domingo, 1 de julho de 2018

Um brinde à vida!





O engraçado é que ainda ontem éramos crianças. A brincar de pira, a dançar ciranda, a empinar papagaio, a jogar peteca...

Ou você já se esqueceu?

Duvi-d-o-dó (Escravos de Jó jogavam caxangá...), que você tenha se esquecido daquele tempo...

Duvi-d-o-dó (Se essa rua, se essa rua fosse minha...) que essas lembranças não o acompanhem até hoje...

Duvi-d-o-dó que haja manga mais gostosa!... (O cravo brigou com a rosa...)

Duvi-d-o-dó que haja chuva tão cheirosa!... (Terezinha de Jesus...)

Duvi-d-o-dó que haja sonhos tão maravilhosos de se sonhar!... (Nossa Senhora vai dentro, os anjinhos a remar...)

Mas de repente, lá estávamos nós, adolescentes. Sofrendo que nem cachorro abandonado!... Tanto a descobrir!... Tanto a conquistar!... (Agora eu era o herói/ E o meu cavalo só falava inglês...)

O coração a bater acelerado (tum-tum-tum-tum-tum-tum-tum-tum...)

A gente a se achar horrível, tão sem graça, diante daquele deus (ou deusa) que nos parecia tão inacessível quanto as estrelas!...

(Ah, a paixão que mais parecia um ente, de tanto que de nós se apossava!...)

Mas de repente, lá estávamos nós, jovens.

O estudo, a carreira, o trabalho, os filhos, o lar que queríamos ter...

O poeta bem que avisava: “Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure!”

Mas nós éramos eternos!... Ou melhor: o próprio infinito!

Nem o céu era o limite: nada havia que não pudéssemos conquistar!... (Que vivan los estudiantes/Jardín de nuestra alegría/Son aves que no se asustan...)

Mas de repente, cá estamos nós: rugas, cabelos brancos...30, 40 anos da mesmíssima profissão estressante... Lares que se desfizeram, ou que arrastamos por aí, porque nos parecem o último porto... Mágoas, ressentimentos, desilusões...

Um a um vão partindo aqueles que conviveram conosco. E é como se aquilo que somos se desfizesse um pouco também...

Ah, o grande Machado! “Que abismo que há entre o espírito e o coração!”...

E enquanto choramos os que se foram, por tudo o que iluminaram a tantos nesta vida; por tudo o que representaram em nossas próprias vidas, também nos lembramos de que a fila andou...

Pois é... Se bem lá atrás nem nos dávamos conta do tempo, ou até nos imaginávamos a própria eternidade, hoje ele é um anseio, uma urgência. Um desejo que mais e mais se agiganta, quanto mais se prolonga o nosso caminhar.

“Mais tempo, mais tempo, mais tempo!”, rezamos. Mas sabemos que o trem está bem ali à frente. E que logo, logo embarcaremos nele também...

Poderíamos ter feito mais? Poderíamos ter realizado tudo o que sonhamos? É improvável: o espírito humano não cabe nem em milhares e milhares de reencarnações!...

(E penso que Deus, aos poucos, também vai percebendo a enormidade que cismou em Sua própria essência, ao nos criar...)

E talvez o segredo de não nos angustiarmos tanto diante de tantas idas e vindas seja esse olhar para trás.

O olhar para tudo o que fomos.

Um “fomos” que talvez pareça tão frágil, tão efêmero... Mas que, em verdade, persistirá em nós até o fim - e até nos transcenderá!...

Como bem disse um certo cientista: tudo o que fomos sob o sol agora é luz a viajar entre as estrelas!...

Por todo o Universo. E para todo o sempre.

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Pro Celival, pra Conceição e pra todos nós!