quinta-feira, 28 de abril de 2016

Jatene faz palestra para o MP e defende punição exemplar para corruptos. Logo ele, né?



(Foto: Antonio Silva/Agência Pará)


A atuação do Ministério Público no combate à corrupção é o tema do congresso que reúne promotores e procuradores de Justiça, de toda Região Norte, em Belém.

O governador do Pará, Simão Jatene, proferiu, ontem, a palestra inaugural do encontro.

Falou sobre a relação entre ética e política.

Logo ele, acusado pelo próprio MP de receber propina da Cerpasa.

Logo ele, acusado pelo próprio MP de turbinar a concessão de cheque moradia, para se reeleger. 

Logo ele, que tem entre os seus especialíssimos assessores até pessoas condenadas a devolver milhões aos cofres públicos.

Coragem? Cinismo?

Bem mais que isso, a certeza de impunidade.

Afinal, ele distribui assessorias e favores a rodo, justamente para que as instituições, que nem cadelas amestradas, comam em suas honradas mãos...

Daí que não é nem de estranhar o suposto estilo kamikaze de Jatene, ao defender punição exemplar para todos os envolvidos em corrupção.

Sabe que não pega nada com ele, nem com o seu todo poderoso sobrinho, Eduardo Salles, dono de impressionante fortuna, cuja origem, a bem dizer, é o Vigésimo Segredo de Fátima...

Ainda mais estarrecedora, porém, foi a reação do presidente da Associação do Ministério Público do Pará, Manoel Murrieta, às declarações de tão enrolado governador.

“Ele (Jatene) nos traz informações da situação do Estado e da crise nacional brasileira, e isso traz para o congresso mais uma provocação para a nossa formação e desafios”, afiançou.

Por isso, caro leitor, não estranhe se, no próximo congresso, o Ministério Público convidar como palestrante o deputado Eduardo Cunha ou até o Fernandinho Beira- Mar.

Ambos, certamente, também trarão muitas informações e provocações para a formação e desafios do nosso tão vigilante MP.

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Confira nos quadrinhos (clique em cima deles) a veracidade desse surreal acontecimento:

segunda-feira, 18 de abril de 2016

O dia em que o Brasil viu a cara do Brasil.






É tentador imaginar que o que vimos, ontem, na Câmara dos Deputados, seja apenas o resultado de um sistema eleitoral falido, ou até de conspirações.

Fala-se que Eduardo Cunha teria ajudado nas eleições de vários deputados - e as listas da Odebrecht apontam nesse sentido.

Além disso, há o lobby dos evangélicos, dos ruralistas etc&tal.

E, é claro, a tendência do PMDB de se aglutinar, quando estão em jogo os interesses partidários, como vemos agora, com a possibilidade da ascensão de Michel Temer à Presidência da República.

Seria realmente muito mais simples se aquela Câmara fosse apenas o resultado de uma grande conspiração.

E se o que tivesse faltado ali fossem cargos ou dinheiro, para comprar todas aquelas vestais.

No entanto, o problema é muito mais complexo.

No ano passado, houve uma onda de protestos, nas redes sociais, contra um beijo gay entre as atrizes Nathália Timberg e Fernanda Montenegro, em plena novela das 8.

A onda foi tão forte que até a poderosa Rede Globo teve que recuar.

O escândalo foi maior, é verdade, porque o beijo foi entre duas idosas.

Daí que não podia nem mesmo servir às fantasias sexuais do distinto público, restando apenas o amor gay nu e cru.

Quem olhou atentamente aquele episódio, viu, é claro, um retrato da hipocrisia nacional.

Afinal, as mesmíssimas pessoas que reclamavam por terem seus filhos “expostos” a um beijo de amor, nada diziam sobre a exposição deles à incitação à violência, que grassa em toda a imprensa, sob a máxima de que “bandido bom é bandido morto”.

Ontem, a “família brasileira”mostrou, novamente, o quanto é ignorante, conservadora e hipócrita; o quanto a sua “moral e bons costumes” está contaminada pela imundície.

Papais e mamães, vovôs e vovós, tão orgulhosos de sua descendência, até citavam os nomes de seus filhinhos e netinhos, quando proferiam o voto a favor do impeachment da presidenta.

