me rendam algum dinheiro. Também aproveito o tempo para ler (Gogol é fantástico!) e até para fazer um curso de HTML, que permitirá iniciar uma série de mudanças neste blog, a partir do começo do mês que vem.


No entanto, continuo a acompanhar as movimentações políticas pelos jornais e blogs.


Simplesmente porque, apesar de tantas preocupações, não consigo largar esse vício que é a política.


Daí que gostaria de dividir com vocês algumas considerações.


I


Na postagem anterior, de 28 de maio, logo após o anúncio da candidatura do deputado Domingos Juvenil (PMDB) ao Governo do Estado, este blog fez algumas previsões, cujo acerto vem se robustecendo nos últimos dias.


Uma delas é a possibilidade de reeleição da governadora Ana Júlia Carepa ainda no primeiro turno, ao capitanear um amplo leque de alianças com alguns dos maiores partidos paraenses, ao mesmo tempo em que mantém a porta entreaberta a uma fatia considerável do PMDB.


Anteontem, onze dias após o anúncio da opção do PMDB por um candidato “laranja”, o PR anunciou a decisão de integrar a chapa de reeleição da governadora – o que confirma a previsão de que a não-participação do PMDB na chapa de Ana Júlia Carepa poderia facilitar as negociações com o PR, que acabou levando a Vice, que caberia ao PMDB.


E a informação que se tem é a de que também o PDT já estaria fechado com a governadora, faltando, talvez, uns poucos milímetros para que também o PTB siga o mesmo caminho.


Outro peso-pesado, o PP, está de há muito com Ana Júlia Carepa.


E, se tudo isso se configurar, o quadro que surgirá à frente dos tucanos paraenses será, simplesmente, assustador: além de deter a máquina estadual e o apoio da máquina federal, a governadora contará com quase 100 prefeituras para essa disputa – se não forem mais, já que boa parte dos prefeitos do PMDB deverá, sim, apoiar a reeleição.


Bem vistas as coisas, Ana reedita a poderosa União pelo Pará, que fez de Almir Gabriel duas vezes governador e conseguiu até eleger a mala pesadíssima, que era, então, o economista Simão Jatene.


Mas ao que parece, essa poderosa coligação não enfrentará, agora, grandes barreiras para que possa chegar à vitória, talvez, ainda no primeiro turno.


Em 1998, Almir teve como adversário a liderança sagaz e carismática de Jader Barbalho.


Em 2002, mesmo sendo Jatene uma grande mala, seu maior adversário foi, de fato, a “onda vermelha” que varreu o país.


Em 2006, a União pelo Pará perdeu para si mesma, por um erro na escolha do cabeça de chapa.


Naquela ocasião, se fosse o outrora mala Simão Jatene a comandar a poderosa máquina de votos da União pelo Pará, e ainda com o apoio formal ou informal do PMDB, os tucanos teriam vencido a eleição no primeiro turno.


Hoje, no entanto, inexistem, no horizonte de Ana Júlia Carepa e dessa “neo” União pelo Pará, pelo menos até o momento, barreiras como uma liderança do quilate de Jader Barbalho ou uma eventual “onda amarela” – muito pelo contrário.


E o caminho está aberto para que essa poderosa máquina de votos denominada “União pelo Pará” realize a proeza que poderia ter realizado, afinal, em 2006.


II


As recentes mexidas no tabuleiro, por raposas como Jader Barbalho e Anivaldo Vale, o morubixaba do PR paraense, desmentem categoricamente o rosário de bobagens que tem sido desfiado pelos tucanos, nos jornais e na internet.


Os tucanos tocaram a espalhar por todo canto que Ana Júlia estava “morta politicamente”; que não tinha a mínima chance de se reeleger e até – vejam só! – que ela nem sequer estaria no segundo turno.


Hoje, no entanto, é o caso de se perguntar: desde quando raposas políticas como Jader, Anivaldo e Gérson Peres se aliam a “defunto”?


Por acaso o Barbalhão, o Anivaldo e o Gérson Peres pretendem realizar um “suicídio coletivo”?


O pior é que os tucanos, contra todas as evidências, insistem nessa bobagem do “já ganhou”; insistem em criar factóides, para “vender” a imagem de uma Ana Júlia “semimorta”.


É como se estivessem acometidos de esquizofrenia política e ou de mania de grandeza: ou, de tanto mentir, passaram a acreditar nas próprias fantasias marqueteiras; ou imaginam que somos todos burros.


Na verdade, a situação dramática dos tucanos paraenses exigiria uma virada de 180 graus na estratégia de campanha. Mas isso só seria possível se conseguissem, de fato, encarar a realidade. O que, aparentemente, é uma possibilidade pra lá de remota.


