segunda-feira, 19 de abril de 2010

Eternas discussões

Do leitor Tito Klautau:


"Prezados jornalistas.


Apesar de não conhecer pessoalmente a maioria de vocês, saibam que sou leitor assíduo (diário) de vossos blogs e colunas, pois os coloco entre as melhores fontes de informações sobre o Estado do Pará.


Estou escrevendo um texto procurando traçar um perfil das diversas atividades que meu Pai, Aldebaro Cavaleiro de Macedo Klautau, desenvolveu ao longo dos seus 75 anos de vida.


Ao ler o discurso por ele proferido, como orador da turma, na colação de grau dos advogados de 1929 da, então, Faculdade Livre de Direito do Pará, senti que muito do que foi dito naquela ocasião, poderia ser repetido hoje, pois estaria tratando de assuntos que ainda são constantes na vida dos brasileiros.


Como vocês estão postando matérias sobre as"baixarias" nas campanhas eleitorais, resolvi enviar, em arquivo anexo a este email, as duas primeiras páginas do discurso acima referido.


No discurso, feito há oitenta anos atrás, se mudarmos "palácio de Monroe" por "Praça dos Três Poderes", considero que atualizamos a fala de meu pai.


Concordam?


Abraços do Tito Klautau".


Abaixo, o discurso. E Tito tem toda a razão: é atualíssimo.



A cadeia de São José, vergonhosa afronta à civilização dos povos cultos

O Brasil atravessa uma fase de vida agitada, cheia de graves e terríveis apreensões.


A luta política domina todos os espíritos e todas as classes sociais se movimentam em torno do grande problema da sucessão presidencial. Alistar eleitores, conseguir adeptos a um ou outro candidato, é hoje a questão dominante no seio de nossas sociedades, e a preocupação maior de nossos dirigentes.


Grande motivo de júbilo para os corações patriotas!


O Estado brasileiro parece querer ressurgir, com dignidade e desassombro, de servilismo torpe a que já se ia acostumando.


Podemos, atualmente, dizer, com justa consolação: No Brasil já há luta eleitoral. É, na verdade, o primeiro passo para a almejada existência do livre exercício do voto. O povo, a grande massa constitutiva da nacionalidade nossa, procura compreender melhor o seu valor e se enche de vitalidade.


É digno de calorosos elogios o movimento que ora se desenrola no campo de nossa vida pol1tica. Desoladora, porém, é a atitude dos membros do Congresso Federal, circunscrevendo quase que completamente a sua ação a pueris discussões sobre as virtudes e os defeitos dos nomes ilustres, apontados ao sufrágio de seus concidadãos, nas próximas eleições de março vindouro.


Discursos eloqüentíssimos, orações que empolgam são proferidas nas Câmaras legislativas federais, sem outro interesse que amesquinhar os adversários e receber os aplausos apaixonados do povo curioso que vai ocupar as galerias.


Senhores. Outra e não essa é a missão de nossos parlamentares. A propaganda eleitoral deve ser feita em outros campos e por outros meios. Ai estão a imprensa e a tribuna popular.


O Congresso não foi criado para ser teatro de exibições, nem arena para ai se digladiarem, por interesses quase sempre pessoais, os nossos ilustres Licurgos.


Há tantos e tão urgentes assuntos a resolver no Brasil.


O de que mais precisamos não é encarado como o deveria ser pelo nosso poder legislativo.


Inteiramente esquecidos de seus deveres primordiais, estão muitos congressistas brasileiros.


Necessária se torna uma reação no sentido de transformar as sessões que se realizam no palácio de Monroe, em esperançosas fabricas do progresso da Nação. E isso só conseguiremos se os nossos legisladores, compenetrados da elevada missão que lhes conferiu o voto popular, elaborarem, para submeter as discussões de seus pares, projetos de relevante importância sobre as questões mais palpitantes, que afetam bem de perto a vida da nacionalidade.


A debatida e nunca solucionada questão de extermínio ao analfabetismo é ainda encarada pelos representantes do povo com uma indiferença pungentemente contristadora.


A instrução superior, principalmente, tende a se constituir, dentro em breve, um privilégio das classes protegidas da fortuna.


E, será assim, encarecendo e dificultando cada vez mais o ensino, taxando com exorbitância as contribuições escolares, que poderemos conseguir a diminuição da grande percentagem de analfabetos que, infelicitando a Nação, entrava o progresso do seu povo? Certamente que não.


Ao lado desse revoltante desprezo a que se acha lançada a alfabetização da nossa gente, assoma por sua capital importância, a desafiar as atenções de nossos governantes, o estado deplorável da quase unanimidade das prisões no Brasil.

 (Vou pedir que o Tito mande o restante do discurso. Afinal, parece que toca em outra discussão atualíssima: o sistema carcerário)


3 comentários:

TITO KLAUTAU disse...

Prezada Ana Célia.
Obrigado pela divulgação do dicurso "octogenário".
Estou terminando de digitar e editar o restante dele, prometendo enviar, via email, assim que estiver pronto.
Um abraço do Tito Klautau.

Anônimo disse...

Meu irmão Tito; poucos, hoje, sabem da sua história de dignidade, conceito que nosso pai transmitiu a todos nós. Você foi o primeiro presidente do DCE - Diretório Central de Estudantes - LIVRE no Pará. Tenho orgulho de ser seu irmão.
Afonso Klautau

TITO KLAUTAU disse...

Prezada Ana Célia.
Permita que use teu blog para um "correio eletrônico sentimental".
Meu irmão Afonso de Ligório, também tenho orgulho de ser seu irmão.
Mas, vamos deixar de ocupar o espaço da Ana Célia, quando podemos usar um espaço nosso.
"Estou rico", tenho quatro emails:
sebastiaoklautau@gmail.com
sebastiaoklautau@hotmail.com
sebastiaoklautau@yahoo.com.br
klautau@estadao.co.br
Pode usar o que achar mais "simpático".
Me informe seu novo email, porque aquele do "TERRA" parece que você não pagou e ele está desativado.
Aconselho a usar um gratuito.
Já basta de "frescura".
Continuo lhe amando como sempre amei.
Um beijo do irmão Tito.
Desculpa Ana Célia, para ti, um abraço do Tito Klautau.