domingo, 26 de maio de 2019

Indícios de inquérito são contra Beto Jatene, mas polícia investiga é a Perereca. Valei-me, minha Nossa Senhora das Forças Ocultas!

Beto Jatene é preso, em 2016, acusado de integrar uma quadrilha...
 
...Mas polícia investiga é a Perereca da Vizinha. Pode isso, Arnaldo?



Ao que parece, a Delegacia de Lavagem de Dinheiro andou, realmente, a me investigar (leia a postagem anterior sobre esse caso: http://pererecadavizinha.blogspot.com/2019/05/delegacia-intima-perereca-em.html). 

Na última quinta-feira, 23/05, durante o meu depoimento, acabei mexendo em alguns papeis que estavam em cima da mesa do delegado (sabe como é jornalista, né leitor?).

Aí, dei de cara com um minidossiê a meu respeito, com a lista dos processos a que respondi, em decorrência de reportagens do meu blog. Também havia várias cópias de postagens da Perereca, pelo menos uma delas sem relação aparente com o elemento motivador dessa investigação. 

Além disso, as perguntas do delegado giraram tanto em torno do meu blog e da minha carreira jornalística, que até pensei comigo: “Pooooxa! Se ele tivesse me avisado, tinha trazido uma autobiografia! Perereca’s Lifestyle! O maior best-seller de tudo que é charco!” 

Mas o pior é que até agora o meu Tico e Teco estão se estapeando, pra modo de entender o porquê de tanto interesse “nimim”, já que o documento que embasa essa investigação fala em crimes que teriam sido cometidos pelo Beto Jatene, filho do ex-governador Simão Jatene. 

Por causa disso, até me peguei a rezar pra Nossa Senhora das Forças Ocultas, a verdadeira padroeira do Pará: “Mas por que será, minha santinha, que o Ministério Público Estadual e a nossa poliça não pegam o Beto Jatene? Será que eles têm medo de acabar que nem o procurador Nelson Medrado e o promotor Armando Brasil, que passaram a sofrer toda sorte de perseguição só porque ‘ousaram’ investigar o filho do ex-governador?” 

E veja só que coisa, caro leitor: essa questão é tão esotérica, que até agora nem Nossa Senhora das Forças Ocultas conseguiu me responder... 

Segundo o delegado, essa investigação começou no Ministério Público Estadual, a partir de uma denúncia anônima, sobre uma carta de um tal de Jonas Santiago. 

Nela, esse tal de Jonas afirma, a um tal de Manuel Clemente, que sabe de todas as falcatruas de um dos sócios do Beto Jatene, para ocultar a real dimensão patrimonial do filho do ex-governador. 

E onde é, cargas d’água, que entro nessa história? 

Segundo o delegado, as certidões da Junta Comercial do Pará (Jucepa) mostrando os postos de gasolina do Beto Jatene, e que são citadas na tal missiva (ou a acompanham, sei lá), estão no meu blog. 

O problema, como expliquei ao delegado, é que essas certidões são de fácil obtenção por qualquer pessoa. 

Basta chegar na Jucepa, preencher um formulário, pagar as taxas e pedir uma certidão de todas as empresas, presentes e passadas, de um determinado CPF – ou até de vários CPFs. 

A partir dessa certidão, você preenche novos formulários, paga novas taxas e requisita todas as constituições e alterações societárias daquelas empresas. 

E se alguém tentar lhe negar acesso a essa documentação, você pode até entrar na Justiça, já que são todos documentos públicos. 

Assim, não há nem como afirmar que essas certidões foram extraídas do meu blog. Os documentos podem ser idênticos, os mesmos, porque saíram da mesmíssima fonte: a Jucepa. 

Além disso, o potencial inicial de acesso e download de qualquer blog e documento que esteja na internet é de 7,7 bilhões de pessoas – ou seja, toda a espécie humana. Sim, porque a filtragem estatística desse universo é uma operação posterior. 

Então, que culpa tenho se alguma dessas 7,7 bilhões de criaturas resolve baixar esses documentos, pra corroborar as histórias que conta por aí? 