III


É à luz dos fatos, da dinâmica política, que deve ser lida a recente pesquisa encomendada pelo DEM, no Pará.


É sintomático, por exemplo, que, na mesma semana da divulgação dela, o DEM paraense tenha sentado para conversar com o PT.


É certo que o DEM se encontra numa situação complicadíssima: devido ao comportamento tresloucado, absolutamente inconfiável, do deputado federal Vic Pires Franco, a maioria das lideranças políticas quer é distância do DEM paraense, apesar de seus preciosos minutos de televisão.


Tanto que a corte que lhe faz o PT parece ter um quê de malinagem – e até de autoritarismo - em relação a Simão Jatene, que, sem o DEM, terá um tempo de televisão ainda mais escasso, para levar à população as suas propostas administrativas.


Mas, apesar dessa situação aflitiva do DEM, não deixa de soar esquisito que Vic, além de negociar com o PT, tenha considerado tanto a possibilidade de aderir à reeleição de Ana - ao ponto de até obter um passe-livre da direção nacional partidária, que havia proibido alianças com os petistas.


Ora, a pesquisa encomendada por Vic mostra Jatene como vencedor em qualquer hipótese, em qualquer cenário, em qualquer circunstância – quer dizer, só falta, mesmo, é vestir a faixa...


E, no entanto, lá se foi o Vic conseguir até um passe-livre para, se for o caso, apoiar a “semimorta” Ana Júlia Carepa.


A acreditar no lári-lári tucano, também os Pires Franco foram atingidos pela mesmíssima compulsão de Jader, Anivaldo e Gerson Peres: viraram necrófagos...


IV


O fato mesmo, caríssimo e fiel leitor da Perereca da Vizinha, é que os tucanos erraram todos os prognósticos destas eleições e ainda induziram ao erro todos aqueles que acreditaram neles.


Erraram em dar como certa a vitória de José Serra, a ignorar tanto o caráter mítico da liderança do presidente Luís Inácio Lula da Silva, quanto a perseverança e disciplina de Dilma Rousseff.


Erraram, no Pará, ao imaginar que os petistas seriam incapazes de aprender com os erros e que Ana Júlia Carepa assistiria impassível ao próprio fim.


Em suma: erraram ao imaginar que jogam sozinhos e que inexiste, na Política, a lei da ação e reação.


Tal se deve à arrogância; a essa Ilha da Fantasia em que sempre viveram os tucanos, a imaginar que o distinto público, encantado por truques de mágica barata, estará sempre disposto a estender-lhes o tapete vermelho.


Por isso, em vez de investirem na construção partidária e em um discurso massivo, preferem apostar em fofocas e factóides – um tipo de marketing e de estratégia política que o avanço da sociedade brasileira vai deixando para trás.


Exemplo claríssimo dessa fantasia tucana – e creio que até já escrevi sobre isso neste blog – foi a campanha anti-Lula, dos últimos oito anos.


Em vez de traduzir programa de governo em linguagem popular; buscar o fortalecimento partidário; mostrar à sociedade a diferença entre cidadão e pedinte; mostrar à sociedade os perigos de um Estado gigantesco, os tucanos se puseram, apenas, a futricar sobre a vida pessoal do operário-presidente.


Lula foi tachado de tudo: ignorante, burro, bêbado, nessa coisa tucana de imaginar a sociedade brasileira como um espelho do próprio umbigo, pedante e preconceituoso.


O resultado foi a empatia, cada vez mais profunda, entre a população e o operário- presidente. E a criação do mito Luís Inácio, do qual o PSDB é, sim, um dos pais, ainda que involuntário.


Porque a maioria esmagadora da sociedade brasileira é a cara do cidadão Luís Inácio Lula da Silva: tem parca instrução, fala errado à beça, luta heroicamente para sobreviver, tem moral lassa e adora uma cervejinha...


Daí que esse tipo de oposição, à base de simples ofensas pessoais, tenha até acabado por vitimizá-lo, transformando-o em “herói” do imaginário popular. Afinal, ele é “o pobre que chegou lá” e que foi atacado exclusivamente por isso...


No Pará, a oposição tucana seguiu pelo mesmo caminho: perdeu-se na futricagem de manicures e esteticistas e até na sordidez do patrulhamento da vida sexual da governadora.


E é bem possível que se a comunicação do governo tivesse funcionado, desde o começo, com a mesma eficácia que hoje funciona, Ana Júlia Carepa estivesse tão vitimizada quando Luís Inácio...


