Uma questão de classe
Ao responder aos anônimos que colocaram em dúvida a informação que divulguei acerca dos extraordinários gastos de propaganda e publicidade, previstos pelo Governo do Estado, para o período 2009-2011 (mais de R$ 207 milhões, o equivalente à construção e equipamento de quatro hospitais como o Metropolitano) dizia eu que não entendo e nem jamais gostaria de entender como é possível torrar tanto dinheiro em propaganda num estado miserável como o Pará.
De lá pra cá, porém, pus-me a refletir acerca disso. E acabei chegando à conclusão de que tais gastos são absolutamente compatíveis com o atual Governo.
Não, caro leitor; não pretendo “aliviar a barra” da minha xará, a governadora. Não pretendo, de forma alguma, encontrar justificativa para um desperdício tão escabroso de dinheiro público.
Mas, apenas, tentar entender como é que algo assim pode acontecer em uma sociedade democrática. Até para evitar, talvez, que a gente incorra em erros semelhantes no futuro.
Creio que para entendermos esse escândalo da propaganda, que me parece conectado a todos os demais escândalos recentes (o Caso Hangar e os kits escolares) é preciso remeter não apenas às eleições de 2006, mas, principalmente, à própria origem da governadora do Pará.
Ana Júlia Carepa e sua troupe vêm da classe média alta paraense.
São, todos, uns filhinhos de papai que não sabem sequer onde é que fica a Vila da Barca.
Nada de mais, uma simples questão de origem, se, ao longo da vida, não tivessem incorporado alguns dos piores vícios dessa classe que os pariu.
Como o deslumbramento pelos salões da high society.
Como a utilização dos bens e serviços públicos como mera extensão de um quintal particular.
Como a arrogância e a intolerância diante da crítica – aquela coisa nojenta do “você sabe com quem está falando?”.
Como a participação nos movimentos sociais apenas como uma “excentricidade”; uma ação “pitoresca”, para comentar em algum chazinho beneficente ou num círculo de intelectuais entediados...
Sim, porque tirando Ana Júlia e mais um ou dois, quem é, nessa troupe; quem é, na Democracia Socialista (DS) que sabe, ao menos, o que é distribuir UM panfleto?
Quem é, na DS, que conhece, de fato, a miséria, ali, ao vivo e em cores – e não, apenas, de romances ou tratados filosóficos?
Quem é, na DS, que já ralou para organizar uma greve, uma manifestação?
Quem é, na DS, que já pegou porrada; que já foi preso, detido, demitido ou até ameaçado de morte por sua atuação política?
Não, na maioria, a atuação política dessas pessoas, dessa “esquerda do Iguatemi”, se resumiu, se tanto, às teses universitárias – e a maioria delas absolutamente imprestáveis, pois, que atropeladas pelo avanço da sociedade democrática.
Daí que a DS não tenha base popular – e nem mesmo sustentação na “Academia”.
Daí que a DS nunca tenha conseguido ser além de um “quisto” dentro do PT.
No entanto, no Pará, essa corrente, minúscula e autoritária, conseguiu chegar ao poder.
Porque possuía essa liderança carismática, que é a Ana Júlia Carepa.
É claro que o fato de o PT ter no Governo, não uma corrente majoritária, como a Unidade na Luta ou o PT pra Valer, mas, um grupelho sem qualquer representatividade, só poderia dar nisso.
E esses gastos absurdos em propaganda são um caso emblemático.
Como está habituada ao compadrio, aos salões da high society, a DS não conhece outra forma de fazer propaganda que não seja essa, de privilegiar os grandes veículos de comunicação e de derramar dinheiro em publicações caríssimas, para meia dúzia de intelectuais.
E, é claro, não sejamos ingênuos, não conhece outra forma de amealhar recursos eleitorais.
Não quero “passar a mão” no PT – afinal, tem muito “companheiro” mamando nas tetas desse governo; tem muito “companheiro” que não está mais nem aí para a necessidade de buscar alternativas menos problemáticas ao financiamento de campanha.
Mas, o fato é que, muito provavelmente, não teríamos esse derrame de verbas públicas, em uma coisa como a propaganda, se quem estivesse no poder fosse uma corrente com representatividade partidária e social.
Tenho pra mim que o motorista ou a costureira; o agricultor ou a líder comunitária que fosse chamado a participar das discussões da Unidade na Luta, por exemplo, jamais admitiria uma coisa assim.
Porque é evidente o descalabro de uma coisa dessas para a inteligência luminosa, sem rodeios, do nosso povo...
Sem sustentação partidária; sem sustentação no movimento popular; sem sustentação, por idéia que preste, na intelectualidade; sem experiência em gestão pública; sem capacidade de diálogo, sem experiência política e sem humildade para admitir os próprios erros só resta ao Governo da DS isto mesmo: torrar dinheiro público em propaganda.
E propaganda, especialmente, nos grandes veículos de comunicação.
Para tentar tapar o sol com a peneira.
Mas, também, para garantir o champagne e o caviar entre os “barões” da terrinha.
Porque, para além de Marx, bacana é “scotchear” à pérgula....
Porque, afinal, ninguém é de ferro...
FUUUIIIIIII!!!!!!
3 comentários:
Ah perereca sapeca !
Se eu te pego de cuecas !
Aí, animal, senti firmeza na indignação. Essa irmã do pedófilo foi a maior deceptude para nossos conterrâneos ababacados. O que pensas que aconteceu com nossa herança cabana? Não ferve mais o sangue de ninguém poraí com tanta leseira rolando solta, além do teu e o do Lúcio Flávio Pinto e o de uma meia dúzia de membros da energúmena grei de ébrios da urbe? Ninguém fala em impeachment, paredon, greve geral, nada? A caverna já está tão mal iluminada que pouca gente ainda se lembra das formas das sombras projetadas em suas paredes e a ilusão se transmutou em desesperança. Estamos ferrados...
Ana Célia,
Não dá para publicar de forma discriminada como essa dinheirama foi gasta, ou seja, quem recebeu mais, quem recebeu menos e em que período? Assim a gente sabia quem é o mais apadrinhado dessa derrama.
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