A mesa dos trabalhos era conduzida por um corrupto notório; réu em processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF); e que mentiu, na cara dura, aos congressistas, ao afirmar que não possuía contas no exterior.

Corruptos de todos os matizes, acusados de toda sorte de crimes, revezavam-se no microfone, em discursos inflamados contra a mesmíssima corrupção de que são acusados.

Houve até quem elogiasse a tortura, um crime hediondo, ao dedicar o seu voto golpista a um dos piores torturadores da História do Brasil: o coronel Brilhante Ustra, o comandante dos animais do DOI- Codi, que estupravam mulher com cassetete e espancavam até grávidas.

Mesmo assim, papais e mamães, vovôs e vovós, dentro e fora do Plenário, entendiam que estavam diante de um episódio dignificante, e até mesmo pedagógico, para os seus pimpolhos.

Em suma: amor gay não pode. Mas pode todo aquele espetáculo pornográfico que o Brasil teve que assistir no dia de ontem.

O que realmente assusta é que tais deputados não são ETs. Tampouco, e por incrível que pareça, emergiram do inferno.

Todos são cidadãos eleitos pela maioria da população brasileira, para representá-la.

E não em uma Câmara de Vereadores, que é, digamos assim, o grupo escolar da política. Mas, na Câmara dos Deputados, uma das instâncias mais importantes do Legislativo, e onde é necessário ter milhares e milhares de votos, para conseguir entrar.

Aquele discurso que ouvimos repetidamente, ontem, “em nome de Deus, da tradição, família e propriedade” (e que é o mesmíssimo de 1964) deve ter sido usado nas campanhas eleitorais desses deputados.

Ou seja: seus eleitores apoiam esse pensamento conservador.

Porque são extremamente permissivos quanto à corrupção, que serve apenas de “mote útil” contra adversários, mas "zelosos" de seus “valores familiares” (até que sejam apanhados é, claro, em “flagrante adultério”, ou até na exploração sexual de crianças e adolescentes...).

Não é crível que tais deputados tenham sido eleitos apenas pela classe média e pelas elites, que formam uma parcela muito pequena do eleitorado – embora, é claro, com enorme poder de “convencimento” eleitoral.

Bem mais lógico é que esse pensamento perpasse toda a sociedade brasileira: ricos, pobres, remediados; brancos, negros, pardos; homens e mulheres; jovens e idosos.

E é bem possível que seja a construção da tolerância o maior incômodo desses milhões de brasileiros, em relação às esquerdas.

Uma tolerância que não contempla apenas os homossexuais. Mas também o direito das mulheres sobre o próprio corpo e a própria vida; o direito dos negros à Educação e à ascensão social; o direito de crianças e adolescentes de serem vistos como cidadãos, e não apenas como “patrimônio” paterno.

No fundo, é a revolta da família patriarcal. É uma questão ideológica.

Daí a dificuldade de um governo de esquerda ou de centro esquerda em negociar com um Congresso desses.

O que é que vamos lhes oferecer?

Eles são corruptos, mas não querem apenas cargos. Eles querem, na verdade, é submeter toda a sociedade à sua cartilha intolerante.

Como, então, negociar com cidadãos assim, que parecem extraídos de um museu do século XVII?

E isso é outra coisa importante que a votação de ontem mostrou.

Primeiro: nenhum governo de esquerda ou de centro esquerda terá condições de governar com aquela Câmara.

Segundo: Eduardo Cunha é o virtual presidente da República do Brasil.

É ele quem dá as cartas, na Câmara e, talvez, até no Senado e no STF.

E apenas por distribuir benesses a vários políticos? Não. Isso pesa, é claro. Mas pesa, também, o fato de ele ser, hoje, a maior liderança desse pensamento conservador.

Cunha acuou Dilma. E enquanto ela e o PT não mexeram com os  interesses dele, nada aconteceu.

Mas bastou que Dilma desarticulasse um esquema de corrupção do qual ele era beneficiário, e que o PT se juntasse aos que pedem a sua cassação, para que mostrasse o poder de fogo que possui.

Portanto, o que vimos, ontem, foi, sobretudo, uma demonstração de força. 

Nenhuma agenda avançada passará, na Câmara, enquanto Cunha for o seu presidente. 