Porque ao cidadão, ao eleitor, tanto se lhe dá os erros de português de Lula ou os muitos namorados de Ana Júlia Carepa (e a Perereca registra a enorme inveja em relação à xará...)


O que o cidadão quer saber é se a vida dele melhorou: se tem água, luz, saúde, casa, educação e, sobretudo, dinheiro no bolso.


E é essa situação bem objetiva, bem concreta, que o PSDB nunca soube explorar, já que toda a sua energia foi canalizada para a produção de fuxicos e factóides.


Quer dizer: o PSDB classifica o governo de Ana Júlia como “DSalão”.


Mas é o PSDB que, afinal, se transformou num grande salão de beleza. Ou, pior ainda, numa reles revistinha de fuxicada.


V


Muitos tucanos sentem medo do atual momento do PSDB.


Eu, no entanto, vejo tal momento com grande otimismo.


Penso que uma vez varridos do partido determinados grupos e práticas; uma vez “higienizado” o partido de muitos quadros meramente fisiológicos, será a hora de amadurecer e encorpar, possivelmente, sob a liderança desse grande político que é Aécio Neves.


E se há muita gente que desde agora aposta que 2014 será o retorno de Lula, eu prefiro guardar as minhas fichas, porque imagino que a onda de renovação de Aécio poderá, sim, varrer o país de Norte a Sul, em 2014, à semelhança da onda vermelha dos petistas, em 2002.


E isso, certamente, terá conseqüências no Pará – e a única questão não muito clara é quem terá potencial para encarnar essa grande onda de renovação, no plano local.


Em suma: quando as urnas se fecharem no próximo outubro, começará a corrida para juntar os cacos da oposição e para transformar o PSDB naquilo que deveria ter sido desde o começo - um verdadeiro partido político, coisa que acabou frustrada pelo fato de ter nascido e, imediatamente, galgado o poder.


Pelo encadeamento dos fatos mais recentes, não tenho grandes esperanças em 2010, a nível local – a nível nacional, talvez, um pouquinho mais.


E há uma preocupação que está me deixando de cabelo em pé, até porque a maioria dos jogadores parece estar passando batida: qual o motivo, o porquê, dessa enorme investida petista sobre os mandatos tucanos na Câmara dos Deputados e, especialmente, no Senado?


É apenas para consolidar a base de sustentação de Dilma Rousseff, ou existe alguma grande mexida na legislação, prevista para os próximos quatro anos, para a qual será necessária uma ampla maioria no Congresso?


É só isso que me perturba muitíssimo, porque enxergo as mexidas no tabuleiro nacional, mas, não consigo visualizar o porquê.


Se os companheiros petistas pretenderem mexer no monopólio da informação, acho ótimo – porque é preciso, mesmo, desprivatizar esta coisa que é de fato pública: a informação.


Se os companheiros petistas pretenderem fazer a reforma política, também acho ótimo: sem reforma, não conseguiremos moralizar a política e acabar com essa patifaria do caixa dois.


Mas tenho medo da arrogância petista, que consegue ser, por incrível que pareça, um pouquinho pior que a arrogância tucana...


E só espero é que os companheiros petistas tenham a clareza de perceber que o Brasil não é, afinal, uma “sucursal” do PT.


Reforma, avanço legislativo, não se impõe: apenas, sacramenta um momento cultural.


Sob pena de acabar em insurreição.


FUUUIIIIIIII!!!!!!!!


PS: Peço paciência a vocês, leitores, mas o blog só deve retornar normalmente no final deste mês ou no começo do mês que vem.


Não quero me arriscar a uma nova crise de coluna e preciso realizar alguns trabalhos, porque esse tratamento será meio caro.


Mas a boa notícia é que estou a pensar várias mudanças, para a cobertura eleitoral.


E como este é um espaço antigo e acreditado – e eu, sobretudo, me assumo – penso que este blog pode ajudar muitíssimo no acompanhamento pari passu do quadro eleitoral.


Também preciso quitar algumas dívidas até o final do mês: tenho de responder a alguns e-mails e comentários bacanas e até linkar o blog da Rita Soares, uma grande repórter que, finalmente, resolveu retornar à blogosfera.


E eu só espero – do fundo do coração – é conseguir articular uma cobertura eleitoral que esteja, de fato, à altura de vocês.


Agora, FUUUIIIIIII!!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Demorou mas voltou em grande estilo.
Vai ser difícil não ler suas análises políticas até o fim do mes.
Saia do estaleiro o mais rápido que puder!

CJK disse...

Ana Célia, descanse e volte para navegar na blogosfera quando estiver totalmente recuperada. Abraços.