Jatene: 84% dos gastos classificados como impossíveis
de licitar. Assim, não tem dispensa de licitação que resista...(Foto: Isto É) |
Os gastos sem licitação do Governo do Pará atingiram, no ano passado, cerca de R$ 13,3 bilhões, ou quase 90% da despesa total.
A despesa ficou em R$ 14,9 bilhões.
Mas o Governo considerou 84,09% (ou mais de R$ 12,5 bilhões) como gastos não passíveis de licitação.
Outros R$ 760,5 milhões foram pagos através de dispensas e inexigibilidades licitatórias.
E os suprimentos de fundo (que são despesas “ilicitáveis”, mas que são contabilizados à parte) ficaram em mais de R$ 13,6 milhões.
Resumo da ópera: dos R$ 14,9 bilhões gastos pelo Governo, apenas R$ 1,6 bilhão foi pago a partir de licitações.
Veja:
Pagamentos aos quais não se aplica licitação: R$ 12.537.228.526,82
Dispensas de licitação: R$ 343.922.907,06
Inexigibilidades de licitação: R$ 416.634.778,06
Suprimentos de fundo: R$ 13.677.597,71
TOTAL DE GASTOS SEM LICITAÇÃO: R$ 13.311.463.809,65
Despesa total: R$ 14.909.531.343,49
QUANTO FOI LICITADO: R$ 1.598.067.533,84
Percentual de gastos sem licitação: quase 90%
Governo detalha “ilicitável”...
Há pagamentos do Poder Público que são bastante elevados e que não podem, de fato, ser licitados.
Na página 72 do Balanço Geral do Estado de 2012, o Governo explica que as despesas às quais a licitação é inaplicável englobam o pagamento de pessoal e encargos; amortização, juros e encargos da dívida pública; auxílios alimentação e transporte; subvenções; sentenças judiciais; transferências a instituições privadas; transferências a municípios; transferências à União; e inversões financeiras (desapropriações e aumento de capital).
Na página 73, detalha o peso de tais pagamentos nos R$ 12,5 bilhões de despesas “ilicitáveis” do ano passado.
Só pessoal e encargos, que consumiu mais de R$ 8 bilhões, correspondeu a 64,42% desses R$ 12,5 bilhões.
Já as transferências aos municípios, que somaram mais de R$ 2,1 bilhões, tiveram participação de 17,09%.
E há, ainda, impressionantes R$ 407 milhões transferidos a entidades privadas sem fins lucrativos, que corresponderam a 3,25%.
Veja nos quadrinhos as explicações do Governo (clique em cima deles para ampliar):
...Mas qual a margem, realmente, do “ilicitável”?
O problema é que esses 84,09% representam o maior percentual dos últimos cinco anos (pelo menos) de despesas consideradas não passíveis de licitação.
Em 2007, os petistas meteram os pés pelas mãos e classificaram como “ilicitáveis” apenas 41,05% da despesa – o que é impossível, já que só o pagamento de salários e encargos correspondeu, naquele mesmíssimo ano, a 40,07%.
Mas, em 2008, 2009 e 2010, essa classificação melhorou – e o percentual de gastos “ilicitáveis” acabou ficando em cerca de 70%.
No entanto, em 2011, o PSDB reassumiu o Governo e classificou como “ilicitáveis” 81,77% da despesa – ou 11,77% a mais do que na gestão petista.
E em 2012 ampliou essa margem para 84,09%.
Percentuais valem milhões.
Esses 3% de diferença de gastos “ilicitáveis”, entre 2011 e 2012, podem parecer pouca coisa, mas, não são: eles correspondem a uns R$ 345 milhões - ou cerca de 9 vezes o que foi investido na construção do Hospital Metropolitano, que custou R$ 36 milhões, em valores atualizados pelo IPCA-E.
Faça as contas: calcule quanto representariam 81,77% na despesa total do ano passado e subtraia de R$ 12,5 bilhões.
E, se quiser, vá mais fundo: calcule quanto representariam os 70% da administração petista nas despesas do ano passado (a diferença é superior a R$ 2 bilhões).
Outro problema é a estreita relação entre o “ilicitável” e o que é considerado dispensa ou inexigibilidade licitatória: quando um grupo desce, o outro sobe.
Isso ficou claro no BGE de 2007, aquele em que os petistas meteram os pés pelas mãos: como o “ilicitável” alcançou apenas 41,05% da despesa, os gastos classificados como dispensas e inexigibilidades licitatórias atingiram 48% - o que também é impossível, diga-se de passagem.
No BGE/2012, como você leu acima, o Governo diz que a Sefa emitiu a Nota Técnica 01/2011, padronizando “procedimentos de classificação na Modalidade de Licitação 'Não Aplicável' , quando do empenhamento da despesa pública” (Nota do blog: não existe essa modalidade de licitação).
E que a Sefa também estabeleceu parâmetros, no Siafem, para não permitir que dispensas e inexigibilidades sejam empenhadas “em categorias e tipos de despesa onde não se aplica a licitação”.
Mesmo assim, o crescimento do percentual de gastos “ilicitáveis” valeria uma apuração pela sociedade e pelo Ministério Público, já que, como você viu, essa diferença se traduz em milhões.
Além disso, a Nota Técnica da Sefa é de 2011.
DL e inexigibilidades consomem mais de 30% do “licitável”
Outro problema é o peso de dispensas e inexigibilidades licitatórias no pouco que sobrou, no ano passado, para ser licitado.
Quando se subtraem da despesa total esses R$ 12,5 bilhões de pagamentos “ilicitáveis” e os R$ 13,6 milhões em suprimentos de fundo, sobram exatos R$ 2.358.625.218,96.
Esses R$ 2,358 bilhões, que representam apenas uns 15% da despesa total, são os gastos que poderiam ter sido submetidos à licitação.
No entanto, as dispensas e inexigibilidades somaram mais de R$ 760,5 milhões.
Ou seja, mais de 30% do que poderia ser licitado.
A boa notícia é que as dispensas e inexigibilidades caíram a menos da metade, em valores históricos, em relação a 2010.
E caíram, ainda, uns 30% em relação a 2011, também em valores não atualizados.
E isso seria, sim, até um motivo para elogiar o Governo Jatene, não fosse o impressionante aumento dos gastos "ilicitáveis".
Na próxima reportagem você vai ler sobre as despesas em propaganda do Governo do Estado, que ultrapassaram R$ 40 milhões.
Leia reportagens da Perereca sobre os gastos sem licitação do Governo do Pará:
Jatene gastou R$ 11 bilhões sem licitação em 2011 – ou mais de 90% de tudo o que foi empenhado no ano passado: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2012/03/jatene-gastou-r-11-bilhoes-sem.html
Ministério Público Estadual investiga gastos sem licitação do Governo Jatene: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2012/08/ministerio-publico-estadual-investiga.html
E confira os quadrinhos (clique em cima deles para ampliar).
Aqui, os gastos do Governo "ilicitáveis" e por modalidade de licitação em 2007:
Em 2008:
Em 2009:
Em 2010:
E em 2011:
3 comentários:
Isto é um absurdo, este governo brinca com os paraenses. Não precisa ser nem um grande contabilista pra saber que isto se chama: roubo, caixa 2.
Meus Parabéns!!!!
Vc. é muito importante nessa conjuntura informativa neste Estado sacaneado por estes políticos na gastança disfarçada.
Queria ver um desse sobre o Poder Legislativo, principalmente, nessas viagens ditas de "itinerantes"
Um forte abraço e que Deus nos ilumine.
Esta merda do MPE comeu abiu??????
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