Se for assim, o Ministério Público e o Judiciário também têm de ser responsabilizados pela UTILIZAÇÃO dos documentos públicos que colocam na internet, infinitamente mais comprometedores do que uma simples constituição societária. 

Outro problema é que a carta desse tal Jonas Santiago é uma daquelas correntes que circularam na internet (por email ou whatsapp), nas eleições do ano passado. 

Eu mesma recebi esse texto – embora ache que era bem menor. E creio que Belém estava alvoroçada, porque várias pessoas me ligaram dizendo: “olha, já viste isso? Por que é que não investigas?” 

Lembro que foi tanta insistência, que até resolvi dar uma olhada nisso. E depois de muita procura, acabei até chegando ao telefone de um clube de caça, de tiro, ou sei lá o quê, que seria frequentado por esse tal de Jonas Santiago. 

O problema é que preciso comer, né? E aí fui fazer matérias bem mais concretas e até me esqueci desse troço. 

Mas o que realmente me causou estranheza foi o interesse do delegado pelo meu blog e pela minha carreira profissional – meu depoimento girou quase que inteiramente em torno disso, como se pode ver no quadro acima, que o reproduz  quase na íntegra. 

Não sei se o delegado imaginava que sou alguma estranha no ninho jornalístico, porque até me perguntou onde já havia trabalhado. 

Então, informei: O Estado do Pará, A Província do Pará, O Liberal, TV e Rádio Cultura, Diário do Pará, Governo do Estado, Senado Federal. 

Mas como não levei meu currículo, até porque não imaginei que fosse necessário, esqueci-me da Assembleia Legislativa do Pará, da Câmara de Vereadores de Belém, dos freelas que fiz para agências de publicidade, nestes 40 anos de profissão, que completarei em abril ou maio do ano que vem. 

Aliás, até mostrei ao delegado a minha carteira de jornalista e pedi-lhe que anexasse uma cópia aos autos desse inquérito, eis que, se não possuo diploma de Jornalismo, tenho, sim, registro profissional e sou até sindicalizada no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Pará. 

Ademais, já existe uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), quanto à desnecessidade de diploma, para essa profissão. 

O delegado também me perguntou como surgiu o meu blog, o porquê do nome “A Perereca da Vizinha”, se possuo algum tipo de financiamento ou colaborador, e se todas as matérias publicadas são de minha autoria. 

Mas a pergunta que mais me impressionou foi se me considero “imparcial”. 

Porque aí, o meu Tico e Teco começaram a gritar: “Égua, que essa nossa Acadepol tá du cacete! Pois num é que ela já até ensina o que é ‘parcialidade’ e ‘imparcialidade’ jornalística? E nós, jornalistas, nos debatendo há séculos com isso, quando tudo o que precisava era a gente entrar pra Acadepol!... Égua, que isso deve de ser fun-da-men-tal pra atividade da nossa polícia! Se duvidar, vai acabar tudo monge budista!” 

Aí, expliquei ao delegado que também realizo postagens opinativas - como esta, aliás, que estou a escrever. 

Mas que, da mesma forma que ele se distancia, quando realiza o seu trabalho, eu também me distancio, quando faço as minhas reportagens investigativas. Isso significa que, nelas, sou sim “imparcial” - o que quer que isso seja, inclusive, como possibilidade... 

(Égua, que isso dava um longo sarau filosófico, né não? A nossa Acadepol é pura maiêutica!...). 

No entanto, há três coisas que realmente me preocupam nesse inquérito meio que kafkiano. 

A primeira é que, embora amigos me garantam que sou apenas testemunha nessa investigação, não é essa a sensação que me ficou desse depoimento, tanto pelas perguntas relacionadas ao meu blog e à minha carreira, quanto pelo minidossiê que vi na mesa do delegado. 

A segunda é o estranho interesse pelos meus e-mails: quais são, para que servem, quem os utiliza, por exemplo. 

Como afirmei nesse depoimento, não conheço, não sei quem são esses tais de Jonas Santiago e de Manuel Clemente. 

Óbvio, portanto, que nunca os tive como fontes de informações. 

