Depois de muito instigar o Tico e o Teco, cheguei a uma triste conclusão: perdi quase dez anos da minha vida, encantada com os tucanos paraenses. Em outras palavras, comprei gato por lebre.
Ao longo de todo aquele tempo, não percebi o que os tucanos são, de fato: a mesmíssima elite da Borracha, que acendia charutos com notas de sei-lá-quantos de réis. E que importava tecidos, mármores e óperas da Europa, enquanto a caboclada, o povinho do nariz furado, sobrevivia abaixo de cão.
É a mesma elite...A mesmíssima aristocracia do Baile da Ilha Fiscal e da Revolução Francesa, entretida com suas danças e brioches, enquanto nós, o povo, afiávamos a guilhotina, para nos livrarmos de uma dominação perversa.
Não há explicação possível para a megalomania dos tucanos, a não ser esta, que só agora compreendo: eles são os neobarões da borracha. Os sujeitos do “Bota-Abaixo” das favelas, os escravocratas dos seringais, que se imaginam sobre-humanos – e que, por isso, não podem ter os olhinhos emporcalhados pela miséria da plebe rude, que exploram à exaustão.
São os “Belos e Bons” da Grécia antiga. Mas que, no entanto, apesar da auto-imagem turbinada, cagam, peidam, arrotam e mijam como todo e qualquer ser humano.
Com seus talheres e porcelanas, as pratarias e faianças, imaginam esconder o prazer que sentem, como qualquer bicho, quando devoram um outro bicho, para saciar a fome.
Com suas roupas caras, boníssimas maneiras e gestos ensaiados, acreditam, piamente, que podem branquear este sangue índio, negro, caboclo que corre nas veias de todos nós.
Este rosto indisfarçavelmente miscigenado, no qual coabitam a pele clara, os olhos claros, o nariz de batata e o cabelo crespo.
Sinto nojo de gente assim. Dessa gentalha ignorante e pobre de espírito que imagina que só porque ouve ópera, ou porque contempla, displicentemente, as asas de uma borboleta é mais do que os outros.
Que tratam os outros como inferiores e não percebem que não passam de parasitas sociais, com capacidade de sobreviver no fundo da retrete, na qual a sociedade já cansou de dar a descarga.
A verdade é que, apesar de acreditar nos ideais tucanos, nunca me senti confortável entre os “maiorais” deles.
Nunca consegui linkar “saber” e superioridade, até pela consciência que sempre tive de que o “saber” é construção societária.
A essa gente falta a humildade de se “ver” diante da História e do Universo.
A capacidade de se descobrir comida pra verme, um mero ciclo. Ou um simples átimo, em toda a extensão da Temporalidade.
Quanto mais investigo os tucanos, mais indignada fico, porque mais lesada me sinto (e já começo até a imaginar se tal não passa de malinagem da ex-oposição...).
Há uns dez anos, se alguém me contasse as histórias do Centro de Convenções, do Projeto Alvorada, do Eduardo Salles, do Marcelo Gabriel e do Chico Ferreira, do Parque da Pirelli eu diria: é mentira, politicagem...
E, no entanto, como que por uma dessas ironias do destino, coube justamente a mim, uma tucana de coração mesmo, mesmo amarelinho, investigar ou divulgar boa parte de tudo isso...
Nunca consegui confiar no Jatene e sempre tive nojo desse tal de Paulo Chaves. E de toda essa tucanada de nariz empinado que desfilava pelos salões da corte. Uma gentalha pusilânime que maltratava quem estava embaixo, mas que rastejava, se comportava que nem verme, diante de quem estava em cima. A gentalha que adorava repetir aquela odiosa elegia ao servilismo: manda quem pode, obedece quem tem juízo...
Mas, admirava, sinceramente, Almir Gabriel. Nos discursos que ele fazia, eu como que identificava a minha própria voz... Afinal, as coisas que ele dizia, acerca da ética e da moralidade no trato da coisa pública e da necessidade de termos um Pará mais justo, é tudo em que eu sempre acreditei.
E quando eu trabalhava no governo dele e ouvia os discursos dele, sentia um baita orgulho de participar de um grande projeto de construção da Cidadania. Sentia-me sinceramente honrada em participar do governo daquele que eu julgava ser o maior governador da História do Pará...
A vida é estranhamente irônica... É estranhamente mordaz...
Hoje, vejo que não fui mais que uma ingênua a comprar banha de cobra, a panacéia comercializada por marqueteiros espertos.
Deixei-me levar pela emoção e fui enlaçada por meras palavras. E, apesar de tudo o que já li – e, sobretudo, vivi – esqueci que a prática é, de fato, o único e grandioso critério da verdade...
Nunca mais vou amar um partido, como amei o PSDB. Nunca mais vou acreditar em qualquer ideal, como acreditei naqueles ideais. Nunca mais vou admirar um político, como admirei Almir Gabriel.
Todos os políticos, para mim, de repente, viraram gente de carne e osso...
A porrada, por mais dolorosa que seja, tem sempre dois lados. A gente sofre. Mas, sobretudo, cresce.
5 comentários:
Que é isso Prereca. Não se afobe não, que nada é prá já....aí mesmo do seu lado tem um grande líder, honrado, trabalhador, preocupado com os mais pobres, que se dedica dia-e-noite pelo desenvolvimento do Estado e que, em toda sua vida, teve uma conduta ilibada. Até provou para o Pará e o Brasil toda sua inocência, por causa de ataques mentirosos, baixos, rasteiros, vindos da laia política. Fico feliz de vê-la finalmente trabalhando nas empresas dele e sendo sua fiel escudeira, pessoa de confiança mesmo. Demorou, mas valeu a pena Perereca. A justiça tarda, mas não falha. Você está literalmente - e deve levantar todos os dias as mãos para o céu e agrader a Deus, vivendo no paraíso, num lugar ilumindado, puro, da honradez no trato do dinheiro público. Que bom não é mesmo. Imagino como você deve estar feliz agora, depois desses 10 anos de sofrimento. Você já merecia isso faz tempo:mas antes tarde, do que nunca...
Nêga, lembra duma coisa: nada é tão ruim que não possa ficar pior...
Realmente como disse o anônimo das 11:49 AM, você está aonde sempre deveria estar desde o início. Como é extremamente séptico o ambiente em que trabalhas! Parabéns é continue com essa coerência e escrúpulo que lhe é peculiar.
Essa dor na consciência é foda! Não convenceu ninguém.
minha perereca, olha só no meu blog o tanto de perecas que eu ganhei de amigos para ilustrar a campanha da marta suplicy. beijos.
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