terça-feira, 28 de agosto de 2018

O Candidato VV




Diz um manuscrito do Mar Morto, que numa galáxia e num tempo muito, muito distantes, havia um cidadão, chamado Alck-Mon, que queria porque queria ser rei.

Alck-Mon havia metido na cabeça que fora “ungido” pelos deuses, para reinar naquele pitoresco país.

O problema é que ele não tinha o menor carisma e ninguém apostava um dedal de mel coado nele.
Mas Alck-Mon, que só acreditava no seu Oracular Umbigo, afirmava que chegaria lá.

Tão impressionante era a ilusão que acalentava, que amigos e inimigos, já compadecidos, resolveram apelida-lo de “Chuchu’s Picolé’s”.

_Vai ver que agora ele se manca! – disse um amigo de longa data.

Mas Alck-Mon continuou a dar ouvidos apenas ao seu Umbigo, que, à semelhança do espelho da Malévola, vivia dizendo que ele era a maior maravilha do mundo.

O problema é que Alck-Mon encasquetou com aquela história de “Chuchu’s Picolé’s”.

Por que já esse negócio? – perguntava a todos que o cercavam, como se o apelido não fosse autoexplicativo.

Até que o Umbigo, também penalizado, disse-lhe: “Isso é um elogio, Alteza! Significa que Vossa Majestade não fede nem cheira; não tem, rigorosamente, gosto de nada! Pior, mermo, é o que já tão chamando pra um certo candidato, lá da Província do Já Teve: Picolé de Sardinha!”

_Picolé de Sardinha?!!! – espantou-se Alck-Mon.

_E não é, Alteza? O sujeito é intragável: faz picolé de chuchu parecer até manjar dos deuses! Parece até VV – Viagra Vencido! Não tem o que alevante o coitado! Nem pagando pesquisa fuleira, ele consegue dar uma subidinha! Um horror, Alteza, um horror!...

_E quem é esse candidato já? – quis saber Alck-Mon.

_É o seu correligionário, Alteza – respondeu o Umbigo – Aquele pobre coitado que o Jate-Mon escolheu pra boi de piranha. E o pior é que o coitado acreditou, Alteza! Ele acreditou!!!

_Ele acreditou no Jate-Mon?!!! – espantou-se Alck-Mon.

_E não é, Alteza? O sujeito é tão burro e vaidoso que até acreditou no pilantra dos pilantras, no capo di tutti capi – disse o Umbigo. E olha que até as pedras sabem que quando aquele Jate-Mon bate no ombro de alguém e diz: “caboco, eu preciso de ti!”, pode contar que bobeatus sunt, enrabatus est!

_Coitado do VV!... – suspirou Alck-Mon, meneando a cabeça.

E lá se foi o nosso rei-que-nunca-foi, todo contente, já que havia candidato em bem pior situação.

Quanto ao seu Oracular Umbigo, conta-se que resolveu fazer um ThetaHealing básico com o umbigo do VV.

Afinal, nunca, jamais, em tempo algum conseguira encontrar tamanha capacidade ilusionista em um congênere.

FUUIIIIIII!!!!

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Almas excessivas




Éramos muito moleques – jovens e muito moleques...

Para você ter ideia, caro leitor, uma das nossas brincadeiras favoritas era apertar as campainhas das casas de uns pobres coitados e sair correndo.

Em geral, era alta madrugada e estávamos pra lá de bêbados.

(E eu fico imaginando a raiva que deviam sentir os donos daquelas casas, cujas campainhas aqueles cavalões resolveram apertar...)

Não havia “recanto sórdido” desta cidade que não frequentássemos: Lapinha, Bar do Parque e até um tal de Bar do Francês, que ficava em plena Riachuelo, e que eu acho que nem existe mais.

Certa vez, lá no Bar do Francês, demos até para escrever poesias – e poesias, obviamente, pornográficas.

Era proibido? Era maldito? Ah, mas nós adorávamos todas as proibições e maldições!

Elas como que nos faziam sentir viva a alma; elas como que nos aproximavam dos malditos de todos os tempos, que tanto admirávamos.

Éramos todos profundamente excessivos: bebíamos demais, transávamos demais, trabalhávamos demais...

Precisávamos devorar a vida, antes que ela nos devorasse...

Embora jovens, havia em nós uma urgência difícil de explicar.

E junto a ela, entrelaçada com ela, uma profunda descrença em quase tudo o que nos rodeava.

Hoje, olhando para trás, penso que o que nos irmanava, em verdade, era a dor de estar vivo, coisa que a maioria passa pela vida sem nem mesmo perceber, mas que nós compreendíamos tão bem...

Como gostávamos de ler, pensar, escrever, tínhamos, ainda jovens, a perfeita noção de nossa própria efemeridade, e de tudo o que muitos imaginam “eterno”...

De certa forma, descemos às entranhas do mundo, da História e das gentes. E não, não gostamos do que vimos, inclusive, em nós.

É daqueles tempos vorazes que me lembro do Euclides Farias, que ontem partiu para junto de Nosso Senhor.

Éramos uma turma grande, quase todos jornalistas do jornal O Liberal.

Tínhamos uns 20 e poucos anos e estávamos praticamente a iniciar nessa profissão, que, certamente, nenhum de nós imaginava o quanto nos cobraria...

Confesso que, nos últimos anos, quase nem falava com o Euclides, pouquíssimas vezes o vi. Assim como há muitos anos também não vejo todos os que faziam parte daquela nossa molecada.

Nossas vidas, por vezes, tomaram rumos improváveis.

Para começo de conversa, sobrevivemos, e bem mais que o esperado, às nossas almas excessivas: viramos papais e mamães, vovôs e vovós, além de profissionais tarimbados.

E, é claro, nunca mais saímos por aí apertando as campainhas alheias, até porque o reumatismo já não nos permite...

No entanto, apesar da distância, sei que todos nos levaremos pro túmulo, nas lembranças daqueles tempos tão fantásticos...

Agora mesmo, enquanto escrevo, quase que consigo enxergar o Euclides, o nosso “Urubu Malandro”, bêbado que nem um cacho.

Aliás, vou até tomar umas quantas, em homenagem a ele, ao som do nosso amado Noel.

Até breve, cumpadi. Até breve, Urubu.

FUUUIIIII!!!!!