No entanto, tenho, sim, muitas e boas fontes, que muitas vezes contatam comigo por email ou whatsapp. 

E fico a pensar, cá com os meus botões: será que não se está, em verdade, a tentar “contornar” a garantia constitucional de sigilo sobre as minhas fontes, a partir desse inquérito? 

Se fosse assim – e isso é mera especulação – qual seria o motivo? A quem interessaria? A quem beneficiaria? E, sobretudo, quem seria o verdadeiro alvo? Sim, porque eu mesma não sou ninguém na fila do pão. 

A terceira coisa que me preocupa é se a nossa polícia e Ministério Público estão tendo em relação ao Beto Jatene o mesmo empenho investigativo demonstrado em relação a mim. 

Ora, na carta desse tal de Jonas Santiago são apontados indícios de crimes que teriam sido cometidos pelo filho do ex-governador e um de seus sócios. 

A polícia e o Ministério Público não sabem se são verdadeiras as certidões da Jucepa às quais essa carta se refere? É simples: é só consultar a Jucepa e chamar o Beto Jatene e o sócio dele pra depor. 

Aliás, nem precisa disso: tais certidões, certamente, já constam no processo de improbidade administrativa, ajuizado pelos doutores Nelson Medrado e Armando Brasil contra o Beto Jatene, porque ele vendia combustíveis a órgãos públicos estaduais, quando o pai dele era governador. 

Também há um relatório do COAF, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda, mostrando que o Beto Jatene pagou R$ 13 milhões a uma seguradora, em menos de um mês, em 2017. 

Tal documento está bem aqui, acessível com apenas um clique: http://pererecadavizinha.blogspot.com/2018/05/filho-de-jatene-paga-r-13-milhoes-uma.html 

E se a nossa polícia e Ministério Público quiserem checar a autenticidade dessas informações, também é muito simples: perguntem ao COAF, e ao Ministério Público Federal e à Receita Federal, e a todas as instituições que as teriam recebido. Penso que nenhuma delas lhes negará auxílio, em uma investigação tão importante. 

Na reportagem do link acima, também consta a sentença de uma juíza do Trabalho, na qual ela diz que o sogro do Beto Jatene era sócio de fato de várias casas noturnas, estabelecimentos que até as pedras de Belém gritam que pertencem ao filho do ex-governador. Novamente, é um documento acessível com apenas um clique: https://drive.google.com/file/d/14s4yZbGe5TNAYbOS25HuGD_jJq9odffn/view 

Também há processos, na Justiça Estadual, envolvendo algumas dessas casas noturnas. Em um deles, salvo engano, o Beto Jatene figura até como locatário do prédio onde funcionava um desses estabelecimentos. 

Então, são muitas as fontes de informações para a nossa polícia e Ministério Público: Jucepa, Judiciário Estadual, COAF, Receita Federal, Justiça do Trabalho e Polícia Federal, que afirma que o filho do ex-governador participou até de uma quadrilha que desviou milhões de reais em royalties de mineração. 

Aqui: http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2017/02/alberto-jatene-filho-do-governador-do-pa-e-indiciado-pela-policia-federal.html

E agora me desculpe, caro leitor, mas tenho de ir pra novena que mandei rezar pra Nossa Senhora das Forças Ocultas.

Quem sabe assim ela “ilumine” a nossa polícia e Ministério Público Estadual.

FUUUIIIIII!!!!!

terça-feira, 21 de maio de 2019

Delegacia intima Perereca em investigação de lavagem de dinheiro. Ué, por que não intimam o Jatene?






Pra você ver como é que são as coisas, caro leitor.

Estava eu aqui neste barraco, que chamo de casa e que nem é meu, quando dou de cara com uma viatura da polícia.

Aí, o investigador, escrivão, sei lá o quê, me entrega uma intimação da delegacia especializada em lavagem de dinheiro, pra que eu compareça pra depor, na próxima quinta-feira, às 10 da manhã.

O documento diz que é pra instruir um procedimento policial, mas não informa o porquê, cargas d’água, de estar sendo chamada pra isso: se sou testemunha, se sou acusada, e do que se trata, afinal.