E todos os direitos trabalhistas e das minorias estarão em risco, ainda que Dilma consiga se manter no poder.

Ao que parece, a sociedade brasileira chegou a uma esquina em que o confronto será, simplesmente, inevitável.

FUUUUUUIIIIIIIII!!!!!!!!

A luta continua, companheiro! Não vai ter golpe!

Milhares, ontem, em Copacabana, no Funk pela Democracia


Se você defende a Democracia e a Legalidade, não desanime com o resultado da votação de ontem, na Câmara dos Deputados.

Perdemos uma batalha, é verdade.

Mas foram muitas e muitas as batalhas que perdemos, ao longo de décadas, até a ditadura cair e o Brasil começar a mudar.

Em verdade, já avançamos muito desde o começo dessa guerra contra o fascismo.

Conseguimos fazer com que a sociedade brasileira começasse a tomar consciência do que está por trás desse golpe; das forças tenebrosas que lutam contra a nossa Democracia.

Nossas manifestações são crescentes e as pesquisas (inclusive, as deles) mostram a queda acelerada do apoio social aos golpistas.

Crescemos nas ruas, nos movimentos sociais, entre os intelectuais, os artistas, a classe média.

E hoje vemos até mesmo o povão, o maior agente histórico de todos os tempos,  já começando a se mobilizar em defesa das conquistas dos últimos anos.

Por isso, não desanime.

As grandes vitórias históricas são feitas, também, de derrotas.

E, às vezes, até de uma sucessão de derrotas que fazem descrer na possibilidade de vitória.

Não esqueça: Hitler, um dia, também pareceu invencível.

Mas a reunião de homens e mulheres, persistentes e comprometidos com um mundo melhor, conseguiu, afinal, derrotá-lo.

A nossa guerra, neste país,  tem 500 anos. E foram muitos os que morreram lutando por tudo aquilo que hoje continuamos a defender: um Brasil mais justo, um Brasil de todos. Um Brasil soberano e democrático.

E é por isso que essa derrota de ontem tem até um gostinho de vitória.

Porque se aquela Câmara dos Deputados, que exalta corruptos, racistas, homofóbicos e até torturadores, tivesse votado maciçamente conosco, seria o caso de nos perguntarmos o que foi que andamos a fazer de errado...

Daí que não dá nem pra falar em erro de negociação do governo: até Al Capone teria dificuldade em negociar com aquela escória que vimos, ontem, na Câmara dos Deputados.

Uma gente que deveria lavar a boca com sabão, quando fala em Constituição, em Democracia e no povo brasileiro.

Uma gente cínica, hipócrita, acanalhada, que vive a invocar o nome de Deus pra esconder o ódio que carrega contra mulheres, gays e todos os que não rezam pelo figurino de sua intolerância.

Uma gente que se aproveita da pobreza e da simplicidade do povo brasileiro para rapinar as riquezas da Nação.

E, no entanto, apesar daquela gente, tivemos 137 valorosos companheiros que votaram conosco, além de outros 7 que se abstiveram.

144 companheiros que não se deixaram intimidar nem por aquelas criaturas, nem pela mídia, nem pelas hordas fascistas que ameaçam, até fisicamente, quem ouse lhes fazer frente.

144 companheiros, que, apesar de dentro da toca daquelas hienas, permaneceram firmes, em defesa da Democracia e da Legalidade.

Por isso, nada de choro: é sacudir a poeira e continuar nas ruas.

É ir pro corpo a corpo com a nossa família, com os nossos amigos, com os nossos vizinhos.

É denunciar cada vez mais firme e pra cada vez mais gente a Idade das Trevas que aquelas criaturas pretendem implantar no Brasil. E isso deu pra ver muito bem durante a votação de ontem.

A guerra será terrível, companheiro! Mas vamos à luta!

Porque o que está em jogo é o futuro dos nossos filhos!

É o futuro deste país!

Pra você!






sexta-feira, 15 de abril de 2016

Dilma poderá acionar STF em caso de ilegalidade do impeachment. Tribunal sinaliza que a Lei terá, sim, de ser cumprida. Todos às ruas, no domingo, em defesa da Democracia!



 

Ao contrário do que diz a grande imprensa, os julgamentos ocorridos no Supremo Tribunal Federal (STF), na noite de ontem, trouxeram algumas vitórias, para quem defende a Democracia, e derrotas para os golpistas.

