Pra você ver como é que são as coisas, caro leitor.
Estava eu aqui neste barraco, que chamo de casa e que
nem é meu, quando dou de cara com uma viatura da polícia.
Aí, o investigador, escrivão, sei lá o quê, me entrega
uma intimação da delegacia especializada em lavagem de dinheiro, pra que eu
compareça pra depor, na próxima quinta-feira, às 10 da manhã.
O documento diz que é pra instruir um procedimento
policial, mas não informa o porquê, cargas d’água, de estar sendo chamada pra
isso: se sou testemunha, se sou acusada, e do que se trata, afinal.
Diz apenas que tenho de estar lá. E ainda me ameaça de
autuação por crime de desobediência, se não comparecer.
Moro em um condomínio. E agora, como é que fica a
minha cara (que não tenho o Perobex nem do Zenaldo, nem do Orly), com a
delegacia de lavagem de dinheiro batendo na minha porta?
E aí, fico pensando comigo: por que é que esses caras
não vão bater na porta da mansão do Jatene, que deixou um rombo de R$ 1,5
bilhão nas contas públicas, segundo o novo governo?
Por que é que não vão bater na porta da mansão do Beto
Jatene, que pagou R$ 13 milhões a uma seguradora? (Leia aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com/2018/05/filho-de-jatene-paga-r-13-milhoes-uma.html
).
Por que é que vêm bater na porta deste barraco, que está
quase desabando na minha cabeça, de tanta infiltração?
As paredes todas cheias de rachaduras e de reboco
caindo; um monte de lajotas soltas e quebradas no piso; forro de pvc todo
encardido; 150 paus na conta bancária, e a delegacia de lavagem de dinheiro vem
bater aqui.
Deve de ser pra matar o delegado de susto, só pode!
Mas o pior é que vou ter de perder uma manhã inteira
de trabalho, pra sair daqui, quase Marituba, pra ir lá em Belém.
E quem é que paga esse prejuízo, já que, se não
trabalhar, não tenho dinheiro nem pra comer?
É claro que esse negócio tem a ver com alguma
reportagem que escrevi pro Diário do Pará ou até pra Perereca.
E esta é outra coisa profundamente irritante: parece
que tudo que é autoridade adora chamar jornalista pra depor.
Tem denúncia? Chama o jornalista! Achou alguma coisa?
Chama o jornalista! Não achou nada? Chama o jornalista!
É impressionante isso!
Os caras sabem que nós, jornalistas, temos DIREITO CONSTITUCIONAL
a manter sigilo sobre as nossas fontes.
E ainda que não houvesse essa garantia, o dever, a
ética profissional, nos obriga a manter o sigilo da fonte, ainda que sob ameaça
de bala.
Não tem como revelar fonte! Esse é o tipo de coisa que
não se cogita nem nos pesadelos de qualquer repórter realmente digno dessa
profissão.
Além disso, todas as minhas reportagens são calcadas
em documentos: é balanço geral do estado, é número do SIAFEM, é diário oficial,
editais licitatórios, e por aí vai.
Então, por que não requisitar aos órgãos públicos essa
documentação?
No fundo, esse depoimento é apenas uma tremenda perda
de tempo, tanto pro delegado quanto pra mim.
E ainda tem a chateação da delegacia de lavagem de
dinheiro na porta da minha casa – vai virar comentário de tudo que é vizinho
fofoqueiro!
É por essas e por outras, caro leitor, que tô tentada
a mudar radicalmente a linha das minhas reportagens.
Tô pensando em encher o blog de ariru, como muita
gente faz, e começar a escrever um monte de matérias elogiosas, porque assim,
quem sabe, até a Academia Paraense de Letras e o Tribunal de Justiça me
concedam algum desses títulos aí de benemerência.
Porque jornalismo investigativo no Brasil, e
principalmente no Pará, é só dor de cabeça!
É um monte de inimigos poderosos, é intimação da
Justiça e de delegado de polícia, é xingamento, é ameaça, é processo até de
advogado, e dinheiro que é bom, neca de pitibiriba!
(Se duvidar, já deve de ter por aí até um monte de
bonecos meus, tudo espetadinhos com alfinetes...)
Uma vez, entrevistei um cara acusado de chefiar uma
quadrilha de fraudadores do DPVAT e que era dono de uma empresa pra quem o
Jatene queria entregar um contrato de R$ 200 milhões, pra uns cursos de inglês
que só serviam pra desviar dinheiro do FUNDEB (Leia aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com/2018/04/suposta-quadrilha-qual-jatene-tentou.html
).
Aí, o cara disse mais ou menos assim, todo indignado: “Mas
vocês não me deixam trabalhar! Vocês não querem que eu trabalhe!”
Pois é. Tenho mais é de tomar vergonha na cara e deixar
essa gente “trabalhar”...
FUUUIIIII!!!!!!
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