Diz apenas que tenho de estar lá. E ainda me ameaça de autuação por crime de desobediência, se não comparecer.

Moro em um condomínio. E agora, como é que fica a minha cara (que não tenho o Perobex nem do Zenaldo, nem do Orly), com a delegacia de lavagem de dinheiro batendo na minha porta?

E aí, fico pensando comigo: por que é que esses caras não vão bater na porta da mansão do Jatene, que deixou um rombo de R$ 1,5 bilhão nas contas públicas, segundo o novo governo?

Por que é que não vão bater na porta da mansão do Beto Jatene, que pagou R$ 13 milhões a uma seguradora? (Leia aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com/2018/05/filho-de-jatene-paga-r-13-milhoes-uma.html ).

Por que é que vêm bater na porta deste barraco, que está quase desabando na minha cabeça, de tanta infiltração?

As paredes todas cheias de rachaduras e de reboco caindo; um monte de lajotas soltas e quebradas no piso; forro de pvc todo encardido; 150 paus na conta bancária, e a delegacia de lavagem de dinheiro vem bater aqui.

Deve de ser pra matar o delegado de susto, só pode!

Mas o pior é que vou ter de perder uma manhã inteira de trabalho, pra sair daqui, quase Marituba, pra ir lá em Belém.

E quem é que paga esse prejuízo, já que, se não trabalhar, não tenho dinheiro nem pra comer?

É claro que esse negócio tem a ver com alguma reportagem que escrevi pro Diário do Pará ou até pra Perereca.

E esta é outra coisa profundamente irritante: parece que tudo que é autoridade adora chamar jornalista pra depor.

Tem denúncia? Chama o jornalista! Achou alguma coisa? Chama o jornalista! Não achou nada? Chama o jornalista!

É impressionante isso!

Os caras sabem que nós, jornalistas, temos DIREITO CONSTITUCIONAL a manter sigilo sobre as nossas fontes.

E ainda que não houvesse essa garantia, o dever, a ética profissional, nos obriga a manter o sigilo da fonte, ainda que sob ameaça de bala.

Não tem como revelar fonte! Esse é o tipo de coisa que não se cogita nem nos pesadelos de qualquer repórter realmente digno dessa profissão.

Além disso, todas as minhas reportagens são calcadas em documentos: é balanço geral do estado, é número do SIAFEM, é diário oficial, editais licitatórios, e por aí vai.

Então, por que não requisitar aos órgãos públicos essa documentação?

No fundo, esse depoimento é apenas uma tremenda perda de tempo, tanto pro delegado quanto pra mim.

E ainda tem a chateação da delegacia de lavagem de dinheiro na porta da minha casa – vai virar comentário de tudo que é vizinho fofoqueiro!

É por essas e por outras, caro leitor, que tô tentada a mudar radicalmente a linha das minhas reportagens.

Tô pensando em encher o blog de ariru, como muita gente faz, e começar a escrever um monte de matérias elogiosas, porque assim, quem sabe, até a Academia Paraense de Letras e o Tribunal de Justiça me concedam algum desses títulos aí de benemerência.

Porque jornalismo investigativo no Brasil, e principalmente no Pará, é só dor de cabeça!

É um monte de inimigos poderosos, é intimação da Justiça e de delegado de polícia, é xingamento, é ameaça, é processo até de advogado, e dinheiro que é bom, neca de pitibiriba!

(Se duvidar, já deve de ter por aí até um monte de bonecos meus, tudo espetadinhos com alfinetes...)

Uma vez, entrevistei um cara acusado de chefiar uma quadrilha de fraudadores do DPVAT e que era dono de uma empresa pra quem o Jatene queria entregar um contrato de R$ 200 milhões, pra uns cursos de inglês que só serviam pra desviar dinheiro do FUNDEB (Leia aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com/2018/04/suposta-quadrilha-qual-jatene-tentou.html ).

Aí, o cara disse mais ou menos assim, todo indignado: “Mas vocês não me deixam trabalhar! Vocês não querem que eu trabalhe!”

Pois é. Tenho mais é de tomar vergonha na cara e deixar essa gente “trabalhar”...

FUUUIIIII!!!!!!