O STF sinalizou claramente que o impeachment, se ocorrer, terá de ser realizado dentro da Legalidade. E que não serão aceitas manobras que espanquem a Constituição.

Na madrugada de hoje, aliás, o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, confirmou ao G1 que Dilma poderá recorrer àquela Corte para que os ministros analisem se as  “pedaladas fiscais” constituem ou não crime de responsabilidade. 

Os ministros do tribunal também deixaram claro o papel da Câmara dos Deputados em toda essa história: um papel muito menor do que Eduardo Cunha e a grande imprensa tentam "vender" ao distinto público.

Peço paciência a vocês, para explicar tudo isso detalhadamente.

E peço que me perdoem por eventuais equívocos, já que não tomei notas e estou a escrever de cabeça. É que não imaginava postar sobre isso. Mas acabei um bocado frustrada com as reportagens que li por aí.


I

Na noite de ontem, o STF negou vários pedidos ajuizados contra a maneira como seria realizada a votação do relatório da Comissão do Impeachment, no próximo domingo.

Também negou um pedido da Advocacia Geral da União (AGU), objetivando anular esse relatório. A AGU alegava que não teria sido garantido o amplo direito de defesa à presidenta, entre outras ofensas à Constituição.

Aparentemente, portanto, a noite trouxe apenas derrotas ao Governo. Só que não.

É que esses pedidos foram derrotados ou porque perderam o objeto, ou porque a participação da Câmara é, digamos assim, quase que irrelevante em um processo de impeachment.

No caso das ações contrárias à maneira como ocorreria a votação, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, reviu a sua decisão anterior, antes que o STF o corrigisse publicamente.

Explico: Cunha havia decidido que a votação começaria pelos estados do Sul e iria avançando  até chegar à Região Norte.

Isso, certamente, criaria uma “onda golpista”, no plenário, arrastando os indecisos e até gente favorável à presidenta, já que é no Norte e Nordeste, deixados por último, que a força de Dilma é maior.

Essa decisão de Cunha era ilegal, já que o Regimento da Câmara prevê a alternância de votação entre os deputados dos estados do Norte e do Sul. Ele, certamente, sabia disso. Mas deve ter decidido assim naquela do “se colar, colou”, até por imaginar que não daria tempo para o julgamento de qualquer recurso judicial, antes do próximo domingo.

Mas o STF resolveu julgar, ontem, todos os processos relativos a esse procedimento que rola na Câmara. E o que fez Eduardo Cunha? Enviou um ofício ao STF, ainda ontem, no qual afirma que cumprirá, sim, a alternância prevista no Regimento.

Na noite de ontem, aliás, o ministro Luís Roberto Barroso deixou claro que a decisão anterior de Cunha era inaceitável. Mas defendeu que o STF prestigiasse a nova decisão, por se tratar de outro Poder e por ela se mostrar compatível com o Regimento e com a Constituição. 

Resumo da ópera: o STF rejeitou as ações, mas Cunha terá de cumprir a Lei, alternando a votação entre os deputados do Norte e do Sul. Mais ou menos assim: votam os deputados de Roraima e, depois, do Rio Grande do Sul; aí, votam os deputados do Amapá e, depois, os do Paraná. E assim, sucessivamente.

Isso significa que Cunha não tentará manobrar em favor do impeachment? É claro que não!

Mas há limites – e isso é que é importante.

Não sejamos ingênuos: estamos diante de um jogo político e não há burros nessa mesa.

No entanto, nos julgamentos de ontem, foi como se o STF dissesse: “táqui esse quadrado e dentro dele vocês vão se estapear. E, com certeza, vão chutar as canelas uns dos outros. Mas se a gente pegar alguém chutando, a gente vai impitimar quem chutou”.

II

Outro aspecto importante é que os ministros do Supremo deixaram bem claro o papel da Câmara em um processo de impeachment: ela apenas examina se aquela denúncia que recebeu contra o presidente pode ou não ser admitida, e encaminha um parecer ao Senado, se achar que pode, autorizando que ele abra o processo - preste atenção: autorizando.

Mas é o Senado, e apenas o Senado, quem decide se abre ou não o processo de impeachment. E é o Senado quem, ao fim e ao cabo, julgará o presidente.

Neste momento, como até lembrou um ministro, nem sequer existe propriamente um processo de impeachment. E nem haverá, no domingo, mesmo que a Câmara acolha o relatório da Comissão do Impeachment. Processo mesmo, só se e quando o Senado decidir.

Didaticamente, os ministros até compararam o procedimento que acontece na Câmara a um inquérito.

E como é que funciona um inquérito? Eles não explicaram assim, mas vou tentar fazer isso resumidamente e com os meus parcos conhecimentos.

O delegado (se não for do Pará, é claro) registra uma ocorrência e aí faz todo aquele levantamento preliminar, pra saber se há ou não indício de crime: ouve testemunhas, faz diligências etc e tal. E aí, diz ao Ministério Público, que diz ao juiz: “Olha, eu acho que isso daqui procede por isso e aquilo”.

No entanto, quem vai decidir se há ou não elementos para abrir o processo é o juiz. É ele quem aceita ou não a denúncia. E só durante o processo é que a coisa toda ficará provada - ou não.

Foi esse entendimento (firmado, aliás, no julgamento, pelo STF, em dezembro último, da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental/ADPF 378) que levou os ministros a rejeitar a ação da AGU que pedia a nulidade dos procedimentos realizados na Câmara, inclusive, o relatório da Comissão do Impeachment.

A AGU alegou que a presidenta não teve direito à ampla defesa, e que a defesa foi prejudicada até pela ampliação da denúncia: é que haviam sido anexadas, ao documento inicialmente protocolado na Câmara pedindo o impeachment, aquelas declarações do senador Delcídio do Amaral, em sua delação premiada à Lava Jato.

Só que o relatório final da Comissão do Impeachment acolheu apenas as “pedaladas fiscais” e as  “operações de crédito”, ou seja, a denúncia original, descartando o Delcídio.

Além disso, os ministros entenderam que a presidenta, através da AGU, teve, sim, direito de se explicar, àquela comissão.

O mais importante, porém, é que eles observaram que a ampla defesa se dará é no processo de impeachment, ou seja, no Senado, caso essa história chegue até lá.

E que é no Senado, também, que deverá ser muito bem tipificado o crime de que é acusada a presidenta.

(Cá entre nós, pareceu-me que os ministros consideram esse procedimento da Câmara até inferior a um inquérito policial...).


III 

Aqui, há pontos importantes que são pequenas vitórias da presidenta e derrotas dos golpistas.

É que nas atas desses julgamentos de ontem, e isso também foi dito claramente, constará o porquê de o tribunal ter decidido dessa maneira.

Ou seja: constará que Cunha vai cumprir a alternância da votação na Câmara; que o relatório a ser votado no domingo se refere apenas às “pedaladas fiscais” e “operações de crédito”, tendo deixado de fora toda aquela história do Delcídio (a Globo deve estar morrendo de ódio!...);  constará o entendimento de que, no Senado, será obedecido o devido processo legal, inclusive com a tipificação do crime do qual a presidenta é acusada – quer dizer: os senadores, se o caso chegar lá, terão de dizer exatamente qual o crime de responsabilidade cometido por Dilma.

Essa necessidade de tipificação deixou a porta aberta a uma intervenção do STF, caso esse crime de responsabilidade não esteja devidamente demonstrado, caracterizado, já que o impeachment seria inconstitucional.

Em outras palavras: se o Senado pisar na bola, Dilma poderá recorrer ao Supremo – e com boas chances de ganhar.

Os julgamentos de ontem mostraram que um impeachment ilegal, ou seja, um golpe, terá, à partida, 5 votos contrários no STF, dentre os 11 ministros que compõem aquela Corte.

Dois são dos ministros Lewandowski e Marco Aurélio Mello, a meu ver, mais políticos e já convencidos de que esse impeachment não tem pé nem cabeça.

Os outros três são de uma verdadeira “barreira da Legalidade”, digamos assim: Teori Zavascki, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin.

Os três me pareceram aquele tipo de magistrado que os Revoltados Online podem até cercar com uma multidão global, que eles continuarão dizendo: “O que a Lei diz não é isso”.

E tal postura é extremamente importante tendo em vista a pressão dos meios de comunicação, caso o impeachment chegue ao Supremo.

Dois votos certos contra a presidenta, se essa história prosperar, serão os de Gilmar Mendes e Celso de Mello. O primeiro porque (e apesar do enorme conhecimento jurídico) age muito mais como militante tucano do que como magistrado. O segundo, porque ainda parece engasgado com as críticas de Lula, naquele áudio vazado por Sérgio Moro.

É provável que a eles se juntem Luiz Fux e Dias Toffoli.

Mas mesmo que assim o faça também Rosa Weber, penso que a ministra Carmen Lúcia é mais propensa a acompanhar os seus pares que perfilam com a Legalidade, no caso, Barroso, Fachin, Teori, Marco Aurélio e Lewandowski.

Um placar apertado, é verdade, mas muito mais propenso a se ampliar em favor de Dilma, do que em contrário.


IV 

Agora à tarde, enquanto escrevia, li que Lewandowski confirmou, ao G1, aquilo que entendi, sobre a abertura dessa porta à presidenta.

“O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, afirmou na madrugada desta sexta-feira (15) que atos imputados à presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment em curso no Congresso poderão ser contestados na Corte. Com isso, os ministros poderão analisar, por exemplo, se as chamadas "pedaladas fiscais" são crime”, diz o G1.

E, na notícia, até Celso Mello, que coloquei entre os contrários à presidenta, disse que poderá ocorrer, sim, recurso ao STF.



V

De tudo isso o que considero mais importante, porém, é que o tempo corre a favor daqueles que lutam pela Democracia e contra o golpe.

Pesquisas recentes da Folha e da Vox Populi mostram que o impeachment vem perdendo apoio entre a população. E isso, de forma acelerada.

Penso que são vários os fatores que contribuem para isso, mas destaco dois: a ação das redes sociais, fazendo um contraponto aos grandes veículos de comunicação, para desnudar o golpismo e os beneficiários desse impeachment; e as ações dos petistas e dos movimentos sociais, para trazer o povão para essa guerra.

Creio que não apenas a clareza sobre quem assumirá a presidência, em caso de impeachment, tem assustado muita gente que apoiava o golpe, porque é certo que tais figuras impedirão qualquer combate à corrupção.

Bem mais eloquentes têm sido as certezas, que vão se formando, de que esse golpe resultará no desmantelamento de direitos trabalhistas e de conquistas sociais, dos últimos anos.

Afinal, não podemos esquecer, como li recentemente, que a classe média também precisa do Estado para manter seus filhos nas universidades, através do Fies e ProUni; para ter acesso a procedimentos médicos, que o SUS cobre, e os planos de Saúde não; e até para realizar o sonho da casa própria.

E se essa aliança tucano-peemedebista assumir o governo, sairá cortando tudo. E a classe média acabará tão desamparada quanto o pessoal mais pobre, que perderá o bolsa família, minha casa, minha vida, e por aí vai.

Não sei se conseguiremos deter a aprovação do relatório da Comissão do Impeachment, no próximo domingo.

Espero que sim, e até acredito que sim, porque se o jogo estivesse tão bacana pro lado dos golpistas, eles não precisariam recorrer a ilegalidades, como essa que o Eduardo Cunha tentou cometer, suprimindo a alternância de votação.

Mas penso que também não é o caso de esmorecer, se perdermos no domingo: devido ao posicionamento do STF, ficou ainda mais difícil aprovar esse golpe no Senado.

E se Dilma chegar a ser afastada por seis meses, após a abertura do processo pelo Senado, pior pro Temer, já que as medidas que ele tomará vão acelerar ainda mais o desgaste dessa patota, podendo até alavancar as esquerdas, nas eleições de 2018, já que tudo o que previmos se realizará.

A grande preocupação, penso eu, é manter a mobilização das ruas. E, especialmente, evitar o confronto, que poderia descambar para um banho de sangue, e até para uma intervenção militar.

Por isso, é importante que, quem puder, esteja nas ruas, no próximo domingo, para que acabemos com esse golpe ainda no nascedouro.

Mas é importante, também, muita inteligência e cabeça fria: não aceitar provocações, ficar sempre em grupo e acionar a polícia em caso de qualquer tentativa de violência golpista.

Vamos juntos, até à vitória da Democracia e da Legalidade!